A VARA DE PESCAR
*Coluna publicada no blog Brasil Decide em 9/6/2013
Uma amiga
minha chamada Victória sempre comenta comigo dos textos que escrevo para cá, no
Ouro de Tolo e meu blog. São seis inéditos e três republicações por semana
juntando os três então é coisa pra caramba.
Gostei
que nessa última semana ela veio me dar uma dica de texto. Tirando o dono do
Ouro de Tolo e do Brasil Decide que às vezes dão dicas é a primeira vez que
recebo uma. A primeira de um leitor e foi bastante interessante. Achei que
tinha tudo a ver com o BD.
Ela veio
falar comigo sobre assistencialismo. Que sempre lhe procuram devido a esse
assunto e às vezes ela fica de saco cheio. Acha que está fazendo um papel que
não é o dela e decidiu que não iria mais ajudar.
Atitude
polêmica que ela tem todo o direito de tomar. Ela então pediu que eu escrevesse
sobre o assunto. Procurei em textos antigos e vi que resvalei no assunto, mas
nunca falei dele especificamente. Estava aí a oportunidade e agradeço a
Victória pela sugestão.
Como eu
disse ela não tem obrigação nenhuma de ajudar, de dar algo. A obrigação disso é
dos governantes. Governos federal, estaduais e municipais que recebem todos os
meses impostos da população para terem direitos. Direito à educação, saúde,
segurança, a uma aposentadoria confortável. O direito de ter o que comer, onde
morar e não viver na miséria.
O ideal
seria isso né? Principalmente a população ter a consciência que nada que fazem
é favor, tudo tem uma troca. Se existem escolas e hospitais públicos não é um
favor que o governo faz, pagamos por isso. O policial que nos protege não
protege por favor deste ou do governador. O cidadão paga para ter essa proteção
e paga o salário dele. Os nossos governantes mesmo são funcionários nossos.
Só que a
população esquece ou não é informada sobre isso e dessa forma não corre atrás
de seus direitos. O brasileiro é um dos
povos que paga mais impostos no mundo e a contrapartida é péssima. O serviço
oferecido a ele é muito inferior ao que ele paga então restam duas
alternativas. Para os mais pobres aturar e sofrer com essa situação. Ter que
enfrentar filas, profissionais maus preparados e contar com a sorte. Muito
pouco.
Quem tem
grana paga por hospitais, escolas, seguranças particulares. Quer dizer, é
obrigado a pagar duas vezes para ter o mesmo serviço porque o governo não dá
conta.
O governo
não dá conta de sua população e por isso o povo vira assistencialista. Ao mesmo
tempo em que somos governados ao longo dos séculos por pessoas sem capacidade
para atender as necessidades básicas da população o brasileiro tornou-se um dos
povos mais solidários do mundo. São inúmeras as campanhas para ajudar a
população mais pobre como “Campanha do agasalho”, “Natal sem fome”, “Criança
Esperança”, Teleton”, a própria campanha contra a fome feita pelo Betinho e
fundações feitas por pessoas com mais condições como a Xuxa e Ayrton Senna.
Também é
uma prática muito comum feita por políticos que abrem fundações em seu nome e
de parentes para práticas assistencialistas. Aqui na Ilha do Governador temos a
“Fundação Graça Pereira” que tem médicos, dentistas, oculistas, etc.
Antigamente tínhamos o deputado Albano Reis que ganhou a alcunha de “Papai Noel
de Quintino” porque distribuía brinquedos às crianças da região.
Essa
prática dos políticos é sempre interessante ver com pé atrás. Primeiro porque
não sai do bolso deles o dinheiro pra manter essas fundações e segundo porque a
grande maioria na verdade fermenta o “voto de cabresto”.
Ultimamente
o governo também se tornou assistencialista. Primeiro com leis como a “Lei
Rouanet” de incentivo à cultura que ajuda a cineastas, cantores e dramaturgos a
fazerem seus filmes, shows e peças e estimula a iniciativa privada a investir
em cultura e ter abatimento em impostos.
Depois
vieram as cotas como para negros em universidades e por fim ações polêmicas
como “Bolsa família” que dá dinheiro a famílias mais pobres.
São
situações polêmicas que fazem muita gente torcer o nariz. Oposicionistas dizem
que são manobras eleitoreiras e que bolsas como essa dão o peixe e não ensinam
a pescar.
A velha
metáfora da vara de pescar.
Eu penso
que estão certos em parte. Realmente o certo é entregar a vara de pescar e
ensinar a que busque o peixe para não depender de ninguém.
Mas como
eu já disse inclusive aqui. Faz o que enquanto isso? Deixa morrer de fome?
Acho que
as ações têm que ser em conjunto. Precisamos dar o peixe como na bolsa família
e precisamos ensinar a pescar investindo em educação com eu sempre falo. Uma
coisa que acho interessante é que as crianças das famílias que recebem bolsa
família têm que estudar. Ta certo, mas é bom também dar boas escolas e
professores qualificados e com salários dignos para elas.
Sou a
favor de cotas também para diminuir a discrepância hoje existente nesse país.
Mas mais que cota para negros sou a favor da cota para os mais pobres.
Mas o
mais importante nisso tudo é acabar com a porcaria do “jeitinho” que tanto
comanda esse país desde que Caminha em 1500 pediu na famosa carta ao rei de
Portugal emprego para o sobrinho. Tem que parar essa história do brasileiro
querer se dar bem em tudo.
Cota tem
que ser para o beneficiado da cota. Não é uma pessoa ficar o dia todo no Sol e
se declarar mulato para ter direito à cota. Não é família que tem condições
financeiras se inscrever para o bolsa família. Temos inúmeros casos por aí dos
dois assuntos e o que mata esse país é isso. Mania de querer se dar bem em
tudo.
Os
projetos bem fiscalizados, bem conduzidos são bons e já mostram reflexo quando
saem reportagens que os cotistas tiram as maiores notas na faculdade e as
crianças agraciadas com bolsa família vêm rendendo bem nas escolas.
Esses
jovens universitários e essas crianças estão recebendo o peixe e sabendo dar
valor a ele. Já sabem segurar na vara de pescar e colocar a minhoca no anzol.
Vão aprender agora a jogar a linha no mar e ter paciência..
..Paciência
para criar um país melhor. Um país que não necessite de tanto solidariedade.
E que a
nossa pescaria seja um mar mais calmo e justo.
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