CINCO ESCOLAS EM CINCO CARNAVAIS - PARTE II
Hoje dou prosseguimento a série “cinco carnavais” falando de mais cinco escolas de samba e seus carnavais mais importantes para mim.
Entre as cinco estão quatro que conseguiram neste século chegar ao grupo especial, três pela primeira vez. Mesmo não se mantendo foram lá e mostraram a cara deixando suas histórias. A outra marcou esses últimos anos com alguns dos melhores sambas de nossa folia.
Cinco escolas em cinco carnavais que me moldaram como sambista e compositor.
RENASCER DE JACAREPAGUÁ
Oriunda do bloco carnavalesco Bafo
de Bode, fundado em 1958, a Renascer é uma das várias escolas que se localizam
na região de Jacarepaguá.
Com pouco tempo entre as escolas
do acesso, sob presidência do policia civil Antônio Salomão, a agremiação
conseguiu duas promoções seguidas alcançando em 2004 uma vaga no acesso A.
Em 2011 a Renascer chegou pela
primeira vez ao grupo especial.
Suas cores são vermelho e branco e
a Renascer é uma escola jovem sendo fundada em 2 de agosto de 1992.
Renascer de “A saudade mata a
gente morena” 1999, “O início da história com certidões e vitórias” 2000, “A
riqueza da criação em cada canto desse chão” 2004, “Como vai, vai bem? Veio a
pé ou veio de trem?” 2009, “Águas de março” 2011.
Renascer que mostro agora o
carnaval que destaco.
O ARTISTA DA FOLIA DÁ O TOM DA ALEGRIA! 2012
A Renascer vinha crescendo aos
poucos. Não só se firmando no grupo do acesso como se tornando uma potência
dele. Em 2009 já ameaçou vencer o grupo, fato que aconteceu em 2011.
Foi um carnaval polêmico como
todos da “Era Lesga”, mas com a boa estrutura montada e tendo Paulo Barros como
um de seus carnavalescos evidente que a escola viria bem, pra brigar e venceu a
luta contra escolas mais tradicionais como Império Serrano, Estácio de Sá e
Unidos do Viradouro.
Chegando ao especial não se
intimidou com a presença das super escolas e em vez de procurar o lado mais
fácil que seria arrumar um enredo patrocinado, falando de alguma empresa ou
cidade a Renascer ousou.
Ousou levando para a avenida um
enredo com teor cultural. Mais ainda, um grande artista de escala mundial, mas
desconhecido aqui no Brasil. Uma total ousadia em falar de Romero Britto.
Romero é hoje um dos artistas mais
conceituados do mundo. Nascido em Pernambuco, radicado em Miami é um dos
grandes nomes atuais da pop art e suas obras caíram no gosto das celebridades.
O samba é bom como todos feitos
por essa parceria. Cláudio Russo mesmo é um dos grandes nomes do carnaval
atual, mas talvez por ser uma escola menor, estreante no grupo e por 2012
marcar o primeiro ano dos grandes sambas de Portela e Vila acabou passando desapercebido.
E acabou sofrendo também a
maldição da “escola que sobe e é rebaixada”. Teve seu carnaval prejudicado por
entrar mais tarde que o combinado na Cidade do Samba devido os incêndios de
2011 e nessa soma toda voltou para o acesso.
Mas mostrou sua cara. Mostrou que
podia ir ao especial e mesmo com toda adversidade trazendo cultura, artistas
importantes para o povo.
Em 2012 pintou Renascer no
coração.
A escola sucedeu a Unidos da
Matriz e tem como fundadores Luiz de Bastos, Sebastião Quirino, Jairo da Silva
entre outros.
Desfilando desde 1994 a azul,
vermelho e branco de Belford Roxo conquistou seu primeiro campeonato em 1998.
Estreou em 2000 no grupo de acesso A, sofreu com rebaixamento, voltou e em 2012
chegou ao seu auge alcançando o grupo especial pela primeira vez. Nesse começo
de século mudou seu nome para Inocentes da Baixada e depois voltou para Belford
Roxo.
Desfilou entre as grandes sendo
rebaixada e nesse momento está no grupo de acesso A.
Inocentes de “Candonga, um adeus
às baterias” 1998, “Viva a Baixada, longos passos do progresso rumo ao 3° milênio”
1999, “É carnaval, é ti-ti-ti, São João é Meriti” 2002, “O gênio da Inocentes e
a lâmpada maravilhosa” 2003, “Chatô, a fanfarra do homem sério mais engraçado
do Brasil” 2007, “Ewe, a cura vem da floresta” 2008, “Água pra prover a vida”
2010, “Corumbá, Ópera Tupi Guaikuru” 2012.
Abaixo o carnaval mais marcante da
Inocentes pra mim.
AS SETE CONFLUÊNCIAS DO RIO HAN – 50 ANOS DE IMIGRAÇÃO DA CORÉIA DO
SUL NO BRASIL 2013
Samba de Billy Conti,
Dominguinhos, Ildo dos Santos, J.J. Santos, Juarez e Mara.
E de tanto “martelar”, fazer
carnavais que lhe deixavam próxima o sonho aconteceu e a Inocentes chegou ao
grupo especial.
Apesar de ter feito realmente um
dos melhores carnavais do grupo de acesso em 2012 e assim seu desfile lhe fazer
uma das postulantes ao título, portanto merecido, o resultado foi bem
contestado devido a boatos pré-carnaval que já lhe davam a vitória.
A LESGA foi dissolvida, uma nova
liga para o acesso criada, mas a Inocentes tinha nada com isso, subiu e se
preparou para em 2013 desfilar com as grandes.
Fez contratações de impacto como
Wantuir para levar o samba na avenida e Lucinha Nobre como porta bandeira.
Lucinha é uma das porta bandeiras mais premiadas da história do carnaval.
Investiu em enredo patrocinado
fechando com a Coréia do Sul e contando a história dos cinquenta anos do começo
da imigração coreana para o Brasil. Surpreendeu na escolha do
samba-enredo. Escolheu o bom samba da parceria de Billy Conti. Portanto nada
demais na escolha se um dos sambas derrotados na final não fosse do super
campeão do carnaval carioca Cláudio Russo.
A agremiação fez um bom desfile e
merecia ficar no grupo especial. O samba se não brilhou, pelos mesmos motivos dados
ao samba da Renascer, funcionou na avenida e os quesitos foram bem defendidos.
Mas sobre a agremiação também pesou o “tamanho da bandeira”.
Profissionais que nunca perderam
muitos pontos na apuração, como Lucinha, perderam e a Inocentes sentiu o peso
da caneta sempre mais cruel com quem sobe e abre os desfiles e foi rebaixada
para o acesso.
Mas volta mais forte, experiente e
com certeza essa passagem pelo especial lhe ajudará no futuro.
A Inocentes mostrou seu valor.
Chegou ao grupo A em 1992 e pela
primeira vez ao grupo especial com um vice-campeonato em 1996. Ousou e fez um
enredo sobre a Disney em 1997 voltando ao grupo de acesso. Oscilou entre os
grupos de acesso A e B até a chegada do empresário Mauricio Mattos que injetou
dinheiro e profissionalismo à escola.
Voltou ao grupo especial vencendo
o acesso em 2005, rebaixada novamente em 2006 hoje a escola se encontra no
Acesso A.
Tem as cores verde, azul e branco
e foi fundada em 31 de março de 1988.
Rocinha de “O esplendor dos
divinos Orixás” 1989, “Um coração chamado Brasil” 1990, “Do esplendor da Roma
pagã ao despertar da Rocinha” 1991, “Pra não dizer que não falei de flores”
1992, “Bahia com muito amor” 1996, “A viagem fantástica do Zé Carioca à Disney”
1997, “1999, fim de século, recordar é viver” 1999, “E Deus criou a mulher”
2001, “Um mundo sem fronteiras” 2005, “Rocinha é minha vida, Nordeste minha
história” 2008.
Rocinha que conto agora seu carnaval
mais marcante pra mim.
FELICIDADE NÃO TEM PREÇO 2006
Samba de Marquinhos, Marinho e
Wander Timbalada.
A Rocinha vivia uma grande fase.
Com a chegada de Mauricio Mattos dinheiro não faltava, a escola se organizou,
profissionalizou e virou reduto de celebridades. O empresário é dono da revista
“rio, samba e carnaval”, circulação famosa do período de folia e que atrai
artistas, celebridades em geral. Essas pessoas começaram a freqüentar a escola,
os moradores de Copacabana, Leblon, Ipanema e principalmente São Conrado,
bairro vizinho à favela, também e como a quadra fica no pé do morro aconteceu
uma mistura interessante entre asfalto e favela.
Contava com o excelente
carnavalesco Alex de Souza que em 2005, ano do título, desenvolveu o interessante
“Um mundo sem fronteiras” onde falava de inclusão social. Disputamos na escola
para esse concurso chegando na semifinal.
Chegando ao grupo especial a
Rocinha desenvolveu o enredo “Felicidade não tem preço”. Criou um personagem
chamado “Zé Ninguém” que enriquecia e através desse enriquecimento a escola fez
críticas ao consumismo, o poder que o dinheiro traz como na política e religião
e no fim mandou a mensagem que a felicidade não tinha preço.
Ao contrário de Renascer e
Inocentes a Rocinha não teve que abrir o domingo de carnaval. Na época todas
entravam em sorteio e a primazia coube ao Acadêmicos do Salgueiro. Mas a
Rocinha não teve tanta sorte assim e foi a segunda a desfilar.
Infelizmente a sorte continuou não
acompanhando no desfile. A Rocinha entrou linda na passarela, luxuosa fazendo
desfile para ficar. Mas teve muitos problemas na avenida e acabou rebaixada.
O dinheiro realmente não trouxe
felicidade naquele ano, mas levou a escola a bons momentos. Ela não era uma “Zé
Ninguém” e voltou fortalecida ao acesso sendo hoje uma das forças do grupo
mesmo com a saída de Mauricio.
No jogo da vida aprendeu a ganhar.
As negociações para a fusão
começaram em 1952 e o Tuiuti tem entre seus fundadores Augusto Pirulito,
Joaquim, Araquém, Zequinha, Álvaro, Conceição e Felícia.
Até os anos 80 sua participação no
carnaval foi tímida. A virada veio com a carnavalesca Maria Augusta e a chegada
pela primeira vez ao grupo de acesso A. A escola continuou crescendo e chegou a
seu auge em 2000 quando com o enredo “Um monarca na fuzarca” foi vice-campeã do
grupo de acesso chegando pela primeira vez ao grupo especial.
Em 2001 desfilou na elite,
retornou ao Acesso A em 2002. Fez alguns bons carnavais no grupo, culturais
onde revelou os carnavalescos Paulo Menezes e Paulo Barros, foi ao grupo B e
retornou ao A onde se encontra hoje.
Suas cores são o Azul pavão e o
ouro, oriundas do Paraíso das Baianas.
Paraíso do Tuiuti de “Uma delícia
glacial no país do carnaval” 1999, “Um monarca na fuzarca” 2000, “Arlindo,
arlequins e querubins: Um carnaval no Paraíso” 2002, “Tuiuti desfila o Brasil
nas telas de Portinari” 2003, “Cartola, teu cenário é uma beleza” 2008, “O mais
doce bárbaro – Caetano Veloso” 2011.
Paraíso do Tuiuti que conto agora
o seu carnaval que mais me marcou.
UM MOURO NO QUILOMBO. ISTO A HISTÓRIA REGISTRA! 2001
O século XXI se iniciava e o
carnaval carioca passava por um momento interessante. A Imperatriz
Leopoldinense era bicampeã do carnaval e buscava um tricampeonato inédito para
ela e a Marquês de Sapucaí. A Beija-Flor de Nilópolis, bivice campeã era a
principal candidata a tentar impedir esse feito e o ano de 2001 rendeu alguns
dos melhores sambas desse novo século.
Beija-Flor vinha com ótimo samba,
União da Ilha é outra que veio com grande samba e carnaval inesquecível, para o
mal infelizmente, e mais algumas escolas se sobressaíram na qualidade de suas
obras. Uma em especial surpreendeu.
Aliás, ela vinha surpreendendo
desde o ano anterior. Ninguém esperava que o Paraíso do Tuiuti estivesse no grupo
especial naquele ano. Em 2000 a agremiação desfilou no grupo A após subir do B
e mesmo não estando entre as favoritas até mesmo na apuração surpreendeu
conquistando o vice-campeonato e galgando a elite do carnaval carioca.
Era uma época prodigiosa em
homenagens a cidades em troca de dinheiro de patrocínio, enredos chamados de
“Enredos Ceps” e o Tuiuti fugiu dessa facilidade fazendo de seu tema um livro
de George Bourdoukan com fatos verídicos misturando com ficção da viagem de um
mouro de Granada que iria peregrinar em Meca e acabou parando no Brasil.
O samba é lindíssimo, não só um
dos mais belos do ano como do século. Samba diferente, ousado em melodia como é
marca da parceria desde sambas vencidos na Imperatriz. Outra marca desse samba
é que foi uma das primeiras vezes em que foi usado trocadilho com palavras
“principal” e “especial” usando como apropriadas ao tema e para mostrar que a
escola desfilaria ou almeja desfilar no grupo de elite. Esse recurso é bastante
utilizado hoje em dia.
Fez um bom desfile, mas não tinha
os recursos financeiros que outras agremiações acostumadas com o grupo tinham e
acabou rebaixada para o acesso. Mas marcou bem sua passagem pelo grupo
especial. Qualquer pessoa que goste de carnaval lembra com carinho do samba e de
seu destino que foi cumprido no desfile principal.
Com todo o povo a aplaudir.
A União de Jacarepaguá nasceu da
fusão de duas famosas escolas de samba que existiam na localidade. A Corações
Unidos de Jacarepaguá comandada por Aloysio Domingos da Cruz e a Vai se Quiser
presidida por Júlio Pinto. Os grandes incentivadores dessa fusão foram Joaquim
Casemiro da Silva (o famoso Calça Larga do Salgueiro), Hermes Rodrigues,
Ministrinho, Lourival Cassado, todos da Mangueira e Expedito Silva da Portela.
Recebeu o presidente Juscelino
Kubitschek de Oliveira em sua quadra sendo a primeira escola de samba a receber
um Chefe de Estado e se manteve entre 1957 e 1965 entre as principais escolas
de samba do Rio de Janeiro. Em 1966 caiu e nunca mais retornou.
Desde então oscilou entre os
grupos de acesso permanecendo o maior tempo nos grupos A e B. A partir desse
século outra característica foi acolhida pela agremiação que foi a de belos
sambas. A União de Jacarepaguá sem dúvidas é uma das que tem os melhores
acervos do século XXI.
União de Jacarepaguá fundada em 15
de novembro de 1956 e tem em suas cores o verde e branco.
União de Jacarepaguá de “A magia
da dança” 2001, “Asas: Sonhos de muitos, privilégio de poucos, tecnologia de
todos” 2002, “O de cupim é do capim” 2003, “A toda hora rola uma história, com
samba e chorinho de Paulinho da Viola” 2009.
União de Jacarepaguá que conto
agora seu carnaval que mais me marcou.
RIO DE JANEIRO, O RIO QUE O MUNDO INTEIRO AMA 2004
O grupo de acesso começou um viés
de crescimento no novo século. Na verdade essa tendência começou em 1999 com o
grande desfile da Unidos da Tijuca e “O dono da Terra”. Em 2001 belos enredos e
sambas prosseguiram e 2002 teve a volta do desfile para a televisão com a CNT e
o “carnaval do povão”. O grupo se profissionalizou, organizou, com o
enxugamento do especial recebeu grandes escolas e aumentou seu público.
A União de Jacarepaguá retornou ao
grupo de acesso A justamente nesse período. Em 2002 reestreou no grupo levando
um belo samba para avenida sobre o sonho de voar. Ganhou o prêmio SambaNet de
melhor samba do acesso. Em 2003 prosseguiu com seus belos sambas ao falar de
boi. Os desfiles ainda não acompanhavam o nível dos sambas, mas a escola já
sobressaía graças a estes.
Os sambas de 2002 e 2003 acabaram
sendo na verdade uma preparação para aquele momento que seria não só o auge da
agremiação como um dos grandes momentos do grupo A no século.
Ele veio em 2004.
A União de Jacarepaguá no ano
falou sobre o Rio de Janeiro. Tema batido, desde que o samba é samba alguma
escola fala sobre o Rio de Janeiro, mas foi diferente, tinha algo novo ali.
Um samba grande, fora do padrão
normal de um samba-enredo, mas envolvente, emocionante que você não consegue
parar de ouvir. Ele vai numa crescente de letra e melodia mostrando na primeira
pessoa a nossa cidade, seus encantos, poesia e caso de amor com seu povo transformados
em versos inspirados de quem ama o lugar em que vive.
O samba vai se aproximando do
clímax na sequência de versos que começam com “eu sou” e chega ao auge em um
dos versos mais sensacionais já feitos em homenagem ao Rio de Janeiro “O Rio é
paraíso tropical / o resto é notícia de jornal” uma clara crítica a forma que a
cidade é tratada.
Bonito, marcante, poesia em forma
de samba-enredo. O maior samba da história da União de Jacarepaguá, um dos
cinco melhores do século XXI, vencedor de todos os prêmios do ano que levou a
agremiação ao quarto lugar. Chegou próxima do grupo especial, conquistou um
lugar no olimpo dos grandes sambas de enredo.
E me fez admirar um compositor que
hoje falo com orgulho que é meu parceiro de samba. O poeta Alexandre Valle.
Seu charme encantou a passarela.
Bem..Aí está a segunda parte com
cinco escolas que marcaram com seus carnavais. Semana que vem fecho a trilogia
com mais cinco e passamos para uma nova etapa.
Abaixo o belo desfile da Inocentes em 2008.
GALERIA DO SAMBA www.galeriadosamba.com.br
ESCOLAS DE SAMBA EM CINCO CARNAVAIS:
http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/04/mangueira-em-cinco-carnavais.html
IMPÉRIO SERRANO
http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/04/imperio-serrano-em-cinco-carnavais.html
SALGUEIRO
MOCIDADE
BEIJA-FLOR
IMPERATRIZ
VILA ISABEL
UNIDOS DA TIJUCA
UNIDOS DO VIRADOURO
ESTÁCIO DE SÁ
UNIÃO DA ILHA
GRANDE RIO
SÃO CLEMENTE
CAPRICHOSOS DE PILARES
CINCO ESCOLAS
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