O BRASIL ATRAVÉS DAS ARTES
*Coluna publicada no blog Brasil Decide em 2/6/2013
Fiz duas
colunas recentemente mostrando o Brasil através das novelas e das escolas de
samba. O tema é muito fértil e pensei “por quê não algo mais abrangente?”. Sim, as artes sempre andaram de mãos dadas
com os momentos que o país vivia.
Somos um
país continental e que respira cultura. Cultura essa que vem dos povos que
vieram povoar o Brasil ao longo dos séculos. Europeus, africanos, asiáticos se
juntaram a cultura indígena provocando a miscigenação.
E a arte
sempre foi uma forma de resistência do povo brasileiro desde as pinturas de
guerra dos índios passando ao ritmo negro da senzala.
Podemos
partir daí para mostrar o Brasil através das artes. O batuque do negro, a
capoeira já era uma forma de mostrar seus ancestrais, cultura, povo e um grito
de resistência. Resistência, palavra que nunca sai de moda no Brasil não
importa o momento em que vivemos e a arte encontrou nessa palavra e ação um
modo de existir.
Sempre
esteve presente, desde os primórdios da nossa música na virada do século XIX para
XX quando Chiquinha Gonzaga pedia “abram alas que eu quero passar”. A primeira
mulher a cantar marchinhas de carnaval enfrentando a resistência de um mundo
dominado por homens.
Carmem
Miranda fez sucesso no exterior e não gostaram, foi vaiada em sua volta. Para
isso lançou “disseram que eu voltei americanizada”. Tom Jobim disse anos depois
que fazer sucesso no Brasil era ofensa.
Tom,
aliás, foi um dos que “vendeu” o Brasil de sua época, a época do “presidente
bossa nova”. Apelido dado a JK, ritmo criado por Tom, Vinicius, João Gilberto
entre outros.
Um
sambinha cantado em tom menor, voz baixa mostrando um Brasil sedutor como era a
canção. Tempo de esperança, canções felizes. Tempo de riso com os filmes de
Oscarito e Grande Otelo, mas também de “O pagador de promessas” sendo premiado
pelo mundo.
Uma era
de esperança na política, nos esportes com futebol e basquete campeões do
mundo, a bossa nova tocando no Carnegie Hall, cinema conquistando Cannes.
Tudo isso
acabando em 31 de março de 1964.
Mudou o
país, mudaram as artes. Momento sombrio, soturno, de trevas que fizeram
ensolarar nossas artes. Nunca fomos tão criativos, nunca fomos tão audaciosos.
As armas travestidas de letras, melodias e vozes. Cenário de guerra eram os
palcos e as telas de cinema. Era a resistência.
Festivais
de música ferviam o país. Músicas “tapa na cara” como “Pra não dizer que não
falei de flores”, que disfarçavam tão bem a ponto de serem vaiadas como
“Sabiá”. Músicas que se eternizaram como “Roda viva”, “Alegria, alegria”, “É proibido
proibir”, “Disparada” ..
Nos
palcos “Arena canta zumbi”, “Roda viva”, o teatro do oprimido, teatro
opinião..No cinema o cinema novo com obras de Glauber Rocha.
A
opinião, o modo de pensar contrário sempre teve revide. Assim como Graciliano
Ramos parou na prisão e Jorge Amado sofreu repressão da ditadura Vargas os que
combateram os militares tiveram que se exilar como Caetano, Gil e o irmão do
Henfil que partiu num rabo de foguete.
Assim
como os contra existiam os pró. Na era Vargas Ary Barroso cantava que o
coqueiro dava coco em “Aquarela do Brasil”, um verdadeiro hino nacional. Dom e Ravel nos anos 60 compuseram “Eu te amo
meu Brasil, eu te amo”. Teve também aquele que não se posicionou e por sua
alienação e “marra” pagou com a carreira e porque não com a vida como no caso
de Wilson Simonal.
Simonal
mandou bater em seu contador dentro do DOPS e acabou sendo acusado de
“dedo-duro”. Desde Judas nos primórdios de nossa existência esse é o pior dos
crimes. A esquerda lhe arrasou, a direita não ligou e assim acabou Simonal.
Nada foi provado até hoje.
Veio a
abertura. Músicas como “O bêbado e o equilibrista” e “Vai passar” viraram
hinos. Filmes como “Pra Frente Brasil” denunciaram pela primeira vez o que
ocorreu no período de regime militar enquanto filmes como “Lucio Flávio, o
passageiro da agonia”, “República dos assassinos”, “Eu matei Lúcio Flávio”
mostravam a violência que tomava conta das grandes cidades.
Os
democráticos anos oitenta trouxeram a rebeldia do rock. A crítica nas vozes de
gênios como Cazuza e Renato Russo. O excesso de liberdade no cinema como “Rio
babilônia”, a musicalidade de uma época como em “Beth Balanço”, “Menino do
Rio”, marcas de uma geração.
Que país
é esse? Brasil? Mostra a tua cara!! Hiper inflação, corrupção, Luis Inácio
falou, tem trezentos picaretas. Os anos
oitenta e começo dos noventa muito falaram, poucos ouviram.
O cinema
começou a definhar, sem a Embrafilme, sem subsídios foram os primeiros indícios
do que vivemos hoje.
Não se
faz mais música, filme ou peças de protesto. Não que a vida tenha melhorado,
mas uma acomodação que marca a nossa geração.
Hoje
vivemos a era do individualismo. Cada um por si. A classe C, como eu já disse,
foi a paraíso e vemos essa classe C nos filmes atuais de comédia e fácil entendimento
da Globo filmes. Assim como no teatro a era stand up. O humor fácil, sem
necessidade de pensar.
E na
música sertanejo universitário e funk, com letras fáceis, quase monossilábicas
sobressaem. As artes de hoje foram feitas para a classe C. Uma inversão de
valores que faz a cultura se aproximar de determinado público e não determinado
público se aproximar da cultura.
Uma era
artística nunca é definitiva assim como a situação que um país vive. Não
sabemos como será no futuro, só que sempre vão caminhar juntos.
Um ator,
escritor ou cantor tem tanta força quanto um soldado armado, amado ou não. Não
existe poder maior, que amedronte mais governantes que um povo que pensa.
E pensar
não pode ser um fenômeno cultural, tem que estar dentro de nós em todos os
momentos.
Quem sabe
faz a hora, não espera acontecer.
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