OITO ANOS SEM ELA
Mais
um 4 de abril chegou..Como muitos já chegaram na minha vida e se tudo der certo
e Deus for um cara bacana comigo muitos virão. Data que não tinha nenhum significado
pra mim até 2004 e hoje é uma data que se junta ao 9 de agosto, data que nasci,
ao 16 de maio que a Bia nasceu e o 27 de novembro nascimento de minha mãe.
Mas
ao contrário das datas acima não há motivos pra comemorar 4 de abril, mesmo que
em 2009 nessa data eu tenha recebido o troféu Jorge Lafond com meus parceiros
de melhor samba do grupo B do ano.
Com
todo respeito a Acadêmicos do Cubango, organizadora da premiação, é pouco em relação
ao que essa data me representa e com todo meu lado egoísta que mereço usar, só
a mim representa. Dos 366 dias possíveis em um ano é a minha pior data.
O
4 de abril é simbólico pra mim porque marca um fim e um começo. O fim de uma
história que começou em 9 de agosto de 1976. Um caso de amor recíproco e
imediato com muitos momentos de emoção, carinho e saudades. História que ganhou
contornos dramáticos em 1999 com uma primeira internação e foi piorando,
piorando a olhos vistos..
..o
definhamento, a perda da alegria e do amor próprio de quem amamos, a sombra da
morte cada vez mais escurecendo aquele nosso “objeto” de amor e fazendo criar
uma penumbra onde antes só existia luz e cores. Situação que foi piorando a
cada dia, mês, ano, que culminou em contornos trágicos e clima de despedida
naquele nada saudoso ano de 2005 pra mim.
História
que se encerrou no dia 4 de abril, mas teve seu último capítulo em um domingo
dia 3.
Como
fiz durante um mês fui ao hospital Getúlio Vargas visitar esse meu amor. Sempre
fui um cara teimoso e nunca quis enxergar a realidade tão viva e cristalina.
Ela estava morrendo. Naquele dia o horário de visitas demorou mais do que o
normal, nunca acontecera isso antes e fiquei ao seu lado, segurando sua mão.
Era
dia de Fla x Flu decidindo a taça Rio, mas nem liguei. O papa que ela tanto
amava acabara de morrer, mas nem contei. Não tinha como, ela não estava mais
ali. Apenas dor e despedida existia naquele quarto vazio, naquela cama.
Segurava
sua mão e não sentia seus ossos, a mão estava muito inchada. Ela me olhava e
arfava como se não conseguisse respirar. Seus olhos me pediam ajuda e eu não
entendi. Nunca vou me perdoar por não entender aquele pedido. A hora da visita
acabou. Uma enfermeira se aproximou e disse a outra “melhor levarmos para
emergência”.
O
Flamengo tomou de 4x1 do Fluminense. Mas quem sofreu a grande derrota daquela
tarde fui eu.
Fui
pra casa ainda a tempo de ver o fim do jogo, mas não me importou, algo não
estava certo, algo não batia bem em mim. Falei com meu padrasto e minha
ex-namorada que se encontravam aqui em casa para visitá-la, pois estava
morrendo. Falei da boca pra fora, pra assustar. Hoje já não sei se era da boca
pra fora.
Fui
pra internet e sem conseguir dormir fiquei a noite toda na net. Internet
discada que impediu que meu telefone tocasse. Tocou de manhã, meu padrasto
atendeu e assustado bateu na minha porta pra dizer que pediram a identidade dela
no hospital.
Assim
em um táxi eu fiz a viagem mais difícil de minha vida. Longa até aquele
hospital, uma viagem que parece que não acabou até hoje. No fundo eu sabia porque
me chamaram, mas não queria aceitar. Ligaram-me dando pêsames, mas quando
perceberam que eu ainda não sabia mudaram de assunto. Chegando lá o médico
enrolou um pouco e confirmou.
4
de abril de 2005. O dia que o amor da minha vida, o dia que a pessoa que me deu
a luz, me criou, moldou o ser humano que eu sou. O dia que minha mãe morreu.
Sofri
muito nos dias seguintes, mas a memória seletiva que pode ser uma grande amiga
não me deixa lembrar todos os momentos. Lembro que estava normal no enterro e
só deixei cair umas lágrimas quando fecharam o caixão. De resto eu estava com
aquela tranqüilidade de quem não caiu a ficha.
Pessoas
queridas me consolavam. Outras reclamavam de que nos afastamos da família não
percebendo que essa foi uma forma de defesa dela e na terça chuvosa dia 5, como
ela gostava, o caixão desceu. Minha mãe descansou e a história acabou.
Bem.
Acabou mais ou menos.
Como
eu disse uma história acabou ali, mas outra começou. Um Aloisio forte teve que
surgir. Um Aloisio adulto teve que nascer e logo de cara enfrentando
dificuldades como “você agora é um adulto, é responsável e se vira”. O garoto
mimado tomou uma porrada e teve que aprender nas dificuldades que a vida
mostra.
E
aprendeu. Levantou quando muitos não acreditavam, se virou quando alguns
acharam impossível. Amou, ganhou sambas, riu, se divertiu, chorou, cresceu, se
fortaleceu, viveu.
Reencontrou
o amor pleno, o amor que pede nada em troca. Descobriu que o maior amor de sua
vida não precisa ser um só, descobriu Ana Beatriz.
E
descobriu que existe sim vida após a morte tanto para quem morre quanto para
quem fica. Nunca estarei sozinho nesse mundo, pois sei que quando ela fechou os
olhos em 4 de abril de 2005 eu ganhei um anjo da guarda, um ser de luz
protetor, qualquer que seja a religião ganhei uma guardiã.
Que
está comigo em todos os momentos segurando minha mão enquanto eu arfo e meus
olhos pedem ajuda.
Te
amo mãe, te amarei pra sempre e não será um 4 de abril que acabará com isso. Te
amo na intensidade daquele abraço que te dei meia noite no reveillon de 2004
pra 2005 quando estávamos brigados e eu não quis começar o ano daquela forma.
Bendito abraço que me livrou de uma consciência pesada.
A
Bia já sabe quem é você quando olha suas fotos, que você está com papai do céu
e saberá tudo de bom que você representou ao pai dela e fez na vida.
E
principalmente que eu sofri uma derrota naquela tarde, mas no fim ganhei o
campeonato.
Graças
a você. Sempre a você
Oito
anos dona Regina..Meu Deus...Oito anos..
Não
vou usar o clichê que parece que foi ontem porque não parece. Esses oito anos têm
o peso, o tempo e a intensidade de sua realidade. Sim, infelizmente hoje me
parece distante a data que estive com você, que tive suas mãos, braços e colo
pra me proteger.
Mas
é estranho porque algumas coisas parecem tão vivas e presentes em mim. A nota
oito impensável em geografia que você me abraçou e choramos juntos na sexta
série. Você catando as alegorias chorando e guardando em casa depois que eu
perdi meu primeiro samba ou três anos depois chorando ouvindo o meu primeiro
samba na avenida ou quando no palco do Olimpo com
todo
o mundo do samba presente eu dediquei o Estandarte de Ouro a você.
Coisas
corriqueiras como eu estar no computador e atrás você deitada na cama vendo tv
já em sua fase final onde eu todas as noites ia ficar com você para que não se
sentisse sozinha ou mesmo quando o telefone tocava e você falava “Isio, é
mamãe”. Sua voz é tão nítida ainda.
Lembro
que três dias depois da sua morte entrei no seu quarto, deitei na sua cama e
passei a noite toda ali com sua foto em minhas mãos sem chorar, fazer
nada, apenas queria morrer. Nunca mais entrei naquele cômodo, mas não morri
naquele dia, acho que aquele foi o dia que renasci.
Oito
anos..Dói, ainda dói muito hoje em dia, mas pelo menos eu chego no fim desse
texto olhando pra trás e percebendo que o título está errado. Não são “oito
anos sem ela”, o certo é “uma eternidade com você”
Deus..oito
anos..Como pude sobreviver, como agüentei..Acho que uma palavra responde a isso.
Amor. Que você aonde quer que esteja sei que sente por mim, também pela Bia e
eu sempre sentirei por você.
4
de abril? É só uma data e é nada perto desse amor.
E
enquanto não te reencontro pra você dizer que teve orgulho de ser minha mãe e
da vida que tive mato as saudades de você primeiro postando a música que sempre disse
ser minha. Filho Único de Erasmo Carlos e por fim pagando um dos maiores micos da minha vida postando um vídeo que fiz cantando a música que compus pra você no dia de sua missa de sétimo dia.
Juro que não estava chorando apesar da impressão que dá , como prova tenho que a minha patética voz não embargou rs Sono e olhos pequenos fazem essas coisas, não adianta né dona Regina, saí como você rs
Juro que não estava chorando apesar da impressão que dá , como prova tenho que a minha patética voz não embargou rs Sono e olhos pequenos fazem essas coisas, não adianta né dona Regina, saí como você rs
Te
amo, a benção, até um dia.
Mãe.
NO ESPELHO
Como vou viver sem o teu amor
Como viver sem o ombro amigo
Naqueles momentos onde só existe dor
Como vai ser ficar sem você
Reluz uma lágrima em meus olhos
Eu sei, não vou lutar sozinho
Geralmente quando eu mais choro
Imagino teu afago, teu carinho
No espelho encontro teu olhar
A imagem que me fortalece
Vejo que estás a me acompanhar
Intensa sua chama me aquece
Legado que sigo em meu caminho
Lembranças nunca irão se apagar
Amor é como passarinho
Radiante tendo o céu a desbravar
Como vou viver sem o teu amor
Como viver sem o ombro amigo
Naqueles momentos onde só existe dor
Como vai ser ficar sem você
Reluz uma lágrima em meus olhos
Eu sei, não vou lutar sozinho
Geralmente quando eu mais choro
Imagino teu afago, teu carinho
No espelho encontro teu olhar
A imagem que me fortalece
Vejo que estás a me acompanhar
Intensa sua chama me aquece
Legado que sigo em meu caminho
Lembranças nunca irão se apagar
Amor é como passarinho
Radiante tendo o céu a desbravar
Me emocionou com esse texto. Senti mais ou menos parecido quando partiu meu padrasto, que foi muito mais que pai pra mim. Eles se vão mas ficam pra sempre conosco, a prova disso está aí, nesse texto. Abraço!
ResponderExcluirObrigado pelas palavras. Sim,ficam até porque somos o que somos hoje por causa do que nos ensinaram e do amor que anos deram, isso não se apaga. Abração
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