GRANDE RIO EM CINCO CARNAVAIS


Dando prosseguimento a série “cinco carnavais” vamos para Caxias. Para a popular e “polêmica” Acadêmicos do Grande Rio. A escola dos artistas e também de uma comunidade fiel.

A Grande Rio foi fundada em 22 de março de 1988 com o nome de Acadêmicos de Duque de Caxias. Para que fosse filiada à Associação das escolas de samba do Rio de Janeiro teria que ser oriunda de um bloco carnavalesco e para tal surgiu o Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Lambe Copo localizado no bairro de Prainha em Duque de Caxias.

A Duque de Caxias iria disputar o quinto grupo de acesso das escolas de samba quando surgiu a ideia que a escola poderia disputar o segundo grupo, mas para tal teria que adotar o nome da antiga G.R.E.S. Grande Rio, pois a mesma participava desse desfile.

Várias reuniões aconteceram entre as duas direções e dessa forma decidiram pela fusão entre as escolas. No dia 22 de setembro de 1988 surgiu a Acadêmicos do Grande Rio.

Em 1990 com vice-campeonato no grupo A pela primeira vez chegou ao grupo especial. Caiu em 1991 e em 1992 venceu o grupo de acesso voltando de forma definitiva ao grupo das principais escolas.

Com as cores verde, vermelho e branco a Grande Rio a cada ano se firma como uma grande escola e apesar de não ter sido campeã ainda conseguiu os vice-campeonatos nos anos de 2006, 2007 e 2010.

Grande Rio de Milton Perácio, Leandrinho, Helinho, Tavinho, Edson Alexandre e Jaider Soares. De Nego, Dominguinhos, Wander Pires, Wantuir e Emerson Dias. De Lucas Pinto, Alexandre Louzada, Roberto Szaniecki, Max Lopes, Cahê Rodrigues e Joãosinho Trinta. De Squel, Sidcley, Verônica, Laíla, Ronaldinho, Mestre Mauricio, Mestre Odilon e Mestre Ciça. De Barbeirinho, G. Martins, Mingau, Djalma Falcão, Marco Moreno, Edispuma e Deré. De Licinho, Leleco, Marcio das Camisas, Rafael Ribeiro, Arlindo Cruz, Foca e Levi.   

Grande Rio de “Os santos que a África não viu” 1994, “Prestes o cavaleiro da esperança” 1998, “Ei, ei, ei, Chateau é nosso rei” 1999, “Gentileza o profeta saído do fogo” 2001, “Os papagaios amarelos nas terras encantadas do Maranhão” 2002, “O nosso Brasil que vale” 2003, “Amazonas, o eldorado é aqui” 2006, “Caxias, caminho do progresso, um retrato do Brasil” 2007, “Das arquibancadas ao camarote n°1, um “Grande Rio” de emoção na apoteose do seu coração” 2010.

Grande Rio de grandes sambas e desfiles que a partir de agora contarei em cinco carnavais que me moldaram como sambista e compositor.   


ÁGUAS CLARAS PARA UM REI NEGRO 1992


Samba de G.Martins, Adão Conceição, Barbeirinho, Queirós e Nilson Kanema.

A Grande Rio chegou ao grupo especial em 1991 e deixou a impressão que chegaria forte tendo grandes nomes em sua equipe como Mestre Paulão e Dominguinhos do Estácio. Mas a escola mostrou ainda não estar pronta e foi rebaixada.

Em 1992 mostrou ter aprendido a lição. Não estava mais com super nomes em sua equipe, mas mostrou-se uma escola determinada, com raça e que 1991 tinha sido apenas um percalço e seu lugar de fato era entre as grandes.

Escolheu um grande tema, que dificilmente dá errado. Falou do negro, de Oxalá, da desigualdade e a falsa liberdade que foi criada em 1888 e até hoje não chegou pra valer. É um tema difícil e por essa dificuldade costuma dar excelentes frutos como, por exemplo, no samba-enredo.

E isso aconteceu em “Águas claras para um rei negro”. É um samba vigoroso, valente, que diz que o Pelourinho ainda não findou para os ocultos opressores da nação.

Samba que não diz o nome da escola no refrão principal, algo tão normal hoje em dia. Refrão simples, mas forte que sintetiza tudo que a Grande Rio pede “Para ser livre / Nunca é tarde demais / Onde há fé e esperança / A crença não se desfaz”.

A escola fez um grande desfile e com essa apresentação e o excelente samba voltou ao especial pra não sair mais.

Um samba pouco conhecido, o que é uma pena. Devia ser mais ouvido, mais lembrado, servir mais como inspiração ao carnaval de hoje.

Pra fazer samba de qualidade nunca é tarde demais.


NO MUNDO DA LUA 1993   


Samba de Jacy Inspiração, Mais Velho, G.Martins, Carlinhos P2, Juarez dy Calvoza, Adão Conceição, Roco Filho, Ronaldo, Dicró e Nego.

E em 1993 a Grande Rio estava de volta ao grupo especial. Não quis cometer os mesmos erros de 1991 e contratou Laíla para sua direção de carnaval. Laíla, oriundo do Salgueiro, com passagem vitoriosa pela Beija-Flor e considerado um dos maiores nomes de nosso carnaval. Mudou o canto também trazendo da Unidos da Tijuca Nego, que vem a ser irmão de Neguinho da Beija-Flor. Apesar de ali já ser um cantor de destaque foi nessa passagem pela Grande Rio que Nego entrou definitivamente no time dos grandes cantores de samba-enredo.

A escola de Caxias seguia com seus grandes enredos e dessa vez falaria sobre a Lua e como ela nos fascina desde o começo dos tempos. Desde as tribos mais remotas, as lendas que lhe cercam, cantos feitos pra ela até o astronauta que desafiou as leis do universo e caminhou sobre sua superfície.

Tema rico né? Que produziria com certeza um grande samba, concorda? Pois é, na verdade produziu três. Quer dizer, não sei se realmente produziu três grandes sambas, mas esses três produziram um.

No final juntaram três sambas para criar o samba da Grande Rio para o carnaval de 1993. Junção de sambas sempre é uma situação polêmica, ainda mais de três. Mas Laíla é mestre nisso e da junção dos três sambas nasceu aquele que é um dos melhores da década de 90 e da história da Grande Rio.      
Destaque para o refrão de meio que numa grande audácia dos compositores é a adaptação de um ponto de Tranca Rua chamado “Oh luar”.

Que abriu os caminhos da Grande Rio.


 NA ERA DOS FELIPES O BRASIL ERA ESPANHOL 1996


Samba de Barbeirinho, Bebeto do Arrastão e Jaílson da Grande Rio.

Antes de ser conhecida como escola dos artistas, já tinha bastante naquele ano, a Grande Rio era a escola que trazia os enredos mais ricos em cultura nos anos 90 dando verdadeiras aulas de história na Sapucaí. Assim foi em 1996.

Para esse carnaval a Grande Rio mergulhou fundo em uma parte de nossa história importante, mas pouco lembrada. A dominação espanhola também conhecida como “Dinastia filipina” ou União Ibérica.

Por sessenta anos, entre 1580 e 1640, a Espanha dominou Portugal. Dessa forma o Rei da Espanha era ao mesmo tempo Rei de Portugal e mantinha o poder sobre suas colônias, entre elas o Brasil.

A escola de Caxias desenvolveu bem esse enredo e levou para a avenida mais um grande samba. Luxuosa e conquistando as celebridades para seus desfiles a agremiação ainda sofria com sua falta de experiência e mesmo tendo ótimos enredos e sambas passava por problemas em suas apresentações que comprometiam o resultado final.

A bateria foi um dos pontos altos desse desfile que também ficou marcado por outro motivo. O refrão “Imponho sou Grande Rio amor / Dando um banho de cultura eu vou / Pro abraço da galera, me leva / Lindo como o por do Sol eu sou” se tornou uma marca da escola. Um alusivo repetido todos os anos.

Era a Grande Rio crescendo e se impondo.


MADEIRA-MAMORÉ, A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM LÁ DO GUAPORÉ 1997 


Samba de Sabará, Muralha, Jarbas da Cuíca e Grajaú.

Mais uma vez a Grande Rio com enredo riquíssimo em cultura. Dessa vez trataria da “Madeira-Mamoré”. A décima quinta ferrovia construída no país no estado de Rondônia. Primeira grande obra americana fora dos Estados Unidos que permitiu a colonização de vastas extensões do território amazônico, a posse da fronteira com a Bolívia e através do “Tratado de Petrópolis” a conquista do Acre junto ao governo boliviano.

Época importante, conquistas e construções que permitiram o eldorado do látex. O ciclo da borracha.

A Grande Rio volta e meia fala da Amazônia e aproveitou nesse enredo para contar além da criação da ferrovia as lendas e segredos que cercam a floresta citando também a devastação e o índio.

De forma proposital uma história contada de forma distorcida onde o carnavalesco quis que fosse mostrada através de trabalhadores da ferrovia. Como se eles ressuscitassem como acreditavam ser possível em rituais espirituais e fossem para a avenida contar essa história. Tudo dentro de um delírio, uma fantasia típica do carnaval.

O excelente enredo rendeu mais um grande samba para a Grande Rio que passou muito bem a mensagem do tema. Uma fase de enredos culturais e sambas maravilhosos que vai até 1999, mas que infelizmente não renderam resultados esperados.

E nos anos 2000 a escola mudaria para competir.


Y – JURERÊ MIRIM – A ENCANTADORA ILHA DAS BRUXAS (UM CONTO DE CASCAES) 2011 


Samba de Edispuma, Licinho Jr, Marcelinho Santos e Foca.

A Grande Rio já tinha se transformado. Deixado de lado os enredos culturais pelos enredos patrocinados. Os grandes sambas-enredo para os funcionais, que serviam a seus desfiles e a mudança deu frutos.

A escola que alcançava posições sofríveis nos anos 90 virou freqüentadora assídua do desfile das campeãs na primeira década do século. Alcançou três vice-campeonatos. Em 2006 não foi campeã pelo estouro de tempo e chegava ao carnaval 2011 como a então atual vice-campeã do carnaval.

Uma das grandes favoritas para o carnaval 2011. Para todos o título da escola era questão de tempo.

O enredo para aquele carnaval tratava da ilha de Florianópolis, capital de Santa Catarina através de um conto de Cascaes. Enredo patrocinado numa escola que já tinha dinheiro. Cada vez mais próxima do título. Era o ano.

Não. Não era. O fogo consumiu o sonho.

Em uma manhã faltando poucas semanas para o carnaval o mundo do samba acordou assustado com a notícia do fogo na Cidade do Samba. Lugar feito justamente para proteger e melhor desenvolver alegorias para o carnaval. Três escolas foram afetadas. Portela, União da Ilha e principalmente a Grande Rio.

A escola de Caxias que contava com alegorias lindas e praticamente prontas perdeu tudo para desespero de seus componentes. Muitos foram para a Cidade do Samba tentar ajudar em alguma coisa, mas em vão, só restava chorar o fim do sonho.

Ou não. Restava lutar também e isso que ela fez. Com ajuda de outras escolas a Grande Rio rapidamente construiu, fez carnaval para pelo menos se apresentar de forma digna nos desfiles já que o seu não contaria pontos.

E assim ela se apresentou. Debaixo de chuva que se misturava as lágrimas de seus desfilantes. Mas não eram mais de tristeza e sim de emoção, orgulho. A Grande Rio não disputava nada, mas conquistou tudo naquela noite. Desfilou com raça, coração, lembrando aquela escola dos anos 90 e conseguiu de volta a simpatia de quem lhe assistia.

A Grande Rio ressurgiu como fênix dando a volta por cima.

E quem disse que ela nunca venceu carnaval? Em 2011 venceu.


Bem..Aí estão cinco carnavais da Grande Rio que prossegue em sua busca pelo primeiro campeonato. Tentará em 2014 falando de Maricá e ela sempre é uma das favoritas quando pisa na Sapucaí.


 Semana que vem tem crítica. Tem São Clemente.


*Infelizmente assim como semana passada terá homenagem nessa devido a uma pessoa querida que partiu. O Tito, conhecido por seus amigos como “Tito Totói”. Ilustre e amado torcedor da Grande Rio que nos deixou jovem ainda e foi para o céu ser mais um a proteger e guiar sua escola do coração.   

Deus te abençoe Tito. Fica a nossa saudade e o “Grande Rio em cinco carnavais" é pra você.



Comentários

  1. Faltou 94 aí, o único samba de enredo da história sobre a Umbanda. Mas boa seleção.

    Em 93 quem fez a junção foi o Dicró

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    1. Alguém teria que sobrar do período de 92 até 97 porque eu te falei que pelo ocorrido botaria 2011 e como falo desde o texto sobre a Portela, são os cinco desfiles ou sambas que mais gosto não necessariamente os cinco melhores desfiles ou sambas, abração

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