AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO XXV - O FIM (1º PARTE)


É..o título do capítulo está certo. É o fim. Não dizem que todo carnaval tem seu fim? Então, a saga de minha vida também..e de minha morte.

Estavam todos lá. Pai, mãe, Eva, Kátia, tio Freitoca, vô, vó, Edu..Bia, todos pra se despedirem de mim. O jogo se aproximava do fim e estava próxima a hora do padre rezar a missa e fecharem o caixão.

Bem..enrolei, enrolei...vinte e cinco capítulos contando minhas histórias amorosas e não contei como morri né? Pois bem, vou contar..mas antes só um detalhe. O Flamengo marcara o segundo gol com gol do meu amigo craque e boêmio Berto Gardenal que comemorou simulando um ato sexual em minha homenagem e foi expulso.

Bem, voltemos a história.

Fiquei arrasado. Perdi Joana para seus avós e Bia casaria aquela noite com Caim. Passei o dia vagando pelas ruas pensando em como minha vida estava uma droga e tudo dava errado.

Sentei no Arpoador e fiquei olhando as águas baterem nas pedras. Refleti em minha vida e como falhei, era pra eu estar no casamento da Bia, mas não tinha coragem de ver a mulher da minha vida casando. Determinado momento estranhei que ninguém me ligava. Peguei o celular no bolso e percebi que ele estava desligado. Liguei e havia mais de vinte chamadas perdidas de Joana.

Preocupado liguei pra minha filha e perguntei se algo ocorrera. Ela seria dama de honra do casamento de Caim e Bia e estava com os avós saindo de um salão de beleza. Joana perguntou quando eu tinha virado um “bundão” e eu perguntei se aquele era modo de falar com seu pai. Joana reforçou dizendo que eu era um bundão, que deixaria a mulher que eu amava casar com outro sem lutar.

Perguntei o que dava tanta certeza assim que eu amava a Bia e ela respondeu que estava na cara, nós nos amávamos e não assumíamos. Engasguei com o “nós”. Perguntei a minha filha se ela achava mesmo que Bia me amava. Joana mandou que eu parasse de lhe fazer perguntas e corresse pra igreja, o casamento começava em uma hora e eu teria que me apressar.

Disse isso e desligou na minha cara.

Fiquei em pé, olhei o mar, gritei "não sou bundão ' com dois maconheiros me mandando ficar quieto porque estava cortando o barato deles e corri para a igreja.

Peguei um táxi e pedi pro motorista se apressar porque eu tinha que evitar um casamento. O motorista acelerou muito até a esquina seguinte quando deu de cara com um engarrafamento. Preso no engarrafamento eu entrava em desespero vendo o tempo passar e eu longe da igreja. O trânsito não andava e eu não conseguiria chegar a tempo. Via motos passando por mim e prosseguindo então percebi que seria a única maneira de chegar à igreja. Agradeci ao motorista do táxi, dei um dinheiro e desci.

Na hora que desci vi uma moto se aproximando. Postei-me à frente, levantei os braços e gritei “para”.
O motoqueiro parou e gritou “qual é meu irmão? quer virar presunto?” Respondi que não, queria impedir um casamento e precisava da ajuda dele. O motoqueiro respondeu que não podia ajudar porque precisava entregar pizzas. Tirei um maço de dinheiro da carteira e falei “prazer, meu nome é pizza”.

Subi na moto e o motoqueiro saiu voando. Vocês sabem como são esses motoboys né?

Mas assim como acelerou de repente parou. Perguntei o que ocorrera e ele respondeu que a gasolina acabara e pediu desculpas, pois, não tinha mais como ajudar. Desesperado, sentei no meio fio sem saber o que fazer. O engarrafamento era monstruoso ainda e parecia que tudo jogava contra.

Até que vi uma ambulância da SAMU passando com sirene ligada.

Todos os carros desviavam pra ambulância passar então rapidamente me joguei na frente dela, levantei os braços gritando “doente” e me joguei no chão.

O motorista desceu e eu levantei implorando por ajuda porque a mulher da minha vida iria casar em minutos e eu tinha que impedir. Falei tudo isso com cara de choro e de desesperado. Essas coisas sempre deram certo em filmes, mas dessa vez não deu. O homem falou que eu era maluco e se encaminhou pra ambulância. Peguei o resto de dinheiro que tinha na carteira e mostrei pra ele.

Fiquei duro, mas recebi a carona. A ambulância com sirene ligada conseguia abrir caminho como Moisés fez no mar vermelho.  Olhei pra trás e vi um homem todo entubado em uma maca com médico e enfermeira cuidando dele. Fiz sinal positivo e falei pro homem que ele sairia dessa, nesse momento o motorista falou pra mim “sai não”. Respondi “é, também acho”.

O motorista me deixou na frente da igreja e corri com ele e o homem entubado me desejando boa sorte.

Corri, entrei esbaforido na igreja e ao ver o casal na frente do padre gritei “Não casa!!”. Tomei um susto quando o casal se virou. A noiva era uma ex minha, a Queila.

Intrigado, perguntei se aquela era a igreja de São Francisco de Assis. O padre respondeu que não, era a de São Francisco de Paula, a de Assis era ao lado. Pedi desculpas pelo transtorno e saí. Segundos depois voltei e aconselhei o noivo a não casar porque ela era lésbica.

Enquanto Queila jurava ao noivo que não era lésbica corri pra outra igreja e encontrei o casal virado pro padre. Perguntei pra um dos convidados se era a igreja de São Francisco de Assis e ele respondeu que sim. Agradeci e gritei “Não casa!!”

Caim e Bia se viraram pra mim e Bia no susto gritou “Adão??”. Dei um suspiro de alívio por ser o casamento certo e andei até ela. Pedi a Bia que ela não se casasse, ela perguntou por quê. Engasguei e nesse momento olhei Joana. Minha filha disse “vai”. Enchi-me de coragem e falei...

..não case porque eu amo você, eu amo o jeito que eu sou perto de você, eu amo o modo que tento ser uma pessoa melhor por você. Amo você desde o dia que te conheci. Amo o jeito que você fecha os olhos quando sorri, amo o jeito que você me abraça quando me vê, amo o jeito que geme quando faz amor comigo..desculpe padre.. amo a sua pele em contato comigo, sua boca na minha, amo ficar abraçado com você até o dia amanhecer falando sobre tudo. Amo o jeito que você me ouve, que você me fortalece, que me sinto vulnerável, fraco e exposto perto de você porque nesse momento é o verdadeiro eu que está ali. Amo a minha vida porque você está nela..

..amo pensar em casar com você, ter filhos, netos, comprar um sítio pra passarmos nossos fins de semana com a família e comer macarronada aos domingos. Amo a ideia de envelhecer ao seu lado, colocarmos nossas dentaduras no mesmo copo, lembrar de histórias de nossa juventude e mesmo com alzheimer eu até o fim da vida lembrar do dia que nos conhecemos. Amo a possibilidade de morrer com a cabeça no teu peito numa cadeira de balanço e assim eu perceber que a minha vida valeu a pena..

..amo você Bia.

Parei de falar e ouvia soluços e enxugamento de lágrimas pela igreja, inclusive o padre. Eu também com lágrimas nos olhos esperava uma resposta dela.

Bia com os olhos marejados e voz embargada disse “sinto muito Adão, mas não dá. Desculpa”.

Pronto, acabaram minhas chances, minha última tentativa. Perdi Bia pra sempre.

Decepcionado falei “tudo bem” e me virei pra ir embora. Saía de cabeça baixa, corpo curvado, lágrimas nos olhos, completamente derrotado com todos os convidados olhando minha saída quando uma voz muito afetada gritou “benhê, você está doida?”.

Curioso, virei pra ver quem falava e tomei um susto quando vi que era Caim.

Ele com as mãos na cintura falava com Bia “O bofe faz uma declaração dessas liiiinda na frente de todo mundo, diz que te ama e você dispensa? Meu amor você sabe qual homem faria isso por você? Nehuuuum!! Nunquinhaaa!!”.

Bia não entendia nada e perguntou por que Caim falava daquela forma e ele emendou “Ah mona, cansei de minha vida de mentiras, o Adão me fez enxergar que devemos abrir nosso coração sempre e me encorajou, eu não gosto de você besha, nem de você nem de mulher nenhuma, gosto é de homem!!”.

Eu comecei a rir e Caim completou que se ela não me quisesse ele queria. Um dos padrinhos gritou “Caim” e Caim respondeu “Desculpa Abel, é brincadeira, você sabe que o homem da minha vida é você”. Foi a vez de Bia gritar “Caim” e Caim resolveu sair do armário de vez “Biazinha eu sou gay, eu mordo fronha, dou ré no quibe, tudo que você imaginar. Eu e Abel somos amantes há anos e eu só ia casar pra agradar meu pai..aliás..alguém chama uma ambulância porque papai acaba de desmaiar”.

Enquanto socorriam o pai de Caim e eu Bia nos olhamos, sorrimos e corremos pra nos beijar sob o aplauso de todos.

O pai de Caim se recuperou do trauma e eu e Bia depois de tantos anos voltamos a namorar e marcamos casamento. Joana por enquanto ficava no Brasil, pois, estava em ano letivo. As aulas acabaram, mas eles continuaram para acompanhar meu casamento e só depois partiriam pro Canadá.

Ansiava por casar logo com a Bia. Perdi muito tempo sendo apenas seu amigo, com mulheres que não tinham nada a ver enquanto a mulher que eu queria pra minha vida, pra ser a mãe de meus filhos estava na minha frente. Marcamos o casamento pra poucas semanas depois e as semanas voaram.

Chegava o dia do casamento, mas nem todo mundo queria minha felicidade..

Graças a minha declaração o casamento de Queila deu errado. Uma noite ela bebia em um bar e conheceu Zélia que engordara de novo e também enchia a cara por minha causa. As duas aproveitaram e passaram a noite toda falando mal de mim e que eu não podia ficar impune pelo que fiz com elas.

Viraram amantes e criaram a ADENEFDA (Associação Das Ex Namoradas E Ficantes Do Adão).

Na primeira reunião já apareceram muitas mulheres. Na assembléia Queila contou que eu iria casar e elas tinham que evitar minha felicidade. Mônica com um pedaço de pizza na mão peguntou como fariam e Yara digitando no notebook respondeu que tinha uma ideia.

A ideia seria executada no dia do casamento.

Tudo corria muito bem. Fiquei lindo de terno e meu pai falou que tinha muito orgulho de mim me dando um caloroso abraço. Depois perguntou se eu queria puxar um fumo e respondi que não.

Na sacristia eu tenso esperava a hora de ir pro altar e Eva passou por mim, deu um beijo em meu rosto e falou que eu estava lindo e não era pela roupa, mas por meu semblante. Sorri e contei que estava amando. Eva fez carinho no meu cabelo e desejou que eu fosse muito feliz. Fui pro altar e o padre comentou comigo sobre aquela declaração linda que fiz e que realmente eu era um homem apaixonado. Respondi que sim, era apaixonado e pra sempre. Olhei pros convidados e vi o motorista de táxi, motoboy e o motorista da ambulância que me ajudaram na outra ocasião.

Também estavam Caim, Abel, o ex noivo de Queila que gritou “obrigado” acompanhado de uma loira maravilhosa e o homem que estava entubado na ambulância. O homem com aspecto super sadio e acompanhado de duas mulatas fez sinal positivo pra mim e retribuí.

E Bia entrou ao som da marcha nupcial..

..Estava linda, com sorriso largo. Eu via ali meu sonho se realizando, casar com a mulher da minha vida. Recebi meu amor, beijei-lhe as mãos, olhei nos seus olhos e disse que lhe amava.

Mas quando me viraria pro padre ouvi um grito “Espera Adão, vai ter que casar com todas!!”.

Olhei pra entrada da igreja e tomei um susto. Um monte de mulheres, dezenas de mulheres vestidas como noivas entraram na igreja gritando que eu teria que casar com elas também. Olhei pra Bia, olhei pra elas, fiquei tonto e caí duro. Bia gritou meu nome e tio Freitoca disse “Ih, siricutico”.

Foi assim que parei nesse caixão. Eu falei pra vocês que aquelas tonteiras eram sérias, ninguém acreditou.

Taí, morri, acreditam agora?

Continua...



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ZÉLIA

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