A GERAÇÃO ESPN NO PAÍS DOS ESTADUAIS
Nesse
momento rola um Fla x Flu que não vale nada pelo campeonato carioca. Público
diminuto, jogo em Volta Redonda porque o Rio ficou sem estádios, fim de feira
completo, o estadual agoniza.
O
outrora estadual que enchia estádios, mexiam com paixões, construía ligações
eternas entre clubes e torcedores. Os estaduais são donos dos maiores públicos
da história dos estádios mais antigos.
Por
quê isso aconteceu?
Vários
fatores. Mudança na cultura de torcedor que começou a valorizar mais o
brasileiro e a Libertadores que até os anos oitenta era um peso morto no
calendário. O Santos de Pelé, por exemplo, só ganhou duas porque o clube dava
prioridade a excursionar pela Europa e ao estadual.
Calendário
mal feito onde deixa os clubes sem uma pré temporada decente e eles são
obrigados a fazer durante o torneio. Situação que é facilitada pela fraqueza
hoje dos clubes menores. Aqui no Rio mesmo nós já tivemos América e Bangu
disputando títulos brasileiros, Madureira dando jogadores para seleções
brasileiras e hoje esses clubes perecem.
Só
sobrevivem no carioca os clubes do interior do estado com a força de subsídios
dados por prefeituras e empresas.
Federações
estaduais fazendo torneios inchados com clubes que não tem nenhuma condição de
disputar esses campeonatos e fazendo dos jogos algo constrangedor. Clubes
grandes que não valorizam o torneio, jogam de forma sonolenta, muitas vezes com
reservas.
E
a imprensa que todos os dias bate na tecla que são torneios que não valem nada,
que os clubes deviam deixar de lado e se dedicar a outros torneios..Isso entra
na mente do torcedor que se desinteressa e não vai.
Fora
outros problemas que são do futebol brasileiro e não apenas dos estaduais como
segurança, horário de jogos, estádios, etc.
Por
isso devemos acabar com o estadual?
Claro
que não. Como eu disse acima muito da paixão que temos hoje por nossos clubes é
devido o estadual. Os corinthianos lembram com carinho do gol de Basílio em 77
acabando com jejum de 23 anos, os rubro-negros dos gols de Rondinelli em 78 e
Pet em 2001, vascaínos gol de Cocada em 88, botafoguenses do gol de Mauricio em
89 acabando com um jejum de 21 anos, tricolores do gol de barriga de Renato em
95.
Todos
esses clubes ganharam ao longo dos anos títulos nacionais, alguns títulos
continentais e mundiais, mas esses gols, essas conquistas tem um espaço no
coração dos torcedores como tem as grandes conquistas.
Campeonato
estadual é a chance de gozar com um amigo que torce pelo rival na
segunda-feira, ok que com a internet hoje é possível zoar um amigo que torce
pelo Cruzeiro ou Inter por rede social, mas não é a mesma coisa. Estadual
permite que clubes pequenos sobrevivam, clubes que dão emprego, que tiram
jovens da marginalidade e algumas vezes revelam grandes jogadores.
Romário
surgiu no Olaria, Ronaldo no São Cristóvão, só pra citar dois exemplos.
Acabar
com esses clubes pequenos é acabar com muito da essência do futebol brasileiro
e com aquilo que temos de melhor. A fartura de craques pinçados de campos de terra.
Evidente que com menos vagas em clubes menos jogadores serão pinçados e o nível
cai. Qualquer um que tenha um pouco de lógica sabe disso.
Mas
muitos defendem o fim. Chamo esse grupo de “Geração ESPN”.
Deixo
claro que gosto do canal e gosto dos campeonatos europeus. Eu sou um que
assiste a Uefa Champions League com muito interesse e torcendo pelo Real
Madrid. Mas tem espaço pra todo mundo, para todos os campeonatos e times.
O
futebol de lá é melhor? Mais organizado? Poxa, bacana, que um dia aqui também
seja assim, mas pra isso tem que matar nossos estaduais e nossos pequenos?
Lá
também têm jogo ruim, times inexpressivos. Jogos tirando Real Madrid e
Barcelona na Espanha dão sono, campeonato francês dá sono, o italiano ta uma
“draga”, português acho péssimo. Lá tem jogaços como Barcelona x Bayern, mas
também tem Lillie x Ajaccio e pra ver um desses prefiro ver América x Bangu ou
Ponte Preta x Guarani.
Semana
passada zoaram o Neymar porque enquanto ele enfrentava o Flamengo do Piauí pela
Copa do Brasil o Lucas enfrentava o Barcelona. Ta certo, mas pegaram um dia de
jogos pra fazer essa maldade. No segundo semestre Neymar pegará o Fluminense,
Grêmio, Atlético Mineiro, Corinthians e o Lucas pegar um Ajaccio da vida ou
mesmo um time da quarta divisão francesa pela copa da França.
Vamos
zoar também?
A
questão é que o Brasil é um país continental. Não é como na Europa que é
composta em sua maior parte por países pequenos e por isso aqui existem os
estaduais. Além do mais dos anos 90 pra cá o Brasil cresceu economicamente.
Nossos
clubes também cresceram e hoje eles têm condições não só de segurar seus
craques como Neymar como repatriar como Ronaldinho Gaúcho e Pato e trazer
estrelas de fora com Seedorf e Fórlan. Não temos culpa que a Argentina, que
passa por décadas difíceis, não conseguiu segurar o Messi que nunca jogou
profissionalmente pelo país.
Nunca
serei contra os campeonatos estaduais porque eu seria contra a minha emoção, as
minhas melhores lembranças, o choro ao ver a bola do Pet entrar e garantir o
nosso tricampeonato. Posso e sou contra, como todo mundo que gosta de futebol
deve ser, os estaduais de hoje. Reformulados podem ter um grande charme ainda e
ótimas competições.
Isso
que a “Geração ESPN”, os “Fãs do esporte” tem que entender. O Barcelona nunca
me dará a emoção que o Flamengo pode me dar vencendo um Fla x Flu, mesmo que
esse não valha nada. Mesmo com o Fluminense com time misto e o Flamengo
eliminado.
Como,
por exemplo, aconteceu agora. Deixe-me acabar a coluna que tenho que ir zoar os
tricolores.
Chupem
tricoletes.
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