AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO XVII - RAYANE E SIMONE


Eva e Queila não tiveram nada sério, só sexo. Complicado era depois conviver com a Queila sendo “cunhada” em reuniões familiares. Mas não demorou muito logo Queila se apaixonou por uma caminhoneira e foi viajar pelo Brasil.

Eva depois disso se tornou uma pessoa melhor, sem medo de “armários”. Conheceu Kátia durante uma apresentação dessa em seu programa infantil. A mídia sempre cobrou namorados e filhos a Eva que se desvencilhava até que assumiu caso com um ator. Fachada porque esse ator gostava era de ver rapazes de sunga branca mergulharem na praia do Pepino, mas nisso se uniu o útil ao agradável.

Eva fez inseminação artificial e engravidou, mas para a opinião pública era um filho natural deles. Dessa inseminação nasceu Lucas, o meu sobrinho e eles mantiveram o acordo por mais seis meses e separaram. Para a mídia a separação foi um prato feito já que os empresários do “casal” espalharam vários boatos de traições e Eva e seu “ex” apareciam em eventos com semblante sério e triste pra fazer o assunto render.

Quando na verdade até festa na cobertura de Eva no Leblon eles deram pra “comemorar” a separação com muitos amigos reunidos, inclusive eu, o “bofe” do ator e Kátia Louge.

E elas estão juntas até hoje na relação mais estável que os filhos de Juninho e Pauloca já tiveram.

E estavam juntas no meu velório.

Eu não sei vocês, mas eu já estava de saco cheio daquele velório. Por mim eu já teria me enterrado há tempo. Sentia pena de Bia que não sentava em nenhum momento, não conversava com ninguém.
Queria entender o que passava na cabeça dela, o que ela sentia. Bia sempre teve essa mania de segurar pra si suas emoções, não deixar transparecer enquanto eu sempre fui mais passional, explodia. Éramos água e óleo, sol e noite, rock e samba. Seres muito diferentes, mas que se completavam. Seres diferentes como aqueles que entraram de repente no velório.

Cinco mendigos entraram na capela e todos olharam. Eles chegaram perto do meu caixão, pegaram uma garrafa de cachaça, copinhos de plástico, encheram e brindaram à minha memória. Olharam pra tio Freitoca e falaram “ih, olha o Freitoca, chega aí parceiro”. Tio Freitoca constrangido fingiu que nem era com ele e os mendigos reforçaram “Qual é Freitoca, vai esnobar a gente agora? Já bebeu tanto com a gente, já amanheceu tanto na sarjeta com a gente”.

Ele constrangido foi até os mendigos e brindou.

Os mendigos bebiam com meu tio enquanto todos olhavam para eles. Bebiam e contavam casos meus, de como eu era legal e era uma pessoa igual a eles. Um deles disse que eu era o mendigo mais endinheirado que ele já tinha visto.  Outro contou que uma vez estava muito frio e ele quase sem roupa dormia na frente do meu prédio. Eu teria ficado com pena, tirado a roupa e dado pra ele.

É..essa declaração pegou mal, ficou dúbia.

Depois de falarem um pouco de mim pegaram um chapéu e disseram que iriam passar em cada um pra angariar fundos pra comprar uma coroa de flores pra mim. Não achavam justo ir ao meu velório e não me dar flores. Com essa desculpa eles passaram em cada um e arrecadaram um bom dinheiro. Depois de juntar a grana agradeceram e falaram que já voltariam com a coroa.

Evidente que não voltaram, gastaram tudo em cachaça.

Cachaça é algo que vicia, tanto que seu nome é usado para coisas que gostamos de fazer e acabam tomando nosso tempo por dar prazer. E eu encontrei uma nova “cachaça”, a fotografia. Já que pegara trauma de pintar graças a Carla resolvi então captar minha emoção através da fotografia.

Comecei fotografando paisagens que gostava. Arpoador, Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Copacabana, Ipanema, Urca, Lapa, Maracanã lotado pela torcida do Flamengo.

Logo comecei a fotografar meus amigos também, amigas principalmente. Fiz cursos e virei um grande fotógrafo, só não virei profissional porque já tinha muitos afazeres como direção e programa de rádio, programa de TV e aulas à noite na faculdade.  

Um final de semana fui a Búzios com Bia, Eva, Kátia e Edu e não larguei a máquina. Alugamos um barco e fizemos pescaria. Ninguém conseguiu pegar nada, apenas Bia que pegou um peixe enorme e eu fiz questão de fotografar o momento pra posteridade.

Voltamos pra casa que alugamos e ela e Edu foram pra cozinha fazer o peixe pra janta. Parecia delicioso quando sentamos à mesa. Peguei o garfo com vontade, enchi, coloquei na boca e..
..um dente começou a doer, doer muito. Na hora botei a mão na boca e reclamei de dor. Não consegui comer nada.

Bia ainda me deu um remédio pra dor, mas adiantou nada, meu fim de semana foi pro espaço.
Segunda de manhã voltei ao Rio, continuei com dor e não teve jeito tive que encarar dentista.
Eu odiava dentistas com todas as minhas forças.

Uma pessoa da rádio me indicou uma dentista que ela frequentava. Dra. Simone. Peguei o telefone, liguei pro consultório e consegui marcar uma consulta praquela tarde mesma. Na anti-sala folheava uma revista junto com outras pessoas que também esperavam quando comecei a ouvir urros de dor.
Tentava não prestar atenção, mas os gritos eram muito fortes, de desespero.

Eu já não conseguia me concentrar. Tentava ler a revista com ela de cabeça pra baixo quando o homem saiu de dentro da sala. Saiu segurando um pano e com ele encostado ao queixo. Ar desolado, triste, dava pra ver uma lágrima furtiva cair de seu olho esquerdo.

Nisso a recepcionista olhou pra mim e disse “próximo”.

Falei que não era eu e sim a velhinha que estava ao meu lado. A velhinha olhou pra mim e me deu bengaladas falando que eu era um mau menino que não respeitava os mais velhos. Não teve jeito, levantei e fui.

Ao entrar na sala encontrei uma loira linda, classuda, estonteante, era a Dra. Simone.

Assim me encontrei numa “sinuca de bico”. Eu tinha pavor de dentista, mas não podia passar vergonha na frente de uma mulher linda como aquela. Sentei na cadeira e ela perguntou se eu tinha medo de dentista. Rindo respondi que não, já era um adulto e isso era coisa de criança. Simone disse que isso era muito bom. Examinou minha boca e contou que eu estava com dois dentes careados iria arrancar um e na semana seguinte outro.

 Suei frio com o diagnóstico, mas me segurava e só respondi “ok”.

Simone me deu anestesia. Com a boca aberta vi a dentista chegar com o instrumento, colocar na minha boca e dei um grito de desespero. Ao dar o grito olhei pra ela que também me olhava. Fiz expressão que não entendia nada e Simone riu dizendo que tinha acabado. Ela já tinha arrancado.
Fiz cara de “como assim já arrancou?” enquanto ela me dava as recomendações pra semana.

Levantei, agradeci a tudo pra ela e quando saía da sala Simone riu e comentou “machão hein? Quase conseguiu sair sem chorar”.

É..vergonha.

Passei vários dias tomando sopinha enquanto via os outros se fartarem. Joana era a mais chata não deixando que eu comesse nada. Mas apesar de ficar irritado por não comer direito eu pensava em Simone e contava os dias pra vê-la de novo. Já sabia que não doía tanto assim e mostraria pra ela na próxima que eu era machão. O dia chegou e fui ao consultório. Sossegado folheava a revista e nem ligava pros urros que vinham de dentro. Eu já sabia que era coisa rápida e indolor e levantei tranquilamente me encaminhando à sala quando a recepcionista avisou que era minha vez.

Entrei na sala e Simone abriu um sorriso perguntando se voltei porque estava com saudades dela. Devolvi o sorriso e respondi que sim e aproveitava que estava ali pra arrancar um dente também.

Ela riu e pediu que eu sentasse.

Sentei e todo procedimento da outra vez se repetiu. Com anestesia tomada olhei Simone começar a mexer no meu dente, m,s dessa vez doía e doía bem. Nervoso falava pra Simone que doía e ela aumentava a anestesia. Continuava doendo muito e era minha vez de dar os urros de dor.
Aquela pose de machão já estava longe, eu parecia uma menininha chorona.

Simone não entendia o porquê da dor e falava que era impossível eu sentir algo com a quantidade de anestesia que já tomara. Mas eu sentia e respondia pra ela que minha dor era real. Até que ela descobriu o motivo e falou que eu estava com dentes grudados. Perguntei como assim e ela respondeu que meu dente careado estava grudado em outro e eu estava sentido a dor do outro que não estava anestesiado e seria obrigada a arrancar os dois dentes.

Assim ela arrancou os dentes, minha dignidade já havia sido arrancada há tempo.

Levantei derrotado cheio de algodões na boca e com vergonha do meu papelão, mas mesmo assim me permiti último gracejo. Virei pra Simone e com algodões em uma boca anestesiada perguntei se ela não queria jantar comigo assim que eu pudesse mastigar algo.

Simone virou pra mim, sorriu e falou “me liga”.

É amigos, mesmo com o vexame me dei bem.

Alguns dias depois estava melhor e liguei pra Simone que topou jantar. Graças a Deus essa não quis jantar em nenhum “pé sujo” e deixou que eu escolhesse o local. Escolhi e fui buscá-la em casa. Simone surgiu linda, mas com uma roupa muito comportada, saia longa.

Dei um beijo em seu rosto e entramos no carro. No caminho liguei o rádio e tocava samba. Simone perguntou se eu não podia desligar porque aquilo era “música do demônio”. Estranhei tal afirmação, mas desliguei. Chegamos ao local, sentamos, pedimos nossos pratos enquanto conversávamos. As refeições chegaram e antes que eu pudesse comer algo Simone pediu que esperasse e orou. Sim, começou uma reza. Eu entendia nada quando ela pediu que acompanhasse. Acompanhei ou pelo menos tentei.

No fim fez o sinal da cruz e começou a comer. Enquanto dava minhas garfadas perguntou qual era minha religião. Respondi que não era praticamente em nenhuma e ela comentou que gostaria de me levar a um lugar depois da refeição. Eu que pensava que iria a um motel parei em uma igreja evangélica.

Sim, como vocês já deviam estar desconfiados Simone era evangélica. Sentei em um banco com ela que fervorosamente acompanhava todo o culto.

Quanto mais aumentava a empolgação do pastor mais aumentava a de Simone e eu só pensava na “roubada” que me metera. No fim já derrotado levei Simone até sua casa e me despedi me preparando pra ir embora quando Simone perguntou se eu não queria subir. Olhei pra ela sem entender, Simone sorriu e contou que “não era de ferro”.

É, rolou e debaixo dos lençóis Simone lembrava nada aquela evangélica fervorosa.

Começamos a sair e rapidamente ela disse que me levaria a casa de seus pais. Tentei fugir porque sei que a partir do momento que se conhece os pais e vai até a casa é por que a situação ficou séria, mas não teve jeito, tive que ir.

Chegando lá com Simone fui apresentado a seus pais que me receberam com muito carinho. A mãe muito simpática e o pai um homem mais sério, mas de boa índole. Sentamos na sala pra conversar e o homem perguntou quais eram minhas intenções com sua filha enquanto eu bebia um café.

Engasguei, mas consegui rapidamente me recuperar. Minha vontade foi dizer que queria transar muito com ela e de todos os modos possíveis até cansar, mas respondi que minhas intenções eram as melhores possíveis. Os pais também eram evangélicos e só falavam da bíblia o que me dava muito sono. Pra piorar o pai abriu e começou a ler trechos do livro.

Até que ela apareceu.

Uma loirinha linda com short curto, blusinha e fone no ouvido entrou na casa e foi logo tomando bronca do pai que perguntava onde ela estava. A loirinha respondeu que “estava por aí”. O pai mandou que ela se sentasse porque era hora de ler a bíblia e ela sentou com cara de entediada.

Era Rayane, a irmã de Simone.

Eu não conseguia tirar os olhos da loirinha enquanto ela enganava os pais fingindo prestar atenção e ouvia música pelo fone. No fim quando levantamos Rayane chegou ao meu ouvido disse que via meu programa, eu era o máximo e pena que tivesse escolhido a irmã errada.

Pronto, me encrenquei.

Fui pra casa e assim que cheguei meu celular tocou, quando atendi era Rayane. Perguntei como ela conseguira meu telefone e ela respondeu que pegou na agenda da irmã e perguntou se eu não queria sair com ela na noite seguinte.

Topei e combinamos na saída de sua faculdade.

Arrumei uma desculpa e falei pra Simone que não poderia sair naquela noite. Cheguei na hora marcada na faculdade e Rayane apareceu linda com um decote arrebatador. Perguntei onde ela queria ir e Rayane respondeu “baile funk”.

Eu que namorava uma evangélica e nunca tinha ido a um baile me vi no meio de um da “Furacão 2000” com aqueles mega equipamentos e caixas de som gigantescas, MCs cantando aquelas músicas de duplo sentido que alguns momentos nem duplos eram. Garotos com cabelos tingidos sem camisa, bermuda caindo com cueca aparecendo e girando camisa com óculos escuros na cara e garotas de top, shortinho balançando as cadeiras pra delírio da rapaziada.

E eu ali, um estranho no ninho com Rayane.

Totalmente sem ação era chamado de tio pela garotada enquanto Rayane se requebrava ao som do funk. Meu telefone tocou e vi que era Simone. Corri pro banheiro pra atender minha namorada.
Lá com menos barulho contei que estava trabalhando na rádio e a música que ela ouvia era que tava tocando naquele instante. Simone acreditou e quando saí do banheiro vi Rayane se agarrando com um homem.

Fiquei enfurecido, Rayane notou largando o cara e vindo até a mim. Chegou, colocou as mãos em meu pescoço e meu beijou. Um beijo daqueles, de tirar o fôlego.

Depois no meu ouvido pediu pra irmos embora que ela queria fazer amor. Falei que era melhor levá-la pra casa que os pais já deviam estar preocupados. Rayane riu e mandou que eu relaxasse porque avisou aos pais que estudaria na casa de uma amiga e dormiria lá. Assim começou minha vida dupla, Rayane e Simone. Com a mais velha eu ia a cultos, lia a bíblia, mas ia a locais que eu gostava, mais adequados a minha idade e o sexo era muito bom.

Com a mais nova, eu ia a funk, pagode, forró, me divertia mesmo em locais que tinha nada a ver com minha idade e o sexo era muito bom.  Não conseguia decidir entre as duas, gostava das duas, queria as duas.

Uma noite em um jantar Simone dividia comigo as suas preocupações com Rayane. Ela achava que a irmã mentia para os pais em relação a suas saídas e que tentaria descobrir a verdade. Ouvia minha namorada, mas não levava a sério. Rayane era esperta demais para ser pega.Combinei mais uma saída com Rayane e de novo fomos ao baile funk. Mandei que ela tomasse cuidado porque Simone estava de olho e ela respondeu que não me preocupasse que a irmã era uma “tapada”.

O baile estava lotado. Música alta, gente bebendo, se beijando e eu estava com Rayane em uma parede trocando beijos ardentes. Mesmo com a música naquela altura consegui ouvir um grito “Adão!!”.

Olhei pra trás e gelei. Era Simone.

Não consegui falar nada, antes que eu balbuciasse algo Simone perguntou o que significava aquilo. Tentei explicar, mas Rayane se meteu e mandou que ela fosse embora que ali não era lugar pra “gente atrasada e neurótica. Pronto, uma grande confusão começou. As duas começaram a brigar, puxar cabelos e eu no meio tentando apartar. Com aquela confusão uma briga generalizada se iniciou no baile e acabou todo mundo na delegacia.

Prestamos depoimento e no fim estavam os três sentados em um banco da delegacia quietos quando Simone e Rayane se olharam e começaram a rir.

Rayane falou que a irmã batia bem e sempre admirou a força dela, Simone devolveu que até que aquelas músicas eram boas e que chegou a ver a irmã dançando e ela dançava muito bem.
As duas se olharam novamente e dessa vez com carinho. Simone disse pra irmã “eu te amo”, Rayane com lágrimas nos olhos respondeu que também a amava e as duas se abraçaram emocionadas.

Eu ao lado delas respirei aliviado e comentei “que bom que acabou tudo bem”. Nesse momento Simone falou “vai embora” com Rayane emendando “e não apareça nunca mais”.

Tentei argumentar algo e as duas falaram ao mesmo tempo “some”.

Levantei, olhei pra trás, vi as duas abraçadas emocionadas e fui embora.

Dancei.


CAPÍTULO ANTERIOR:

QUEILA

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