OS FILHOS DA MISÉRIA
Em um
momento mais revoltado escrevi uma coluna para o blog “Ouro de Tolo” chamada
“Os filhos da miséria”. A coluna foi publicada no dia 9 de setembro de 2012
aproveitando o recente aniversário de nossa independência.
Nela
falei da história do Brasil, da passividade que foi construída no país ao longo
do tempo e que todas as mudanças que ocorreram aqui teve interesses por trás.
Também
escrevi o tipo de revolução que eu acreditava.
Ontem
alguma coisa de diferente aconteceu. Não era o Brasil passivo que acostumei a
ver. Mais de 250 mil pessoas por todo o Brasil foram às ruas protestar contra
muitas coisas e todas com motivos. Um movimento que começou pequeno em São
Paulo protestando contra aumento de vinte centavos em passagens de ônibus
ganhou proporções poucas vezes vistas em nossa história.
Longe
do que descrevo no texto de setembro de 2012, mas algumas coisas que descrevi
ali ocorreram. Os filhos da miséria, a gente do povo decidiu soltar a voz. Sem
bandeiras políticas, sem tendências, apenas manifestando o seu direito de ser
cidadão.
Vamos
ao texto. Polêmico na época, com contestações de quem leu, mas um pouco
visionário.
OS
FILHOS DA MISÉRIA
Como todo mundo já sabe desde criança 7 de
setembro é o dia de nossa independência. Aprendemos garotos no colégio, pelo
menos na minha época era assim, a cantar o hino do nosso país, o da bandeira, o
da independência e que D.Pedro I é um grande herói nacional.
Com o tempo vemos que não foi bem assim.
Assim como é uma balela esse papo que fomos
descobertos. Descobertos apenas pelos “civilizados” porque muito antes do
Brasil Pindorama já existia com seus índios, cultura e riqueza. O que pode ter
ocorrido em 22 de abril de 1500 foi a “Invenção do Brasil”. Inventaram um país
da forma que eles queriam que fosse e que é dessa forma até hoje.
Exploraram nossas riquezas, acabaram com nosso
pau brasil, seduziram nossos índios com espelhinhos, dormiram com as índias,
implantaram a catequese impondo religião e deixaram em troca a escória da
Europa.
Os criminosos, os condenados, aqueles que
Portugal queria se livrar foram mandados ao Brasil para povoar e comandar nossa
terra. Na nossa “invenção” Pero Vaz de Caminha na famosa carta ao rei de
Portugal pediu emprego para seu sobrinho!! O nepotismo e o jeitinho brasileiro
nasceram junto com esse país continental.
Depois a burguesia se fartou com as capitanias
hereditárias. Feudos que existem até hoje foram criados, não duvido que a
região do Maranhão tenha sido dada ao primeiro Sarney e revoltas que surgiam
vinham à tona por interesses próprios.
Esse país não foi formado por heróis, foi formado
em oportunidades.
Os inconfidentes mineiros pensavam em si em sua
rebelião. Nos impostos que pagavam. Em nenhum momento pensaram, por exemplo, na
libertação dos escravos. Na hora que “deu ruim” todos “tiraram da reta” e
sobrou para Tiradentes que assumiu o papel de “bucha”.
Tiradentes bateu no peito, disse “é comigo
mesmo”, assumiu a liderança do movimento e parou na forca.
Mas o Brasil precisa de heróis e depois que
viramos República criaram o perfil de um Tiradentes barbudo, cabeludo,
igualzinho Jesus Cristo mesmo ninguém sendo enforcado dessa forma e por fim
criaram Milton Nascimento cantando “Coração de estudante” para o herói ser
definitivo.
Também colocaram essa música na trilha da agonia
de Tancredo Neves pra provar que originalidade não é nosso forte.
O processo da nossa independência também começou
com “arregada”. A família real portuguesa fugiu pra cá com medo de Napoleão.
Imaginem aqueles portugueses todos, eram milhares, correndo para os barcos e
desembarcando aqui nesse país tropical e subdesenvolvido? Só por isso
desenvolveram o Brasil, para que pudessem morar em lugar decente.
Seja para receber a família real ou as Olimpíadas
o Brasil só evolui no tranco. Só fazem grandes obras, grande desenvolvimento
pra primeiro melhorar as condições da burguesia e o mundo ver como somos
empreendedores.
Nenhuma gota de sangue foi derramada para nossa
Independência. Ela foi um grande acordo de gabinete para que Portugal de certa
forma mantivesse o poder. O “maior herói da história do Brasil” decidiu
proclamar nossa independência em meio a uma diarreia.
E nosso maior herói era namorador e morreu de
doença venérea.
Nossa maior guerra entramos sob ordem da
Inglaterra para dizimar um pequeno país vizinho. Nosso maior guerreiro, Duque
de Caxias, era um facínora. Outra grande guerra que entramos, a 2°guerra
mundial, o Brasil demorou a decidir que lado estava e também decidiu por
interesse.
A “revolução” de 1964 foi feita com interesses da
burguesia e a derrubada do Fernando Collor de Mello em 1992 com interesse da
Globo.
O Brasil é um país que deu errado? Por incrível
que pareça, com tudo isso que citei acima, não.
Tudo bem, o futebol era nosso maior orgulho,
éramos os melhores e deixamos de ser pelo menos por enquanto, mas somos mais
que o futebol.
Somos um país com um povo maravilhoso com
defeitos, evidente, mas de uma gente valente, guerreira, mais que Tiradentes e
Duque de Caxias, que entra na guerra do dia a dia com tudo contra e vence.
Somos o país também de Pelé, Chico Xavier, Irmã
Dulce, Santos Dumont, Betinho, Villa Lobos, Tom Jobim, Chico Buarque, Vinicius
de Moraes, Chico Mendes, Paulo Freire, Machado de Assis, Darcy Ribeiro, Nelson
Rodrigues, Fernanda Montenegro, Elis Regina, Clara Nunes, Carmem Miranda (sei
que era portuguesa, mas brasileiríssima) e tantos outros que nos orgulharam e
orgulham.
O problema, como eu disse acima, é que todas as
nossas grandes mudanças, guerras, revoluções foram por interesses pessoais ou
de uma coletividade. Nunca foi uma coisa para o país todo e nos momentos que
poderíamos ter nos fortalecido como a independência que comemoramos essa semana
ela veio de uma “cagada”.
Isso nos transformou numa nação passiva, que diz
que “é assim mesmo” e vê a vida passar no Gatonet.
Só acredito em revoluções de baixo pra cima, que
venha dos “filhos da miséria”, da “gente do povo”.
Porque há uma hora em que todo mundo cansa, até o
que se acostumou apanhar.
Há de chegar a hora que os filhos da miséria, os
mendigos, os delinquentes, as prostitutas, os bêbados, os crackudos, os loucos,
os desempregados, os favelados, os negros, as mulheres, os operários que
arriscam suas vidas em construções, os presidiários, os estudantes, o camelô
que acorda cinco da manhã, os que sofrem de amor, os que sofrem de vida, que
todos eles vão acordar e ver que a independência é uma falácia, ninguém é
independente.
E essas pessoas, elas que estão à margem da
sociedade, do politicamente correto e do Brasil inventado em 1500 tomarão de
volta Pindorama. Não para os índios, porque esses infelizmente foram dizimados
pela “cultura” e pela “civilização”.
Mas tomarão das mãos de quem rouba. De quem
desvia dinheiro da saúde, da educação, do saneamento básico, segurança, quem
compra votos e ri da nossa cara todos os dias em câmaras de vereadores, assembléias
legislativas e governos municipais e estaduais.
E os filhos da miséria irão marchar até Brasília,
nadar naquele lago em frente ao congresso e entrar lá naqueles dois prédios
tomando de volta o que é dele, pois, dizem ali ser a casa do povo e não de
mensaleiros.
No STF eles darão as ordens e não vão absolver
bandidos e vão fazer rolar pela rampa do planalto todo o desmando e humilhação
que sofreram até hoje.
Aí sim acreditarei em revoluções e independência.
No dia que a bandeira nacional for substituída por uma camisa rasgada e suja de
graxa e sangue.
Enquanto isso vamos aproveitando o feriado de 7
de setembro, para alguma coisa serve essa mentira.
Na nossa pátria mãe gentil não há lugar para os
filhos da miséria.
Ainda...
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