AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO XII - MÔNICA


Consegui me explicar e não saí com fama de drogado. Mantive todos os meus empregos e só sobraram mesmo as gozações de praxe em situações assim.

Mas no momento que me encontrava não mudava muito receber gozação ou não. Eu estava morto.

Meus familiares debatiam se já não era hora de me encaminhar pro enterro. Afinal de contas eu já era velado há 11 capítulos do livro. Mas Eva respondeu que não porque ainda faltava chegar gente importante pra se despedir de mim.

As pessoas começavam a se preocupar com Bia que não saía do lado do caixão nem pra ir ao banheiro.  Ofereciam água, café e ela recusava tudo. Até eu estava quase levantando do caixão e mandando que ela se sentasse um pouco. Mas Bia continuava ali do meu lado, impassível, companheira, mesmo com todas aquelas mulheres aparecendo e chorando se despedindo de mim.

E olha que não eram poucas as que compareceram. Mas Bia me conhecia, sabia da minha natureza e como eu sou.

Por isso nem se abalou quando apareceu um time de voley.

Sim, é verdade, um time de voley feminino..

Ninguém mais se surpreendia com nada que ocorria em meu velório. Estava eu lá deitadão, já entediado com aquele velório quando o time de voley feminino do Ipanemense entrou na
capela. Seis mulheres lindas, altas, deslumbrantes com aqueles shortinhos minúsculos de jogadoras, aquele porte atlético..

Edu fez cara de nojo, Eva se empolgou e foi logo cortada por Kátia e minha avó perguntou quem elas eram. As meninas choravam copiosamente, até dava pena. Elas contaram que eram do time do Ipanemense e eu era o padrinho e treinador do time. Incentivava, levava aos jogos, ensinava táticas e as levava pra concentração antes dos jogos.

A levantadora disse que ninguém levantava como eu, as atacantes que ninguém atacava como eu, a líbero que ninguém defendia igual. Tinha uma gandula com as jogadoras, menina novinha ainda e Eva perguntou o que eu fazia de bom.

Ela respondeu “ninguém colocava as bolas em jogo como ele” e começou a chorar.

Eu era um atleta olímpico, campeão mundial e pan americano de sacanagem.

As meninas conversavam sobre mim. Sobre as noites na concentração em que eu merecia medalha de ouro e outras coisas mais íntimas que fico com vergonha de contar quando uma delas encostou com o cotovelo no caixão. Encostou-se a uma parte, digamos, sensível de minha anatomia.

E amigos, eu to morto, mas não to morto

Papo vai, papo vem, a menina mexia o cotovelo ainda em cima dessa parte do meu corpo até que ela tomou um susto.

“Epa!! Tem uma coisa crescendo aqui!!”

Ela rapidamente tirou o cotovelo e as pessoas notaram o que “crescia”. Eva deu um riso discreto e falou “esse é o meu irmão”. Até a Bia riu. Minha avó olhou horrorizada e perguntou “como vamos fechar o caixão assim?”.

A menina que estava com o ombro no meu corpo olhou pra mim piscou o olho e falou “safadinho”.

É.. eu era, mortinho e safadinho.

E qual lugar bom pra safadinhos como eu? Internet é claro.

Decidi depois de Kate e Lena entrar pro mundo virtual e entrei em todas as redes sociais.  Papo vai, papo vem e conheci muitas mulheres interessantes. Não é difícil você se dar bem com as mulheres na internet.  Problema maior é você encontrar realmente uma mulher, porque muitas vezes você pensa que tecla com uma mulher e quando vai ver é um homem se passando por uma e achando que com aquilo tira sarro de você.

Eu até hoje, mesmo depois de morto, ainda não consigo entender a graça disso.

Passando por essa etapa tinha que sobreviver as mentiras. Nos primórdios da internet era complicado porque os chats não tinham fotos então podia se enganar dando pra pessoa com a qual você teclava o perfil que quisesse.

Nos chats todo mundo era galã ou modelo e não era fácil escapar da enganação. Mas com o tempo surgiu a facilidade do envio de fotos e o melhor, a webcam.

Ah..webcam..vocês não tem noção das coisas que ocorrem com uma webcam ligada e como eu expliquei acima não é difícil você se dar bem com as mulheres na net, basta não ser tarado. Pelo menos o tarado que mostra que é tarado. Mulher detesta o homem que vai direto ao ponto, que fala grosserias, não adianta chegar nela e falar “me mostra seus peitos”. Dificilmente conseguirá algo assim.

Mulher gosta de tarado sim, mas gosta do lobo na pele de cordeiro. O tarado gentil, que faz rir, que lhe deixa a vontade, se você faz a mulher rir e a deixa a vontade, feliz de teclar contigo ela fica nua e dança “conga la conga” com a webcam ligada pra você sem ela sentir.

E tenho um ditado que diz “Deus inventou a webcam e o diabo o print screen”. Print screen é a tecla que você aperta no teclado e copia a imagem que aparece na tela do computador. Assim fiquei com várias lembranças das mulheres que teclei.

E comecei a me viciar em internet passando horas lá. Bia e Edu se preocupavam e mandavam que eu saísse de casa, mas era bom demais. Fechava minha porta e entrava numa “Disneyworld da putaria”.

Tinha minhas derrotas também. Vezes que Joana bateu na porta, faltou luz ou mulheres ligavam a webcam falando que mostrariam algo pra mim e quando via era seu filho no colo.

Não tem nada mais broxante que mulher que liga webcam com filho no colo.

Mas teve uma que me chamou atenção em especial. Fotos muito bonitas, logo lhe adicionei em uma rede social e depois em um programa de mensagens instantâneas. Papo agradável, inteligente, ela se chamava Mônica.

Fiz a Mônica rir, ela se sentia a vontade comigo, ficávamos até altas horas teclando..enfim, fiz tudo certo no “manual do tarado”, mas não deu certo ela não abriu webcam pra mim. Eu mal conseguia ver decotes, mais nada.

E isso me atiçou fez com que eu ficasse com muita vontade de conhecê-la e acabei apelando pra minha armadilha favorita. Cinema em dia de semana.

Amigo, nada melhor pra conhecer alguém que cinema em meio de semana, ah escolha um filme que não seja mais lançamento. O cinema tende a ficar vazio então você senta lá atrás com a menina. Vocês, a mega pipoca, dois refrigerantes e lá vão se beijando, você vai descendo a mão e..aí já viu.

O motel é o limite.

Marquei com a Mônica na frente do cinema na expectativa de como ela era. É muito tenso marcar com alguém assim “às escuras”. Passam mulheres lindas e você torce pra ser sua acompanhante, outras nem tanto e você torce que passe direto.

Até que uma mulher chegou por trás de mim e perguntou “Adão?”. Virei e a mulher deu um sorriso falando “oi sou eu, a Mônica”.

É..dei sorte, a Mônica era uma mulher bonita, mas..

..era gordinha, aliás bem gordinha.

Nunca tive preconceito com gordinhas só nunca saíra com uma, não era meu perfil. Dei um sorriso meio sem graça pra ela que retribuiu, beijei seu rosto e falei pra nos apressarmos pra comprar a pipoca.

Mônica então respondeu que estava de dieta e achava melhor que não comprássemos. Lá fomos nós pro cinema sem pipoca, pra mim cinema sem pipoca é como transar sem gozar, arroz sem feijão, Buchecha sem Claudinho, sei lá, é estranho.

Eu estava completamente desconfortável no cinema. Não sabia como reagir com Mônica lá e estranhara ver um filme sem comer pipoca. Até que notei uma mão por cima de minha calça, a mão foi caminhando, caminhando, até alisar a parte que a jogadora de voley encostou o cotovelo e claro que ele deu sinal de vida.

Tomei um susto, Mônica de um jeito safado abriu o zíper e mexeu nele diretamente. Não aguentei e parti pra cima da gordinha que logo colocou minha mão por dentro de seu decote.

Ela me deixou louco, não prestei mais atenção no filme e na metade dele Mônica propôs “vamos a um motel?”. Evidente que eu não negaria fogo então ela levantou e me puxou pela mão com os dois saindo do cinema.

A mulher era um furacão, deliciosa e tive uma das melhores transas da minha vida. Minha primeira gordinha, uma gordinha deliciosa que eu queria pra mim. Combinamos de sair na noite seguinte e eu empolgado me arrumava. Bia estava lá no apartamento e junto com Edu perguntavam quem era a “vítima” da vez. Eu ajeitava meu blazer e meu cabelo com os dois parados na porta e falava que a vítima era eu porque foi ela que me atacou, eu estava muito feliz e que eles conheceriam porque ela iria lá.

Edu atendeu o interfone e anunciou que ela estava lá. Eu pedi pra que mandasse subir e uns minutos depois a campainha tocou com Bia atendendo.

Bia atendeu e Mônica perguntou se eu estava. Bia séria respondeu que sim e perguntou o que ela queria com “seu marido”. Mônica se assustou e eu apareci falando que Bia era minha amiga e ela poderia entrar porque eu acabaria de me arrumar.

Bia e Edu fizeram um pouco de sala pra Mônica e nós saímos. Bia e Edu ficaram olhando pra porta já fechada e Bia comentou “ela é meio gordinha né?”. Edu olhando fixamente pra porta respondeu “é sim e que melões, você viu? Bem que eu queria uns desses pra mim”.

Bia se assustou com a declaração de nosso amigo que percebendo a gafe emendou “queria pra mim, pra apertar, fazer de travesseiro, pra..” Bia mandou que ele se calasse porque ela já entendera.

Fomos ao meu restaurante preferido e ela pediu bife de soja, arroz integral, alface, brócolis e suco de beterraba. Eu iria pedir meu prato preferido, lasanha a bolonhesa com um choppinho quando ela me interrompeu e pediu que o garçom trouxesse o mesmo pra mim.

Olhei pra Mônica com cara de quem não entendera e ela sorrindo me disse que estava em dieta e pediu pra eu ser solidário e entrar em dieta também até porque eu estava gordinho. Tomei um susto e perguntei como assim eu estava gordinho e ela respondeu que eu estava, mas as pessoas não falavam pra eu não me sentir mal.

Enquanto eu apertava minha cintura e pensava “como assim gordinho?” o garçom trouxe dois copos de suco de beterraba e Mônica propôs que nós brindássemos ao nosso amor que apenas estava começando.

Brindamos e demos um gole. Quase coloquei pra fora aquele suco era horrível. Mas fui macho e me segurei conseguindo engolir aquela coisa. A comida chegou e conseguiu ser pior, acabei tendo que apelar pro suco de beterraba pra disfarçar o gosto da comida.

Consegui dar apenas umas colheradas e Mônica comia com gosto. Ela me perguntou se estava ruim e respondi que estava sem fome, então ela comeu minha parte também e depois fomos pra sua casa.

Chegamos lá e ela foi logo me empurrando pra cama. Transamos horas seguidas e no fim extenuado e com fome levantei perguntando se ela tinha algo pra comer. Mônica respondeu que sim e mandou que eu fosse até a geladeira.

Fui e só tinha aqueles produtos dietéticos intragáveis. Voltei pro quarto falando que precisava ir pra casa porque Joana acordava durante a noite perguntando por mim.

Despedi de Mônica e corri pra rua. Parei em frente a uma barraca de cachorro quente e comi um “podrão”.

Algumas horas depois, eram umas seis da manhã e bateram na porta do meu quarto. Quando abri era minha filha Joana com olhos fechando de tanto sono dizendo que a Mônica estava na sala querendo falar comigo. Fui até lá e encontrei Mônica cheia de disposição com roupa de ginástica me esperando pra correr na praia. Esfreguei os olhos e perguntei se aquilo era sério, ela respondeu que sim e que eu fosse me trocar.

Saímos e corremos a orla toda de Ipanema. Uma coisa que tenho que confessar pra vocês..nunca, em hipótese nenhuma, se vocês querem minha amizade me acordem cedo, principalmente em um domingo.

Voltei pra casa extenuado só pensando em minha cama quando Mônica mandou que eu só tomasse um banho e levasse Joana pra almoçar em sua casa que prepararia algo delicioso pra nós.

Mônica foi embora e Joana perguntou se precisava ir mesmo e respondi que sim. Chegamos lá e até que o cheiro da comida estava bom. Mônica pediu que sentássemos na sala enquanto ela terminava de
preparar. Perguntei o que era e ela respondeu que era surpresa.

Depois anunciou que estava pronto. Sentamos à mesa e tinha uma sopa de legumes lá com refresco de jiló. Tive que fingir alegria ao comer enquanto Joana me olhava com ar furioso.

Acabamos de comer e Mônica contou que era hora da sobremesa, sorvete. Levantou pra pegar e Joana e eu abrimos um sorriso de alívio por ter algo que preste lá.

Mas Mônica voltou com sorvete zero caloria, horrível.

Saímos da casa com Joana ameaçando fugir de casa novamente se voltássemos a almoçar lá, tive que levar minha filha a uma churrascaria pra almoçar direito.

No dia seguinte Mônica não foi cedo ao apartamento, foi no fim da tarde mesmo contar que tinha nos matriculado em uma academia e que já estávamos atrasados. Aproveitou e deixou uma lista pra empregada com comidas que ela devia comprar dali em diante pra mim.

Na academia me matei numa esteira e depois carregando peso. Cheguei a ficar preso em um. De volta pra casa na hora do jantar a empregada serve arroz integral, frango grelhado, cenoura e quiabo com suco de rúcula. Edu pergunta que merda era aquela e a empregada respondeu que era ordem da nova patroa. Bia que jantaria conosco levantou e disse que iria pra uma pizzaria, Edu respondeu que iria junto e eles chamaram Joana.

Ofereci-me pra ir também e eles mandaram que eu ficasse pra comer o que minha namorada mandou.

Ok, a vida não estava muito legal. Adorava a Mônica, era ela charmosa, gostosa, deliciosa, um furacão na cama, mas acabou com a minha vida alimentar. Tentei de todas as formas subornar a minha empregada pra fazer uma massa, um bife com fritas e ela não aceitava suborno nenhum, era só comida de dieta. Fui a todos os restaurantes que costumava ir e todos rejeitaram meus pedidos só aceitando me servir comida de dieta por ordens da Mônica.

Tentei almoçar na casa dos meus pais e me serviram comida de dieta, na da Eva a mesma coisa. Edu, Bia e Joana viravam o rosto pra mim e quase não paravam mais em casa indo comer na rua. Fora que era academia todos os dias e nas manhãs de sábado e domingo corrida na praia.

Eu já estava alucinado por um churrasco, uma massa, aquilo não era vida, até que tomei uma decisão que só um homem desesperado tomaria.

Subi o morro.

Fui até o Zeca, que afinal não morrera na incursão policial do Joca. Ele perguntou o se eu queria cocaína, heroína, crack, maconha.. cheio de vergonha abaixei a cabeça e respondi “pizza”.

Zeca me olhou sério e respondeu que pizza não podia vender pra mim porque poderia arrumar encrenca com a dona Mônica, mas que se eu quisesse tinha chegado um carregamento de armas.

Respondi que não queria comprar fuzil queria pizza e pagava o que ele pedisse. Zeca coçou a cabeça e falou com um de seus “soldados” “croquete, vai buscar uma calabresa família”.

O tal croquete voltou depois com uma pizza cheirosa. Zeca entregou na minha mão e ameaçou “aí braço, se tu falar pra alguém que fui eu que te vendi isso tu é um homem morto”.

Entendi o recado e desci o morro com a pizza.

Entrei em casa, não tinha ninguém e fui cuidadosamente sem acender a luz pro meu quarto. Fechei a porta, abri a pizza e cortei com a mão mesmo comendo o primeiro pedaço e quase tendo um orgasmo.

Edu abriu a porta de casa e Mônica estava junto ela tentou abrir minha porta e viu que estava trancada. Ficou preocupada achando que tivesse ocorrido algo e bateu na porta perguntando por mim. Eu estava tão entretido com a pizza que não ouvi.

Mônica preocupada avisou a Edu o que ocorria e ele também bateu na porta e eu não ouvi. Mônica se desesperou e começou a bater forte na porta pra arrombá-la até que conseguiu.

Abriu a porta e me encontrou na cama com a pizza. Um pedaço em direção a minha boca.

Coloquei rapidamente o pedaço na caixa, virei pra Mônica e falei que não era nada daquilo que era pensava.

Mônica olhou pra mim, deixou cair uma lágrima, disse “traidor” e foi embora.

Fiquei um bom tempo sem ver a Mônica até que um dia estava num quiosque bebendo um chopp e apareceu uma mulher linda, corpo escultural em um biquíni pequenino. Ela virou pra mim e falou “oi Adão”, era a Mônica.

Levantei, beijei seu rosto e ela emendou “assustado com minha mudança? Pois é, eu levei a sério e fiquei gostosa, fique com sua pizza”.

Nisso apareceu um cara sarado, todo musculoso que lhe beijou a boca e falou “vamos amor”. Ela respondeu que sim e eles foram abraçados.

Eu fiquei ali olhando quando ela virou pra trás e falou “ah, cuidado hein? Você engordou mais ainda”.

Só de raiva saí da praia e fui a um rodízio de pizzas.


CAPÍTULO ANTERIOR:

KATE E LENA

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