O SOM DA MINHA EMOÇÃO


Semana passada vi nas redes sociais a notícia de mais um fim da Rádio Cidade, tradicional rádio voltada ao rock no Rio de Janeiro. Ela já tinha terminado na primeira década do século, voltou e agora entrega seu dial a outra volta, da rádio Mania, mais voltada a músicas populares do Brasil.

Confesso que não ouvi nenhuma vez a Cidade depois de seu retorno, mas lamento assim mesmo seu novo fim porque eu era ouvinte nos anos 90, muitas das músicas que curto ouvir hoje no celular ou nos programas voltados a flash back eu aprendi através da Cidade.

Aliás, eu tenho uma relação bem pessoal com o rádio. Relação de apaixonado.

Difícil dizer quando foi a primeira vez que ouvi rádio, acho que ouço desde que nasci. Lembro bem de andar de carro com a minha família e o rádio do veículo estar sintonizado na 98FM, provavelmente a rádio FM mais famosa que o Rio de Janeiro teve. Tenho a famosa vinheta "no,no,no, noventa e oito" até hoje em minha mente. Infelizmente a 98 hoje é apenas lembrança, como outras rádios como a própria Cidade, Tropical voltada ao samba, RPC FM, estilo da Cidade, FM 105 e outras. Boa parte dessas rádios deram espaço ao mercado evangélico. Se eu quisesse saber a hora certa ligava na "Rádio Relógio", se quisesse ouvir música jovem Cidade ou 98, a apuração do carnaval em seus grupos de baixo, tempo que não existia esse monte de informações dadas por sites, na Tropical e vinha o desespero de começar Voz do Brasil e a campanha da Fraternidade bem na hora das apurações dos grupos do Boi da Ilha e do Acadêmicos do Dendê e assim não saber o que ocorrera com as agremiações.

Um parênteses..Pra que diabos ainda existe a Voz do Brasil em tempos que a informação é de tão fácil acesso em qualquer grotão do país? É antiquada, ditatorial e tira empregos e dinheiro das rádios. É desigual na competição da rádio com outros veículos e priva o ouvinte de informações importantes como trânsito em sua volta para casa ou notícias urgentes e em primeira mão.

Voltando ao assunto. Para qualquer uma dessas situações eu tinha rádios específicas para ouvir, mas meu xodó mesmo sempre foram as AMs, que estão migrando hoje em dia para as FMs.

Da tradicionalíssima Rádio Nacional vem a primeira transmissão esportiva da minha mente. A final do brasileiro de 1983 Flamengo 3 x 0 Santos. Também da Rádio Nacional o lendário programa esportivo "No mundo da bola" que começava 17 horas e era a primeira informação esportiva do dia. Na Nacional também tinha o programa de samba de Arlênio Lívio e Rubens Confete, que fazia o sambista matar as saudades das suas escolas em tempos pré internet. Aliás,foi através desse programa que entrei no estúdio da Nacional para falar. Fui falar do samba de 2001 do Boi da Ilha nervoso e com coração acelerado por estar em estúdio tão importante na história do Brasil. Mais que isso, no mesmo dia estava o lendário Edeor de Paula, autor do samba "Os Sertões" que foi lá falar de um samba que concorria em um bloco.

Um pouco antes do fim da 98 também estive em seu estúdio à convite do amigo Rica Perrone para ouvir o programa que ele comandava com Marcelo Adnet. Experiência inesquecível.

Ah o rádio..Estou perto dos meus 40 anos e a idade chega e vamos ficando saudosistas, o rádio é uma dessas saudades que tenho e que ainda trago comigo. Ouço hoje bem menos que antigamente, mas as rádios que ouço mais ainda continuam sendo as Rádios Globo e Tupi, principalmente seus programas esportivos. Na Tupi o "Giro esportivo" com o ótimo e amigo Eugênio Leal participando e o Show do Apolinho com o mítico Washington Rodrigues. Na globo o tradicional "Panorama esportivo" e a mais nova grande paixão no Rádio, que vem de poucos anos, o excepcional "Popbola" comandada pelo amigo Alexandre Araujo todos os dias 16 horas que trata com muito humor os times do Rio. 

Continuo ouvindo rádio diariamente, mas não consigo esquecer do rádio dos anos 80, quando essa paixão surgiu. Ligava no começo da tarde de domingo para ouvir o "Enquanto a bola não rola", programa que existe até hoje na Globo. Depois vinham as transmissões com José Carlos Araújo, Apolinho, Edson Mauro, Luiz Carlos Silva, Doalcey Bueno de Camargo, Luis Mendes, Sergio Noronha, Gerson, Jota Santiago, Luis Penido, Loureiro Neto e tantos outros..Após os jogos fixava na Globo e começava o maravilhoso "Bola de fogo" comandado pelo ex-presidente do Flamengo Kléber Leite e contava com Áureo Ameno, Afonso Soares, Celso Garcia (o garoto do placar) Apolinho, Seu Nonô, Francisco Horta, Gerson e lá davam uma suíte Champion para o melhor em campo e mandavam o pior para a "Pensão da Cremilda". Uma divertida zoação onde o perna de pau teria que encarar "os serviços" do estabelecimento. Também tinha a zoação entre eles como Áureo Ameno e seu "vascaínismo" exacerbado imitando bode ao falar Bebeto e quando o Flamengo venceu o Vasco em 1989 na estreia do mesmo Bebeto no clube e fizeram versão do jinge de Ulysses Guimarães a presidência para provocar o vascaíno.

Rádio que me fazia companhia de madrugada com o Show da Madrugada com Washington Rodrigues e Hilton Abi-Rihan, o programa que inventou o strip tease no rádio. Depois o programa do Antonio Luis ou Sylvio Samper no meio da madrugada e quando amanhecia o campeão de audiência Show do Antonio Carlos, aliás, eu recebi meu estandarte de ouro da mão dele, uma grande honra. Aliás de novo, um dos maiores momentos da minha vida foi quando no maior programa de rádio que já existiu, o programa Haroldo de Andrade, tocou o samba de 2001 do Boi da Ilha. Fui correndo avisar para todos de minha casa e os vizinhos.

Quando estava em uma fase mais romântica, apaixonado ouvia o "Good times" da 98. Programa lendário, que chegou a voltar por alguns meses ano passado na Rádio Globo e que é copiado por várias emissoras em seus fins de noite.

Hoje é fácil ouvir radio. Celular, tv a cabo, aplicativos.. No velho radinho de pilha poucos ouvem hoje em dia. Mas por muito tempo esse velho radinho foi meu melhor amigo. Quando morei no Mato Grosso era o rádio que me transportava ao Rio. Com chiado, só pegando a partir da noite, era ele que me aproximava de minhas raízes e matava minha saudade.

Não sei qual será o futuro da rádio comercial. Vejo que está em um momento difícil e assim como os jornais migram para a internet talvez o futuro do rádio esteja nas webrádios que atendem a públicos específicos e tem custo menor. Mas tantas vezes já tentamos prever o futuro e não conseguimos. Quem prevê bem mesmo é a Zora Yonara no programa do Antônio Carlos.

Meu amor pelo rádio é infinito, imortal. Não importa em qual plataforma estará, até onde a tecnologia irá, sempre será o veículo mais democrático. O companheiro da dona de casa, do coração solitário, do viajante, do taxista, caminhoneiro, do torcedor apaixonado. O veículo que ajudou a fazer desse país uma nação integrada. Que construiu ídolos e histórias inesquecíveis.


E eu vou em suas ondas até aonde meu coração consegue alcançar. O rádio faz parte de mim.


É quem dá som à minha emoção.    


Comentários

  1. Na verdade a Rádio Mania voltou em 2008, só que apenas para São Gonçalo - onde fica os estúdios - e região, já que desde então é controlada pelo Grupo Universo - que é dona da universidade de mesmo nome. Só passou a ser veiculada no Rio (ainda que só na Zona Oeste) a partir de 2015, arrendando o dial que antes era da Kiss FM

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