TROCANDO EM ARTES: HAIR


Trocando em artes fala hoje de um musical icônico, um musical que virou símbolo de uma época.

Trocando em artes orulhosamente apresenta:


Hair


Hair: The American Tribal Love-Rock Musical é um rock-musical escrito por James Rado e Gerome Ragni, também autores das letras das músicas criadas por Galt MacDermot. Produto da contracultura hippie e da revolução sexual dos anos 60, muitas de suas canções tornaram-se hinos dos movimentos populares anti-Guerra do Vietnã nos Estados Unidos.

A profanação de valores embutida no musical, sua descrição do uso de drogas ilegais, tratamento da sexualidade, irreverência pela bandeira nacional e uma cena de nu explícito, causaram enorme controvérsia. Ele trouxe o mundo dos musicais a novos parâmetros, criando o "rock-musical", usando a integração racial para compor o elenco e convidando a platéia a interagir com o espetáculo, subindo ao palco na cena final.

Hair conta a história da "Tribo", um grupo de hippies cabeludos politicamente ativos da 'Era de Aquário', que levam uma vida boêmia em Nova York e lutam contra o alistamento militar para o Vietnã. "Claude", seu bom amigo "Berger", sua amiga "Sheila" e outros amigos hippies, tentam equilibrar suas jovens vidas, amores e sexo livre com a rebelião pessoal contra seus pais e a sociedade conservadora norte-americana. Em última análise, "Claude" precisa decidir entre rasgar seu cartão de alistamento como seus amigos fizeram ou sucumbir à pressão de seus parentes (e da América conservadora) e servir no Vietnã, comprometendo seus princípios pacifistas e arriscando sua vida.

Após estrear off-Broadway em outubro de 1967 no The Public Theater – onde ficou por 45 dias – e fazer algumas apresentações numa discoteca no centro de Manhattan, a peça estreou na Broadway em 29 de abril de 1968 para uma carreira que duraria por 1750 apresentações. Produções subsequentes e simultâneas foram montadas em diversas cidades dos Estados Unidos e da Europa e a partir daí a peça foi apresentada por todo o mundo, incluindo a gravação de discos nas línguas locais, como a gravação original do elenco nova-iorquino, que vendeu cerca de três milhões de cópias nos Estados Unidos e ganhou o Grammy Awards de Melhor Álbum de Musical. Algumas das canções fizeram parte da lista de Top 10 da Billboard e um filme foi feito em 1979, dirigido por Milos Forman, baseado no musical.


História


Hair foi concebido pelos atores James Rado e Gerome Ragni, que se conheceram em 1964 durante uma peça fracassada encenada off-Brodway chamada Hang Down Your Head and Die e começaram a escrever juntos o musical no fim daquele ano. Os personagens principais, "Claude" e "Berger", são autobiográficos, com o "Claude" de Rado sendo um romântico pensativo e o "Berger" de Ragni um extrovertido. A relação próxima e volúvel dos dois autores foi refletida no musical. Rado diz: "Nós éramos grandes amigos. Tínhamos um tipo de relação passional que dirigíamos para a criatividade, para os textos e canalizamos para a criação da peça. Nós colocamos o drama existente entre nós em cima do palco."

Rado descreve a inspiração para Hair como a combinação de alguns personagens que encontravam pelas ruas, pessoas que conheciam e sua própria imaginação: "Nós conhecemos esse grupo de garotos do East Village que estavam recusando e jogando fora os certificados de alistamento e havia vários artigos na imprensa sobre alunos que estavam sendo expulsos das escolas por usarem cabelos compridos. Havia uma grande excitação nos parques, nas ruas e nas áreas hippies e nós imaginamos que se pudéssemos transmitir isso para o palco seria magnífico. Nós saíamos com eles e íamos a seus "Be-Ins"  e deixamos nossos cabelos crescer. Vários integrantes do elenco original foram recrutados diretamente das ruas." Rado continua: "Aquilo foi muito importante historicamente e se nós não o tivéssemos escrito, não teria havido nenhum registro daquele movimento. Você hoje pode ler ou ver filmes sobre aquilo, mas não pode vivenciar a experiência pessoalmente. Nós pensamos: Isto está acontecendo nas ruas e queremos levar para o palco."

Rado e Ragni levaram seus rascunhos da peça até um produtor, Eric Blau, que os colocou em contato com o compositor canadense Galt MacDermot. MacDermot havia ganho o Grammy em 1961 e tinha um estilo de vida completamente diferente dos outros dois. Usava cabelo curto, tinha esposa, quatro filhos e nunca tinha entrado em contato com um hippie antes do encontro, mas dividiu com eles o entusiasmo por criar um musical de rock & roll. Os três trabalharam de maneira independente, com Rado e Ragni lhes levando as letras e ele transformando-as em música. MacDermot compôs a trilha musical completa em três meses.

Os criadores de Hair apresentaram o musical para diversos produtores e receberam apenas negativas. Eventualmente, Joseph Papp, que dirigia o New York Shakespeare Festival, resolveu que queria Hair para abrir o novo The Public Theater, ainda em construção no East Village de Nova York. Hair seria a primeira atração oferecida por Papp que não era relacionada a William Shakespeare. A montagem, porém, não ocorreu com tranquilidade. O diretor do Public, Geral Freedman, demitiu-se frustrado: "A seleção e os ensaios foram confusos, o material em si era incompreensível para vários de nós da equipe do teatro." Papp aceitou a renúncia de Freedman e contratou a coreógrafa Anna Solokow para o cargo, mas após um desastrado ensaio final com as roupas da peça, ele foi obrigado a chamar Freedman em Washington, onde ele se encontrava, para que assumisse o trabalho novamente.

Hair estreou em 17 de outubro de 1967 e foi encenado no Public por cerca de seis semanas. Apesar de receber críticas mornas da imprensa, ele logo se tornou popular com as audiências e no mesmo ano um álbum com as músicas foi gravado pelo elenco off-Broadway.

Michael Butler, um empresário de Chicago que pretendia lançar sua candidatura ao Senado dos Estados Unidos tendo como plataforma política a oposição à Guerra do Vietnã, viu um anúncio da peça no New York Times e, imaginando tratar-se de uma obra sobre índios americanos, sugestionado pelo cartaz do anúncio, foi ao teatro assistí-la. Acabou assistindo-a várias vezes e resolveu juntar esforços com Papp para levar o musical a outro teatro de Nova York quando acabasse o tempo acordado de exibição no Public. Sem um teatro disponível, os dois levaram Hair para uma discoteca na Broadway, onde ela estreou em 22 de dezembro de 1967 e foi encenada durante 45 dias. Tanto no Public Theater quanto na discoteca, ainda não havia nudez em Hair.

Entre o fim das apresentações na discoteca Cheetah e a estréia na Broadway três meses depois, Hair passou por várias modificações. Seu enredo original off-Broadway, que já trazia a base do que o faria famoso mas tinha muitas divagações surreais, foi ainda mais depurado, tornando-o mais realista. Por exemplo, o personagem "Claude", que na concepção original era um extra-terrestre que pretendia ser um cineasta, na montagem final da Broadway tornou-se um humano. Além disso, treze novas canções foram incluídas no roteiro e "Let the Sunshine In", um de seus futuros hinos pacifistas, foi adicionado ao fim do musical, para que ele se tornasse mais edificante e otimista em sua mensagem. Antes da mudança para a Broadway, a equipe de criação contratou o diretor Tom O'Horgan, que havia feito sua reputação dirigindo teatro experimental em Nova York. Ele tinha sido a primeira escolha dos autores para dirigir a peça no Public, mas na época encontrava-se na Europa. A revista Newsweek descreveu o estilo de direção de O'Horgan como "selvagem, sensual, e bem musical … [ele] desintegra a estrutura verbal e muitas vezes divide e distribui o caráter narrativo até mesmo entre diferentes atores.... O'Horgan gosta de um bombardeio sensorial." Nos ensaios, o diretor usou técnicas que envolviam jogos de improvisação e muitas delas acabaram incorporadas ao roteiro final. O'Horgan e a nova coreógrafa Julie Arenal encorajaram a liberdade de criação e a espontaneidade entre seus atores, introduzindo um estilo de interpretação expansiva e orgânica nunca vista antes na Broadway. A inspiração para incluir a nudez no musical veio quando os autores assistiram a uma demonstração anti-guerra no Central Park onde dois homens ficaram nus numa atitude de desafio e liberdade, e decidiram incorporar a ideia ao show. O'Horgan já havia usado da nudez em várias de suas peças experimentais, e ajudou a integrar a ideia dentro da estrutura do musical.

Papp, o produtor original off-Broadway declinou de tentar uma carreira para Hair na Broadway, e assim Butler assumiu a produção e o desafio sozinho. Durante algum tempo parecia que ele não seria capaz de conseguir um teatro, já que os donos dos principais deles ficaram receosos de exibir material tão controverso. Butler, porém, puxou alguns cordões de ligações políticas e laços familiares e acabou convencendo David Cogan, dono do Biltmore Theater, a lançar o espetáculo.


Enredo


O ano é 1968 e o lugar é um parque em Greenwich Village, Nova York. Claude está sentado sozinho no meio do palco. Um altar e uma chama estão dispostos à sua frente. Aos poucos, a Tribo se aproxima e se junta a ele. Berger e Sheila, dois amigos e integrantes da Tribo, cortam uma mecha de seu cabelo e a colocam no fogo. O grupo então abre o musical cantando '"Aquarius".

Berger se apresenta ao público e canta "Donna", sobre seu amor perdido. A Tribo o segue cantando "Hashish", enquanto "Woof" homenageia a sexualidade cantando "Sodomy". "Hud" entra em cena, pendurado de cabeça para baixo pelas pernas numa vara e canta "Colored Spade". Finalmente é Claude quem se apresenta à platéia cantando "Manchester, England" e diz: 'Eu sou Aquarius, destinado à grandeza ou a loucura'. A Tribo o segue cantando "I'm Black" e "Ain't Got No".

Sheila, a estudante burguesa da Universidade de Nova York e ativista política, é carregada numa fanfarra enquanto canta "I Believe in Love". Ela então lidera a Tribo numa manifestação pela paz ("Ain't Got No Grass" e "Air"). "Jeannie", membro da Tribo, que canta "Air" com as amigas "Crissy" e "Dionne", revela que está grávida mas que se apaixonou por Claude. A Tribo canta "Initials" e então Claude anuncia: "Esta, amigos, é a Idade da Pedra psicodélica".

Claude é então confrontado por três conjuntos de "pais" e "parentes", interpretados por membros da Tribo, que o pressionam falando sobre ética, trabalho, valores americanos e lhe dizem que uma carta com sua convocação para a Guerra do Vietnã chegou pelo correio. Um conflito então surge entre as épocas de 1948 e 1968 ("I Got Life" e bis de "Ain't Got No").

Mais tarde, Berger diz à Tribo que Claude teve que se apresentar na junta de alistamento. Berger também acabou de ser expulso do colégio e é atacado por três diretores de estilo "hitlerista" ("Goin' Down"). Claude retorna anunciando que passou nos exames físicos do exército. Berger, Woof e Hud tentam ter ideias para permitir a Claude se livrar da convocação e do serviço militar no Vietnã. Em seguida, Claude queima o que parece ser seu cartão de alistamento mas a Tribo descobre que era apenas um cartão de biblioteca. Um homem e uma mulher passam pelo local, turistas numa terra de hippies, e falam com o grupo. Claude, Berger e o resto da Tribo cantam "Hair" para eles. A mulher, impressionada, canta "My Conviction" em resposta e confessa que é um travesti.

Sheila se junta ao grupo. Ela conta como vive em conjunto com Berger e Claude e mostra uma camisa de cetim amarela que trouxe para Berger. Ele começa a brincar em volta deles, "estapeando-a", pisando na camisa e gritando. Claude e Sheila tentam fazê-lo ficar quieto cobrindo sua cabeça com a camisa, quando Berger a pega, leva para longe e a rasga. Sheila, irritada com a atitude, canta "Easy to Be Hard". Berger então pega a camisa de volta e a leva para costurar e Sheila confessa a Claude que está impaciente com o amigo. Então Berger e Woof fazem sua irônica saudação à bandeira americana cantando "Don't Put it Down".

"É hora pra o Be-In! Turistas…venham para a orgia!" Jeannie tentar ficar junto a Claude mas ele a rejeita. Ela está saindo para segui-lo ao "Be-In" quando vê Crissy num canto. Crissy lhe diz que está ali para esperar por "Frank Mills" (que ela canta), um amor que se foi. Participando do Be-In, a Tribo canta "Hare Krishna" celebrando o amor e a vida, consumindo maconha.

Claude então prepara-se para queimar realmente seu cartão de alistamento, mas muda de ideia e canta "Where Do I Go". Depois, pergunta onde estão todos. A Tribo então emerge toda nua entoando palavras como 'liberdade', 'felicidade' e 'flores'.

Crissy tenta ouvir uma música numa vitrola mas é abafada pelo grupo cantando "Electric Blues". A Tribo emenda a canção com "Oh Great God of Power" mas tudo que conseguem é ver Claude aparecer vestido com uma roupa de gorila. Ele acaba de retornar do centro de alistamento e Berger e a Tribo descrevem sua versão do encontro. Três das mulheres da tribo cantam as virtudes dos negros em "Black Boys" e são respondidas por três loiras caracterizadas como integrantes do trio The Supremes que cantam "White Boys". Berger começa a distribuir cigarros de maconha entre todos e logo que a droga faz efeitos todos cantam "Walking in Space".

A ação então é focada na viagem alucinógena de Claude. Nela, aparece George Washington na guerra, acompanhado de vários índios. A eles se juntam Abraham Lincoln, John Wilkes Booth, Ulysses Grant, Calvin Coolidge e Scarlett O'Hara. Logo depois aparecem monges budistas, freiras católicas e manifestações contra a guerra se seguem, como a feiúra da guerra contra os vietcongs. A Tribo invoca as palavras de Shakespeare cantando "What a Piece of Work is Man" para tentar entender e racionalizar os fatos. Enfim a "viagem" termina ("How Dare They Try") e todos tentam trazer Claude de volta à realidade. Entretanto, ele parece ter problemas em retornar aos dias presentes.

A Tribo divide-se em grupos para dormir sob a luz do luar e Sheila canta "Good Morning, Starshine". Um colchão aparece e a Tribo comemora, cantando "Never Can You Sin in Bed". Eles separam-se de Claude e reuném-se num grupo de "Flower Power" batendo paus e panelas, entoando cânticos anti-guerra. Depois chamam por Claude, mas ele desapareceu.

Sem ser visto por seus amigos, pois só está ali em espírito, Claude reaparece de uniforme militar e diz:"Estou exatamente aqui. Gostem disso ou não, eles me pegaram." ("The Flesh Failures"). Ainda sem poder vê-lo, a Tribo canta "Eyes, Look Your Last" em contraponto a Claude que canta novamente "Manchester, England". Sheila repete "The Flesh Failures" e lidera o grupo na canção final "Let the Sun Shine In".

Ao final, a Tribo descobre a presença de Claude, que está deitado no chão, de uniforme sobre a bandeira americana, no centro do palco. Berger pega seus pedaços de pau, com eles faz uma cruz sobre o corpo deitado de Claude, e todos desaparecem, deixando o corpo estendido no chão. No encerramento, a Tribo volta a cantar "Let the Sunshine In" e chama a platéia para dividir o palco com eles.


Canções 



A trilha musical tinha muito mais canções que os musicais típicos da época. A maioria dos espetáculos da Broadway tinha entre seis e dez canções por ato. O total de Hair era de mais de trinta. A lista abaixo reflete a apresentação mais comum na Broadway:

"Aquarius"
"Donna"
"Hashish"
"Sodomy"
"I'm Black/Colored Spade"
"Manchester England"
"Ain't Got No"
"I Believe in Love"
"Air"
"Initials (L.B.J.)"
"I Got Life"
"Going Down"
"Hair"
"Easy to Be Hard"
"Don't Put It Down"
"Frank Mills"
"Be-In"
"Where Do I Go"
"Electric Blues"
"Black Boys"
"White Boys"
"Walking in Space"
"Yes, I's Finished/Abie Baby"
"Three-Five-Zero-Zero"
"What a Piece of Work Is Man"
"Good Morning Starshine"
"The Bed"
"Aquarius" – (repetição)
"Manchester England" (repetição)
"Eyes Look Your Last"
"The Flesh Failures"
"Let the Sunshine In"


Nudez, liberdade e drogas


A breve e famosa cena de nudez ao final do Primeiro Ato foi objeto de grande controvérsia e notoriedade. O crítico Gene Lees escreveu:"Muito se tem falado desta cena…a maioria um monte de bobagens". A cena foi inspirada na nudez de dois homens, para provocar a polícia, presenciada por Rado e Ragni durante uma manifestação anti-guerra. Durante a canção "Where Do I Go", o palco era forrado com uma grande peça de tecido, próprio para uso em cenários de teatro, principalmente cortinas, em cima do qual, aqueles que escolhessem ficar nus – a nudez era opcional para os atores – retiravam as roupas. Enquanto a canção se desenrolava, eles ficavam nus, imóveis e em pé, cantando sobre pérolas, flores, felicidade e liberdade. A cena demorava cerca de 20 segundos. Ela era tão rápida e iluminada de maneira tão difusa, que levou o comediante Jack Benny a fazer graça num intervalo de uma apresentação em Londres, perguntando: "Vocês repararam se algum deles era judeu?" Mesmo assim, a cena resultou em várias ameaças de censura e reações violentas em alguns lugares.

O elenco francês - que contou por dois anos com a participação do ator e cantor português Sérgio Godinho - era o que mais ficava nu das produções estrangeiras, enquanto a Tribo de Londres achava a cena a mais difícil de fazer no musical. O elenco sueco teve muita relutância com a cena enquanto o dinamarquês chegava a andar nu pelos corredores do auditório durante o prelúdio da peça. Em algumas apresentações iniciais, os alemães realizavam a cena atrás de uma grande faixa cobrindo a parte de baixo de seus corpos, escrita "censurado". Donna Summer, que fez parte da tribo alemã, resumiu o fato: "A cena não tinha nenhuma pretensão de ser sexual e não era. Nós ficávamos nus, em pé, simbolizando o fato de que a sociedade se preocupa mais com a nudez do que com mortes. Nós nos preocupamos mais com alguém andando quase nu pelas ruas do que com alguém andando por aí atirando nas pessoas".No Brasil, o problema foi de outra maneira, com a cena sendo realizada normalmente mas com duração limitada, exigida pela censura militar da época e só permitida após longa negociação entre os produtores e os censores do governo.

Natalie Mosco, integrante do elenco original da Broadway, explicou seus sentimentos:'"Eu era totalmente contra fazer a cena de nu em princípio, mas me lembrei de minha professora de arte dramática me dizendo que parte do trabalho de representar é ser privado em público. Então eu a fiz." Outra atriz da montagem original, Melba Moore, disse:"A cena não significa nada mais do que você quer que signifique. Nós damos muito valor em cobrir nossos corpos, mas isso não significa nada. É como muitas pessoas ficarem tensas sobre nada. Sim, no começo eu estava apavorada. Pensei, 'estou aqui nua, sem proteção e todo mundo olhando pra mim'. Agora, eu fico surpresa de estar ali, nua, completamente à vontade, sem ficar embaraçada. Quem fica assim é a audiência."  James Rado disse:" Ficar nu na frente de uma plateia significa que vocês está desnudando sua alma. Não apenas sua alma mas todo seu corpo. A cena é muita apta para o musical, muito honesta e quase necessária".

Hair glorifica a liberdade sexual de várias maneiras. "O elemento amor era palpável no movimento pacifista", diz Rado. Durante a canção "Sodomy", Woof exorta a todos "participarem da completa orgia do Kama Sutra.". Perto do fim do Segunto Ato, os membros da tribo revelam suas tendências ao amor livre quando brincam sobre quem vai dormir com quem naquela noite. Woof tem uma grande atração por Mick Jagger e um abraço a três entre Claude, Berger e Sheila, acaba com os dois homens se beijando.

Várias drogas ilegais são usadas pelos personagens durante o musical, especialmente um alucinógeno durante a sequência da viagem lisérgica de Claude. A canção "Walking in Space" começa durante a sequência e a letra homenageia a experiência declarando "como eles ousam interromper esta beleza…neste mergulho nós redescobrimos as sensações…nossos olhos estão abertos, muito, muito, muito…" Em outra fala, Sheila fuma um cigarro de maconha e diz que quem pensa que maconha é ruim, tem a cabeça cheia de merda". De maneira geral, a Tribo tem preferência por alucinógenos e drogas de 'expansão da mente', em detrimento de depressivos e anfetaminas. A canção "Hashish" fala de um lista de drogas farmacêuticas, legais e ilegais, como álcool, cocaína, LSD, ópio e clorpromazina, usada como psicotrópico.


Carreira


Hair estreou na Broadway, no Biltmore Theatre, em 29 de abril de 1968, dirigido por Tom O'Hogan, com coreografia de Jule Arenal, cenografia de Robin Wagner, figurinos de Nancy Potts e iluminação de Jules Fisher. O elenco original e os personagens que representaram era composto por James Rado (Claude), Gerome Ragni (Berger) (os dois autores nos papéis masculinos principais), Steve Curry (Woof), Lynn Kellogg (Sheila), Sally Eaton (Jeanie), Lamont Washington (Hud), Shelley Plimpton (Crissy), Melba Moore (Dionne), Jonathan Kramer (travesti) e Diane Keaton - anos depois vencedora do Oscar - Donnie Burks, Lorrie Davis, Paul Jabara - que nos anos 70 e 80 comporia sucessos para Donna Summer, Barbra Streisand e The Weather Girls - Ronnie Dyson, Leata Galloway, Emmaretta Marks (integrantes da Tribo), entre outros.

A produção do musical logo se viu envolvida num processo judicial com os organizadores do Prêmio Tony. Depois de assegurar a Michael Butler que todos os espetáculos que tiveram pré-estreias até 3 de abril estariam elegíveis para concorrer aos prêmios, a direção da New York Theatre League, que administra os Tony, voltou atrás e estipulou a data de 19 de março de 1968 como o prazo máximo para que os concorrentes do ano pudessem participar, o que deixava Hair de fora. Os produtores então processaram a entidade, mas não conseguiram ganhar a causa nem forçar os administradores do Tony a reconsiderarem.

Hair participou dos Tony apenas no ano seguinte, 1969, indicado para Melhor Musical e Melhor Diretor mas perdeu nas duas categorias.O musical entretanto, continuou seu sucesso de público por 1750 apresentações na Broadway, encerrando apenas em 1 de julho de 1972.

Da Broadway, várias montagens da peça foram feitas pelos Estados Unidos, iniciando por Los Angeles para onde foram alguns dos integrantes do elenco original, incluindo os dois autores, e depois São Francisco e Chicago, chegando a haver nove produções simultâneas e fixas em cidades diferentes, além de um grupo que saiu em turnê nacional pelo país. As produções regionais tinham em seu elenco atores locais, mas em algumas delas os atores originais também participavam fazendo seus personagens da Broadway. O'Horgan, Rado e Ragni muitas vezes aproveitavam improvisações feitas nestes espetáculos para os incorporarem ao musical em Nova York, como quando galinhas vivas foram jogadas no palco em Los Angeles.

Na época, era extremamente raro que tantas montagens secundárias fossem espalhadas pelo país enquanto uma peça ainda estivesse sendo apresentada na Broadway. O produtor Michael Butler, que tinha declarado que Hair era o "mais poderoso libelo anti-guerra jamais escrito", disse que a razão para isso é que ele queria que mais pessoas tivessem contato imediato com as mensagens do musical, para influenciar a opinião pública contra a Guerra do Vietnã e terminá-la o mais rápido possível.


Controvérsias


Hair desafiou muitas das normas da sociedade ocidental vigentes em 1968. O nome do musical, que deriva de uma pintura do artista da pop art Jim Dine, que mostra um pente e alguns fios de cabelo, era uma reação às restrições da civilização e seu consumismo e uma opção pelo naturalismo. James Rado relembra que cabelos compridos era "uma forma visível de consciência na expansão de seu consciente. Quanto maior era o cabelo, mais expansiva era a mente. Cabelos longos eram algo chocante e era um ato revolucionário deixá-los crescer. Era, realmente, como se fosse uma bandeira."

O musical levantou controvérsias desde que surgiu nos palcos. O final do Primeiro Ato, onde os atores ficam nus, foi a primeira vez que a Broadway viu atores e atrizes inteiramente nus em cena. Ele também foi acusado de profanação à bandeira nacional e linguagem obscena. Estas polêmicas, junto com a postura e o tema anti-Guerra do Vietnã, ocasionou algumas ameaças e atos de violência nas primeiras apresentações de Hair e se tornaram a base de ações legais contra os produtores, tanto nas montagens fixas em outras cidades, quanto nas apresentações em turnês pelo país. Dois casos de tentativa de censura foram parar na Suprema Corte dos Estados Unidos.

A companhia de Hair que excursionou pelo interior dos Estados Unidos foi a que mais enfrentou resistências morais. Em Indiana, a produção sofreu piquetes de diversos grupos religiosos. No Texas, a montagem era constantemente ameaçada de ser fechada pelas autoridades. Em Chattanooga, no Tennessee, as autoridades se negaram a ceder o auditório público da cidade para a montagem, o que depois foi contestado pela Suprema Corte como censura e inconstitucional.

Em Boston, as medidas legais tomadas pela autoridades locais contra Hair por causa, em princípio, da cena com a bandeira americana, foram também levadas à Suprema Corte pelos produtores. Mesmo com a cena removida antes da abertura, a procuradoria-geral da cidade continuou tentando impedir a exibição depois da temporada iniciada sob o argumento de que cenas lascivas e libidinosas aconteciam no palco. Depois de uma batalha legal que passou pela Suprema Corte de Massachusetts, a apelação à Suprema Corte federal decidiu em favor dos produtores citando a liberdade de expressão e as autoridades foram obrigadas a permitir a reabertura do espetáculo em 22 de maio de 1970, preliminarmente censurado após já ter estreado.

Em abril de 1971, uma bomba foi jogada na frente do teatro que o exibia em Cleveland, destruindo vidros e abalando e causando danos na marquise no edifício. No mesmo mês, familiares do integrante do elenco local Jonathan Johnson e do diretor de palco Rusty Carlson morreram num incêndio num hotel que alojava 33 membros do elenco. Em St. Paul, Minnesota, um clérigo protestante soltou dezoito ratos brancos dentro do teatro.

Mesmo em Nova York, um protesto silencioso feito na Broadway foi muito noticiado pela imprensa. Os astronautas James Lovell e John Swigert, recém-retornados da dramática missão da Apollo 13 (que, por ironia, tinha o módulo lunar que os salvou a vida batizado como 'Aquarius') retiraram-se no meio do espetáculo por considerarem que o musical pregava o anti-americanismo por causa da cena com a bandeira americana.

Por outro lado, em São Francisco a população hippie considerava Hair como uma extensão deles mesmos e de suas vidas nas ruas. Frequentemente ultrapassavam a barreira entre arte e realidade meditando em conjunto com os integrantes do elenco ou subindo ao palco durante o espetáculo. Henry Kissinger foi visto na platéia de uma das apresentações em Washington D.C. e a Princesa Anne, então com 18 anos, foi flagrada dançando no palco durante uma das apresentações em Londres.


Produção brasileira


Hair estreou no Brasil em outubro de 1969, pouco depois da edição do AI-5, durante o período mais duro da ditadura militar no país, quando a cassação de direitos políticos, censura aos meios de comunicação e a prisão e tortura dos adversários do regime ocorriam constantemente. O musical estreou no Teatro Bela Vista em São Paulo após longa negociação de seus produtores com a censura. A montagem original tinha várias cenas de nudez, e foi necessário chegar a um acordo em que os atores apareceriam nus uma única vez na peça e imóveis, durante um minuto apenas.

A Altair Lima Produções encenou o musical com produção de Maria Célia Camargo e direção de Ademar Guerra, versão de Renata Pallottini, direção musical de Claudio Petraglia na versão paulista e de Geny Marcondes na montagem carioca posterior. O pianista João Carlos Pegoraro foi o pianista e ensaísta da peça e quem acompanhou o musical, mais tarde incluindo no seu trabalho Jesus Cristo Superstar e Godspell (este trabalhando como maestro/arranjador).

Hair contou em seu elenco, entre 1969 e 1972, com vários atores jovens, muitos deles ainda desconhecidos, que mais tarde se tornariam astros do cinema e da televisão. O elenco original era encabeçado por Altair Lima, Aracy Balabanian, Armando Bogus, Bibi Vogel, Sonia Braga, Laerte Morrone, Helena Ignez, Fernando Reski, Ricardo Petraglia, Maria Regina, Ariclê Perez, Maria Helena Dias, Neuza Borges, Rosa Maria, José Luiz de França Penna (depois deputado do Partido Verde), Buza Ferraz, Ivone Hoffman, entre outros. Mas o rodízio de atores foi grande devido à extensa temporada de dois anos em cartaz, e assim, passaram por lá também, Luiz Fernando Guimarães, Célia Olga, Antonio Pitanga, Cléo Ventura, Esther Góes e Edyr de Castro (mais tarde uma das Frenéticas); posteriormente Antonio Fagundes, Francarlos Reis, Nuno Leal Maia, Ney Latorraca, Denis Carvalho, Tamara Taxman, Maria Aparecida Baxter, José Wilker, Betina Viany, Tânia Scher e Wolf Maia, entre outros.

A grande estrela do musical, porém, foi Sonia Braga, então com 18 anos. A princípio recusada pelo diretor Ademar Guerra, só entrou no elenco por insistência de Altair Lima, também ator do musical e um dos produtores, que comprou os direitos da peça para ser encenada no Brasil e investiu todas as suas economias nela. Também houve, em 1969, o lançamento do disco LP da peça Hair pela Produções Fermata. Mais tarde, Sonia foi consagrada por Caetano Veloso em seus versos "uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel, ela me conta que era atriz e trabalhou no Hair", da música "Tigresa", de 1977.

Seguindo-se ao relançamento do musical na Broadway em 2009, os diretores e produtores Charles Möeller e Cláudio Botelho produziram uma nova montagem brasileira, quarenta anos depois da original, que estreou no Rio de Janeiro em novembro de 2010 e em São Paulo, no Teatro Frei Caneca, em janeiro de 2012, com trinta jovens atores e cantores também pouco conhecidos do grande público como Hugo Bonemer, Igor Rickli, Letícia Colin, Jana Amorim, e Karin Hils entre outros, escolhidos entre mais de 5 mil inscritos para a seleção do elenco.


Trocando em artes versão teatro deseja a todos um feliz Natal e um excelente 2020.


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