HISTÓRIAS DE NOSSA HISTÓRIA



*Coluna publicada no Blog Ouro de Tolo em 21/4/2013


Hoje e amanhã são datas significativas para a história do Brasil. Hoje é o dia da Inconfidência mineira, o evento principal do dia e que lhe faz ser feriado. Feriado que esse ano cai no domingo (aliás, feriado domingo é como dançar com a irmã, bem, deve ser já que não tenho irmã, enfim). Além da Inconfidência a data marca outras situações importantes para nossa história como a inauguração de Brasília e a morte do presidente Tancredo Neves.

Além do dia de hoje tem amanhã que é o dia marcado pelo descobrimento do Brasil, não é feriado e terça o dia de São Jorge, esse feriado no Rio. Pobre guerreiro da Capadócia que vem sendo maltratado e sofrendo bullying pela novelista Glória Perez. Dizem as más línguas que depois que “Salve Jorge” estreou aumentou o número de frequentadores de igrejas evangélicas, messiânicas, budistas e religiões afros, mas diminuindo devoção a Ogum.

Enfim, por quê estou escrevendo sobre isso? 

Porque isso tudo que citei é história e história pode ser dividida em três situações. A versão do vencedor, do vencido e a história de fato que nunca é exatamente como as duas primeiras e ninguém conhece cem por cento. Além disso, a história é volátil (primeira vez que uso essa palavra na vida) ela é volúvel e inconstante sendo mudada com o tempo e a bel prazer de quem comanda a época e quem conta.

Por exemplo. Cristãos falam que Deus criou tudo. Adão e Eva são os primeiros seres humanos da história e expulsos do paraíso por causa de uma serpente. Cientistas e ateus falam do big bang. Histórias não passam de versões de um acontecimento.
Como cada religião tem o seu “Messias” e ele voltará. Nem toda a humanidade ouviu falar em Jesus Cristo. Aqui lhe tratamos como o filho de Deus, para alguns foi um profeta. Fenômenos como abertura do mar vermelho ou da arca de Noé por quem segue o cristianismo foram obras de Deus, para alguns períodos de seca e enchente.

Para Eric Von Daniken, por exemplo, esse “Messias” que as religiões esperam na verdade são ETs que vieram aqui,ajudaram na construção desse planeta com sua sabedoria e adiantamento tecnológico e prometeram um dia voltar.

Isso explicaria a mim pelo menos as pirâmides do Egito. Elas são algo que chamam minha atenção e fascinam. Como podem ser tão bem construídas numa época sem tecnologia?     

Quem quiser conhecer sua tese compre o livro “Eram os Deuses astronautas?”.

Falo sobre isso tudo para chegar ao Brasil.

Aprendemos na escola que Pedro Álvares Cabral chegou aqui em 22 de abril de 1500, gritou “terra a vista” e descobriu o país. Deu os nomes de “Terra de Santa Cruz”, “Ilha de Vera Cruz” até nosso nome oficial hoje graças ao pau brasil. Depois os jesuítas chegaram e catequizaram os índios. Tudo assim, de forma tranquila e histórica.

Com o tempo informações não contadas em livros chegam. Que o descobrimento na verdade foi uma invasão, já existia uma nação aqui chamada Pindorama e nem se sabe se a data certa dessa invasão é essa.

Fatos e atos são escondidos em nossos livros como o pedido de emprego que Pero Vaz de Caminha fez para um sobrinho ao Rei de Portugal na famosa carta que enviou, que a catequese indígena foi feita através da força, de lutas, morte, genocídios. Uma geração formada pelos livros dos anos 80 só conseguiu chegar a essas informações no fim daquela década com a volta da democracia.

Eu mesmo precisei ter professores de ideologia diferente da oficial do país para saber essas coisas.

Como fui alfabetizado e ensinado que Tiradentes foi um grande herói nacional. Era o líder de uma rebelião que queria libertar o país e pagou por isso. Foi preso, enforcado e esquartejado com seus restos mortais espalhados.

Quando a gente é criança não estranha o fato, por exemplo, de Tiradentes ter morrido com a cara de Jesus Cristo. Sim, o profeta, o filho de Deus citado acima e tão amado.

Aí fica a pergunta. Tiradentes é um herói forjado?

Hoje qualquer pessoa sabe que ele não morreu daquela forma. Pelo menos não com aquele cabelo e aquela barba. Enforcados em sua maioria tinham as cabeças raspadas e nem mesmo Jesus devia ter aquele aspecto. Numa terra de mulatos, pessoas queimadas pelo Sol fizeram um Jesus loiro, cabeludo, europeu pra ganhar o mundo.

A igreja Católica foi a inventora do marketing. Criou ou contou uma história, de forma romanceada claro como todo bom autor faz, muito boa, com todos os ingredientes que uma boa trama tem que ter e essa é a história mais fantástica da história da humanidade sendo contada a quase dois mil anos.

Voltando a Tiradentes. A liberdade política nos permitiu conhecer outras versões da história. Como eu disse acima temos várias versões de um mesmo acontecido e a realidade ninguém acaba sabendo. A versão que corre hoje é que Tiradentes não era o líder dos inconfidentes, era apenas mais um do grupo, o pobre em um grupo de jovens ricos e acabou sendo o “bucha” assumindo tudo sozinho.

Uma coisa que aprendi com todas as histórias revolucionárias, principalmente aqui no Brasil, é que uma revolução sempre é criada através de interesses próprios e sempre tem um “bucha” pra caso dê errado. Nesse caso sobrou para o dentista.

Escrevi sobre isso numa coluna polêmica ano passado chamada “os filhos da miséria”.

Os inconfidentes não eram diferentes dos revolucionários de São Paulo nos anos 30 do século passado ou de Sérgio Cabral e sua trupe agora em relação aos royaltes. Revoltaram-se por causa dos impostos que eram obrigados a pagar, rebelaram-se por interesses que não foram atendidos, não por um país tanto que no que pregavam não citavam libertação dos escravos, por exemplo.

E a história desse país foi continuando como a Guerra do Paraguai em que aprendemos que nosso país foi heróico em uma guerra e com o passar dos anos ficamos sabendo que o Brasil foi pau mandado da Inglaterra para combater um país vizinho que crescia e começava a lhe incomodar.

Duque de Caxias. Grande herói nacional que virou nome de cidades na verdade pode ser um genocida. O Brasil pode ser o responsável pela miséria, pela pobreza de um país que dura até hoje.

Dizem que a versão original da música “Índia” fala da guerra sobre a ótica paraguaia, mostra tudo o que sofreram, mas também não sei se é um fato ou versão.

Como eu disse a história é contada pelos vencedores, pelo status quo. Nossos assassinos e genocidas são mostrados como heróis. Islâmicos provocam o terror e americanos guerreiam pela liberdade. Boston sofre terrorismo, Iraque é bombardeado pela democracia.

Antes que falem alguma besteira não defendo ataques a cidades americanas, lamento o que ocorreu em Boston ainda mais porque teve criança no meio. Mas não vi emissoras de tv correrem ao Iraque, ao Afeganistão pra entrevistar vítimas de ataques, para mostrar como era a vida de alguns que morreram sob ataque americano.

Ataques atrás de armas que nunca foram encontradas. Mas quem liga? O que importa é que a democracia prevaleceu. Isso que a história registra.

Como ficará pra história que os Estados Unidos é a maior democracia do mundo mesmo com candidato com menos votos sendo eleito presidente e a Venezuela ditadura com Chavez sendo o político mais vezes eleito na história.

A história é feita por muitos, mas contada por poucos e de modo que lhe interessa.

Pra finalizar. Em 1989 logo depois da vitória da Imperatriz Leopoldinense nossa professora de história da sétima série pediu que fizéssemos um trabalho em cima dos erros históricos da letra de “Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós”.
O samba, que é lindo, conta a história oficial, aquela que aprendi até poucos anos antes daquela data, até os militares deixarem o poder.  

Eu era o único da turma que gostava de samba e conhecia o mesmo. A professora saiu de sala e todos os alunos vieram em mim sabendo disso. Falei que copiaria a letra para eles em troca de dinheiro e lanche.

Comi bem naquela semana e comprei um tênis que eu queria. Moral da história? Nenhuma, é apenas uma história que conto.

Ou pode não ter sido assim e ser apenas uma versão.

Pra ser história não é necessário ser verdade.













Comentários

  1. ótimo texto, só a parte do gov. cabral q eu discordo, os royalites sao de interesse do estado do rio de janeiro, recursos atuais e futuros estao em jogo, o Cabral esta defendendos interesses do RJ muito mais q os dele...

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  2. Obrigado Aline. Sim, são de interesse do estado, mas também tem benefícios pessoais pro governador uma vitória nessa questão, volte sempre

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