DINASTIA: CAPÍTULO XI - BEATRIZ




A volta foi triste, silenciosa. Não havia o que se dizer, nada iria diminuir a dor. Nem mesmo a paisagem que os Granata sempre gostaram ao viajar de trem.

Algumas vezes o silêncio era cortado com algum dos irmãos oferecendo algo para a menina.

“Quer um lanche?” Perguntou Oscar, a menina com a cabeça baixa só respondia com um fiapo de voz “não, obrigada”.

O silêncio permaneceu até a chegada a São Paulo. Desceram do trem e foram para a casa de bonde. Bateram na porta e uma feliz Constância atendeu.

Constância ao ver os rapazes na porta correu para dentro gritando “Os bambinos!! Os bambinos voltaram!!”. Antonieta e Dora correram das dependências da casa e abraçaram Oscar e Pepe.

Depois dos abraços e choros pela volta dos rapazes notaram a presença de uma assustada Mariana. Dora perguntou quem era e Pepe, fazendo carinho na cabeça da assustada menina que lhe abraçava o quadril respondeu que era uma longa história.

Oscar lamentou não encontrar o pai e perguntou se alguém tinha notícias dele. Dora abaixou a cabeça e respondeu “está lá em cima no quarto”.

Os rapazes felizes com a notícia se apressaram em subir as escadas para ver o pai e Antonieta pediu que esperassem, pois, tinha algo a lhes contar.

Pepe e Oscar ouviram o que a avó tinha a dizer e subiram para ver Salvatore enquanto as mulheres davam lanche a Mariana.

Abriram a porta devagar e viram Salvatore deitado na cama olhando a janela. O homem olhava na verdade para o nada, como se não estivesse ali. Pepe tirou o chapéu e disse “papa?”.

Salvatore olhou os filhos e disse nada voltando a olhar a janela. Os rapazes se aproximaram e abraçaram o pai que deixou cair lágrimas de seus olhos.

Ao lado da cama uma cadeira de rodas. Salvatore estava paraplégico.

Oscar e Pepe sentaram na beirada da cama e ficaram observando o pai. Salvatore ainda com lágrimas nos olhos respirou fundo e exclamou “malditos!!”.

O homem fora atingido no front com uma bala que atingira a coluna.

Olhou os filhos e pediu para morrer, que eles ajudassem nessa missão. Pepe irritado falou “Nunca, o senhor está forte, com saúde, vamos sair dessa juntos!!”. Salvatore gritou “De que vale um homem se não pode contar nem com suas pernas??”.

Pepe chegou próximo ao rosto do pai e disse “Muito, porque o que faz um grande homem é isso aqui”. Apontando para a cabeça.

De noite foram jantar com Salvatore e Mariana em silêncio. Dora tentou quebrar o clima dizendo que a menina era uma graça e cuidaria dela como uma filha. Mariana só agradeceu e ficou com a colher mexendo na sopa. Salvatore perguntou quem era a “ragazza” e Oscar respondeu “uma vítima da guerra como o senhor”.

Pepe perguntou a mãe como estavam os negócios e Dora respondeu que não estavam bem, pois, tinha que tomar conta da casa e da loja, mas dava pra sobreviver.

Pepe limpou a boca com guardanapo, bebeu um pouco de água e falou que ele e o irmão assumiriam a loja no dia seguinte para assim dar descanso para a mãe e que o pai iria junto.

Salvatore saiu de seu transe e disse que não iria a lugar nenhum, não sairia de casa em uma cadeira de rodas. Pepe como se fosse seu pai olhou feio e respondeu que iria sim, porque ainda estava vivo e era o chefe daquela família.

Pela primeira vez em muito tempo Salvatore sorriu e comentou “parece seu Benito falando”.

No dia seguinte abriram bem cedo a loja e começaram o trabalho. Para recuperar o prejuízo causado pela revolução trabalhavam até mais tarde, faziam promoções e assim conquistavam fregueses e dinheiro.

Não era muito, mas o suficiente para o sustento da família.

Davam assim um pouco de vida a Salvatore que começava a se acostumar com a vida na cadeira de rodas. Os três nunca foram tão próximos quanto naquele período e além de trabalhar saíam para se divertir também.

Eram torcedores fanáticos do Palestra Itália e numa dessas foram ao futebol juntos, não mais football. Pepe lembrava ao pai do tempo de meninos que jogavam o esporte e a mãe reclamava. Salvatore ria e reclamava dos jogadores.

Na saída encontraram o técnico do time e Oscar cheio de coragem perguntou como fazia para ser um jogador de futebol. O treinador respondeu que se ele quisesse poderia ir ao clube fazer um teste dando-lhe endereço.

Dessa forma Salvatore e Pepe voltaram alguns meses depois para assistir outro jogo do Palestra, mas com Oscar em campo, inclusive fazendo gol.

A vida caminhava lentamente mesmo com o amargor que Salvatore carregava com a vida. Pepe como o irmão mais velho gerenciava a loja. Oscar dividia-se entre o comércio e o futebol. Pepe deixou a contabilidade a cargo do pai.

Um dia Pepe sozinho fazia anotações no balcão quando entrou uma moça na loja. Ele não prestava atenção, continuava anotando enquanto ela caminhava pelo local olhando algumas peças até que chegou ao balcão.

Pepe continuava anotando quando ela perguntou “o senhor poderia me atender?”.

Pepe nunca mais esqueceu aquelas palavras e aquela voz.

Ouvindo aquela voz doce, suave como a de um anjo imediatamente Pepe parou para olhar e viu aquela cena que nunca mais esqueceria.

Viu uma mulher branca com cabelos negros, olhos azuis, vestindo um chique vestido branco, luvas e um chapéu, além de um lindo sorriso.

Pepe pediu perdão por não notar sua presença e perguntou como poderia ajudar. A moça respondeu que uma amiga sua vinha de fora para São Paulo e queria lhe presentear como boas vindas. O rapaz se prontificou a ajudar.

Procurou pela loja e viu uma caixinha de músicas. Mostrou a moça e perguntou o que ela achava. Ela abriu, deu um sorriso contando que a música era linda e iria levar.

Pepe embrulhou para presente e entregou a moça que pagou e contou que voltaria, pois, a loja era linda. Apertou a mão de Pepe que aproveitou e deu um beijo na mesma dizendo que esperaria.

Ela sorriu e saiu.

Salvatore apareceu de dentro da loja perguntando quem era e Pepe completamente extasiado respondeu “um anjo”.

O rapaz continuou trabalhando, mas não conseguia esquecer a moça. A voz dela perguntando se poderia lhe atender e o sorriso na despedida. Pepe nunca sentira algo parecido antes, conheceu algumas mulheres ao longo da vida, mas aquilo era diferente.

Parecia amor, amor a primeira vista.

Oscar chegou na loja na hora de fechar e perguntou se o irmão queria sair para beber. Pepe respondeu que não, estava cansado e o rapaz estranhou já que nunca viva o irmão recusar noitada.

Pepe não conseguia tirar a mulher da mente, queria chegar logo em casa e sonhar com ela.

O pai e o irmão foram beber. Pepe entrou em casa e encontrou tudo silencioso na sala, nada entendeu e sentou-se no sofá. Olhou sobre a mesinha de frente ao sofá uma caixinha, estranhou.

Pegou e era uma caixinha de música. Abriu e percebeu que era a caixa que tinha vendido à moça.

Antes que esboçasse alguma reação Giuliana, sua irmã, saiu de dentro da casa vestida de freira, rindo e acompanhada de sua mãe.

Além da mãe acompanhada da moça da loja. 

Pepe assustado se levantou e a moça também se assustou ao ver o rapaz com a caixinha na mão. Ela sorriu e disse “oi moça da loja”, ele respondeu “boa noite senhorita da caixinha”.

Giuliana perguntou se já se conheciam e Pepe respondeu “um pouco”. A moça apresentou o irmão à amiga e contou a ele que se chamava Beatriz.

Cumprimentaram-se novamente como na loja e o encantamento estava feito.

Dora convidou a moça para jantar e Pepe não conseguia tirar os olhos de Beatriz que desviava sem jeito. Giuliana contava de sua vida como freira e que Beatriz era sua amiga de convento, mas descobriu que não era sua vocação e partiu. Pepe sem querer soltou um “que bom" que foi reparado pelas pessoas. Notando a gafe emendou “perdão, eu quis dizer que pena”.

Envergonhado não sabia onde meter a cara.

Depois do jantar sentaram na sala e falaram um pouco da vida. Pepe o tempo todo em silêncio apenas observava a moça. Em determinado momento Dora virou para Pepe e perguntou porque no dia seguinte ele não mostrava um pouco da cidade para as duas.

Pepe alegou que as duas eram paulistanas, conheciam a cidade, mas Beatriz se animou e rebateu que conhecia muito pouco São Paulo e adoraria. Poderiam aproveitar o domingo.

No fim Giuliana levou Beatriz até a porta e comentou que esperava a moça no dia seguinte. Antes de ir Beatriz se despediu de Pepe que apaixonado só conseguiu levantar a mão e acenar.

Depois que Beatriz foi embora Giuliana mandou que ele nem tivesse esperanças que a amiga estava de casamento marcado. Ele respondeu que não sabia do que a irmã falava e Giuliana completou que ele sabia sim.

Pepe não conseguiu dormir naquela noite. Virava para um lado e para o outro, desceu para beber água, encontrou Constância no caminho e nem tentou ir com a moça para o quarto, estava diferente mesmo.

Deitou novamente e Oscar deitado na cama ao lado perguntou o que o irmão tinha. Ele respondeu que nada, mas Oscar sabia da presença de Beatriz e comentou “ a amiga da Giuliana né? Foi fisgado”.

Pepe mandou o irmão dormir e quieto sobre a cama pensou “é, fui fisgado mesmo”.  

No dia seguinte Beatriz estava cedo na casa dos Granata e os três partiram pra passear por São Paulo. Foram no recém inaugurado Mercado Municipal, Estação da Luz, a Catedral da Sé e por fim assistiram regatas no rio Tietê.

Enquanto tomavam sorvete Pepe lembrou que tinha jogo do Palestra Itália e convidou as moças para assistirem.

O encantamento entre Pepe e Beatriz era evidente, as trocas de olhares. Giuliana percebeu e beliscava o irmão mandando se conter. Mas como mandar no coração?

No estádio Pepe explicou as regras do jogo para as meninas e Giuliana sentou entre Beatriz e Pepe que se olhavam. O jogo estava difícil, mas Oscar de repente driblou três jogadores e fez um golaço.

No instante do gol enquanto a torcida festejava Beatriz e Pepe se abraçaram e ficaram próximos de um beijo. Notando o clima que se criou se afastaram.

Pepe e Giuliana levaram a moça até sua casa. Era uma casa enorme em uma região mais abastada de São Paulo e Giuliana finalmente percebeu que não poderia brigar contra o que ocorria e contou aos dois que compraria uma revista se despedindo de Beatriz.

Pepe e Beatriz se olharam por um instante na porta e o rapaz perguntou quando a veria novamente. Ela abaixou a cabeça e respondeu não saber se seria bom, pois, estava noiva.

O rapaz lamentou e contou que ela sabia como achá-lo. Deu um beijo em sua mão na hora em que seu pai apareceu.

O pai de Beatriz mandou que ela entrasse e com cara séria olhou Pepe desejando boa noite e fechando a porta.

Pepe não conseguiu mais se concentrar no trabalho, em nada só pensando em Beatriz. Pedia a Giuliana que enviasse recados. Dormia mal, mal se alimentava, mal vivia.

Um dia estava no trabalho com pensamento longe e Oscar foi até o irmão correndo pra ele atender cliente. Triste Pepe perguntou se ele na podia fazer isso e o irmão respondeu que não, tinha que ser ele.

Emburrado foi até o balcão e deu de cara com Beatriz que sorrindo falou “não disse que voltaria?

Oscar ficou tomando conta da loja e os dois saíram pra passear. Pepe comprou sorvete para os dois e enquanto andavam o rapaz percebeu que a moça tinha um pouco de chocolate na bochecha.

Foi limpar, ficaram cara a cara e Pepe não resistiu beijando Beatriz.

Depois do beijo a moça se afastou dizendo que não podia e correu pela rua. Pepe correu atrás segurando a mão de Beatriz e ao se virar a moça lhe beijou. Ali, no meio da rua.

Um beijo de muito amor.

Beatriz contou a verdade para Pepe. Interna do convento com Giuliana ela não queria ser freira, não tinha aptidão.

O pai ouviu tudo o que a filha tinha a dizer e respondeu que aceitava que ela saísse do convento e assim quebrasse uma promessa de sua mãe ao nascer, mas com uma condição.

Teria que casar com o pretendesse que ele escolhesse.

A família de Beatriz passava por dificuldades financeiras e seu pai viu ali a chance de melhora, na filha fazer um bom casamento. Não pensou duas vezes e assim que Beatriz saiu do convento comunicou que lhe arrumara um pretendente.

E até aquele momento, o do beijo com Pepe, ela não conhecera o noivo.

Pepe ficou indignado com aquelas informações e disse não aceitar que naquela época ainda fizessem casamento daquela forma. Segurou a amada e disse olhando em seus olhos que não permitiria esse casamento.

Beatriz perguntou como e Pepe respondeu que daria um jeito. Levou a moça até em casa e antes que ela entrasse pediu que o rapaz fosse embora por não querer que o pai lhe visse sem Giuliana perto.

Não adiantou falar. Logo após o pai apareceu mandando que entrasse. Beatriz entrou e ameaçador o homem mandou Pepe se afastar da filha.

 Mas não se afastou continuando o casal a se encontrar às escondidas. Giuliana avisava do risco, mas o amor de Pepe e Beatriz era grande demais e o compromisso não impedia esse amor de explodir.

Uma noite Pepe levou Beatriz até a esquina de sua casa e despediu-se da amada com um beijo. Nessa hora apareceu o pai da moça com quatro homens. Gritando ele disse que tinha mandado o “moleque” se afastar da filha e ele não ouviu, veria ali o que era bom.

Pegou a filha pelo braço enquanto os quatro homens pegaram Pepe e colocaram dentro de um automóvel saindo em disparada. Foram até um descampado e surraram o rapaz que mesmo sendo bom de briga não conseguiu impedir a covardia.

Beatriz foi impedida de sair de casa e aos poucos Pepe se recuperava das feridas. Não do corpo, mas do coração.

Prometia a todos que Beatriz não casaria com outro e faria o possível e o impossível para impedir. Salvatore discutiu com o filho e ordenou que ele esquecesse a moça.

Pepe com calma respondeu ao pai que não tinha como, já estava enraizada em seu coração e era um Granata, um Granata não se acovardava.

Irritado Salvatore comentou que coragem não era a mesma coisa que burrice e Pepe finalizou dizendo que ficaria com ela nem que tivesse que fugir. 

Estava determinado mesmo. Invadiu a festa em que Beatriz era apresentada ao noivo e na frente de todos na sala disse em alto e bom som que queria conversar com o pai de Beatriz.    

O homem aproximou-se e falou em seu ouvido “moleque insolente”. Pepe devolveu “Podemos falar em seu escritório ou quer que eu fale aqui na frente de todos?” O homem engoliu em seco e respondeu “me acompanhe”.

Foram até o escritório em um clima tenso. Nele Pepe contou que amava Beatriz e queria casar com ela. O homem deu uma gargalhada, sentou-se, acendeu um charuto e respondeu que o rapaz não tinha onde cair morto.

Sem abaixar a cabeça Pepe foi até a frente do homem e disse que era trabalhador, honesto, sua família tinha uma loja, a que mais crescia na região do Brás e teria como sustentar Beatriz.

O homem se irritou, levantou e humilhou o rapaz.

“Carcamano!! Você não passa de um carcamano, você, seu pai e seu avô!! Já puxei a ficha de vocês!! Vocês tem uma mísera lojinha, uma casa velha, vieram da Itália porque passavam fome lá!! Se acha no nível de minha filha? Ela vai casar com um dos maiores industriais de São Paulo!!”.

Pepe sentiu-se humilhado, mas não abaixou a cabeça retrucando que ainda teria muito dinheiro. O homem continuou a humilhação “Não, não terá porque é um carcamano, um pobre infeliz que nasceu nesse país, mas nunca será como nós. Se você ama mesmo minha filha vá embora e deixe que ela se case com alguém que lhe dará um futuro”.

Pepe engoliu em seco, nunca fora tão humilhado na vida, mas ainda encontrou forças para responder “ainda serei muito rico e esfregarei meu dinheiro em seu rosto”. O homem rindo respondeu “Sabe onde moro, espero ansiosamente por esse dia”.

Pepe furioso saiu em disparada da casa com Beatriz vendo seu amado ir embora e derramando uma lágrima de sua face.

Pepe entrou em depressão, não conseguia mais trabalhar e só ficava na cama mesmo com os apelos dos familiares para que reagisse. Não procurou mais Beatriz e a aparência era de quem tinha desistido de viver.

Em uma noite chuvosa, deitado na cama, Pepe ouviu baterem na porta. Não queria abrir, mas insistiram. Desanimado levantou e abriu.

Era Giuliana contando que tinha uma visita para ele. Saiu e apareceu Beatriz tremendo de frio.

Assustado Pepe nada disse e a moça quebrou o clima perguntando “Está muito frio, posso entrar?”.

Pepe puxou sua amada para dentro e os dois se beijaram ardentemente. Trancou a porta e os dois fizeram amor.

No fim deitados na cama Pepe perguntou que loucura era aquela da amada indo até lá. Beatriz respondeu que o pai viajara e ela teve ajuda da empregada da casa para fugir. O rapaz riu comentando que aquilo era uma loucura.

Beatriz perguntou se achava ruim e Pepe respondeu que não, era uma loucura maravilhosa e beijou a amada.

Beatriz chorou contando que seu casamento era em uma semana e seu noivo era pelo menos trinta anos mais velho. Chorava por amar Pepe e por não se imaginar sendo tocada por aquele homem. O rapaz propôs que fugissem.

Beatriz primeiro assustou-se e depois se animou respondendo que topava. Pepe contou que só precisava arrumar umas coisas, conseguir dinheiro e lhe encontrava em três dias as oito da manhã na Estação da Luz.

A moça perguntou para onde iriam e ele respondeu “para as estrelas” lhe beijando.

Pepe contou apenas para Oscar o que planejava. O irmão ainda tentou demovê-lo, mas em vão. Pepe pediu apenas que o irmão esperasse seu embarque para contar.

Na hora marcada Pepe estava lá esperando a amada na Luz, mas nada dela chegar. Os minutos se passaram, as horas e Pepe se enervava perguntando se algo ocorrera com a amada.

Até que um menino se aproximou perguntando se ele era Pepe Granata.

O rapaz respondeu que sim e dessa forma o menino entregou um bilhete. Ele abriu, era de Beatriz.

No bilhete a moça dizia que sentia muito, mas não poderia fugir com o rapaz. Contou que o pai precisava dela então que ele não lhe procurasse mais.

 O mundo de Pepe desabava.

Arrasado voltou para casa e encontrou todos chorando. Perguntou o que ocorria e Dora abraçando o filho contou que Antonieta passara mal e estava em estado grave no hospital.

Vivia um drama. Pepe perdendo a mulher de sua vida e com a avó em situação desesperadora.

Três dias de agonia com a velha senhora lutando entre a vida e a morte até que ela não aguentou e se juntou ao seu querido Benito Granata.

Apesar de todos já esperarem pelo pior uma grande dor tomou conta dos Granata. A tristeza era tão grande que até por alguns minutos Pepe conseguiu esquecer Beatriz. 

Durante o enterro Giuliana se abraçou ao irmão que era o único que não chorava. Impassível via o caixão da avó descer a sepultura. A moça comentou com Pepe que estava próximo de começar o casamento de Beatriz.

Pepe respondeu apenas “eu sei” e a irmã perguntou se ele permitiria, o rapaz sem deixar de olhar o caixão respondeu “ela quis assim”.

Giuliana colocou a mão no ombro do irmão e contou que nem sempre expressamos o que o coração sente. Falou e se afastou deixando Pepe sozinho.

Pepe olhou a sepultura por mais algum instante. Lembrou de sua avó que estava ali sendo enterrada, de seu avô Benito, exclamou “Um Granata não desiste!!” e saiu.

Pegou a bicicleta e correu para a Catedral da Sé.

Atravessou quase a cidade inteira gritando o nome de Beatriz. Chegando ao largo da Sé deixou a bicicleta e correu em direção a igreja gritando seu nome e que não casasse.

Mas antes que chegasse à porta da igreja viu Beatriz saindo vestida de noiva, sorrindo ao lado do marido que realmente aparentava ser bem mais velho e recebendo chuva de arroz.

Ofegante, destruído Pepe via toda a cena e Beatriz antes de entrar no carro notou a presença do rapaz. Olhou seu amado por alguns segundos e entrou no carro com o novo marido.

O carro todo enfeitado, com latas amarradas partiu deixando Pepe para trás.

Pepe sentou-se em um banco que tinha no largo e olhou o céu. Começava a anoitecer e surgia a Lua que tanto embalara os amores e dores dos Granata. Sentia-se sozinho, perdido, Beatriz foi embora e deixou seu coração em pedaços.

Não chorou apesar de ter vontade. Respirou fundo e pegou a bicicleta para partir. Naquele instante apareceu um menino pedindo um trocado para ele.

Pepe olhou bem o menino e lhe entregou a bicicleta dizendo que era sua para felicidade do garoto. Nunca mais andaria de bicicleta.

Naquele dia Pepe Granata decidiu ser rico.


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