O FIM DA ALA DE COMPOSITORES


Alguns anos atrás escrevi artigo no blog "Ouro de Tolo" um artigo chamado "A bolha" que deu bastante repercussão e da até hoje.

No artigo falava que as disputas de samba estavam cada vez mais caras, inflacionadas principalmente pelos escritórios de samba e que essa bolha iria estourar um dia.

Estourou.

Estourou em etapas. Primeiro com o surgimento das megas parcerias, parcerias com 13, 14 compositores para alimentar as disputas. Com isso caiu vertiginosamente o número de parcerias nas escolas. Tem gente que não vê problemas nisso, que basta ter um grande samba, mas convenhamos, é mais fácil ter um grande samba entre 30 que entre 5, é matemático.

Agora um outro fenômeno ocorre. O fim dos escritórios. Não, eles não abriram mão de compor em várias escolas, eles simplesmente agora assinam todos os sambas que disputam

Acabaram os testas de ferro e com isso reduziu o número de compositores, que escrevam ou não, tem 5 ou 6 compositores que estão assinando em mais de 10 escolas. Isso me causa estranheza.

Eu de cara não consigo identificar qual samba é de tal escola porque o nome do compositor fica mais forte que da escola. Pelos enredos serem parecidos os sambas também ficam, ainda mais sendo dos mesmos compositores. Saiu de moda o 8x4x8x4, hoje samba, geralmente afro, tem cabeça melódica forte e refrão com palavras afro. São bonitos, não dá pra dizer que os sambas atuais são ruins, mas são parecidos.

E as disputas cada vez mais caras, primeiro surgiram os clips e agora os clips viraram curta metragens nivel Gramado. Palcos com pelo menos dois cantores do especial, parcerias unidas nos gastos e com isso falta de renovação. Não aparecem novos nomes, novos talentos, todos são pelo menos da década passada. Não tem mais como compositor pobre fazer samba, não tem como compositor sozinho chegar numa final, compositor jovem só se for puxado por um antigo 

Com a falta de renovação, os medalhões se unindo e compositor podendo assinar em quantas escolas quiserem temos casos da São Clemente que deu 4 sambas, temos cada vez mais reedições, encomendas e, por consequência, o fim das alas de compositores.

Porque as escolas não tem mais identidade com seus sambas, não dá mais pra ouvir um samba e falar que é de tal escola, não importa a escola, são todos sambas afro guerreiros. Eu, particularmente, se fosse torcedor de uma escola acharia muito estranho ver um compositor no palco gritando amor pela minha escola sabendo que ele está fazendo a mesma coisa na maior rival dela, na escola que pode tirar o título da minha. Não é coisa de amor a agremiação, sei que isso acabou, mas é um profissionalismo exagerado. É de repente entregar o samba da sua escola a um compositor que não quer que ela vença.

Com tudo isso, sem renovação, virando um feudo, uma capitania hereditária desde as ligas até os compositores o samba vira cada vez mais coisa de gueto, nicho, não atinge mais o público off e a tendência é o desaparecimento como cultura de massa.

Hoje lamento o fim das alas de compositores.

No futuro pode ser do samba 


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