A GUANABARA E OUTROS PROJETOS DE ESTADO
*Coluna publicada no blog Brasil Decide em 21/4/2013
Foi me
pedido que escrevesse essa semana sobre projetos que existem no congresso para
a criação de vários estados no país. Vi uma reportagem de 2011 que diz que se
todos os projetos fossem aprovados teríamos 37 estados e alguns territórios.
Os mais
novos não devem saber ao certo o que é o território já que não temos nenhum
hoje. Eu que sou da geração dos anos 80 lembro que Amapá, Acre, Roraima e
Fernando de Noronha já foram territórios. Os três primeiros se transformaram em
estados e o último anexado a Pernambuco.
Território
pra quem não sabe é uma espécie de estado que recebe dinheiro da federação, mas
não tem prefeito, nem governador tendo um gestor nomeado pela presidência da
República.
Desses
vários projetos que existem no congresso, entre eles o do estado do Triângulo,
projeto que desde 1988 adormece na câmara para a separação do triângulo mineiro
de Minas Gerais um plebiscito ocorreu. Foi no Pará para a população dizer se
queria a separação em três estados ficando Pará, Tapajós e Carajás.
A idéia
foi recusada pela população e tudo continuou na mesma.
Além dos
territórios que viraram estados eu só vi um estado surgir que foi o de
Tocantins na promulgação da constituição de 1988. A região antes fazia parte de
Goiás. Durante a história também ocorreu de estados mudarem de regiões do país
como São Paulo que já pertenceu ao Sul e agora é do Sudeste que por sinal já
foi Leste.
Bem.
Encerrando a parte didática da coisa vou passar o que penso. Sobre a criação de
novos estados e depois sobre uma situação que afeta diretamente o local que eu
moro.
Eu acho
que há casos e casos sobre separação. Penso realmente que em estados com grande
território pode vir a ser interessante. Muitas vezes o poder público não chega
ao interior do estado que fica abandonado. Transformando esses lugares em
estados eles receberiam verba federal para quem sabe assim modificar suas
realidades.
O
problema nesse caso é que teremos novos estados com novos governadores, novos
deputados federais, estaduais e todo um poder público que onera ainda mais a
união. O gasto seria pesado, prejuízo também então acho realmente que cada
questão deva ser bem avaliada para perceber se é realmente uma necessidade ou
tentativa de aproveitamento político. Algo tão comum em nosso país.
Um estudo
tem que ser feito, um olhar para não deixar que nasçam estados pobres e que os
estados que tiveram parte amputada também não empobreçam. Realizado esse estudo
e provado que o local crescerá, o estado que perderá uma parte não será
prejudicado acho que pode ocorrer mesmo com prejuízo financeiro do país a
princípio, mas um prejuízo que pode ser sanado com evolução de partes atrasadas
e esquecidas de nosso território.
O nosso
caso aqui é especial.
Especial
porque o Rio de Janeiro foi a capital do império e da República. No século XIX
a primeira constituição republicana previa a construção da nova capital do país
no Centro Oeste. Como é tradicional aqui o projeto foi empurrado com a barriga
até que cobrado em campanha JK prometeu fazer.
E pra
azar do Rio fez.
Azar do
Rio porque a cidade perdeu muito deixando de ser a capital. Serei polêmico e
talvez os brasilienses não gostem muito, mas não sei se para o Brasil a
construção da cidade foi boa. Pelo menos para ser capital.
Porque com
a mudança da capital o poder político parou de ouvir “a voz rouca das ruas”.
Não foi mais incomodado com pressão que certamente teria com a capital sendo no
Rio ou em São Paulo.
Como eu
disse o Rio perdeu muito. Perdeu estrutura, perdeu dinheiro e a situação tentou
ser amenizada com a criação do estado da Guanabara. Uma situação inusitada de
uma “cidade estado”. Um estado com apenas um município.
Com essa
situação o ex Distrito Federal e agora estado continuou recebendo um bom
dinheiro e foi uma época de grandes obras. Mas o estado do Rio de Janeiro que
vem a ser a região metropolitana do estado atual sem a capital e o interior
empobreceu.
Dessa
forma sem consultar a população, coisa que os “guanabarianos” reclamam até
hoje, a fusão foi feita.
A Guanabara
virou capital do novo estado e teve a sua renda dividida com o interior. Os
militares ainda tentaram ajudar fazendo a usina em Angra, mas não adiantou.
Acelerou
o processo de degradação do município. A conta é simples. Menos dinheiro, menos
oportunidades, menos empregos, mais pobres, menos escolaridade, menos
habitação, mais tomada de favelas, mais situação favorável de estabelecimento
do crime organizado em lugares esquecidos, mais caos.
Aí me
perguntam. A culpa do Rio ter entrado em um processo de decadência é por causa
da perca da capital e da fusão? Seria muito fácil eu responder que sim, dessa
forma eu eximiria de culpa toda a incompetência política fluminense que é tão
notória.
Mas
imagine você pai de família que tem X de orçamento por mês e de repente passa a
receber menos 3x tendo que sustentar uma família maior.
Fatalmente
a sua linda casa não conseguirá ser mantida com orçamento menor. Vão aparecer
goteiras, problema no piso, sofazinho rasgado. Se você não tem dinheiro pra
manter a casa como era ela deteriora e perde valor.
E assim
ocorreu com o Rio.
Aí
logicamente vem a pergunta. É a favor da cisão?
Respondo
que não. Eu não era a favor da fusão. Se hoje existissem Guanabara e Rio de
Janeiro e existisse a proposta de juntar os dois lugares eu seria contra, se
tivesse plebiscito votaria contra. O estado do Rio é pobre? Passa por
problemas? Como diria o filósofo e poeta Coronel Fábio “cada cachorro que lamba
sua caceta”.
Mas a
fusão ocorreu, trinta e oito anos se passaram e acho melhor não mexer mais
nisso. Já somos um estado interligado completamente e uma separação agora
poderia provocar caos, traumas, brigas desnecessárias, gastos mais
desnecessários ainda. Boa parte dos trabalhadores do município vem de outras
cidades e teriam que pagar passagem interestadual. Imagine pegar uma barca pra
Niterói e ter que pagar como se fosse para outro estado.
O Rio,
como eu disse, perdeu com a fusão, teve sua casa deteriorada, mas também teve
tempo suficiente para ter criatividade e reverter a situação sabendo utilizar
seu orçamento novo e até criar novas fontes de renda e isso começou a ocorrer.
Grandes empresas chegaram no interior do estado e agora temos o Pré Sal que dá
uma levantada em lugares como Macaé, por exemplo.
Também
tem a questão dos royaltes, mas esse é outro papo.
O Rio é
sede das Olimpíadas de 2016, da final da Copa de 2014, vem recebendo dinheiro e
ajuda que há muito não recebe, é um estado pequeno geograficamente, rico em
turismo, marca forte e tem obrigação de crescer sem ser capital do Brasil ou se
livrar do interior.
Essa é
minha opinião. Sou guanabariano, mas não quero mais a Guanabara.
Carioca
do estado do Rio de Janeiro.
Comentários
Postar um comentário