AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO VII - FLÁVIA


Posso dizer sem medo de errar que fui uma vítima direta dos ataques da Al Qaeda às torres gêmeas. Se eu tivesse nos Estados Unidos teria sido um dos que foi pra frente da Casa Branca comemorar a morte do Osama Bin Laden.

Por falar em morte..

..não podemos esquecer, eu morri.

Meu triste..triste pra mim porque as pessoas se divertiam..enfim, meu triste velório prosseguia. Já acontecera tanta coisa no mesmo que as pessoas se perguntavam o que faltava acontecer, qual era a próxima atração.

Enquanto as pessoas riam e brincavam se perguntando qual era a próxima situação inusitada tio Freitoca olhou pra porta e apontou incrédulo “show de transformistas”.

Todos olharam. Se eu tivesse vivo com certeza levantaria e olhava também.

Olharam entrar na capela um grupo de travestis. Uma grande quantidade de travestis de todos os tipos passou pelo povo pedindo “licença” com aquela voz que não consegue falar “chiclete” e chegou perto do caixão.

Aquela que liderava o grupo (em todas essas situações se você reparar tinha líderes) ficou a frente das outras “meninas”, olhou pra mim e disse “pronto”.

Era o sinal. Naquele exato momento todas começaram a chorar copiosamente me molhando todo.
O silêncio tomava conta do local enquanto os travestis choravam. Meu avô com medo de perguntar chegou perto, se encheu de coragem e perguntou de onde me conheciam.

A tal líder do grupo se apresentou como Grace Kelly e que eu tinha sido muito importante na vida delas todas.

Nesse momento Bia olhou pra mim e meu sorriso mudou de feição virando um sorriso constrangido. Eva ria e falava que não era a única “diferente” da família.

Meu avô ajeitou o cinto e pediu que os travestis se explicassem. Grace Kelly contou que eu fui um nome muito importante pro movimento LGBT no Rio de Janeiro, enquanto falava meu constrangimento aumentava no caixão. Se eu pudesse saia dali. Meu avô perguntou o que queria dizer LGBT e Grace respondeu que era Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros. Meu avô ficou com medo de perguntar o que era “Transgêneros”.

Os travestis estenderam uma bandeira com as cores do arco íris, símbolo de movimento e estenderam no meu caixão. Grace reuniu as “meninas” e disse que era a hora da homenagem.

Começaram a cantar “I will survive”, confesso que lacrimejei no túmulo. Tio Freitoca se aproximou falando que eu era adepto de siricuticos, parecia que dava “ré no quibe”, mas era um bom menino e cantou junto.

No fim me aplaudiram e Grace reclamou que no aplauso quebrou sua unha.

Grace se recompôs e falou pra todos que eu era muito especial desde menino. Que se lembrava de nossas saídas, farras, do tanto que ficávamos juntos no quarto conversando quando dividimos o mesmo teto ou quando tomávamos banho juntos.

Posso dizer que a perplexidade tomava conta do ambiente. Até Bia pela primeira vez parou de olhar pra mim e olhou pra Grace. Minha avó botou as mãos no rosto e falou “nosso menino era baitola!!”.
Nisso Eva se aproxima de Grace e grita..”Edu!!”.

Grace se vira pra Eva e diz “Para menina, Edu já morreu, eu sou Grace!! Grace!!”.

Pois é amigos, a tal Grace Kelly era meu amigo Edu.

Depois entro em detalhes dessa situação, agora vou contar como revi Edu.

Voltei dos EUA e encontrei meu amigo de fé irmão camarada Edu tomando um vinho na sala do apartamento de Ipanema com um loiro do tipo atlético. Edu apresentou como Romão, seu personal trainer. Romão deu um abraço apertado em Edu e contou que de manhã estaria lá pra malharem.

Despedi-me de Romão achando estranho aquele abraço e me sentei no sofá. Edu sentou a minha frente e perguntou como foi em Nova York. Contei tudo pra ele e meu amigo ria falando que essas coisas só ocorriam comigo. Perguntei por Bia.

Edu contou que ela estava bem. Abriu escritório de direito como queria e conseguiu seus primeiros clientes. Fiquei feliz por ela e perguntei se estava namorando. Edu silenciou por um tempo e contou que ela estava saindo com um cara sim.

Como diria Maysa “meu mundo caiu”, mas mantive a classe e só respondi com um “legal”.
Os dias passaram e não procurei Bia, achei melhor deixá-la em paz com seu novo amor. Matava saudade do Rio de Janeiro, das cariocas especialmente e dessa paisagem linda que Deus nos deu.
Corria na praia, ia a barzinhos com amigos, mas o tempo passava e eu não curtia ficar parado tinha que fazer algo.

Conversando com Eva ela perguntou por que eu não começava uma faculdade. Eu não pensava na ideia, mas a dica de Eva me despertou e comecei a procurar cursos com o qual me identificasse.
Achei comunicação. Fiz minha inscrição no vestibular e comecei a estudar com afinco, nunca estudei tanto na vida. As pessoas estranhavam porque não me viam mais na rua, só vivia pros estudos e saía com no máximo três mulheres por semana.

Bia foi ao apartamento reclamar que eu sumi e nem lhe procurei quando voltei ao Brasil e respondi que estava atarefado com os estudos. Ela então me ofereceu ajuda.

Assim Bia, Eva e Edu viraram professores particulares meus e me “tomavam” sempre a matéria.
Passei no vestibular da UFRJ e tirando o fato de terem me pintado todo e mandado pedir dinheiro em sinal de trânsito eu gostei.

Faculdade é um ambiente legal. Tem muita gente doida, bebuns, outros que gostam de queimar uma erva, politizados, mulheres deliciosas, bares, shows..é, mas tem estudo também nada é perfeito.
Fiz amigos tanto entre alunos quanto professores. Saía com todos pra beber. Transei com mais da metade das mulheres da sala..e de outras salas também.

Já estava totalmente integrado.

Tinha um professor muito bacana de técnica de redação chamado João Victor. Devia ser um pouco só mais velho que eu, usava óculos e era do tipo “playboy”. Mas amigo dos estudantes e sempre saía com a gente.

Uma noite ele dava aula e vi a Bia na porta. Fiquei surpreso e feliz por ela me esperar. Quando a aula acabou e fui de encontro a ela João chegou antes e eles se beijaram, Ele era o namorado da Bia. Fiquei ali com cara de bunda enquanto a via se despedir de mim e sair com ele.

Mas eu não era do tipo de curtir fossa por mulher e já tinha elegido uma musa. A professora Flávia de filosofia. Flávia era uma loira de uns quarenta e poucos anos. Saí com  muitas mulheres na vida, mas até então nunca com uma com tanta diferença de idade. A aula dela era chata, mas a professora era estonteante.

Eu nunca curti muito filosofia e a aula dava sono. O que me impedia de dormir era Flávia, mas eu só conseguia prestar atenção nela, não na disciplina.

Acabou que com isso fiquei pra exame final precisando de oito pra passar de período. Eu e mais quatro alunos ficamos pro exame final e Flávia era uma professora rígida, nunca daria margem pra investidas minhas nem eu tentaria.

Fiz, entreguei pra ela e dois dias depois fui até a sala dos professores saber minha nota. Flávia estava sozinha e mandou que eu entrasse. Passou-me a prova corrigida, tirei sete.

Argumentei que precisava de oito pra passar e sete me reprovaria. Ela sem olhar pra mim corrigia outras provas e falava que sentia muito, mas era a regra e que eu me empenhasse mais no período seguinte.

Desesperado perguntei se não podia fazer nada pra mudar aquela situação. Flávia então pela primeira vez olhou pra mim e disse que talvez tivesse como sim. Levantou, trancou a porta, virou-se pra mim e começou a desabotoar a blusa falando que queria sexo e sexo do bom pra me passar.

Só consegui esboçar um “hein”. Flávia me puxou da cadeira, derrubou no chão tudo que tinha sobre a mesa, me jogou sobre a mesma e me possuiu ali mesmo.

Posso dizer que fui abusado sexualmente.

No fim Flávia colocava sua roupa e falava que daria o oito necessário pra que eu passasse. Eu envergonhado me tampava com minhas roupas e com olhar de choro agradeci.

O problema todo amigos é que sou um caro desavergonhado e gostei daquele abuso de poder. Tanto gostei que virei amante da Flávia. Começamos um caso naquele dia que se estendeu pelas férias chegando ao período letivo seguinte. Como por um milagre virei um grande entendedor de filosofia. Sabia tudo sobre Aristóteles, Platão, Francis Bacon, Gabriel.. enfim tudo que era pensador. Só isso pra explicar um cara que quase se reprovou no período anterior passar com dez no seguinte.

Ou então eu era muito bom de cama.

A faculdade toda já sabia da situação e como no terceiro período ela não dava mais aulas pra mim acabou que assumimos namoro. Era curioso Bia namorar com um professor e eu com uma professora.
Saíamos um pouco. Íamos a bares, restaurantes, teatro, cinema, na Lapa, feira de São Cristóvão, mas era bem pouco mesmo porque a maior parte do tempo passávamos na cama.

Flávia era insaciável, um vulcão que me deixava acabado. Não era raro eu encontrar com amigos com olheiras no rosto e eles brincarem comigo. Eu não aguentava mais e pedi ajuda a Edu que me arrumou uma daquelas pílulas azuis. Tomei no dia que fomos a um motel. Flávia se arrumava no banheiro enquanto eu batia na porta pra ela vir logo. Ela reclamou que já estava indo e pra eu não ficar nervoso.

Respondi que nervosa ficaria ela quando descobrisse com o que eu batia na porta.

Flávia também curtia fantasias eróticas. Tinha vez que ela se vestia de enfermeira, policial, outras eu de bombeiro ou stripper. Nossa imaginação era muito fértil.

Um dia estávamos na cama nos refazendo quando Flávia falou que já podia me apresentar a sua família. Respondi que me sentia honrado e que seria um prazer só tendo medo deles não gostarem de mim. Ela falou para que eu não me preocupasse. Era só eu não ser flamenguista porque ela pertencia a uma família de vascaínos fanáticos.

Eu ri e ela disse que era sério. Eles nunca aceitariam que ela namorasse um flamenguista, só vascaínos e ela mesma não tolerava os “favelados”.Era esse o modo que ela se referia aos torcedores do Flamengo.

E eu só pensava assim “Houston, temos um problema”, porque eu era torcedor do Flamengo.

Aconselhei-me com Edu e Bia sobre o que fazer. Edu mandou que eu me livrasse dela porque nunca se poderia na vida renegar o Mengão. Bia perguntou se eu gostava de Flávia e respondi que sim. Ela então mandou que eu escolhesse o amor porque futebol levava a nada.

Edu olhou pra ela com cara de islâmico vendo Maomé ser renegado, mas o pior pra ele foi me ver concordar com ela.

O Flamengo que me perdoasse, mas eu não podia perder aquela mulher. Ela marcou que eu os conhecesse justo no primeiro jogo da final do estadual entre Flamengo x Vasco.

Cheguei à casa de seus pais e a família toda estava reunida. Mais de trinta pessoas e todas com camisa do Vasco, incluindo ela, menos eu. Rolava churrasco lá com muita cerveja e assim que eu entrei o pai dela veio em minha direção me dando um forte abraço, me dando um copo cheio de cerveja e perguntando pela minha camisa do Vascão.

Falei que estava lavando e ele mandou que o irmão de Flávia que tinha o corpo parecido com o meu buscasse uma camisa do Vasco no seu armário e trouxesse pra mim. Assim fui obrigado a vestir a camisa do Vasco, um dia triste e pra se esquecer na minha vida.

Nos reunimos todos na frente da TV e fui obrigado a gritar com eles “casaca! Casaca! Casaca Saca! Saca! A turma é boa! É mesmo da Fuzarca! Vasco! Vasco!”. Esse e outros gritos de pior espécie que ofendiam o Flamengo.

 O jogo transcorria e eu por dentro torcia pelo Flamengo enquanto eles berravam reclamando do juiz e xingando meu time.  No decorrer do segundo tempo o Vasco fez um gol e eu puto tive que comemorar com eles enquanto meu cunhado soltava fogos.

O jogo acabou 1x0 pro Vasco e no domingo seguinte seria a segunda partida. Meu sogro chamou todos os familiares e disse que alugaria uma van pra todos irem ao maracanã ver o Vasco ser campeão. Tentei sair de fininho quando ele me puxou e disse “inclusive meu dileto e querido genro estará presente”.

Amigo, tem horas na vida que só nos resta estufar o peito e dizer com toda pompa e circunstância “fodeu”.

Tentei fugir no domingo seguinte, mas antes que eu saísse do apartamento Flávia já estava lá pra me buscar. Fomos pra casa de seus pais e de lá saímos de caravana pro Maracanã. Lá dei de cara com Edu vestido com o “manto sagrado” do Mengão. Meu amigo me viu com a camisa do Vasco e fez cara de desapontado. Mandei que ele circulasse antes que os outros vascaínos o vissem lá com camisa do Flamengo e sobrasse pra ele.

Fomos pra dentro do Maracanã e pra minha “felicidade” pro meio da torcida organizada Força Jovem do Vasco.

O jogo corria igual com chances pros dois lados. Os familiares de Flávia vibravam e cantavam músicas de apoio ao Vasco e

xingando o Flamengo enquanto eu ficava quieto. Flávia perguntava o que eu tinha e só respondia que estava nervoso com o jogo. Chegou o segundo tempo e o Flamengo precisava de um gol pra ser campeão. Atacava o tempo todo o que fez Flávia e seus familiares ficarem mudos. O jogo estava perto do fim, eu não conseguia mais ficar sentado.

Até que aos quarenta e oito minutos do segundo tempo, no último lance do jogo o Flamengo fez um gol. O jogo acabou logo depois com o Flamengo campeão.

Eu comecei a gritar feito um doido, entre gritos de Mengo e “Vai tomar no cu Vasco” eu gritava que era “rubro-negro, mulambo e favelado com muito orgulho”. Até que me dei conta da sandice que fazia. Olhei pro lado e vi Flávia, seus familiares e a torcida toda do Vasco olhando pra mim com olhares insatisfeitos. Só consegui falar “ops”.

Nunca corri tanto na minha vida. Eu corria do lado de fora do Maracanã com milhares de vascaínos atrás de mim. Corria rindo e gritando “campeão”.

Fiquei uns dias sem notícias de Flávia achando que nosso caso terminara até que um dia a campainha tocou e era ela. Perguntei se estava tudo bem com ela e Flávia respondeu que sim perguntando por que eu sumira. Respondi que fiquei sem graça de ir atrás dela depois do episódio do Maracanã.

Flávia me beijou e respondeu que aquilo era besteira, era apenas futebol e nosso amor era mais importante.

Os beijos foram aumentando de intensidade e eu puxei Flávia pela mão pra irmos ao quarto. Ela disse que não, queria realizar uma fantasia. Perguntei qual era e Flávia se lembrou de nossa primeira vez e queria que fosse o contrário agora, eu fosse o estuprador. Gostei da ideia e já ia pegando em seus braços com força quando ela se soltou e disse que não era assim.

Ela pediu que eu tirasse a roupa e saísse pela janela ficando no parapeito. Falei que não faria aquilo,porque estávamos no oitavo andar e era muito arriscado. Flávia usou de seu poder de sedução e disse que se eu topasse faria “aquilo” que eu sempre quis e ela recusava.

Pronto, era a senha. Rapidamente tirei a roupa, fiquei peladão e passei pela janela ficando no parapeito. Perguntei se já podia entrar quando ela fechou a janela.

Comecei a bater na janela, não conseguia entrar. Ela fez sinal feio pra mim e disse que aquilo era pelo Vasco e saiu.

Fiquei ali peladão, no oitavo andar de um prédio encostado na parede quase caindo. Flávia lá debaixo gritou “grita campeão agora urubu!!” e foi embora pra sempre.

Uma aglomeração se formava, a imprensa chegou pra noticiar e polícia com os bombeiros.Algumas pessoas embaixo faziam sinal da cruz e me chamavam de tarado outras faziam o mesmo sinal e lamentavam que eu tão jovem chegasse ao ato extremo de tentar “me matar” e eu só pensava na vergonha da situação.

Os bombeiros inflaram um colchão e mandaram que eu pulasse. Respondi que sim, mas antes queria saber o time de cada um deles. Dois responderam que eram Flamengo, um Fluminense e um Botafogo. Fiquei aliviado e respondi “tá bem, sem vascaínos eu pulo”.

E pulei pensando no caminho até o chão que mulher e futebol eram uma péssima mistura.


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ELLEONOR

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