O BEIJO DAS ARÁBIAS
No fim de semana passado tivemos
mais uma rodada pelo campeonato brasileiro. Uma rodada normal como outra
qualquer. Vasco perdendo, São Paulo na zona, Corinthians com pênalti duvidoso a
favor. Tudo como sempre.
Mas não foi tudo igual, não foi
tudo normal, teve polêmica.
No fim do domingo quando as
pessoas já paravam de discutir os pênaltis marcados para São Paulo e
Corinthians uma foto surgiu no Instagram e se tornou o assunto da semana.
Nela o polêmico atacante
corintiano Emerson Sheik, também conhecido como Márcio, aparece beijando um
amigo na boca. Um selinho.
Sim, um simples selinho, um
encostar apenas de boca com boca, mas que causou uma grande polêmica.
Emerson, o Márcio, o Sheik,
jogador sempre envolvido com polêmicas, jogador que já foi processado por
falsidade ideológica e agora vem sendo por contrabando nunca ficou tanto no
olho do furacão, nunca algo que ele fez deu tanta repercussão.
Curioso o país em que uma pessoa
cria macaco em cativeiro, já falsificou identidade, é processado por
contrabando e sofre as maiores críticas devido um beijo.
Desde que acabou a surubada na
Grécia antiga e as religiões se tornaram predominantes nas sociedades o mundo
passou a se preocupar com a bunda alheia e com os desejos que os outros sentem
na cama como se fosse algo com ele mesmo. O cara pode roubar, sequestrar,
contrabandear, matar, nisso tudo se dá um jeito, Deus perdoa. Basta procurar
uma igreja e falar ao pastor que está arrependido que ele grita um “aleluia” e
tudo se apaga.
Mas se der a bunda ou praticar
atos libidinosos com pessoas do mesmo sexo..Ah, aí é bem diferente. Aí você é
um paria que deve explicações a sociedade por sua pederastia e péssimos modos.
No futebol então é pior ainda.
No futebol todos os tipos de
preconceitos são aflorados e eu não me esquivo disso porque eu sou o primeiro a
chamar tricolores cariocas e paulistas de “bambis”, mas eu chamo na
brincadeira, o Flamengo foi um dos primeiros a ter uma torcida gay.
Torcida que foi sufocada e
reprimida pelos “machões” rubro-negros até acabar.
Todos os tipos de preconceitos
parecem permitidos no futebol. Tricolores são gays porque são tricolores,
rubro-negros e corintianos são chamados de macacos, favelados, molambos e
maloqueiros porque são clubes populares e por isso chegam até as camadas mais
pobres da sociedade.
Em qualquer lugar chamar alguém de
macaco é crime, em estádio de futebol pode.
Como eu disse, muitas vezes isso é
usado como brincadeira. Quem me conhece sabe que uma coisa que abomino é o
politicamente correto e não serei eu que vou levantar bandeira contra gozações.
Mas nem sempre é brincadeira. Torcedor
de futebol quando veste a camisa do time e anda em bando se torna irracional. É
capaz de xingar, ofender, agredir não só em palavras quanto fisicamente.
Vira bicho, sendo que bicho só
mata pra comer ou quando se sente ameaçado. Deixa aflorar banditismo e são
inúmeros os casos de covardia e crimes praticados por esses torcedores. Domingo
mesmo no Flamengo x São Paulo vimos isso e essa violência não é “privilégio”
apenas de uma torcida. Todas são assim.
Vimos de novo esse lado irracional
de torcedores aflorar no caso Emerson. Ele, como eu já disse, é acusado de
vários crimes, polêmicas, tem jogado pessimamente esse ano, domingo esteve mal
em campo dando uma entrada criminosa em um jogador do Coritiba e saindo
reclamando da substituição..
..Mas o que provocou a ira da Fiel
foi o beijo.
Alguns desocupados, vagabundos
foram à frente do CT hostilizar o Sheik e entre outras coisas dizer que o clube
não é lugar de “viado”. Quem disse que não é seu energúmeno? O Corinthians tem
a segunda maior torcida do Brasil, com quase 30 milhões de torcedores e você
seu boçal acha que todos são héteros?
Alguns desses construíram a
história do seu clube e você nem sabe, mas são gays. Outros você até sabe que
são, mas fingem acreditar nessa história de “não sabia que eram travestis”.
Idolatram o Vampeta e esquecem que ele já saiu na G Magazine.
O Corinthians é um clube gay, é homossexual
como é o Flamengo, o Vasco, Botafogo, Fluminense, São Paulo, Santos, Grêmio,
Inter, Cruzeiro, Atlético, todos. Todos são clubes gays, bi, hétero, negros,
brancos, índios, homens, mulheres porque representam paixão de uma pluralidade.
Pessoas heterogêneas, diferentes cujo amor é o mesmo, o dinheiro gasto com seus
clubes o mesmo.
E o pior é que o Sheik nem gay é,
ele gosta de uma polêmica. É adepto do lema “zoeira sem limites”, tem uma
grande ficha corrida de mulheres e o pior ainda, se fosse ninguém tem nada a
ver com isso.
Incrível como o esporte é
retrógrado, como o esporte ainda é um ambiente preconceituoso. Dias antes do
beijo das Arábias uma das melhores atletas da atualidade, a russa do salto com
vara Yelena Isinbayeva deu declarações homofóbicas e teve que voltar atrás
devido a repercussão.
Sendo que o esporte normalmente é
um dos locais com mais homossexuais que existe, mas poucos assumem com medo
dessas reações preconceituosas. Desse jeito criamos figuras como Diego Hypolito
e Richarlyson que não podem assumir o que são. Histórias como de Sheila e Mari
no voley que viram lendas urbanas.
Ninguém é homofóbico, ninguém é
preconceituoso até ver um jogador do seu time dar selinho em outro homem ou
jogador de seu time dar camisa ao David Brazil. Essa é a sociedade em que
vivemos. Todo mundo pode ser gay desde que não seja nosso filho ou jogue no
nosso time.
Triste um ano como de 2013 em que
a maior repercussão de um campeonato é um selinho em rede social.
Triste um ano como de 2013 onde as
pessoas ainda tem que esconder o que são.
Uma sociedade e uma época em que
um beijo agride mais que um tapa.
Um beijo para vocês.
*Nessa sexta-feira dia 23 o Emerson Sheik pediu desculpas a "Fiel" pelo beijo e completou "Até porque não sou são paulino". Quer dizer, perdeu a chance de levantar uma bandeira e caiu na vala comum do preconceito e homofobia.
Mas de repente foi até bom. Vamos esperar que a pessoa que revolucione o futebol e a cultura brasileira seja ao menos do bem, decente e não tenha a folha corrida dessa pessoa.
Perdeu sua chance Emerson, Marcio, quem quer que você seja, uma pena.
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