Capítulo I - O camarim

Estádio do Maracanã. Palco principal do esporte no mundo, local de muitas emoções e que se confunde com a história do Brasil.

Mas nessa noite ele não está aberto para um jogo de futebol e sim para um show. As imediações mostram engarrafamento monstruoso, os ingressos acabaram em poucos minutos de venda pela internet. Gente de todo país viajou para o Rio de Janeiro e dormiu na fila durante dias para serem as primeiras a entrar e ter proximidade do palco.

O dia do show amanheceu nublado e durante o dia aconteceram umas pancadas de chuva, mas nada que diminuísse o interesse dos fãs e da imprensa. As tvs, rádios, jornais e sites de internet faziam plantão dentro e fora do estádio mostrando a movimentação pro megashow e a expectativa dos  fãs e da cidade.

O noticiário da Rede Globo no dia era focado no show, durante o RJTV e o Jornal Nacional entradas ao vivo com os repórteres contando do mítico estádio as condições de trânsito, meteorologia, segurança e o set list do artista que se apresentaria.

Não era nenhum artista como Frank Sinatra, o primeiro mega show internacional da história do Brasil e do Maracanã. Não era um Rock in Rio, uma super banda de rock americana ou algum ídolo teen inglês, nada disso.

Era um artista brasileiro.

Totalmente fora de toda essa movimentação parecendo em um mundo paralelo está o artista. Ele está em seu camarim sozinho, sentado em uma cadeira de frente ao espelho.

Como em todos os seus shows ele pediu a meia hora anterior ao começo para ficar sozinho. Sentado na cadeira olhava fixamente o espelho.

Ele é negro, tem vinte e cinco anos de idade. Um homem bonito, corpo atlético e enorme carisma. Seu sorriso branco daquele de comercial de creme dental é referência, sua simpatia e talento também.

Ele compõe suas músicas e é o principal responsável por aquele sucesso, correu atrás para que ocorresse, nunca desistiu.

Como a grande maioria dos brasileiros passou enorme dificuldade na vida. Morador de favela teve desde criança que trabalhar e estudar para ajudar sua família.

Hoje tem cordão de ouro, brinco de ouro na orelha esquerda, rolex no pulso e se veste apenas com roupas de marca. Mas nem sempre foi assim, muitas vezes teve que dormir com fome por não ter comida em casa.

Na sua frente o espelho, embaixo mesa com fotos. Foto de sua mãe, pai, irmãos, de Mayara, que vem a ser o amor de sua vida e de seu filho Jonatan.
Também tem uma foto sua ao lado de Léo, seu melhor amigo, amigo de fé, irmão camarada. É a foto da capa do primeiro cd deles. Da dupla de funk Lucas e Léo.

Sente saudades de Mayara e de Léo. Queria que os dois estivessem ali com ele saboreando aquele momento. Queria o pai também, mesmo que a relação deles sempre tenha sido conturbada.

Sim, seu nome é Lucas. Lucas Violi como é conhecido nacionalmente e ele naquele momento olhava o espelho e deixava cair uma lágrima que rolava pela face. Lucas se emocionou ao lembrar sua trajetória e aonde tinha parado. No Maracanã.

Ele que sonhou em jogar lá pelo Flamengo seria a principal estrela da noite com suas canções e sua voz. A principal estrela do país.

Batem na porta do camarim tirando Lucas de seu transe e avisando que estava na hora. Ele sai e encontra os músicos, seu empresário e toda sua equipe no corredor.

Todos se abraçam e começam uma oração. Rezam o Pai Nosso e Lucas agradece por aquela noite abençoada. Pede que Deus os ilumine e dê uma noite maravilhosa a eles e aos fãs que esperavam do lado de fora. Todos dizem amém, dão um grito e se encaminham pro palco.

Os músicos entram pra delírio do público estimado em cem mil pessoas. Lucas ainda na coxia recebe um abraço de seu irmão Jonas e o microfone. Jonas dá um beijo no rosto do irmão e diz “merda”.

Uma forma de desejar boa sorte.

Lucas agradece enquanto a banda começa a introdução da primeira música. É a senha para a entrada de Lucas.

Ele respira fundo e deixa a coxia entrando no palco para explosão do Maracanã.

O Maracanã é dele. O Brasil é dele.




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