ADORÁVEL INIMIGO

Nunca torci para o Fred.

Jogou em clubes que não gosto, Fluminense e Atlético Mineiro. O outro, Cruzeiro, fede, nem cheira pra mim. Na seleção brasileira jogou na seleção que mais detesto das que acompanhei, aquela que nos humilhou em 2014, e torcia contra ele por ser atacante do Fluminense que passava ótima fase. Contra o Flamengo fez alguns gols, até no fim da carreira, mesmo já em decadência, nos atrapalhou no estadual desse ano.

Enfim, nunca torci para o Fred.

Mas gosto dele 

Gosto porque ao contrário dos tempos de ódio que vivemos atualmente, tempo em que atacam juízes, eventos políticos e matam pais de família em seus aniversários eu respeito o adverso, sei que o futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes e que se valorizei e me emocionei tanto com o Flamengo ao longo das décadas muito disso foi por causa de seus "inimigos".

O contraditório faz parte do futebol, o carrasco é tão importante quanto nosso ídolo. Semana passada fez 40 anos da tragédia do Sarriá, a derrota do Brasil para a Itália na Copa da Espanha e mais uma vez vi aquela partida. Vi todos os nossos inesquecíveis craques e o nosso eterno carrasco Paolo Rossi. Cresci com esse nome na cabeça sendo sempre repetido e senti sua morte.

Respeito pra cacete Paulo Rossi, Zinedine Zidane, Diego Maradona por todas as lágrimas que me fizeram cair pela face formando meu caráter esportivo. Respeito demais Alain Prost pela raiva que me fazia passar todas as vezes em que derrotava Ayrton Senna e Nelson Piquet, e não foram poucas.

Oro pela saúde do gigante Roberto Dinamite, a quem eu babacamente não quis conhecer com 12 anos quando sua filha nasceu no mesmo hospital que meu primo Bruno e toda nossa família foi tirar foto com ele. Hoje tenho vontade de lhe dar um abraço e agradecer por todas às vezes que me fez sofrer. O Aloísio criança foi babaquinha, mas o adulto fez questão de semana passada tirar uma foto com o busto do Assis ao visitar as Laranjeiras. Esse foi o primeiro a fazer sofrer meu coração rubro negro.

E admiro o Fred. Admiro porque é um dos últimos ídolos do futebol brasileiro em clubes nossos. Mais que goleador, jogador talentoso ele é carismático, simpático, irreverente, gente boa, já fez vários vídeos para a avó desse meu primo Bruno, uma senhora fanática pelo Fluminense, em vezes em que ela esteve doente demonstrando respeito e gentileza. O cara que trata bem os mais velhos, paquera a mulher bonita na praia. O mais carioca dos mineiros, que fez muitas coisas além de sucesso.

Deixa uma torcida triste, com saudades e emocionada, assim como fiquei quando Zico encerrou sua carreira. Entendo o sentimento dos tricolores e por isso respeito ainda mais. Não é qualquer um que mexe assim com a torcida de um grande clube. Fred não foi qualquer um.

Obrigado Fred por todas as vezes que me irritou, aborreceu, deixou puto contribuindo com vitórias de um time que eu não gosto. Você é um inimigo inesquecível, mais um pra galeria que odiarei pra sempre com afeto.

Um adorável inimigo.

Um abraço te desejando toda a felicidade do mundo nessa vida que se inicia.

E que se mantenha pra sempre bem longe do gol do Flamengo.

Saudações rubro negras.