O NEO FLAMENGUISMO
Escrevo
essa coluna logo após o jogo Flamengo x Botafogo pelo campeonato brasileiro. A
torcida do Flamengo está feliz. Sai cantando do Maracanã, brinca com os
botafoguenses mandando o “E ninguém cala esse chororô”. Todos, inclusive eu,
nas redes sociais exaltam o resultado. Afinal, não é todo dia que se faz um gol
em clássico aos 49 do segundo tempo e muda a história de uma partida.
Garantimos
a vitória? Não, o gol na verdade foi de empate. Valeu liderança? De certa forma
sim, mas pro Botafogo, graças ao gol o clube de Garrincha, Nilton Santos e
Mazolinha não alcançou a liderança.
Mas
chegamos perto do Botafogo na tabela né? Não, alcançamos o 16° lugar, um ponto
e uma posição na frente da zona do rebaixamento. Mas isso não preocupa, com os
craques que temos fomos lá e buscamos o empate né? Na verdade o time bom do
jogo era o do Botafogo e o craque jogava lá, Clarence Seedorf.
Não temos
um bom time, muito longe disso. O Flamengo que conheci, que tinha primeiro
Zico, Adílio, Leandro, Junior, Andrade e depois Zico, Renato, Bebeto, Jorginho,
Leonardo e Zinho hoje tem Paulinho, Bruninho, Val, João Paulo, Wallace e
Brocador.
Mas pra
mostrar que nem tudo antigamente era melhor antes tínhamos nenhum sócio
torcedor e hoje temos quase 33 mil!! Isso mesmo quase 33 mil !! Isso vale por
qualquer título!! Chupem antis!!
Falando
sério agora. A atual direção do Flamengo pegou uma herança maldita. Como eu já
falei aqui em uma coluna chamada “O novo Flamengo” foram anos e anos de
desmandos, incompetência administrativa, roubos, falta de carinho com o
Flamengo e caiu tudo no colo dessa direção.
A direção
do Flamengo atual é composta de gente de bem, honesta e vencedora. Pessoas bem
sucedidas em seus trabalhos, com vida estabilizada, sucesso e que decidiram dedicar
seu tempo pela reconstrução do Flamengo.
Tudo leva
a crer que vão conseguir. A dívida, enorme, aos poucos vai sendo saneada, um
alto valor é pago mensalmente pelo clube pra manter o nome limpo e o salário de
jogadores e funcionários está em dia por todo 2013. Quando atrasou não teve
atraso na verdade. O Flamengo até 2013 fazia vencer seu mês dia 25 e com essa
nova direção antecipou em 20 dias os pagamentos. Paga dia 5 agora e em um mês
atrasou 5 dias pagando dia 10.
Claro que
isso deu imensa repercussão na mídia que adora cavar uma crise.
Fechou
ótimos patrocínios, alavancou o programa sócio torcedor, está montando um fundo
de investimento, tudo sensacional.
Se não
fosse por um detalhe.
O
Flamengo não é um banco, é um clube de futebol.
E nisso
os carecas não estão bem. Investiram no bom, bonito e barato, coisa que só deu
certo com a União da Ilha no começo dos anos 80. Pegaram vários jogadores de
graça ou por empréstimo, mais de 10 sendo que a maioria do mesmo empresário e
que precisa de youtube pra saber quem é.
Não deu
certo. Tirando Elias e Marcelo Moreno o restante é pra amassar e jogar fora.
Errou ao contratar Jorginho como técnico, errou ainda mais contratando Carlos
Eduardo, jogador que mal atuou nos últimos dois anos e vem se transformando em
um verdadeiro mico gordo.
Foi
comedido, discreto em contratações. Não usou a marca Flamengo para isso, para
atrair investidores para contratar. Não confiou na força da marca e não usou a
inteligência que essa direção parece ter para arrumar um meio, sem piorar os
combalidos cofres do clube, pra contratar um jogador que possa passar na
chamada do campeonato brasileiro do SPORTV sem a gente perguntar quem é.
Faz um
programa de sócio torcedor, consegue grandes patrocínios e não contratou um
jogador para ser a imagem desses programas e investimentos. Para levantar o
marketing e o faturamento. O Flamengo é o único clube do Rio a não ter esse
jogador. O Botafogo tem o Seedorf, Fluminense Fred e o Vasco Juninho
Pernambucano.
O Vasco!!
O Vasco que até pouco tempo atrás a gente zoava por estar com situação
financeira pior que a nossa, ter nem água conseguiu patrocínios e aí
criatividade pra contratar bem, contratar jogadores como Fagner e Guiñazu.
Conseguiu
trazer um ídolo de volta, o Juninho. Podem alegar “ah, mas esse tem
identificação com o clube, facilitou pra voltar”. O Flamengo teve isso agora
recentemente com o Julio Cesar. Goleiro titular da seleção, que acabou de ser
campeão com ela e deu seguidas declarações de amor pelo clube insinuando que
poderia voltar. O que os dirigentes fizeram? Nada. Disseram que não precisam de
goleiros quando não temos um confiável. Julio Cesar não seria apenas nosso
goleiro. Seria nosso titular em uma copa no Brasil e o garoto propaganda pra
tudo que o clube precisa. Cara considerado bonito, ainda jovem, pai de família,
casado com mulher famosa e ninguém pensou nisso!!
Todos
esses problemas, essas questões fizeram aparecer uma coisa, o “neo
flamenguismo”.
O
torcedor do Flamengo mudou. O negão desdentado com rádio de pilha sobre o ombro
vendo jogo na geral não existe mais, quer dizer, ainda existe, mas foi alijado.
Ninguém quer mais saber dele, apenas quando queremos provar que temos a maior
torcida do mundo seja para zoar adversário ou tentar receita pro clube é que
lembram que ele existe e sentem necessidade que apareça. Depois constrangidos
por sua presença pedem que se afaste e volte ao gato net do bar da favela.
O perfil
de torcedor do Flamengo hoje é outro. É branco, jovem, tem blog ou escreve para
blogs de grandes sites. Faz “twittcam”, chats (sem incluir do Tozza que é
sensacional e imparcial), colunas na internet e arrotam arrogância como donos
da verdade.
Se
venderam e de forma barata. Acham normal a diretoria cobrar cem reais por um
ingresso, pelo mais barato dos ingressos. Alegam “Ah, o futebol mudou, agora é
outro, tem que cobrar caro pra pagar taxas mesmo, tem a máfia da meia entrada,
tem que vender sócio torcedor”.
Porra!!
Desculpe o palavrão, mas vai se fud..Quem você pensa que é pra se achar mais
torcedor que os outros? Pra dizer o que o Flamengo tem que fazer ou aprovar
elitização? Quando você fazia cocô em fralda esses pobres que agora apóia que
não possam mais ir a estádios juntava moedinhas de seu salário mínimo pra ir a
jogo!! Esses caras pegavam chuva, Sol forte, tomavam saco de mijo na cabeça pra
apoiar, sofrer, ajudar o crescimento do clube para que hoje você tenha direito
a pagar sua poltroninha de 150 reais no estádio, escrever do celular como está
o jogo, tirar fotos e postar em redes sociais em tempo real e depois escrever
em seu blog que o fraquíssimo time de hoje tem que ser apoiado porque a direção
está certa em elitizar, deixar um time vergonhoso e de empresários em campo e
quem não apoia não é Flamengo.
A torcida
do Flamengo, essa nova torcida, a “arena torcida” é vendida. Ela não contesta,
acha tudo bom, tudo bonitinho. Acha bonitinho sócio torcedor caro que dá poucas
coisas em troca, acha bonitinho jogar com time fraco e diretor dizer que não
vai contratar, ver presidente falar que jogador X9 e velho é o exemplo do
clube, ver jogadores serem demitidos via site e depois não saber o que fazer
com eles.
Parece
lavagem cerebral. Lembra muito culto da igreja Universal.
Nem Jesus
Cristo foi ou é unanimidade e fizeram pessoas bem intencionadas, competentes,
que acho que podem dar certo, mas cruas, inexperientes unanimidades. Assim
vocês prejudicam o clube, prejudicam a eles!! Sem contestação, sem críticas vão
achar que estão fazendo tudo certo e não estão. Não classificação para
Libertadores acarreta prejuízo com a Adidas, pra Sul americana também,
rebaixamento é multa.
Ah, mas
time grande não cai. Verdade, clube grande não cai e pequeno ganha Libertadores
porque os dois últimos que venceram foram rebaixados recentemente.
Não podem
cobrar ingressos mais baratos 100 reais, não podem tirar o negro e o pobre dos
estádios. Flamengo não é branco, ele é miscigenado, multirracial. Não pode
deixar um time medíocre em campo e tentar nada para pelo menos melhorar isso.
Onde está a criatividade? Onde está a maior marca esportiva desse país pra
arrumar pelo menos uma empresa parceira pra isso e explorar a imagem desse
jogador em marketing? Até a péssima Patrícia Amorim conseguiu isso.
Ih, citei
a Patrícia, vão me chamar de “Patyzete”. Esse é o argumento mais forte do “Neo
flamenguismo”.
A
impressão que dá é que se os dirigentes do Flamengo forem nadar os adeptos do
“neo flamenguismo”, do “arena torcida” morrem afogados.
Preferia
quando a torcida do Flamengo era chamada de bandida, não de coxinha.
Não sou oposição,
não sou corneta, mas também não sou adepto do “neo flamenguismo” nem fico de
urublabla. Flamengo não tem torcedor oficial, nem torcedor que diga como se
deve torcer e quem deve torcer.
A
democracia de nossa paixão sempre foi nossa maior força.
Flamengo
da dona de casa, do povo sofrido, do trabalhador. Flamengo do jovem esperto, da
moça bonita e do meu amor. Flamengo do Sul e do Norte, de todos os cantos, de
toda nação. Flamengo do asfalto e do MORRO, de Deus e do povo.
E do meu
coração.
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