ESTÁCIO DE SÁ EM CINCO CARNAVAIS
Dando prosseguimento a série cinco carnavais
escreverei hoje sobre uma das mais tradicionais do Brasil e oriunda do berço do
samba. A Estácio de Sá.
Em 1928, ano que surgiu a “Deixa Falar”, que veio
ser a primeira escola de samba, também surgiu no morro de São Carlos a “Cada
ano sai melhor”. No ano seguinte foi criada a “Vê se pode” que teve o nome
mudado para “Recreio de São Carlos” por imposição policial que achava o nome
muito baderneiro. Por fim no alto do morro surgiu a “Paraíso das Morenas”.
As três agremiações eram rivais e disputavam para
ver qual se saía melhor, mas nenhuma delas conseguia se aproximar do título.
Com isso um grupo resolveu unir as três escolas e em 27 de fevereiro de 1955
surgiu a “Unidos de São Carlos”.
Até 1964 as cores utilizadas eram o azul e branco
mudando ali para vermelho e branco. Apenas dez anos depois veio o primeiro
título conquistado desfilando pelo terceiro grupo na Praça Onze.
Criou fama de “escola ioiô”, aquela que vai e
volta do grupo até que foi decidida a mudança de nome para Estácio de Sá,
determinação que agradou aos moradores dos bairros adjacentes. Estreou seu novo
nome no desfile de 1984.
Permaneceu no grupo especial até 1997 tendo
grandes momentos durante os anos 80 e 90. Seu auge foi no histórico campeonato
conquistado em 1992.
Estácio de Miro, Caldez, Neca Bonitão, Cândido
Canário, José Botelho e Acyr. De Rosa Magalhães, Mário Monteiro, Sylvio Cunha e
Chico Spinoza. De Dominguinhos do Estácio, Serginho do Porto e Leandro Santos.
De Mestre Ciça, Mestre Esteves, Mestre Chuvisco e Luciana Sargentelli. De
Djalma Branco, Caruso e Wilsinho Paz. De Déo, Maneco, Selminha Sorriso,
Claudinho, Gusttavo Clarão, Igor Ferreira e Thiago Daniel.
Estácio de “Rio Grande do Sul, na festa do preto
forro” 1972, “Arte negra da lendária Bahia”1976, “Orfeu do carnaval” 1983, “Chora chorões”
1985, “Prata da noite – Grande Otelo” 1986, “O boi dá bode” 1988, “Um, dois,
feijão com arroz” 1989, “Langsdorff,
delírio da Sapucaí” 1990, “Brasil, brega e kitsch” 1991, “Uma vez Flamengo”
1995, “De um mundo novo eu sou e uma nova cidade será” 1996.
Estácio berço do Samba. Estácio que conto agora
em cinco carnavais que me moldaram como sambista e compositor.
A
FESTA DO CÍRIO DE NAZARÉ 1975
Samba de Dario Marciano, Aderbal Moreira e Nilo
Mendes (Esmera)
Taí um dos grandes motivos que não coloquei esse
samba na lista da Viradouro. Ele é oriundo da Estácio e estaria em sua lista.
Melhor, é oriundo da Unidos de São Carlos.
O mundo do samba sempre teve uma grande ligação
com a fé seja nas religiões afro como a católica. Todas as escolas têm seus
padroeiros e de vez em quando cantam na avenida sua devoção.
Foi isso que aconteceu com a Unidos de São Carlos
para o ano de 1975 quando decidiu homenagear a festa do Círio de Nazaré. A
festa em devoção a Nossa Senhora de Nazaré é a maior manifestação religiosa
católica do Brasil reunindo no mês de outubro em Belém do Pará cerca de seis
milhões de pessoas em todos os cultos e procissões. Dois milhões de pessoas
apenas em uma manhã.
O samba tem todo aquele jeito de samba antigo.
Samba simples, porém muito bonito que conta diretamente a história que quer
passar. Nele se entende perfeitamente como é o Círio de Nazaré e tudo que lhe
envolve como a parte religiosa e a festa. É uma verdadeira aula sobre o
assunto.
A melodia acompanha bem a letra sendo feita para
que a mesma brilhe. Nada rebuscado, nada que tente ofuscar a mensagem que é
passada fazendo um casamento perfeito.
Ao contrário dos sambas de hoje onde o refrão de
cabeça é feito para explodir o auge do samba é no refrão do meio com os versos
“Oh Virgem Santa/ Olhai por nós/ Olhai por nós oh Virgem Santa/ Pois precisamos
de paz”. Simples, direto, forte, quase uma reza. Um refrão que entrou para a
história do carnaval em um samba inesquecível.
Tanto que assim que as reedições foram liberadas
foi um dos primeiros revistos e mostrando que continuava atual brilhou no
desfile de 2004 da Unidos do Viradouro.
Continue olhando por nós Virgem Santa, porque
mais que nunca, precisamos de paz.
QUEM
É VOCÊ? 1984
Samba de Darcy do Nascimento, Jangada e
Dominguinhos do Estácio.
Com esse samba a Unidos de São Carlos dava
passagem para a Estácio de Sá. Tudo novo. Um nome novo, uma avenida nova já que
era o primeiro ano da Sapucaí com as arquibancadas permanentes, um jeito de
desfilar novo com dois dias de desfiles e a esperança da agremiação era que ali
começasse uma história nova.
Porque a escola não conseguia se firmar no grupo
principal do carnaval. Entre 1967 e 1983 foram idas e vindas entre o primeiro e
o segundo grupo e isso incomodava. Nome novo, vida nova.
E isso ocorreu em 1984 com a escola alcançando
até então sua melhor posição no grupo principal na história igualando 1969 e
1971. Um honroso sexto lugar em um ano histórico de desfiles.
O tema é um tanto quanto abstrato. “Quem é você?”
Faz uma homenagem ao carnaval e pergunta diretamente quem somos nós nessa folia
lembrando personagens como arlequins, pierrôs e colombinas.
Samba alegre, divertido, que dá vontade de
brincar carnaval tendo a marca dos anos 80. Tornou-se um dos mais importantes
da história da Estácio não só pelo ano de 1984, mas também por 2006.
Em 2006 a Estácio reeditou o samba e com ele
voltou ao grupo especial do Rio de Janeiro depois de nove anos. Eu estava na
avenida e pude acompanhar a catarse que o samba provocou. Os anos 80 e sua
alegria voltaram ao sambódromo não deixando ninguém parado.
Era o velho Estácio na avenida.
O
TI-TI-TI DO SAPOTI 1987
Samba de Darcy do Nascimento, Djalma Branco e
Dominguinhos do Estácio.
Têm títulos do carnaval que surgem do nada,
surpreendem, outros que são construídos passo a passo, ano a ano e pra mim com
a Estácio foi assim.
O título de 1992 começou a ser construído aí, em
1987 com “O ti-ti-ti do Sapoti”. Aí a escola começou a se mostrar de forma
diferenciada para o público, começou a mostrar uma cara que teve aceitação
popular.
O ano de 1987 foi de grandes sambas e desfiles. Para
mim esse e 1989 foram os maiores da história e o samba da Estácio não só está entre
os grandes na minha opinião como está no meu top 10 como já retratei em uma
coluna no Ouro de Tolo do começo do ano.
É o melhor samba de 1987? Não, não é, mas é o
mais gostoso, o mais feliz.
O casamento da escola com Rosa Magalhães começou
naquele ano e trouxe uma trilogia deliciosa para a avenida contando história do
sapoti, boi e arroz. Não são temas fáceis porque podem cair no lugar comum de
mostrar apenas como cada um chegou ao Brasil.
Mas os compositores nas três ocasiões levaram
para o lado da alegria, irreverência e em 1987 de forma especial foram felizes
criando versos inesquecíveis para o carnaval como o refrão principal e a parte
que diz “olê olê olê vim de terras mexicanas, mandei buscar pra você”.
Deliciosos como a goma de mascar que rola pra lá e pra cá.
Ficou em quarto lugar. Até o momento a melhor
colocação de sua história, mas coisas melhores viriam no futuro.
Tá que tá danado.
PAULICÉIA
DESVAIRADA, 70 ANOS DE MODERNISMO NO BRASIL 1992
Samba de Djalma Branco, Déo, Maneco e Caruso.
Uma das maiores disputas da história do carnaval.
Assim como em 1988 e 1989 posso dizer que 1992 se eterniza com a disputa ponto
a ponto pelo título que terminou com uma vitória inesperada e consagradora da
Estácio de Sá.
Considero esse desfile da Estácio especial assim
como Kizomba, Liberdade liberdade, Ratos e Urubus e Peguei um Ita no Norte.
Considero mais especial ainda porque foi uma luta de David contra Golias.
Talvez a última vez no carnaval carioca que David derrotou Golias.
Como já citei no “Mocidade em cinco carnavais” a
escola era a franca favorita ao título. Tinha muito dinheiro, uma fortíssima
equipe de carnaval, apoio de mídia, popular e vinha de um bicampeonato
incontestável.
Parecia mais forte ainda para 1992 com o samba do
ano. Parecia impossível que não virasse realidade seu sonho de tri.
Sonho contado no enredo e no samba.
O samba da Estácio era muito bonito. Falava dos
setenta anos da semana da arte moderna de 1922. Parte importante de nossa
história, mas no pré-carnaval era apenas mais um samba, nada que se destacasse
muito.
Tudo caminhava mesmo para a Mocidade que fez um
grande desfile. No camarote de Castor de Andrade brindavam com champanhe mais
um título.
Mas faltava a Estácio desfilar.
E a Estácio veio com aquela magia que eu já disse
que só os desfiles campeões tem. O samba que não acontecera antes do desfile
explodiu na hora certa levantando as arquibancadas e consagrando os versos “Me
dê me dá/ Me dá me dê/ Onde você for/ Eu vou com você”. Luciana Sargentelli do
alto de um carro alegórico sambava com os pés sangrando e assim, com suor,
sangue e muita raça a Estácio ia azedando o champanhe da Mocidade.
O sonho de Padre Miguel virou pesadelo no trem do
caipira e a escola surgida do berço do samba, a ioiô que se viu obrigada a
mudar de nome para ter uma vida nova se consagrava entrando pro olimpo das
grandes campeãs do carnaval. David derrotou Golias mostrando que no país da
tropicália tudo acabava em carnaval.
Meu Deus..Ai meu Deus eu vi.
A
DANÇA DA LUA 1993
Samba de Wilsinho Paz e Luciano Primo.
A Estácio não era mais uma aposta, deixara de ser
David para ser uma das grandes do carnaval e essa grandeza toda foi vista no
carnaval seguinte ao do campeonato. O carnaval de 1993.
Escolheu uma lenda para ser contada na avenida. A
lenda da criação do mundo através da visão dos Carajás foi anos depois tema do
Boi da Ilha então pude conhecer um pouco mais de perto.
É uma lenda muito bonita. Lendas indígenas assim
como enredos afros normalmente dão bons sambas e isso ocorreu com a Estácio.
Além de um grande samba-enredo, um dos melhores do ano, também é um dos mais
difíceis que eu conheço.
Samba grande, pesado, com forte variação melódica
e palavras difíceis de cantar o samba mostra toda a genialidade de Wilsinho
Paz. Um dos mais talentosos e gente boa compositores que conheci. Compositor
que fez uma carreira de grandes obras tanto na Estácio quanto na Beija-Flor.
Samba-enredo não tem que ser de fácil
assimilação, cheio de palavras vazias e melodia reta. Tem que ser bom e todas
essas dificuldades que disse do samba da Estácio ajudaram a lhe tornar melhor. Contundente,
rico em palavras, melodia e cultura, um samba que dá orgulho do desfilante
cantar.
Naturalmente por ser a atual campeã a Estácio
carregava favoritismo para 1993, esse favoritismo aumentou com a força do
enredo e do samba. Mas a escola não soube lidar com isso.
Fez um excelente começo de desfile partindo para
o bicampeonato. Mas o gigantismo da escola aliado a problemas sérios no carro
de som acabaram com o sonho do bi.
Mas não acabaram com a beleza daquela dança da
Lua.
Bem..Estão aí cinco carnavais da Estácio de Sá.
Escola que está hoje na serie A das escolas de samba, mas continua nos
abrilhantando com grandes enredos como sobre Rildo Hora esse ano. Esperamos
ansiosamente pelo leão voltando a rugir forte no especial.
Semana que vem será de emoção pra mim. Será a
hora de deixar o coração falar mais alto. De falar de amor. Da União da Ilha do
Governador.
FONTE:
www.galeriadosamba.com.br
ESCOLAS EM CINCO CARNAVAIS:
PORTELA
http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/04/portela-em-cinco-carnavais.html
MANGUEIRA
PORTELA
http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/04/portela-em-cinco-carnavais.html
MANGUEIRA
http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/04/mangueira-em-cinco-carnavais.html
IMPÉRIO SERRANO
http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/04/imperio-serrano-em-cinco-carnavais.html
SALGUEIRO
MOCIDADE
BEIJA-FLOR
IMPERATRIZ
VILA ISABEL
UNIDOS DA TIJUCA
UNIDOS DO VIRADOURO
A Mocidade é uma escola maravilhosa, mas do jeito que a Beija Flor não sabe perder (ainda hoje há nilopolitanos que contestam Kizomba), a Estrela Guia de Padre Miguel não sabe ganhar. Em 1992 teve vários motivos pra ser a franca favorita, mas anunciou-se tri com salto alto comparável à da seleção de basquete do Tio Sam (coincidentemente retratada por ela na CF de 1993).
ResponderExcluirO ápice disso acho que foi exatamente quando a Estácio tava desfilando a Manchete deixou de passar "Pauliceia Desvairada" pra mostrar o bolo, canapés e champanhe da Mocidade que não quis olhar para o David com "enredo de intelectual" que ainda por cima exaltava São Paulo. Naquele momento específico tive (acho que a única vez) raiva da "minha segunda escola" e passei a torcer ferozmente pelo leão que 5 anos antes me fez cantarolar "Que Ti Ti Ti é esse".
Ironia do destino, a David Manchete apontou a Golias Mocidade como perfeita ("Apuração Paralela") e O Globo do grupo Golias Globo laureou a David Estácio com 5 Estandartes de Ouro incluindo de Melhor Escola. Lembrando que os carnavalescos da vermelho e branco são até hoje funcionários da Vênus Platinada.
Quanto ao assunto em questão, O SAMBA, me pegou no iniciozinho do ano ao passar na novela "Felicidade", mas nunca imaginaria que fosse causar tamanha vibração com magnífica imagem de braços dançantes em todos os setores do Sambódramo e meio que avisando que o vermelho "faria" aquilo no ano seguinte não só com os braços mas também com as gargantas.
#PostSHOW!!!
Eu também estava com raiva da Mocidade naquele ano, era muita marra. Lembro que foi um carro dela que bateu no poste e deixou a Ilha desfilando às escuras e a escola mesmo nem ligou por ter feito isso.
ExcluirÉ um desfile histórico, com certeza