AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO XIII - NARA


Devo ter engordado mesmo depois que terminei com a Mônica porque eu nunca comi tanto na minha vida. Nunca mais namorei mulheres em dieta.

No caixão meu estado tinha voltado ao normal. Morto. O tédio tomava conta dos convidados que jogavam carteado.

Lá pelas tantas foram ouvidas palavras em um megafone. Ninguém no local entendeu nada. De repente alguns homens barbudos e com macacões invadiram o velório.Meu avô perguntou que bagunça era aquela e um homem se apresentou como Lola. Presidente do sindicato dos trabalhadores grevistas do Brasil e que eles estavam lá pelo passamento do companheiro Adão, no caso eu, dessa pra melhor.

Meus avós e meus pais agradeceram e nesse momento o Lola pegou uma cadeira, subiu na mesma e com um megafone começou um discurso.

Disse que os trabalhadores estavam revoltados com minha morte que com certeza que foi causada pelo sistema opressor dos empregadores brasileiros. Por mim Lola convocou uma greve e todos os homens que lhe acompanhavam começaram gritos de ordem como “Abaixo a opressão!! Viva o Adão!!”.

Rapaz..eu acho que poderia ser presidente do Brasil..

O pessoal no velório já se empolgava com aquela situação toda. Meus pais oriundos do “paz e amor” cantavam “construção” com os grevistas e meu pai tocava um violão quando outro megafone foi ouvido. Era do lado de fora e chamavam pelo Lola. Todos foram nas janelas e perceberam que do lado de fora dezenas de policiais se reuniram com o comandante no megafone.

Do outro lado Lola também no megafone mantinha um diálogo áspero com o comandante. O policial gritava que a greve era arbitrária e que os grevistas deixassem a capela e voltassem às fábricas.
Lola gritava que eles só sairiam de lá mortos e minha avó comentava com ele se de morto não bastava eu. O clima era tenso no velório com o comandante ameaçando invadir.

Lola começou a gritar “vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora não espera acontecer” quando um dos grevistas virou pra ele e disse que era isso que os policiais queriam. Que eles fossem embora.

Lola respondeu que era verdade e gritou no megafone “Daqui não saio!! Daqui ninguém me tira!”.
Pronto..foi a senha.

O “choque” resolveu invadir o velório e uma grande confusão se formou. Eles entraram jogando bomba de gás lacrimogêneo e baixando o “cacete” nos grevistas. Os grevistas resistiram e no fim levados algemados pelos policiais gritavam “Morte a opressão!! Viva o Adão!!”.

Olha, foi bonito..tá..não foi tão bonito assim, mas foi inusitado.

Minha avó ao lado de meu caixão me olhava e comentava com Bia que não tirava os olhos de mim que aquela história de greve era interessante e meu avô bem que merecia mais uma.

É..mais uma, porque teve antes e me envolveu na história.

Eu andava meio traumatizado com namoros e sempre que conhecia uma mulher perguntava o que ela gostava de comer. Fiquei com tanto trauma que até com uma cozinheira saí por umas semanas. Mas ela notou que eu me interessara mais pelos seus dotes culinários que por sua pessoa e me largou.

Decidi então por um pé no freio depois que saí com uma piloto de kart que quebrou meu pé me atropelando com um carrinho de supermercado. Ela era linda, graciosa, mas dei um pé nela. Com o pé bom.

Com pé quebrado e sem nada pra fazer eu ficava em uma cadeira de rodas andando pelo apartamento e torrando a paciência dos outros. Principalmente da pobre da Joana e ela não cansava de falar o quanto eu estava chato.

Na verdade todos falavam que eu estava chato, mas eu sempre fui hiper ativo e aquilo de não sair de casa me irritava. Edu deu a ideia então que eu ajudasse Joana nos estudos. Minha filhinha estava no 1° ano do ensino fundamental e topei. Virei um super pai e cuidava de minha filha, seus estudos e quando passei para as muletas passei a levar e buscar minha filha no colégio todas as manhãs e no judô de tarde.

O judô acabou sendo um problema e uma solução.

Fui chamado ao colégio pela professora de Joana devido seu comportamento. Cheguei ao colégio e me colocaram em uma sala. Eu cheio de afazeres esperando uma professora velha e chata fui surpreendido com a entrada na sala de uma bela mulher com traços indígenas, cabelo preto forte, sorriso largo e pernas estonteantes que me cumprimentou de forma bem simpática e mandou que me sentasse.

Sentei e não tirava os olhos de suas pernas. A moça se apresentou como professora de Joana e agradeceu por eu arrumar tempo em minha agenda para falar com ela.

Eu baixinho respondi que arrumava qualquer hora de minha agenda pra ela. A moça perguntou “como?” e respondi que arrumava qualquer horário na agenda para tratar de assuntos referentes à Joana. A moça então contou que Joana apresentava um comportamento agressivo em sala de aula e chegou a jogar uma coleguinha dentro da lixeira. Ao ouvir isso segurei o riso e respondi “que trágico”. Enquanto ela falava eu prestava atenção em seu corpo e no volume de seus seios.

A moça falando de minha filha e eu olhando pros seios da professora imaginando como eles seriam nus. Sou uma vergonha como pai. No fim notei um silêncio e percebi que ela tinha parado de falar. Prometi então que conversaria com Joana e esse problema seria resolvido.

Levantamos e nos cumprimentamos com os seios dela chegando perto de meu braço. Ela sorria pra mim enquanto eu olhava pra baixo. Percebi a gafe, levantei meu olhar e perguntei seu nome.
Ela me respondeu..Nara..lindo nome.

Despedi de Nara prometendo providências. Ela percebeu meu pé engessado e perguntou o que tinha ocorrido. Respondi acidente de trânsito em um supermercado e ela riu. Nara então falou que também era fisioterapeuta e que eu precisaria de fisioterapia, iria doer muito, mas eu ficaria cem por cento.
Sorri e falei que não tinha medo de dor e lidaria com ela numa boa. Saí da sala desejando aquela mulher.

Eu desejando mulher, novidade.
Os dias passaram tirei o gesso e realmente precisei de fisioterapia. Cheguei a uma clínica pra começar e dei de cara com Nara.

Nara já era maravilhosa, vestida de branco então..Perguntei o que ela fazia lá e Nara respondeu que dava aulas pro ensino fundamental de manhã e fazia faculdade de fisioterapia de noite, aquele era seu estágio.Respondi que era bacana tanto empenho dela e perguntei como estava Joana na escola. Nara respondeu que bem, tinha passado sua agressividade e fiquei feliz.

Ela então falou pra começarmos que ela faria minha fisioterapia. Amigo..dói mesmo como ela tinha falado, mas fui machão e segurei minha dor.

Só um momento que interrompi os exercícios dizendo que precisava ir ao banheiro. Fui, dei um grito de dor e voltei sorrindo como se nada acontecera.

Eu ia três vezes por semana à fisioterapia e estava presente e todas as atividades escolares de Joana então foi natural minha aproximação com Nara. Com o tempo criei coragem, chamei pra um cafezinho e ela topou. Na lanchonete bebendo café passei a mão naqueles cabelos de índia e tentei beijá-la. Nara virou o rosto e respondeu que não sabia se era uma boa beijar pai de aluna sua. Respondi que não estava ali como pai e sim como paciente dela.

Assim consegui o beijo.

Começamos um romance gostoso. Nara era uma moça bacana e Joana a adorava por ser sua “tia”. Éramos um casal tranquilo que saía mais pra cinema, teatro, restaurantes e noites de sexo selvagem.
Meus amigos também gostaram dela. Eva que já “estourava” com seu programa infantil e discos pela América Latina conheceu minha nova namorada e aprovou. Edu também. Ficou conversando com Nara pra saber como ela tinha cabelos tão lindos e até mesmo Bia que aparentou um pouco de ciúmes gostou.

Todos gostaram, eu me sentia feliz, até fui à casa de meus pais fazer uma consulta nas cartas com minha mãe pra saber se aquele relacionamento teria futuro.

Dona Pauloca viu nas cartas que nós parecíamos nos gostar muito, mas teríamos que tomar cuidado com “fatores externos”.Demorei um pouco pra entender aquela situação, mas entendi.

Uma manhã eu dormia e a campainha tocava fortemente. Levantei cheio de sono e fui atender tomando um susto. Era minha avó dona Nicete.

Pior, de mala e cuia.

Perguntei o que ocorrera e ela respondeu que brigou com meu avô por ele estar de assanhamento com a empregada nova e o largou pra morar comigo.Eu ainda tentava entender aquela situação quando ela entrou. Nara dormira comigo naquela noite e levantou coberta por uma toalha indo até a sala perguntando o que acontecia.

Minha avó se escandalizou e mandou que Nara voltasse pro quarto e colocasse uma roupa por que era minha avó e exigia respeito.Nara foi se vestir toda envergonhada e perguntei pra minha avó quanto tempo ela pretendia ficar ali e ela sorridente respondeu “pra sempre”.

Eu estava fu.. e mal pago. Nara ainda com vergonha voltou para a sala já vestida e minha avó mandou que ela fosse pra casa que seus pais deviam estar preocupados. Nara então me deu um beijo no rosto e disse que ligaria mais tarde indo embora.

Minha avó então foi entrando no meu quarto perguntando se aquele era o meu. Respondi que sim aí ela disse que a partir daquele momento era o dela. Perguntei aonde eu dormiria e minha avó respondeu que acabara de ver um colchonete dentro do armário e eu saberia me virar.

Minha filha olhou pra mim e respondeu “nem pense” então só me restou bater na porta de Edu.

Meu amigo abriu a porta e me viu com colchonete e travesseiro debaixo do braço. Antes que ele conseguisse falar algo eu disse “nem reclame” e entrei no quarto.

Consegui dormir uma hora ali no chão quando bateram na porta. Era minha avó falando que o café estava na mesa.

Tá uma coisa tenho que assumir. Desde os tempos de dona Emengarda eu não sentava à mesa com um café tão farto. Isso fez com que minha avó conseguisse dois importantes aliados. Edu e Joana.
Mas pra mim a situação se complicava.Na janta do mesmo dia estávamos todos à mesa quando meu celular tocou. Antes que eu pudesse atender minha avó pegou o telefone. Era Nara.

Minha avó mandou que a Nara ligasse depois porque a hora da refeição era uma hora sagrada e eu não atenderia desligando.

Sim, minha avó me controlava como se eu fosse uma criança de oito anos. Fazia uma serie de recomendações, mandava que eu levasse casaco, guarda chuva e não chegasse tarde. Uma vez cheguei de madrugada com Nara ao meu apartamento. Entramos com uma garrafa de champanhe na mão e nos beijando fortemente quando minha avó ligou o abajur da sala.

Tomamos um susto e minha avó perguntou se eu sabia que horas eram. Olhei pro relógio e respondi que eram três da manhã. Minha avó então mandou que Nara se despedisse de mim e fosse embora porque era tarde.

Fiquei sem reação e continuei assim com minha namorada me dando um beijo no rosto desejando boa noite e indo embora.

Era uma situação complicada. Eu não conseguia mais transar em casa, na casa de Nara não dava porque ela morava com os pais e minha namorada não gostava de motéis.Liguei pra Eva pra ver se ela estava pra voltar ao Brasil e assim mandar minha avó pra casa dela. Minha irmã estava no México e não tinha nem previsão de volta.

Então resolvi agir e fazer o que sempre faço em momentos de crise. Marcar jogo de tênis com meu pai. Fomos ao Ipanemense e jogamos. Após a partida contei ao meu pai que a situação era insustentável e precisávamos agir pra que ela voltasse com meu avô. Meu pai colocou a mão em meu ombro e mandou que eu não me preocupasse que daria um jeito. Pediu que falasse à minha avó que fosse almoçar em sua casa no dia seguinte que ele e minha mãe resolveriam.

Voltei ao apartamento e lá encontrei minha avó bem animada com Bia e Nara no sofá mostrando minhas fotos de criança. Em muitas eu pelado o que me encheu de vergonha.

Bia riu e falou que pelo menos meu “trocinho” aumentara um pouco de tamanho com o tempo.
 Nara levantou e disse que tinha que ir embora, me esperou demais, mas eu demorei e não atendi ao telefone.

Respondi que ele estava desligado porque eu resolvia algo importante. Nara então pediu que eu fosse ao colégio no dia seguinte porque precisava falar algo sério comigo. Perguntei se era sobre Joana e ela só respondeu que era importante e eu não faltasse.

Minha namorada foi embora e eu falei pra minha avó e Bia que iria tomar banho. Bia debochando mandou que eu lavasse bem atrás das orelhas e minha avó respondeu à ela que eu realmente era muito relapso no banho e quando pequeno nem gostava de tomar.

É, eu merecia..

No dia seguinte encontrei Nara na mesma sala que nos conhecemos e perguntei o que Joana aprontara. Nara fechou a porta desabotoou a blusa e respondeu que nada, só queria sexo.
Jogou-me na mesa e começamos a nos beijar e tirar a roupa. Quando estávamos pelados a diretora entrou na sala e soltou um grito.

Como de praxe respondi que não era nada daquilo que ela pensava.

Foi bonita a despedida de Nara das crianças do colégio. Todas as crianças choravam menos Joana que me olhava brava e falava “isso é coisa do meu pai”.

Fui almoçar com Nara que disfarçava a tristeza contando que realmente já pensava em deixar o colégio e se dedicar de vez a fisioterapia. Eu falei que era pra ela se despreocupar porque naquele momento meus pais estavam com minha avó resolvendo a situação.

Nara então olhou sério pra mim e falou que era bom mesmo que sua paciência estava no fim.
Voltei pra casa na esperança daquela situação estar no fim quando minha avó entrou. Iria perguntar se ela foi pegar sua mala quando vi minha mãe entrar junto e perguntei o que aconteceu.
Minha mãe com uma mala na mão respondeu que não aguentava mais meu pai e iria morar lá também.

Pronto, eu estava arruinado de vez. Além de tudo que passava com minha avó agora eu teria que aturar cheiro de maconha, incenso e músicas indianas em meu lar.

O desespero batia conta. Eu além de ser tratado como uma criança não conseguia mais transar. Nara também se desesperara e até abriu mão de suas convicções. Topou ir a um motel.

Fomos e depois de muito tempo conseguimos transar. Uma noite maravilhosa que nos aliviou. Nada poderia nos aborrecer.

Quer dizer, quase nada.

De manhã o telefone do quarto tocou e Nara atendeu. Depois de ouvir o interlocutor disse pra mim que minha mãe e minha avó estavam lá embaixo.

Dei um pulo da cama e Nara aborrecida mandou que eu me vestisse e fosse lá ver o que ocorria.
Eu fui e lá encontrei as duas no saguão nervosas porque eu sumira e não dava notícias. Perguntei como elas tinham me achado e minha avó respondeu que pegou telefones de lugares que eu frequentava com Edu então não foi difícil.

Xingava o Edu em pensamento quando minha avó mandou que me vestisse direito pra ir embora com elas. Ensaiei um discurso que era maior de idade e livre pra fazer o que bem entendesse quando ela mandou um “agora” que me convenceu e me fez subir correndo.

Subi e Nara já estava vestida indignada. Ela me deu um beijo no rosto e mandou que a procurasse quando virasse adulto indo embora.

Cheguei em casa irritado e saí quase na mesma hora. Fui à casa de meus pais e falei pro meu pai que aquela situação não poderia ficar daquela forma. Peguei o telefone e liguei pro meu avô mandando que ele viesse imediatamente ao Rio de janeiro resolver aquele problema.

Meu avô chegou no dia seguinte. Minha avó e minha mãe viam novela na sala quando a campainha tocou. Atendi e eram eles, meu pai e meu avô.

Elas não gostaram e ordenaram que eles fossem embora. Eu pela primeira vez mostrei voz ativa. Tranquei a porta, coloquei a chave no bolso, peguei meu fone de ouvido, conectei ao som, liguei e sentei na minha poltrona favorita dizendo que eles só sairiam dali depois que se entendessem.

No começo ainda ouvia os gritos delas. Mas depois fiquei completamente “zen” ouvindo meu som.
Com o tempo notei o silêncio e vi os dois casais se beijando. A paz voltaria a minha família e principalmente, pra mim.

Meus avós foram embora e voltaram pro Nordeste, minha mãe voltou pra casa e eu me sentia livre pra retomar meu namoro. Comprei um buquê de flores e fui até a casa de Nara.
Bati na porta e ela estava apenas encostada. Entrei e ouvi uns gemidos que vinham da direção de seu quarto. A porta estava entreaberta então olhei.

Olhei Nara e seu padrasto fazendo coisas que não são legais de ver a sua mulher fazendo. Ali entendi porque ela relutava tanto em me levar a sua casa.

Peguei o buquê, coloquei em cima de uma poltrona da sala e abri a porta pra ir embora dando de cara com sua mãe.

Fiz sinal de silêncio pra ela e mandei que fosse até o quarto de Nara bem devagar que teria uma surpresa muito boa.

E me mandei ouvindo ainda os gritos dela com a filha.

Família..família..primeiro a mãe depois a filha..Ah sagrada família.


CAPÍTULO ANTERIOR:

MÔNICA

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