MANGUEIRA EM CINCO CARNAVAIS
Semana passada fiz um texto para o blog lembrando dos noventa
anos da Portela e decidi lembrar cinco carnavais inesquecíveis. Não vi todos ao
vivo, mas foram cinco carnavais que se não tive oportunidade de ver em sua
época me marcaram ao longo dos anos como compositor e sambista.
Essa semana é marcada pelas eleições na Estação Primeira de
Mangueira, tão gigante, tradicional e com marca tão valiosa quanto da Portela. Tão
machucada nas últimas décadas quanto, mas assim como a escola de Madureira
continua com seu charme, magia e imponência.
Mangueira de “O mundo encantado de Monteiro Lobato” que lhe
deu o título em 1967, “Lendas do Abaeté” de 1973. Mangueira oriunda do bloco
dos Arengueiros e que nasceu como bloco no dia 28 de abril de 1928. Completará
oitenta e cinco anos nesse fim de semana de suas eleições. A primeira agremiação a ter uma
ala de compositores e desde sua fundação mantém a característica, a da única
marcação de surdo em sua bateria.
Mangueira de grandes figuras como o histórico cantor Jamelão,
como Dona Zica, Dona Neuma, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento,
Delegado, Mussum, Alcione, Beth Carvalho, Hélio Turco e aquele que ao lado de
Noel Rosa pra mim é o maior sambista da história e ao lado de Chico Buarque o
maior de nossos compositores. Cartola.
Assim como fiz com a Portela destacarei cinco carnavais da
segunda maior detentora de títulos de nosso carnaval, dezoito no total e assim
como fiz com a azul e branca são carnavais que eu vi ou que me marcaram como
compositor e sambista.
YES, NÓS TEMOS
BRAGUINHA 1984
Samba de Jurandir, Hélio Turco, Comprido, Arroz e Jajá.
Foi o primeiro desfile na Sapucaí como local fixo de
desfiles. A passarela do samba realizada por Darcy Ribeiro e projetada por
Oscar Niemeyer. Primeira vez também que o desfile foi dividido em dois dias.
Como já expliquei no texto sobre a Portela cada dia teve uma
campeã e as melhores de cada foram disputar um supercampeonato no sábado
seguinte. A escola não ganhava um campeonato desde 1973 e começava ali com um
dos maiores compositores de nosso carnaval uma seqüência de grandes desfiles
homenageando personalidades.
O desfile da Mangueira entrou para a história por um fato que
nunca mais ocorreu. As escolas ainda não sabiam lidar com a Praça da Apoteose,
lugar que hoje serve para dispersão, mas
na época ainda contava como desfile.
Aproveitando que era a última escola e a confusão que estava
na frente para dispersão aconteceu aquilo que entrou para a história como “A
volta da Mangueira”. A escola voltou pela pista desfilando, cantando e sambando
feliz o belo samba que lhe deu o supercampeonato.
CAYMMI MOSTRA AO
MUNDO O QUE A BAHIA TEM E A MANGUEIRA TAMBÉM 1986
Samba de Ivo Meirelles, Paulinho e Lula.
Mais uma vez a Mangueira homenageando uma personalidade, um
grande compositor. Dessa vez o compositor Dorival Caymmi. Um dos autores do
samba é Ivo Meirelles que veio a se tornar um artista conhecido e presidente da
agremiação.
O carnaval de 1986 foi o primeiro que assisti pela tv e
marcante por belos sambas e pela chuva que fez com que a Beija-Flor de
Nilópolis desfilasse com água nas canelas. A Mangueira com muito samba no pé e
cantando sua bela obra que citava o supercampeonato de 1984 e um refrão pequeno
e chiclete “tem xinxim e acarajé/ tamborim e samba no pé” brigou fortemente com
a escola Nilopolitana e garantiu seu segundo título em três anos mostrando ser
a grande escola dos anos 80.
Muita gente acha que a Beija-Flor merecia ter vencido, mas a
Mangueira desfilou com porte de campeã e pra mim foi merecido.
Fica como um detalhe pessoal meu. Com apenas nove anos de
idade não entendia como alguém podia cantar tem “xixi” numa letra de música.
CEM ANOS DE
LIBERDADE, REALIDADE OU ILUSÃO 1988
Samba de Hélio Turco, Jurandir e Alvinho.
Samba maravilhoso. Na minha opinião o melhor da história da
Mangueira. Um dos melhores de todos os tempos e não foi campeão do
carnaval.
O carnaval de 1988 foi um carnaval diferente. Era o
centenário da Lei Áurea, lei assinada pela Princesa Isabel libertando os
escravos no país e dessa forma as escolas de samba em sua maioria decidiram
homenagear a data.
A bicampeã Mangueira foi uma delas. Buscando o inédito
tricampeonato na Marquês de Sapucaí a escola entrou na avenida poderosa
cantando de forma valente e emocionante que o negro estava livre do açoite da
senzala e preso na miséria da favela. Era um desfile para campeonato, ao
contrário do contestado bicampeonato de 1987.
Só que parodiando o homenageado do ano anterior Carlos
Drummond de Andrade no meio do caminho tinha uma Kizomba, tinha uma Kizomba no
meio do caminho.
A catarse provocada pela Unidos de Vila Isabel impediu o
sonhado tricampeonato. Mas os dois desfiles são históricos, campeões e merecem
todas as homenagens. O samba mangueirense é uma aula e tem que ser ouvido por
todo mundo que pensa em fazer samba-enredo.
CHICO BUARQUE DA
MANGUEIRA 1998
Samba de Nelson Dalla Rosa, Vila Boas, Carlinhos das Camisas
e Nelson.
Mais uma vez a Mangueira partindo para um campeonato
homenageando uma grande personalidade brasileira. Um homenageado a altura dos
que lhe deram seus últimos campeonatos. O gênio Chico Buarque de Hollanda.
O ano mangueirense começou com polêmica em relação ao
samba-enredo. O samba composto por compositores paulistanos foi mal visto por
muita gente. Alguns por questão de bairrismo, outros por não lhe acharem do
nível do homenageado.
Eu particularmente gosto do samba, é a cara da Mangueira e
acho que exigir um samba do nível de Chico é complicado. Ele é um dos maiores
de nossa história e como se equiparar a alguém assim?
A Mangueira vinha por uma fase ruim. Onze anos sem
ganhar um carnaval, sem dinheiro, algumas vezes ameaçada por queda para o
acesso a verde e rosa não era uma das favoritas daquele carnaval embalado pelo
samba “Orfeu do carnaval” da campeã do ano anterior Unidos do Viradouro.
Mas como eu costumo dizer aquela esquina da Presidente Vargas
com a Marquês de Sapucaí tem magia e assim que ouvi o samba começar a ser
cantado com Chico Buarque no carro de som, aquela comoção toda em torno
dele pensei “campeã”.
Não deu outra. Ninguém sabe fazer enredo sobre personalidades
como a Mangueira. Ninguém sabe como fazer carnaval sem dinheiro como ela e
dessa forma, empatada com a Beija-Flor e embalada por “seu guri” a Mangueira
voltava a ser campeã do carnaval.
BRASIL COM Z É
PRA CABRA DA PESTE, BRASIL COM S É NAÇÃO DO NORDESTE 2002
A Imperatriz conseguira em 2001 realizar aquele sonho que eu
disse ser da Mangueira em 1988, a
primeira tricampeã da Marquês de Sapucaí. Um tricampeonato contestado, vaiado,
mas tricampeonato.
Mangueira continuava com sua agonia. Tirando o título de 1998
a agremiação não vinha para as cabeças. Até conseguira um terceiro lugar no ano
anterior, mas não era considerada favorita, era meio deixada de lado.
Em 2001 Max Lopes, o carnavalesco supercampeão de 1984
retornou para agremiação e fez esse enredo sobre o Nordeste para 2002. Enredo
feliz com um samba mais feliz ainda. Samba com refrães fortes e um ousado
refrão de seis versos no meio. Ousado e lindo que terminava com o genial
trocadilho “Doce cartola sua alma está aqui” relacionando o compositor ao doce.
Fez um grande desfile, de campeã e uma apuração dramática com
a Beija-Flor. De novo com a Beija-Flor como em 1986 e 1998. O sistema de
decimais começara naquele ano e a agremiação foi campeã com apenas um décimo de
vantagem sobre a nilopolitana.
Foi o último ano de Mangueira com dona Zica que faleceu antes
do carnaval de 2003. No ano que o “doce cartola” foi cantado o amor de sua vida
foi lhe reencontrar.
Bem..Aí estão cinco carnavais que amo da Mangueira. Esperando
que a escola faça uma boa escolha nas eleições e retome seu caminho de
vitórias e grandes carnavais. Que saia das páginas policiais e volte a valer
sua força de grande expressão cultural desse país.
Que o cenário de seu futuro seja uma beleza.
Aloisio,
ResponderExcluirPrimeira vez que entro no seu blog e só posso lhe parabenizar pela aula de samba e carnaval que vc deu.
Pra quem é apaixonado por isso,seu blog é uma jóia.Não existe um puto de um portal com tanto riqueza de informação e curiosidade.
Sobre os melhores sambas da Mangueira,gostaria de saber sua opinião sobre os de 2011 e 2012,que pra mim,foram espetaculares.Foram os últimos que fizeram a Sapucaí inteira cantar com a histórica paradona da bateria.
Abs
Henrique
Obrigado pelo comentário.
ExcluirGosto muito, são sambas comunicativos e que se tornaram populares seguindo uma linhagem nova e interessante da Mangueira. O de 2012 entrou numa coletânea com sambas da escola que fiz pouco antes do carnaval.
abs
Aloisio