ILHA 450 ANOS
Essa é uma coluna especial já que não tenho escrito artigos aqui em meu blog, mas a data pede um artigo.
Hoje, dia 5 de setembro, a Ilha do Governador faz 450 anos. A Ilha, como vocês sabem, é o bairro em que nasci e me criei. Dos meus 41 anos de vida vivi aqui 39 e sinceramente não me vejo morando em outro bairro, se der a lógica fico aqui até morrer e morrendo irei para o cemitério do Cacuia.
Temos motivos para comemorar? Poucos. Posso dizer tranquilamente que desses 41 anos é o pior momento que vejo do bairro. O transporte público é precário, ônibus caindo aos pedaços e defasados pertencentes a uma máfia que coloniza o bairro, os mesmos veículos que tem bem menos linhas que o necessário para o insulano e somem depois de certa hora e no fim de semana. Para agravar isso tudo as barcas estão mais restritas com horários que não satisfazem a população diminuindo ainda mais suas possibilidades de locomoção.
A saúde então vai de mal a pior. O insulano está proibido de ficar doente. A UPA virou hospital pediátrico, o tradicional Paulino Werneck fechado e o recém inaugurado Evandro Freire só atende casos emergenciais com seus funcionários sofrendo com salários atrasados. Um bairro com mais de 250 mil habitantes não tem um sistema de saúde decente.
O clima de segurança que sempre foi orgulho do insulano diminuiu drasticamente. Continua sendo um dos bairros mais seguros do Rio de Janeiro, mas não por seus méritos e sim porque o restante da cidade está muito mal. Aumentaram os números de furtos e roubos, vários são os casos de conhecidos roubados e nós que sempre nos orgulhamos de poder sair de casa em qualquer horário e andar na rua tranquilamente não podemos mais fazer isso.
A cultura, minha área, tenta sobreviver. Há alguns anos vem mostrando força com o "Polo cultural" de Gilberto D`Alma e Marcelo Mendes que no Colégio Passaredo do Jardim Guanabara recebe nos finais de semana todas as artes insulanas. Temos a FLIG, feira literária comandada por Giano Azevedo e Pedro Santoro em seu terceiro ano dando espaço para os escritores locais, os saraus de Karla Antunes no Bar Chico`s bimestralmente já fazem parte do calendário local, temos o "Se liga" de Johnny Lima não só formando atores de teatro quanto dando ocupação a jovens carentes e temos o circuito cultural e ensinamento de música com Elisabete Cardoso.
Artistas tem, coisas bacanas surgem, mas temos dois graves problemas: Um é a falta de espaço. Perdemos a Casa da tia Elbe e aos trancos e barrancos o Polo Cultural tenta preencher parte desse vazio, mas se não fosse ele os artistas insulanos não teria onde se apresentar. Recentemente o diretor do Lemos Cunha abriu as portas do teatro para os artistas e Adelaide Pontual criou um coletivo para ocupação do espaço, mas continuamos com o teatro Operon servindo de depósito de livros e a Arena Renato Russo com uma dificuldade imensa para abertura de pautas.
O segundo problema é a mídia local que não informa com o devido carinho o que ocorre aqui. A brigas políticas do bairro acabam refletindo em nossa mídia com mídia A não informando direito o que acontece em espaço B porque ele é comandado pelo grupo político C que é contrário ao grupo político D que hoje comanda o bairro e isso tudo reflete nos artistas. Tivemos em agosto o Festart comandado pelo Coletivo do Lemos, uma reabertura do teatro com todas as artes da Ilha reunidas e só o "Ilha Carioca" deu espaço. Dona Carola foi a primeira peça insulana em anos a se apresentar em um festival na Zona Sul, uma peça 100% insulana se apresentou no shopping da Gávea e saiu em lugar nenhum. A única cultura local que não só saiu como foi capa foi o início do concurso de sambas da União da Ilha, coisa que ocorre todos os anos então não tem nenhuma novidade. Sem a mídia informando fica mais difícil para o morador do bairro saber o que ocorre aqui.
Pois bem, assim a Ilha do Governador, que um dia foi Ilha do Gato e tem uma história maravilhosa preservada na memória e registros de pessoas como Jaime Moraes e Cibele de Ipanema chega aos seus 450 anos. Chega com poucos motivos para comemorar, mas mesmo assim acho que devemos celebrar a data.
Devemos porque apesar de todos os problemas é a nossa casa, o nosso lar,como diria Arlindo Cruz "O meu lugar". Não existe sensação melhor para o insulano que atravessar a ponte do Galeão e saber que está em casa. Fazemos parte de uma cidade cosmopolita, mas a impressão é que todos do bairro se conhecem. Conhecemos os estabelecimentos pelo nome dos donos. Fomos crianças brincando na praia da Freguesia, estudando no Lemos Cunha e fazendo primeira comunhão na Nossa Senhora D`Ajuda. Adolescentes no Patin House, dando volta de Jardineira até o Jardim Guanabara e fazendo esportes na ACM. Demos os primeiros amassos no Ilha auto cine, gastamos o primeiro salário no Ilha Plaza, encontramos os amigos no Planeta da Ribeira e fomos ao samba na União da Ilha. Nos apaixonamos por esse lugar a cada vez que vemos a vista da Pedra da Onça. Insulano antes de tudo é um forte, um apaixonado por seu lugar. Só nós podemos falar mal daqui, bairristas até a medula.
É, tá ruim, mas é nosso e isso que importa. Uma hora vai melhorar nem que seja na marra.
Sou mais minha Ilha, tu és meu amor...
..em ti me planto Ilha do Governador.
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