SOMOS TODOS POLÊMICOS




O Brasil adora um debate, adora uma polêmica e a da vez nem aqui aconteceu. Foi na Espanha.

Mais um ato de racismo ocorreu em uma partida de futebol, uma coisa tão babaca e infelizmente tão rotineira que já foi tema aqui no blog na coluna “O Brasil da era das cavernas”. A diferença foi a “resposta”.   
  
Daniel Alves, lateral titular da seleção brasileira e do Barcelona foi o alvo. Jogaram uma banana nele. Esse gesto da banana também é “manjado”, já ocorreu várias vezes na Europa e suas consequências foram multas irrisórias para os clubes cujos torcedores pertenciam e humilhação guardada no peito pelo atingido.

Mas com Daniel Alves foi diferente. Daniel Alves é diferente.

O lateral tem auto estima elevada, só ver as roupas que ele usa,  era o cara  certo para uma reação contra o racismo. E ele reagiu. De uma forma maravilhosa.

Pegou a banana do chão, descascou, comeu e continuou o jogo como se nada tivesse ocorrido.

Aquilo foi fantástico. Daniel tirou onda com o racista, fez o otário virar motivo de chacota, jogou o feitiço contra o feiticeiro e isso virou assunto mundial. Repercussão muito maior que qualquer campanha educacional contra o racismo.

Personalidades do mundo inteiro começaram a imitar o gesto e tirar fotos com bananas postando nas redes sociais. Todos queriam participar desse momento. Todos queriam mostrar o quanto aquilo era maravilhoso.

Aí que pintou o problema.

O primeiro a postar foto com banana e se mostrar solidário a Daniel Alves foi seu companheiro de clube e seleção Neymar. Até aí nada demais já que o mesmo também sofreu ato racista na Espanha.

Mas rapidamente descobriu-se que o ato de Neymar foi pensando. Que ele tinha procurado uma agência de publicidade para bolar uma ideia para quando tivesse algum ato de racismo contra ele. O combinado foi que ele comeria a banana caso jogassem, mas aconteceu com Daniel antes. 

Pintou a dúvida. Daniel Alves participou disso? O ato dele comer a banana foi pensado? Fruto de publicitários.

A discussão aumentou quando o apresentador Luciano Huck postou foto com uma banana e deflagrou a tag #SomosTodosMacacos para que as pessoas compartilhassem. 

Luciano é muito popular, rapidamente alcançou o objetivo de tornar a tag também popular e pouco depois veio o tiro de misericórdia. Sua griffe de roupas lançou a camisa “Somos todos macacos” vendendo por setenta reais.

A confusão se formou. O tiro saiu pela culatra e todos acusaram o “bom moço” Luciano Huck de usar a situação para se aproveitar e ganhar dinheiro. Pior, todo aquele ato de Daniel Alves caiu por terra e todo mundo que elogiou e aplaudiu se sentiu otário, usado. Luciano apareceu dizendo que o dinheiro seria revertido para caridade, mas o estrago já estava feito.
E o que eu penso desse assunto?

Sobre o Luciano, um cara tão esperto, bom em publicidade e midiático acho que “pisou na bola”. Acredito que a grana seja realmente para caridade, ele não seria idiota de pegar dinheiro para si numa situação dessas. 

Até porque como eu disse ele é esperto e seu grande lucro não viria das camisas.

Viria de liderar aqui no Brasil a luta contra o racismo e enaltecer seu lado bom moço, cara legal. Isso atrai parcerias e anunciantes para seu programa e para ele pessoa física. Quem não quer  anunciar no programa ou contratar para comerciais um cara com imagem tão boa?

Aí ele ganharia dinheiro. Muito mais que simplesmente vendendo camisas.
Neymar pode não ser tão esperto, mas é cercado de pessoas espertas. Não ganharia nada financeiramente comendo uma banana em campo como planejou com os publicitários ou postando foto apoiando como aconteceu.

Mas também ganha com a imagem, reforça seu lado bom moço, seus patrocinadores ficam felizes e outros surgem.

Pessoas públicas não enriquecem com seus trabalhos, mas com suas imagens. Neymar, ao contrário de Luciano, pelo menos tem o atenuante de realmente ser uma vítima do racismo e mesmo pensando em dinheiro e na imagem sua luta ser legítima. 

Só quem passa por uma situação dessas pode ter noção de como é, pode julgar e seja rico ou pobre o racismo deve machucar quem vira alvo.
E o Daniel Alves com seu gesto acabou caindo em segundo plano.

Continuo achando o gesto legítimo e sensacional. Não é porque teve publicitários por trás que ele tem que ser diminuído porque tendo ou não a proposta foi alcançada. Colocou a luta contra o racismo no topo dos assuntos do mundo de uma forma eficaz. 

Palmas para esses publicitários. Se um dia eu for rico contrato esses caras para uma campanha contra discriminação a gordos.

E mais. Se Neymar e Daniel Alves conseguirem ganhar dinheiro as custas desses babacas racistas a coisa fica mais engraçada ainda. Se acham raças superiores, mas fizeram suas vítimas ganharem dinheiro com suas caras de tacho.   

Não somos todos macacos. Mas alguns são burros.


Ps. Aproveito pra lançar minha campanha “Somos todos gordos” 


LINK RELACIONADO:

O BRASIL DA ERA DAS CAVERNAS

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