DINASTIA: CAPÍTULO VII - REENCONTROS E NOVOS ENCONTROS




Rita levou Salvatore até a casa que moravam. Contou que os irmãos partiram pelo mundo e só ela restou na casa com os pais. Salvatore perguntou como estavam seus pais e Rita respondeu que bem. O pai abrira uma mercearia na cidade.

Rita entrou em casa com Antonieta reclamando da demora da filha. Rita mandou que a mãe parasse e reparasse quem estava com ela. Antonieta que segurava um prato que enxaguava ao ver o filho deixou cair o prato no chão despedaçando o mesmo e gritou seu nome.

Abraçou o filho às lágrimas repetindo que Deus existia e não tinha esquecido dela. Benito desceu a escada perguntado o que ocorria e ao ver Salvatore ficou sem voz.

Salvatore aproximou-se do pai, pegou sua mão e disse “a bênção papa”. Benito ficou um tempo olhando o filho, com lágrimas nos olhos e respondeu “Deus lhe abençoe meu filho”. Salvatore naquele instante deu um abraço forte no pai, emocionado, um abraço de muita saudade.

Salvatore durante meses, depois que chegou da Itália, procurou pela família em vão, saindo todos os dias pelas ruas de São Paulo, até na estação de trem procurou.

Sonhava em Ribeirão Preto encontrar, sempre que olhava pessoas mais velhas no cafezal sonhava ser seus pais e por ironia do destino, no momento que mais precisava surgiram.

Sentaram no sofá da casa confortável no Brás e Benito contou a epopeia da família depois da chegada. O quanto lhe procuraram e que a família foi trabalhar em Campinas, conseguiu juntar um bom dinheiro e voltou a capital para continuar o tipo de trabalho que fazia em Nápoles, seus irmão preferiram continuar em Campinas.

Salvatore contou sua vida no Brasil, todos os dramas e Antonieta lamentou que o filho sofrera tanto. Salvatore comentou que sua esposa estava no hospital e ainda teria que voltar ao local para enterrá-la.

Benito colocou a mão no ombro do filho e disse para irem ao hospital e que ele não estava mais sozinho.

No enterro Salvatore viu o caixão descendo com o corpo da amada e ainda teve que enterrar seu filho em um pequeno caixão. O homem deixava cair umas lágrimas, sentia o peito apertado e pedia a Deus para que nunca mais se apaixonasse. No fim Benito chamou o filho para morar com eles.

Salvatore agradeceu, mas disse que continuaria na pensão, apesar do pai alegar que aquilo só traria sofrimento o rapaz respondeu que era uma forma de estar perto de Lorena.

Benito aceitou, mas convidou o filho a trabalhar com ele na mercearia como nos velhos tempos, na mercearia que seria dele um dia.

Salvatore pensou por um tempo e respondeu “negócio fechado”. Dessa forma o italiano largou a indústria, a taverna e voltou ao passado com seu pai.

Tentou seguir sua vida. Saía com Mathias, Olga e Rita para se divertirem, fazer coisas de jovens, mas sentia falta de Lorena, a saudade doía.

Trabalhando com o pai conseguiu ampliar a mercearia. De transformações em transformações quando foram ver tinham um pequeno restaurante e se não dava pra fazer fortuna pelo menos os Granata já tinham uma vida confortável. Às vezes recebiam cartas dos outros filhos contando como estava a vida em Campinas. Alguns já possuíam pedaços de terra.

Salvatore só trabalhava, sua vida era isso, não pensava em amores e construir família. Isso preocupava Benito que queria ver o filho construir sua família. O homem já estava velho e sonhava carregar um neto no colo.

Mas quem decidiu construir família foi Rita. A moça se encantou com Alberto, irmão de Mathias e o moço foi aos Granata pedir a mão da filha em casamento.

Tenso Alberto foi até a casa com Mathias e fez o pedido. Benito olhou sério para o rapaz e perguntou a Salvatore o que ele pensava. O rapaz olhou Alberto com a mesma seriedade e respondeu não saber se deveria, pois, o rapaz não era italiano.

Rita se indignou e Alberto gaguejando respondeu que se fosse o caso se naturalizava, mudava sua nacionalidade. Benito olhou para Salvatore e os dois começaram a rir. Benito disse a Alberto que era uma brincadeira e que o rapaz era bem vindo à família.

Benito abraçou Alberto que logo depois deu um beijo na testa de Rita e Salvatore foi buscar o vinho. O rapaz abriu a garrafa enquanto Antonieta distribuía as taças.

Alberto prometeu fazer Rita feliz e Benito respondeu que esperava mesmo, pois, se não fizesse castraria o rapaz. Alberto se assustou e gargalhando Benito disse “estou brincando ragazzo..ou não”. Ao fim Salvatore pediu a palavra e brindou aos noivos gritando “Viva a Itália!!”.

Todos gritaram viva e beberam. Terminaram aquela noite festiva cantando “Mérica, mérica, mérica”.

De madrugada Rita desceu para beber água e encontrou Salvatore sentado no sofá da família. Foi até seu encontro e lhe deu um abraço por trás e um beijo no pescoço. Salvatore fez carinho na irmã que lhe perguntou no que pensava.

Salvatore respondeu que em nada, sempre tivera dificuldades para dormir. Rita respondeu que isso era verdade, mas sentia o irmão triste.

O italiano mandou que a irmã não se preocupasse e Rita sentou ao seu lado dizendo que se preocupava sim, era seu irmão e lhe amava. Salvatore agradeceu e a irmã completou que o irmão era jovem ainda e estava na hora de ser feliz.

Perguntou por fim se o irmão queria um copo de leite e Salvatore respondeu que sim. Antes que entrasse na cozinha Rita mandou que o irmão sempre se lembrasse daquilo que dissera, que estava na hora dele ser feliz.

A irmã se afastou e Salvatore ficou pensando no assunto.

Chegou o dia do casamento e Mathias e Salvatore ajudavam Alberto a se arrumar. O noivo nervoso contou que sonhara que a noiva não aparecia no altar. Salvatore riu e mandou que ele se despreocupasse com isso e se preocupasse realmente com o que viria depois, a vida de casado.

Mathias completou afirmando que acabaria a vida de farras, bebedeiras e noites acordado e que teria que viver para a esposa. Alberto negou que fizesse essas coisas e Salvatore riu e contou que o bafo dele naquela manhã lhe denunciava.

Alberto contou que só bebera um pouco na noite anterior e Mathias mandou que o irmão parasse de mentir já que também estava na despedida de solteiro. Salvatore mandou que o cunhado escovasse os dentes e Alberto jurou que fez nada de errado, não desrespeitou sua irmã.

Salvatore respondeu que ele não devia se preocupar e a partir daquela data sim deveria respeitar Rita. Mathias levou Alberto ao banheiro para escovar os dentes e por alguns segundos Salvatore parou e lembrou-se de seu casamento com Lorena.

Lembrou de sua vida com Lorena, os poucos momentos com Morgana, a adolescência com Dora. Perguntou-se como Dora estava imaginando que ela já fosse mãe, tivesse filhos, pensou “linda como era nunca que deixariam ficar solteira”.

Alberto e Mathias voltaram do banheiro e Alberto mandou que Salvatore se levantasse a partissem logo, pois, estavam atrasados.

Salvatore riu alegando que a irmã se atrasaria muito mais, mas não quis contrariar o cunhado e assim partiram.

Chegaram na igreja. Mathias era padrinho de Alberto e Salvatore de Rita. Com todos no altar Salvatore mandou que o cunhado se acalmasse e parasse de andar de um lado para outro. Alberto respondeu que não estava e Salvatore riu que o cunhado estava “suando como um porco”. 

Rita entrou na igreja ao som da marcha nupcial, linda como nunca. Benito entregou a filha ao rapaz e assim a cerimônia prosseguiu.

Salvatore observava ao lado da mãe a cerimônia continuar e Antonieta virou-se para o filho e em seu ouvido contou que seria um dia especial, de muitas surpresas. O rapaz não entendeu e perguntou para a mãe o que ela queria dizer com isso. Antonieta mandou que o filho se calasse para não atrapalhar o casamento.

A cerimônia aconteceu e foram para a festa. Uma festa linda tipicamente italiana com sua dança, comida, a Itália estava presente naquela noite. O único que parecia não se divertir era Salvatore.

Sentado em um canto e observando a Lua o italiano bebia um copo de vinho quando a irmã se aproximou. Rita lhe abraçou e perguntou se ele lembrava do que ela dissera um tempo atrás.

Salvatore respondeu que sim, que Rita lhe disse que era hora de ser feliz. Rita contou que era isso mesmo e que a hora chegara.

Salvatore sorriu e disse a irmã que ela estava certa porque estava muito feliz por seu casamento e sua felicidade. Rita sorriu e respondeu que ele estava certo, mas não era essa felicidade que dizia. Chegara a hora dele construir sua família.

Salvatore contou que não sabia como. Rita deu um beijo em seu rosto e se afastou em silêncio. Salvatore bebeu mais um pouco de vinho e ouviu uma voz feminina lhe dizer “pelo jeito continua gostando da Lua”.

O rapaz conhecia aquela voz e deixou o copo cair no chão, virou-se e lá estava ela. Linda com um vestido azul, sorriso nos lábios, mais velha, mas linda como sempre.

Era Dora.

Salvatore olhou paralisado para Dora e a moça perguntou se depois de tanto tempo não merecia um abraço. O rapaz saiu do transe, levantou e abraçou a antiga namorada. Um longo e silencioso abraço.

Benito, Antonieta e Rita se aproximaram. Salvatore desorientado perguntou o que acontecia e Benito respondeu que nunca se separara da vida em Nápoles, desde que chegou ao Brasil manteve contato com as pessoas do lugar através de cartas.

Antonieta continuou dizendo que todos lá sabiam do passo a passo, do sumiço dele e do reencontro anos depois. Que o rapaz ficara viúvo e trabalhava com o pai.

Dora completou que nunca esquecera Salvatore, não conseguiu amar mais ninguém e um dia teve coragem, arrumou suas coisas e com a ajuda dos Granata conseguiu viajar ao Brasil chegando naquele dia.

Salvatore ouviu aquilo tudo em silêncio e no fim Dora implorou para que ele dissesse algo. O rapaz respondeu que estava muito feliz em vê-la, mas que ela não devia ter feito aquilo. Salvatore disse isso e se afastou.

Antonieta pediu que Dora se acalmasse que com o tempo tudo daria certo. Dora respondeu que não, já esperara tempo demais e foi atrás do rapaz.

Dora puxou Salvatore e perguntou o porque daquela reação. O rapaz pediu desculpas, mas não podia ter nada com ela porque era amaldiçoado no amor, não nascera para ele.

Dora irritada respondeu que não viajara tanto tempo pelo oceano para ouvir aquele tipo de resposta, puxou Salvatore e lhe beijou.

Salvatore não conseguiu resistir e retribuiu o beijo. No fim falou que ela era louca e nem podia casar com ela, pois, já se casara na igreja e ela respondeu que não se importava, não queria casamento, queria a ele.

Beijaram-se novamente sob aplausos de todos os presentes.

Salvatore resolveu se dar uma nova chance de ser feliz no amor e por ironia do destino com aquela que tudo começou, seu primeiro amor. Aquela que despertou seu coração. Sem esquecer Morgana e Lorena Salvatore resolveu enterrar seus fantasmas.

Comprou uma pequena casa no Brás, perto da casa dos pais e ali construiu seu lar com Dora. Benito já estava velho então Salvatore tomou frente do restaurante.

Dora engravidou e todos os fantasmas voltaram a atormentar Salvatore. Em vez de feliz o homem ficou preocupado e assim foi até o dia que trabalhava e Mathias entrou correndo pra dizer que a mulher estava em trabalho de parto.

Todos os fantasmas vieram à tona, ainda mais que Dora ainda estava de oito meses.

Chegando ao hospital encontraram Olga que pediu para que o homem se acalmasse porque o parto estava difícil, o bebê estava atravessado. Salvatore não entendeu e perguntava como assim atravessado quando Olga voltou para dentro.

O italiano se desesperou lembrando de anos antes ali esperando Lorena dar a luz. Pedia a Deus que a tragédia não se repetisse, não iria suportar perder mais uma mulher quando começou a ouvir um choro, choro de bebê.

Olga voltou à sala sorrindo e dando parabéns ao papai.

Os olhos de Salvatore brilharam e o homem perguntou “nasceu? Está tudo bem?”. Olga respondeu que sim, que era um menino.

Salvatore deu um grito de felicidade, abraçou a Mathias e a mulher mandou que ele fosse lá ver a esposa e o filho. Salvatore foi correndo e entrando no quarto viu Dora deitada com o pequeno menino nos braços.

Salvatore com lágrimas nos olhos se aproximou, deu um beijo na testa de Dora e disse “meu amore”, olhou o bebê e completou “meu bambino”. Dora mandou que o marido pegasse o filho nos braços.

Salvatore pegou o bebê, levantou ao céu e disse “bem vindo ao Brasil Giuseppe Granata!!”.

Foram pra casa e assim a família foi sendo construída. Salvatore e Dora tiveram mais dois filhos. Oscar e Giuliana.

Essa última estava no colo do patriarca, de Benito Granata, quando este faleceu. Estava quietinha, dormia no colo do avô que naquele instante já repousava ao lado de Deus.

No enterro estavam todos Alberto, Rita que amparava a mãe, Mathias, Olga, Luzia a dona da pensão, Oscar, Giuliana no colo de Dora, Giuseppe e Salvatore.

Salvatore via o caixão do pai descer e agradecia ao homem por tudo que lhe ensinou, todo o carinho dado e prometia honrar e perpetuar seu nome.

Giuseppe vendo o pai emocionado pegou a sua mão e disse “Pode deixar que agora tomo conta de você papa”.

Salvatore sorriu e agradeceu beijando a testa do menino.

No fim todos partiram do cemitério. Salvatore partiu de mãos dadas com Giuseppe.

A saga da família Granata apenas começava.

*Capítulo de hoje dedicado a minha querida sogra descendente de italianos e primeira leitora do livro Ana Oliete. Grazie dona Ana.


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