DINASTIA: CAPÍTULO XX - ROBERTA


O tempo foi passando. Bianca foi estudar na Itália. Nasceu Luigi primeiro filho do casal e no ano seguinte Ricardo. Apesar da aparente felicidade o casamento era assim mesmo, de aparências.

Domenico, o caçula de Pepe tornou-se o primeiro Granata a entrar na faculdade e Enrico passou na prova para policial. Pepino e Benito continuavam sem se falar, mas respeitavam o pai Pepe Granata e trabalhando com o mesmo.

Na verdade Pepino e Benito passavam por uma guerra fria pelo controle da família quando o pai decidisse se retirar. Benito depois de perder Isabela tornou-se um obcecado ainda mais pelo trabalho, não mais namorou, não fazia amigos nem se divertia. Vivia para o jogo do bicho e para o clube de futebol que não conseguira ainda seus objetivos se tornando apenas um clube médio do futebol carioca.

Pepino cada vez bebia mais. Tomava porres homéricos dando preocupação ao pai. Tinha amantes, muitas vezes não conseguia mais disfarçar e nas brigas com Isabela a mulher pedia para pelo menos ele lhe respeitasse. Pepino respondia que ela lhe queria como marido e ele estava lá então não reclamasse mais.

Isabela chorava e com muita raiva dizia que lhe odiava. Pepino devolvia que finalmente tinham um sentimento mútuo.

Apesar desses problemas Pepino tinha duas vantagens em relação a Benito. Era o mais velho e já tinha uma família formada. Isso era importante para Pepe, ele queria a perpetuação do poder dentro da família.

Além do fato de Pepino ser mais diplomata, mais negociador. Sabia seduzir as pessoas pelo sorriso assim com seu pai fazia. Benito era mais sério, ríspido e sua principal virtude era a eficiência, sempre cumpria bem as ordens.

Sua principal virtude também se transformava em um problema, saber cumprir ordens. Um chefe dá as ordens.

Os anos passavam e outro membro da família dava problemas. Domenico.

Domenico decidiu seguir os passos do tio Oscar e virou comunista numa época conturbada do Brasil. O ano era de 1964, o início dos “anos de chumbo”.

Domenico entrara para a UNE e era um dos seus maiores ativistas. Apoiava o governo João Goulart e participou de momentos como o comício em frente à Central do Brasil em março de 1964. Trezentas mil pessoas participaram do evento.

Apesar da tensão e dos rumores mais fortes a cada dia do que ocorreria, que seria apoiado por muitos inclusive por Pepe, Domenico continuou em sua luta. Oscar voltara ao país quando Jango assumiu o poder e fazia parte de movimentos de esquerda. Tio e sobrinho se juntaram para desespero de Pepe.

Pepe e Oscar tiveram uma grande discussão por causa de Domenico. O Barão gritou com o irmão que ele era o chefe daquela família e não aceitaria que Oscar se metesse daquela forma nela. Oscar mandou o irmão diminuir o tom e revidou “você pra mim não é Barão coisa nenhuma, é Barão pras suas negas. Eu te conheço como Pepe, aquele que fazia xixi na cama e implorava a mama para que ela não contasse ao papa”.

Pepe se enfureceu e Oscar continuou “Não se esqueça Pepe Granata que você me deve uma, o problema de Pepino na Itália”. Pepe perguntou se o irmão estava lhe ameaçando e Oscar completou “não, apenas te lembrando e lembrando de mais uma coisa. Eu não tenho medo de você”.

No dia 1° de abril de 1964, dia do golpe, Domenico era um dos que entregavam folhetos com os dizeres “O golpe é a senha para o levante popular”.

Nesse mesmo dia estudantes entraram em confronto com tropas do governo. O prédio da UNE foi incendiado e muitos foram presos, inclusive Domenico. Pepe estava com prisão decretada e não podia aparecer para ajudar o filho. Pepino tomou as rédeas.

Com alguns contatos conseguiu a soltura de Domenico. Na saída da delegacia pediu ao irmão que não se metesse mais em confusões, Domenico riu e comentou que nem o próprio Pepino conseguia isso, como poderia pedir a ele.

Pepe enfureceu-se por Domenico continuar em atos contra o governo e brigava sempre com ele. Até que um dia o patriarca mandou que o rapaz escolhesse entre a família e a luta.

Domenico olhou bem para o pai e disse “arrivederci papa”. Pepe não acreditou na atitude do filho que deu um beijo na mãe chorosa pedindo para o filho não partir. Domenico se encaminhou até a porta e disse “papa, eu amo esse país tanto quanto o senhor, então não me peça para não lutar por ele”.

Disse isso e foi embora morar com o tio Oscar levando apenas a roupa do corpo.

Foi uma grande decepção para Pepe Granata, que sempre colocou a família unida em primeiro lugar, ver o caçula partir. O homem com mais de cinquenta anos de idade, cansado pelas lutas da vida achou que estava na hora de escolher o novo chefe.

Reuniu os dois filhos, Pepino e Benito e contou que chegara a uma decisão. Não deixaria de ser o comandante, mas apenas seria um supervisor que se meteria sempre que achasse necessário. Pediu que os dois respeitassem sua decisão. O escolhido passaria a ser seu sócio e o outro trabalharia pelo sucesso do irmão.

Pepino e Benito ouviam o pai com ansiedade. Pepe encheu três copos de uísque, passou um para Pepino, outro para Benito e sentou-se. Bebeu um gole e sem se alongar anunciou que o escolhido era Pepino.

Pepino agradeceu dizendo que o pai poderia confiar nele enquanto enfurecido Benito arremessou seu copo longe e gritou que não aceitaria aquela decisão. Pepe levantou e enfurecido gritou que ainda era quem mandava naquela família e não aceitava aquele tom.

Com muito ódio Benito olhou firme para o pai e disse que não era mais seu filho.

Saiu enfurecido do escritório da mansão passando por Cecília, Dora e Isabela que nada entenderam. Subiu as escadas e Pepe saiu atrás gritando que ele não podia sair assim e que lhe respeitasse. Pepino foi o último a sair do escritório e Isabela perguntou o que ocorria. Pepino comentou que chefiaria os negócios e Isabela deu “parabéns”. Seco Pepino respondeu que não havia nada a comemorar.

Benito desceu com as malas e da escada Pepe gritou que pelo menos ele tivesse dignidade e deixasse tudo como o irmão. Benito arremessou as malas longe e chegou bem próximo ao pai dizendo “o senhor ainda vai ouvir falar muito de mim, eu vou destruir vocês”. Pepe enfurecido pegou a arma na cintura e Cecília se meteu entre os dois para evitar uma tragédia.

Benito da porta antes de sair gritou novamente “Eu vou destruir vocês”.

O tempo foi passando. Pepino cada vez mais tomava as rédeas dos negócios com Pepe tornando-se apenas um consultor e preferindo fazer articulações políticas. Tornou-se deputado estadual e tinha muito prestígio junto aos militares mesmo sendo banqueiro do bicho.

Enrico continuava na polícia, casara-se, tinha uma menininha e andava afastado da família. Com o tempo foi trabalhar no DOPS, por ironia do destino órgão inimigo de Oscar e Domenico.

Oscar e Domenico caíram na clandestinidade em grupos de extrema esquerda e tornaram-se procurados. Uma vez Enrico participou de uma ação e desta Domenico foi preso.

Pepe não quis saber do assunto dizendo não reconhecer mais Domenico como seu filho e quem entrou em ação foi Pepino. O homem bateu na porta do irmão que se assustou em vê-lo.

Enrico sorriu e ironicamente contou que podia prender o irmão já que ele era contraventor. Pepino entrou na casa e comentou que o irmão não faria isso, pois, o dinheiro da contravenção pagara seus estudos.

Enrico perguntou o que queria e Pepino perguntou se não tinha nada para beber naquela casa. Enrico respondeu que só cerveja e Pepino disse que servia. Enrico pegou cerveja para os dois e perguntou o que o irmão queria, Pepino respondeu que queria Domenico solto.

Enrico riu e comentou que isso não dependia dele e Pepino bebeu a cerveja do copo de uma vez só, colocou na mesa e disse que dependia sim andando até a porta. Enrico perguntou o que ganhava com isso e Pepino sem olhar o irmão e abrindo a porta “talvez uma geladeira nova, a sua não consegue gelar uma cerveja”.

Alguns dias depois Domenico estava solto e Enrico ganhava uma geladeira nova.

A verdade é que a família Granata se dissolvia com cada um dos quatro irmãos indo para um lado. Com o tempo Pepe e Pepino descobriram que Benito já era o braço direito de um dos maiores rivais dos Granata e Pepino sabia que aquilo traria problemas à família.

A família mesmo de Pepino estava à deriva. Apesar do nascimento de Sophia, a primeira menina Granata em tempos, o casamento ia de mal a pior. Os dois bebiam demais e brigavam demais. Não eram raras as vezes que Pepino e Isabela se agrediam e trocavam acusações.

Naquele momento turbulento Pepino foi a uma festa na casa de Zaqueu, que se afastara dos negócios e curtia aposentadoria e lá conheceu sua nova esposa, Roberta.

Roberta era morena, cabelos encaracolados, olhos verdes grandes, sedutores e usava um decote provocante, a moça bem mais nova que Zaqueu. O homem apresentava todo feliz sua nova esposa e Pepino de cara se encantou.

Pepino não conseguia desviar o olhar de Roberta e Isabela reparou. Enfurecida a mulher foi embora deixando o marido sozinho. Pepe e Zaqueu conversavam animadamente sobre negócios, passado e Roberta entediada ao lado sorria fingindo gostar do assunto. Pepino afastado bebia olhando a mulher e deixou o copo de uísque cair quando viu o rosto de Marta no lugar de Roberta.

Pepino pegou uma taça de champanhe e achou melhor dar um passeio para não olhar tanto a linda mulher. Caminhou pela bonita casa de Zaqueu e bebia olhando a Lua.

De repente viu uma pessoa se aproximar, quando olhou era Roberta. A mulher comentou que a Lua estava linda, Pepino respondeu que era verdade, mas não existia Lua mais bonita que a de Nápoles.

Pepino olhou para trás e comentou que os dois conversavam animadamente. Roberta sorriu e disse que não entendia nada do que eles conversavam e sinceramente nem queria entender. Pepino contou que falavam de negócios e ele era contra falar sempre de trabalho, ainda mais em festas.

Roberta perguntou sobre o que ele gostava de conversar e Pepino respondeu que sobre a vida e o amor. Quando ele terminou de falar começou a tocar a música “Roberta” de Pepino di Capri.

Roberta sorriu da coincidência da música com seu nome tocar e alguém com o nome dele cantar e Pepino olhando a moça respondeu não acreditar em coincidências. Roberta perguntou em que ele acreditava e Pepino respondeu “destino”.

Roberta e Pepino olharam-se por um tempo e a mulher comentou que achava melhor voltar para perto do marido. Pepino com a cabeça concordou e Roberta voltou para onde estavam Zaqueu e Pepe sem tirar os olhos do homem.

Roberta não tirava os olhos de Pepino enquanto Zaqueu ria e comentava com a esposa a forma que uma vez ele e Pepe fugiram de uma briga com mais de dez homens na Lapa.

De madrugada Pepino bebia uísque no escritório da mansão quando Pepe entrou no lugar. O Barão pegou um copo, encheu o seu e antes de beber comentou que sabia o que o filho estava fazendo. Pepino disse não entender o que o pai dizia e Pepe contou “você e a esposa de Zaqueu”.

Pepino falou que o pai entendia tudo errado e Pepe pediu que o filho duvidasse de tudo, menos de sua inteligência. “Eu sou homem, tenho minhas necessidades de homem, mas respeito um amigo e peço que você faça o mesmo” disse Pepe que depois encheu novamente o copo e deu boa noite ao filho.

Pepino sentou na cadeira sozinho, mexeu com o dedo no gelo da bebida e sorrindo falou sozinho “Roberta..”.

Não teve jeito e os dois tornaram-se amantes. Encontraram-se várias vezes e Pepino montou uma “garçoniére” para os encontros com a amada. Os Granata já desconfiavam do caso. Pepe ordenava que o filho parasse e Isabela enfurecida acusava o marido de traição. Pepino negava tudo, mas estava na cara aquele amor proibido.

Uma noite Pepino bebia na garçoniére e tocaram a campainha, era Roberta. O homem já esperava a amante com champanhe no gelo e assim que ela entrou colocou “Roberta” na vitrola chamando-lhe pra dançar.

Enquanto dançavam Pepino comentou que iria se separar de Isabela. Roberta perguntou porque e Pepino contou que lhe amava. Era a primeira vez que falava isso para a amante.

Roberta ficou num misto de surpresa e felicidade com que o homem disse e sem deixá-la respirar Pepino pediu que ela também se separasse de Zaqueu e que eles morassem juntos. Roberta comentou que Pepino era louco e o homem respondeu “louco por você”.

Roberta ficou em silêncio e Pepino fez o pedido “case comigo”. Roberta sorriu e disse que aceitava. Pepino feliz deu um beijo em Roberta e os dois fizeram amor.

Pepino chegou apenas de madrugada em casa e quando entrou no quarto Isabela lhe esperava sentada na cama. Pepino entrou e deu um seco “boa noite” à esposa que perguntou “você estava com ela não é?”. Dessa vez não teve mentiras, enrolação, nada. Pepino confirmou “Sim, estava”.

Isabela pegou um copo sobre a mesinha e arremessou em Pepino gritando “desgraçado, ainda assume!!”. Pepino sem esmorecer contou que queria se separar e Isabela levantou esmurrando o peito do marido e dizendo que na sua família ninguém se separava.

Pepino se desvencilhou da esposa, pegou uma mala e começou a arrumar dizendo que o casamento fora um erro e ela poderia ficar na mansão com as crianças. Isabela chorava, se ajoelhava agarrando as pernas de Pepino pedindo para que não lhe abandonasse e Pepino disse “Não posso te abandonar porque nunca estive com você”.

Pepino desceu com a mala, Isabela chorava atrás e na sala Pepe de roupão perguntou aonde o filho ia. Pepino respondeu “Vou ser feliz”.

Pepino se mudou para a garçoniére e lá esperou Roberta aparecer contando que largara o marido. Esperou o dia seguinte inteiro até que a campainha tocou. Pepino correu para abrir a porta.

Quando abriu viu que era Zaqueu.

Pepino se assustou ao ver o amigo do pai. Sem entrar na casa e com voz calma Zaqueu contou que sabia de tudo, a esposa lhe contara do caso dos dois pedindo perdão e que perdoara a mulher. Pepino não conseguia acreditar no que ouvia e Zaqueu finalizou dizendo que no dia seguinte viajaria para uma longa viagem à Europa com a mulher e se soubesse que ele lhe procurara mais uma vez mataria o filho do amigo Pepe sem dó nem piedade.

Zaqueu terminou de falar, viu que Pepino ficou em silêncio, sem reação e falou “era isso, dê lembranças ao seu pai”.

Pepino ficou sozinho no lugar. Pegou uma garrafa, ia encher o copo de uísque e desistiu bebendo direto da garrafa. Viu a imagem de Marta e irritado jogou a garrafa contra o vazio. Sentado desandou a chorar a traição da amante.

Desesperado foi no dia seguinte ao aeroporto tentar encontrar Roberta e Zaqueu. Ainda viu os dois entrando na área de embarque felizes se beijando e desistiu de fazer algo. Viu o casal sumir do seu campo de visão para nunca mais aparecerem.

Desolado Pepino sentou em um banco pensando que largara tudo por aquela mulher quando ouviu uma voz lhe perguntar “veio me buscar?”. Pepino olhou e viu a imagem de Marta. Ficou sem reação e a mulher perguntou novamente “O que foi? Não ta me reconhecendo?”. Esfregou os olhos novamente.

Era Bianca.


CAPÍTULO ANTERIOR:

VOLTANDO AO BRASIL

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