AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO XIX - ÚRSULA


Sobrou pra Taísa também que um tempo depois foi presa por “associação ao tráfico”. A Unidos do Bebezão não ficou muito tempo sem rainha de bateria, logo arrumou uma nova rainha que eu não cheguei nem perto apesar de ser espetacular.

Como sempre Edu e Bia estavam certos ao falar que eu entrara em uma roubada. O problema é que nunca ouvia meus amigos eu não podia ver mulher que “pirava”, queria de todas as formas e sempre me dei mal. Nessa então quase me dei muito mal.

Edu e Bia sempre foram meus melhores amigos, melhores amigos da minha vida, melhores amigos de uma vida. Edu meu companheiro desde criança. Passamos por muitas juntos, disputamos a Bia, depois fomos morar juntos e sempre tivemos um grande laço de carinho e respeito.
Devo muito ao Edu, amizade, companheirismo, tudo.

A Bia então nem se fala..

Tio Freitoca voltou ao velório, acho que o dinheiro dos mendigos acabara e ele quis voltar “a fonte”. Voltou, olhou para o caixão e disse que meu sorriso aumentara. Minha avó respondeu que eu devia estar na companhia dos anjinhos e Edu rindo que do jeito que eu era safado devia era estar com diabinhas.

Minha avó fez o sinal da cruz enquanto meu amigo com aquela roupa de drag queen de filme do Almodóvar gargalhava. Eva olhou pro caixão e também sentiu que meu sorriso aumentara. Desconfiada se perguntava no que eu pensava quando mais um “grupo estranho” entrou no velório.

Uns caras carecas, com orelhas deformadas, caras de maus, com roupa de lutadores, fortes, sarados, másculos, gostosos..ops..gostosos não !!

Enfim, um grupo estranho.

Entraram, chegaram perto do caixão com Edu na frente do mesmo. Um dos lutadores virou pra ele e com cara braba perguntou “Qual é? Nunca viu?”. Meu amigo abriu um sorriso e falou “ui, ovulei”.
Outro lutador, o mais forte de todos ordenou que começassem a rezar. Os homens com luvas de boxeadores tentaram juntar as mãos e não conseguiram, mesmo assim começaram uma reza.
“Pai Nosso que estás no..Pai Nosso que estás no..estás no..”

Irritado ele se virou para os amigos e disse “Porra, esse negócio de reza é muito dificil, alguém saber rezar?”.

Nenhum dos lutadores sabia então resolveram improvisar.

“Pai nosso e de todos os porradeiros, aquele homem sagaz que tranforma água em vinho, anda por cima do mar e não dá mole pra vacilão!! Esses humildes lutadores de UFC vem aqui pedir hoje pela alma do companheiro Adão, aquele que finalizava o adversário apenas com olhar, quebrava pescoços, costelas, braços e unhas de adversários, fez Chuck Norris falar fino e rebolar como a Gretchen e pediu Big Mac no Bob`s e foi atendido”.

Meu avô incrédulo falava com minha vó “Nicete? Ele fez tudo isso? Que orgulho”.

Um dos lutadores perguntou ao que comandava a reza se eles podiam ir porque iria começar a novela. O líder mandou que ele se calasse e baixinho respondeu que já iriam e não poderiam perder aquele capítulo. Edu se aproximou do grupo e falou que eles deviam ser muito bons de luta. O lider dos lutadores respondeu que eles eram os melhores, mas Edu completou que duvidava que eles soubessem o “martelinho invertido”.

Os lutadores ficaram um olhando pro outro sem entender enquanto Edu dava um sorriso de deboche e olhando as unhas completava “é, não sabem”. O líder do grupo então se aproximou e pediu que ele ensinasse. Edu desdenhou e contou que não poderia, era um segredo de família. O homem implorou,disse que faria qualquer coisa então meu amigo concordou, mas respondeu que teria que ser em sua casa.

Assim Edu saiu com o grupo de lutadores e avisou a minha família que voltaria a tempo do enterro, mas antes teria outra “enterrada”.

Edu..saudades do amigo..

Sim, saudades, porque a última vez que vi meu amigo com vida foi no dia seguinte daquele problema na casa do Capitão Barradas. Eu estava na sala vendo tv quando Edu entrou apressado.
Perguntei onde ele tinha se metido porque fiquei preocupado e ele respondeu que não tinha muito tempo pra responder. Perguntei como assim não tinha muito tempo e Edu contou que viajaria pra Europa.

Não entendi nada, Edu não tinha nenhuma viagem programada. Meu amigo falou que foi coisa do momento, ele precisava de um retiro espiritual e iria para o Tibet. Nem deu tempo de falar que o Tibet não ficava na Europa quando a campainha tocou, atendi e era o segurança que tentou me agarrar.

Dei um grito e tentei fechar a porta, mas o segurança impediu e disse para eu me acalmar que ele esperava o “duzinho”. Antes que eu digerisse o “duzinho” Edu apareceu com uma mala, me deu um abraço mandando que eu ficasse bem, desse um beijo em Bia e Joana e se mandou.

Da janela vi os dois entrarem em um carro e partindo. Edu andava estranho há um tempo mesmo desde o episódio no clube de swing.

Talvez um retiro lhe fizesse bem.

Fui a um barzinho com Bia e contei a novidade. Minha ex perguntou se o quarto dele ficara vago e respondi que sim, ela então perguntou se podia ficar com ele e rachar as despesas comigo já que não estava satisfeita com o local que morava. Pensei um pouco se era uma boa, afinal era mulher e minha ex, mas concordei já que via Bia como uma irmã. De noite ela já estava de mala e cuia lá em casa. Joana adorou a novidade e Bia  a pôs pra dormir.

Depois ajudei minha amiga a arrumar o quarto. No fim dei um beijo de boa noite nela e falei que tudo ficaria bem, nós éramos amigos de muitos anos, como se fossemos irmãos e eu nem lembrava que ela era uma mulher.

Trinta segundos depois estávamos arrancando nossas roupas e indo pra cama.

Mais tarde com os dois abraçados na cama perguntei se ela não se arrependera de terminar tudo no altar. Bia riu e perguntou se justo naquela altura do campeonato eu iria levar nossa relação pro campo sentimental. Respondi que não, era apenas uma curiosidade e ela respondeu que ir embora daquela igreja sem casar foi a melhor decisão que tomara na vida. Disfarcei minha indignação por a melhor decisão de sua vida ter sido não casar comigo e perguntei se ela nunca imaginara como teria sido se tivéssemos casado. Ela respondeu que sim, eu lhe trairia, ela me botaria na justiça arrancando tudo de mim no divórcio e eu sem dinheiro estaria morando com meus pais.

Pensando por esse lado foi melhor não casar.

Bia continuou e disse que eu não conseguiria ser de uma mulher só nem saberia viver sem mulher. Eu indignado respondi que conseguia sim e provaria pra ela ficando um bom tempo afastado das mulheres.

E consegui, por vinte e quatro horas.

Até conhecer Úrsula.

Úrsula Mattos era uma jornalista policial, a mais respeitada do estado. Tinha um programa vespertino na emissora que eu também tinha programa e nele “metia o pau” na criminalidade. Também trabalhava em jornal e graças a uma matéria sua a polícia conseguiu provas contra o capitão Barradas e chegou a sua prisão.

Resumindo, eu devia minha vida a Úrsula.

Ela combatia e denunciava traficantes e milícia e por isso virou a inimiga n°1 da criminalidade fluminense sendo alvo não só de ameaças como tentativas de assassinato. Isso fazia Úrsula ter uma escolta permanente 24 horas para proteger sua vida.

E onde entro nisso tudo?

Úrsula era o nome do momento então quis levá-la ao meu programa pra falar de sexo. Sim, sexo, eu quis mostrar outro lado dela tentar mostrar a justiceira do Rio de Janeiro de uma forma mais suave, doce. Minha assessoria entrou em contato com a assessoria dela e de uma forma surpreendente Úrsula topou.

Na noite seguinte ela estava no programa. Ruiva, bonita, elegantemente vestida e com um sorriso bonito e meigo que nem lembrava a pessoa lutadora que era e os riscos que corria.
Falou de tudo com uma grande naturalidade e fiquei encantado por aquela mulher, pronto, já me apaixonara de novo.

Mais uma roubada.

No fim do programa entrei em seu camarim com buquê de flores na mão e entregando a ela. Úrsula sorriu e agradeceu. Enquanto os seguranças faziam uma devassa no buquê pra saber se tinha algo dentro dele que pudesse colocar sua vida em risco chamei a jornalista pra sair.

Ela agradeceu, aceitou e soltou um “ufa”. Não entendi o ufa então Úrsula contou que sabia que eu era um “Don Juan” e dava em cima de todas as mulheres e que se não desse em cima dela se sentiria mal.

É..famas correm.

Saímos pra jantar e conversávamos animadamente mesmo com dois seguranças sentados ao nosso lado na mesa. Úrsula parecia a vontade mesmo com a presença deles e falava de tudo. No fim falou que me achava interessante e me chamou pra ir a um motel. Engasguei com o vinho ao receber a proposta e respondi que tudo bem e brincando perguntei se os seguranças iriam junto.

Úrsula respondeu que sim e que eu me acalmasse que eles não iriam atrapalhar. Eu ri e falei que aquela era muito boa, mas Úrsula continuava séria.

Eles realmente foram conosco.

Dentro do quarto fomos nos pegando, agarrando até a hidromassagem. Chegando perto dela um segurança pediu para que parássemos e colocou a mão dentro da água pra ver se tinha algum problema. Viu que não e falou que podíamos prosseguir.  Perguntei a Úrsula se eles ficariam ali na beira da hidro e ela respondeu que sim, perguntei “nos olhando?” e Úrsula rindo respondeu que era evidente que não e mandou que eles se virassem.

Eles se viraram e fizemos amor na hidro enquanto eles ficaram na beira de costas.

E assim começamos um caso. Alguns dias depois levei pra conhecer meu apartamento e antes que entrássemos os seguranças entraram e com armas apontadas pra frente e olharam o apartamento todo até que deram o ok para que entrássemos. Uma loucura. No dia seguinte Bia perguntou se eu não tinha visto um anel que teria deixado na mesinha de cabeceira da sala. Respondi que não. Na mesma noite voltei com Úsula ao apartamento e na manhã seguinte Bia deu por falta de um relógio que também deixara na sala.

Assim como o anel respondi que não vi. Bia começou a achar aqueles sumiços estranhos e perguntou quem tivera naqueles últimos dias no apartamento e respondi que ninguém em especial, só minha namorada. Ela então fez cara de pensativa e falou que achava melhor nós prestarmos mais atenção na empregada.

Nosso caso continuou e era quente, intenso. A coragem daquela mulher me excitava. O jeito que ela desafiava a criminalidade, aquele olhar possesso que fazia no programa de tv ou suas matérias pro jornal me davam tesão. Nem os riscos que eu corria me assustavam. Eu adorava aquele clima.

Só não gostei muito quando cheguei em casa um dia e encontrei a porta aberta, não tinha ninguém lá e estranhei a situação. Entrei devagar e o apartamento estava uma bagunça, todo revirado.  Roupas espalhadas, objetos quebrados, uma enorme bagunça. Entrei no banheiro e escrito com batom da Bia estava “quem se mete com quem não deve acaba dançando junto, abre o olho”.

Imediatamente peguei o celular e liguei pra polícia e depois pra Úrsula. Fiquei muito preocupado pensando que a Bia me mataria quando visse o que fizeram com o batom dela. A polícia foi ao apartamento assim como Úrsula. Enquanto os policiais andavam pelo local Úrsula falou para que Bia e eu ficássemos calmos que eram apenas ameaças pra me assustar, mas fariam nada comigo, o alvo era ela.

No fim foram todos embora e Bia deu por falta de uma pulseira que tinha visto minutos antes perto da geladeira. Coisas estranhas ocorriam. Assim como as ameaças os sumiços de objetos eram situações que me chamavam atenção. Um dia fui com Úrsula ao shopping e na hora que saí de uma loja o sinal sonoro apitou. O Segurança do local pediu pra ver a mochila que eu carregava e ali encontrou um celular daqueles modernos.

Passei a vergonha de ter que ir para a administração da loja esperar pelo gerente e me explicar e por minha sorte o homem era fã dos meus livros e só pediu um autógrafo nos exemplares que tinha.
Contei a história pra Bia e ela perguntou se eu deixara a mochila em algum momento com alguém e respondi que com Úrsula quando fui ao banheiro. Bia então contou que minha namorada era cleptomaníaca.

Ri e falei que aquilo era impossível. Úrsula era uma jornalista respeitada, temida pelos bandidos e não podia ser cleptomaníaca. Bia respondeu que não só achava como tinha certeza e que se eu quisesse poderiam fazer uma visita a sua casa e comprovar.

Fomos até sua casa e ficamos os três batendo papo na sala. Depois de um tempo Bia perguntou onde era o banheiro e Úrsula indicou. Fiquei com minha namorada na sala namorando um pouco até que Bia retornou e continuamos nosso papo. Depois de um tempo fomos embora. Já dirigindo falei com Bia que ela estava errada, pois, ficamos um bom tempo na sala e não encontramos nada. Bia então contou que não foi ao banheiro, na verdade foi até o quarto de Úrsula.

Comecei a reclamar que era uma invasão de privacidade, ela não devia ter feito aquilo quando Bia abriu a bolsa e mostrou o anel, o relógio e a pulseira que sumiram de nosso apartamento.
Que situação, além de namorar uma mulher ameaçadade morte namorava uma cleptomaníaca.
Evidente que aquela situação não poderia ficar daquela forma e eu resolvi dar um fim praquela relação. Liguei pra Úrsula e convidei pra jantar.

Decidi que no jantar contaria que não dava mais e que era melhor terminarmos. Úrsula era uma mulher inteligente, centrada e tinha certeza que entenderia. Peguei minha namorada em casa e eu conversava normalmente com ela quando senti Úrsula mais quieta. Perguntei o que ocorria e quando virei para ela vi que minha namorada olhava atentamente um carro que estava do nosso lado.

Ela calmamente me disse que quando ordenasse eu abrisse a porta do carro e me jogasse dele. Eu ainda tentei discutir falando que aquilo era locura e Úrsula ordenou que eu não discutisse e fizesse o que ela mandou. Mandou que eu diminuísse a velocidade, obedeci e quando ela gritou “agora” abri a porta e me joguei. Nesse momento ela se abaixou e o carro começou a ser alvejado por tiros.

Eu do lado de fora via Úrsula abaixada e só levantando pra atirar nos bandidos. O carro com seus seguranças parou atrás do nosso e começou a também atirar nos bandidos. Alguns minutos depois os três bandidos que atiravam de dentro do carro estavam mortos.

Úrsula ilesa desceu do meu carro e falou que já tinha algumas semanas que aquilo não ocorria. Eu só conseguia olhar pro meu carro e ver aquele monte de marcas de tiro nele lamentando pelo coitado. Úrsula então se virou pra mim e contou que era melhor irmos pra sua casa pedir uma pizza.

Eu branco, pálido, concordei.

Na sua casa antes que eu pudesse dizer algo Úrsula disse que tinha duas coisas pra me contar. A primeira era que a situação estava muito séria pra ela e que tinha recebido proposta pra trabalhar em uma ONG de direitos humanos na Turquia e topado. Respondi que era uma boa notícia e seria bom para que ela pudesse viver em paz. Úrsula então disse que teria que me contar a segunda e pediu para que eu não ficasse chateado.

Emendou então falando que reencontrara um ex namorado, ainda era apaixonado pro ele, decidiram reatar e ele iria com ela pra Turquia. Por dentro explodi de alegria, mas por fora mostrei tristeza, lamentei, mas falei que o que importava era a felicidade dela e queria que ela fosse feliz.
Úrsula me abraçou e contou que se eu quisesse nós podíamos ter uma última noite juntos. Levantei e falei que era melhor não porque eu teria que levar minha avó cedo na musculação e assim me despedi da agora minha ex namorada.

Alguns dias depois vendo noticiário da tv com Bia e Joana apareceu uma informação sobre Úrsula na Turquia. A informação era que seu namorado fora preso com dois quilos de cocaína escondidos na mala e o homem desesperado falando que nem sabia como aquela droga tinha parado lá.

Ele não sabia, mas eu imaginava..que droga..


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TAÍSA

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