CINCO ESCOLAS EM CINCO CARNAVAIS - PARTE III


 
 Hoje se encerra a segunda etapa dessa homenagem às escolas de samba na série “cinco carnavais” homenageando mais cinco escolas com um pouco de sua história e seus carnavais mais marcantes. 

Espero que gostem. Vamos aos textos com fotos e vídeos. 
 

UNIDOS DE LUCAS
 

A Unidos de Lucas nasceu da fusão de duas escolas tradicionais do subúrbio da Leopoldina, ambas localizadas no bairro de Lucas e que se destacavam no carnaval carioca. Aprendizes de Lucas e Unidos da Capela. 

A Aprendizes de Lucas jamais foi campeã apesar de ter feito grandes desfiles. Já a Unidos da Capela foi campeã em 1950 e 1960. 

Em primeiro de maio de 1966 as duas escolas se uniram fazendo surgir a Unidos de Lucas, também conhecida como “Galo da Leopoldina”. Seus fundadores são Businfa, Jangada, Morenito, Tolito entre outros. 

Oscilou entre o grupo principal e de acesso até 1976 quando desceu e não voltou mais à elite. Chegou a desfilar no último grupo em 2011, mas vem se recuperando e hoje já faz parte do grupo de acesso B. 

Suas cores são o vermelho e o ouro. 

Unidos de Lucas de “Festas tradicionais do Rio de Janeiro” 1967, “Tributo às raízes. Pixinguinha, Donga e João da Baiana” 1971, “Mar baiano em noite de gala” 1976, “Lua viajante” 1982, “O magnífico Niemeyer” 1990, “Um amor de carnaval” 2011, “Hoje tem alegria? Tem sim senhor. Um mundo circense, uma história alegre na Intendente” 2012. 

Unidos de Lucas que conto agora seu carnaval que me moldou como sambista e compositor. 

SUBLIME PERGAMINHO 1968
 

Samba de Zeca Melodia, Nilton Russo e Carlinhos Madrugada. 

Os anos 80 são o período de sambas que me marcaram e me fizeram ser compositor. Período dos sambas que mais me identifico e puxei de sua fonte para ser compositor de samba-enredo, mas é inegável que os anos 60 são os anos gloriosos dos sambas. Dos grandes e históricos sambas-enredo já feitos. 

São sambas que exaltam a história do Brasil. Conhecidos como “sambas lençol” por seu tamanho grande para os padrões atuais esses sambas contavam com poesia e facilidade para assimilação trechos importantes de nossa história. Simples, originais, são verdadeiras aulas de história onde você lê o que é cantado e entende perfeitamente a mensagem. 

Sublime pergaminho é um dos grandes exemplos desses. 

Samba lindo, poético, lírico, um dos cinco maiores da história do carnaval e simples, simples como todas as coisas belas são. O samba, com essa simplicidade, passa um tema que já foi muito cantado pelo carnaval carioca, mas com um jeito especial. Didático e criativo Sublime mostra desde a chegada dos escravos ao país, suas festas, lutas e as mudanças progressivas feitas em nossas leis até chegar a libertação. 

Muito regravado, muito exaltado, sem dúvidas nenhuma Sublime Pergaminho é o maior orgulho da história da Unidos de Lucas. Quem ama samba-enredo obrigatoriamente tem que conhecer esse samba e versos como “E de repente uma lei surgiu / Que os filhos dos escravos / Não seriam mais escravos no Brasil”. 

Com Sublime Pergaminho Lucas chegou ao 5° lugar no grupo principal igualando o melhor resultado de sua história no ano anterior. Esses resultados nunca foram superados.   

Meu Deus, meu Deus. Está extinta a escravidão.

 
EM CIMA DA HORA


Dois dos fundadores, Leleco e Baianinho, antes de morarem em Cavalcanti foram crianças no Catumbi onde existia um bloco chamado “Em Cima da Hora”. Quando rapazes fundaram o “Bloco do Leleco”, mudaram seu nome depois em homenagem a agremiação já extinta e em 1960 deixou de ser bloco para virar escola de samba. 

Outra versão é que a reunião para a escolha do nome da agremiação demorava, varava a madrugada quando um dos participantes exclamou: “Tenho que me retirar, está em cima da hora”. Eram três horas da manhã e por isso o relógio marcando 3 horas teria parado no símbolo da agremiação junto com uma lira ao fundo. 

Desfilou sete vezes entre as grandes do carnaval carioca e é detentora de cinco prêmios Estandarte de Ouro. Fundada em 15 de novembro de 1959 suas cores são azul pavão e branco. 

Em Cima da Hora de “Festa dos Deuses Afro-Brasileiros” 1974, “Enredo sem enredo 1983, “33, destino D.Pedro II” 1984, “Elymar, um sonho que virou canção” 1991, “De frequência em freqüência na cadência do samba” 1994, “Sergio Cabral, a cara do Rio” 1997, “50 anos de história, assim como minha senhora, Em Cima da Hora” 2010, “Além do espelho, João Nogueira de todos os sambas” 2013. 

Em Cima da Hora que conto agora seu carnaval que me moldou como sambista e compositor.  

OS SERTÕES 1976 

 Samba de Edeor de Paula. 

Samba-enredo tem que ser alegre né? As pessoas têm que sambar, dançar felizes brincando pela avenida e existir uma imensa troca de felicidade entre público e componentes, certo? 

Errado. 

Tem samba que não é assim, é triste e é lindo.

Eu sempre disse que prefiro sim, sambas alegres e que carnaval pra mim é brincar, ver pessoas felizes, mas respeito os sambas tristes, em menor e sem dúvidas “Os Sertões” é o mais importante desse gênero e para muitos é considerado o maior samba da história do carnaval.  

O samba de 1976 é baseado no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, obra que relata a “Revolta de Canudos”. A revolta aconteceu no fim do século XIX quando no sertão da Bahia um homem chamado Antonio Conselheiro junto com seus seguidores fundou a cidade de Canudos e entre várias de suas pregações dizia que o sertão viraria mar. 

O governo da época achou o movimento subversivo e entrou em confronto com Antonio e seu grupo até dizimar Canudos. 

Como podem ver é uma história triste e ela é contada com todo peso na letra. Letra linda, simples que consegue contar a história e nos transportar a Canudos. A melodia consegue acompanhar sua beleza. Basicamente em tom menor passa toda angústia. Como eu já disse, é um samba triste, mas que emociona.   

Tem alguns dos versos mais bonitos da história do carnaval e um dos começos mais famosos com “Marcados pela própria natureza”. 

A escola sofreu muito no desfile. Uma chuva torrencial tomou conta do Rio de Janeiro estragando sua passagem e a escola mesmo com um dos maiores sambas da história do carnaval foi rebaixada. Mas o samba se tornou imortal.     

Foi no século passado, uma noite inesquecível.

 
UNIDOS DA PONTE


As famílias Macário e Oliveira fundaram a escola de samba Unidos da Ponte que desfilou somente no município de São João do Meriti nos anos de 1954, 1955 e 1956 sendo tricampeã.  

Em 1957 por intermédio de Carmelita Brasil, a primeira presidente de escola de samba da história, registrou seus estatutos filiando-se à Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e a partir de 1959 a agremiação passou a desfilar na capital.

Unidos da Ponte que oscilou entre o grupo principal e de acesso entre os anos 80 e 90. Foi para o grupo B no começo do novo século e desde 2007 se encontra nos desfiles da Intendente Magalhães.  

Sua fundação foi em 3 de novembro de 1952 e suas cores azul e branco. Unidos da Ponte que tenho orgulho de fazer parte de sua galeria de campeões de samba-enredo sendo campeão em 2007.  

Unidos da Ponte de “O casamento de dona Baratinha” 1982, “Oferendas” 1984, “G.R.E.S. Saudade” 1987, “O bem amado Paulo Gracindo” 1988, “Robauto, uma ova” 1990, “A face do disfarce” 1993, “Marrom da cor do samba” 1994, “Paraná, esse estado leva a sério o meu Brasil” 1995, “De Minas para o Brasil, o mártir da Nova República” 2002. 

Unidos da Ponte que conto agora seu carnaval que me moldou como sambista e compositor. 

E ELES VERÃO A DEUS 1983
 
 
Samba de Mazinho, Ambrósio e Renatinho.

Como eu disse acima fui compositor da Unidos da Ponte. Concorri três anos e ganhei em 2007. Nesses três anos, indo todos os finais de semana entre agosto e outubro não teve uma vez que não ouvisse na quadra “E eles verão a Deus”.

E com toda razão. É o maior samba da história da Ponte. O seu cartão de visitas. Estandarte de Ouro do ano de 1983 disputando contra as grandes escolas o samba na verdade vem de um enredo abstrato, portanto mais difícil de criar. Eles verão a Deus. Ok, mas eles quem?

Eu acho que é um samba que pode dar muitas interpretações. Na minha é o processo da criação tanto de Deus quanto dos seres que Ele criou e usaram a criatividade dadas por seu criador para desenvolver o mundo. É criada uma simbiose entre criador e criatura. Um elo onde a imaginação e a criatividade servem para aproximação.

Sonhos viraram realidade através da obra do criador. Viram a Deus através de cada sonho realizado, a cada sopro da divina criação viajando na irreal fantasia.

Samba que guarda característica dos sambas da virada dos anos 70 para os 80. Sambas simples, melodiosos e nem sempre entram de cara no enredo tendo uma introdução. O da Ponte começa com “Hoje a natureza canta / A musa se encanta / E vem pra festejar”.

Samba interpretado na avenida por Grilo, cantor símbolo da agremiação e assinado entre eles por Mazinho, compositor considerado o maior da escola e na ativa pelo menos até o período que fiz parte da Ponte. O samba foi reeditado na primeira década do século, mas não foi o suficiente para tirar a escola do grupo B. Infelizmente os problemas da Ponte eram maiores que um grande samba-enredo.

Mas nada que manchasse esse imortal samba-enredo que fez todos verem a Deus.

Oh divina inspiração.

 
UNIDOS DO CABUÇU


Existia um clube de futebol chamado Nacional Futebol Clube com sede na rua Dona Francisca e as cores azul e branco. No carnaval esse clube se transformava em bloco carnavalesco e daí partiu a ideia de se transformar o bloco em escola.

Waldomiro Rocha, o Babau, teve a ideia de juntar blocos da região e dessa forma da Unidos do Cabuçu foi fundada em 28 de dezembro de 1945. A escola já desfilou em 1946 e participou de seu primeiro desfile oficial em 1947 na Praça XI.

De 1950 a 1960 desfilou na Candelária e em 1961 foi campeã do segundo grupo. Em 1984 a Unidos do Cabuçu se tornou a primeira campeã da Passarela do Samba chegando ao grupo especial e se manteve nele até 1990.

Suas cores são as mesmas do antigo clube e da madrinha Portela. Azule branco. Hoje a escola se encontra no grupo B das escolas de samba.

Unidos do Cabuçu de “Beth Carvalho, a enamorada do samba” 1984, “Roberto Carlos na cidade da fantasia” 1987, “Milton Nascimento, sou do mundo, sou Minas Gerais” 1989, “Aconteceu, virou Manchete” 1991, “Xuxa, a realidade vira sonho no Xou da Cabuçu” 1992, “O mestre-sala dos mares” 2013.

Unidos do Cabuçu que conto agora seu carnaval que me moldou como sambista e compositor.
 
O MUNDO MÁGICO DOS TRAPALHÕES 1988  
 


Samba de Adilson Gavião, Adalto Magalha e Sérgio Magnata. 

O carnaval se aproximava do fim dos anos 80 e vivia aquela fase que digo que é a áurea do que vi dos desfiles que vai de 1987 até 1993. O ano de 1988 como eu também já disse apresentou várias escolas enaltecendo os 100 anos da libertação dos escravos, mas nem todas seguiram esse caminho.

A Cabuçu da presidente Terezinha Monte descobrira um bom filão que era a da homenagem a personalidades. Foi a primeira campeã da Passarela do Samba homenageando a sambista Beth Carvalho e conseguira um ótimo sétimo lugar em 1987 falando de Roberto Carlos.

Depois de 1988 ainda homenageou personalidades como Milton Nascimento e Xuxa, mas naquele ano resolveu tocar profundo o coração das crianças de todas as idades.

A Cabuçu levou para a avenida aquele que considero o maior quarteto da história. Maior que os Beatles, maior que o ataque do Santos dos anos 60. Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, os maiores ídolos infantis do Brasil dos últimos 50 anos. Os Trapalhões.

O verdadeiro quarteto fantástico vivia seu auge. Líder absoluto de audiência no horário das 19 horas a quase dez anos na Rede Globo produziam discos com vendagens que passavam da casa de um milhão e dois filmes por ano. Até hoje o grupo tem vários filmes entre os mais vistos da história.    

Confesso que não lembro muito do samba, mas lembro bem da homenagem e do furor que provocou. Lembro dos quatro felizes desfilando na humilde escola da região do Lins e mesmo não lembrando tanto do samba lembro de um refrão que marcou à todos daquela geração. “Didi, Dedé, Mussum e Zacarias / Seu mundo é encanto e magia”.

O desfile não apresentou na apuração o mesmo sucesso do de 1987, mas por alguns instantes a Unidos de Cabuçu virou a escola preferida da criançada.

Com a alegria dos Trapalhões.

 
UNIDOS DE BANGU


A Unidos de Bangu foi fundada em 15 de novembro de 1937. É madrinha da Acadêmicos de Santa Cruz e já participou da elite do carnaval carioca. Foi entre 1958 e 1960 e em 1963.

A agremiação, a exemplo do Cassino Bangu e do Bangu Atlético Clube, nasceu de um grupo de operários da hoje extinta Fábrica Bangu. As primeiras cores da escola foram o azul e o branco e permaneceu assim até 1966 quando em homenagem ao título carioca de futebol do Bangu mudou as cores para vermelho e branco. Foi a primeira escola a ter uma quadra coberta no Brasil.

Nos anos 80 esteve perto de retornar ao grupo especial desfilando no principal grupo do acesso entre 1980 e 1985. Mas não só não conseguiu como entrou em decadência até enrolar a bandeira em 1998.

Mas graças a um grupo de jovens amantes do samba e do bairro comandados por Rafael Marçal a escola voltou ano passado e já retornou campeã vencendo o desfile do grupo C de 2013.

Unidos de Bangu de “Homenagem à aviação brasileira” 1957, “Fragata de Dom Afonso” 1962, “O guarani de José de Alencar” 1971, “Prodígio de café na economia brasileira” 1973, “Essa dupla é uma parada” 1978, “Brasil batucai vossos pandeiros” 1979.

Unidos de Bangu que conto agora seu carnaval que me moldou como sambista e compositor. 

NAS LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA, UM CARNAVAL DE ESPERANÇA 2013 

 


Samba de Thiago Meiners, Igor Vianna, Evaldo Jr, Arlindo Neto e Carlinhos Piloto.

A Unidos de Bangu, uma das escolas de samba mais tradicionais de nossa cidade foi minguando. Minguando como muitas que surgiram ao longo dos anos e não conseguiram acompanhar as mudanças que o carnaval provocou. O tal progresso que faz surgir super escolas de samba. Escolas profissionais, milionárias, que ganham todos os tipos de benesses de patrocinadores, mídia e governos e dessa forma as escolas menores, de bairro acabam sendo esquecidas.

Isso aconteceu com escolas tradicionais, com escolas de proveta, com escolas meteóricas que surgiram e foram embora com a mesma rapidez e aconteceu com a Unidos de Bangu que enrolou sua bandeira em 1998.

Deixou um dos bairros mais importantes do Rio de Janeiro órfão. Deixou seus amantes, sambistas, torcedores apenas com a saudade e a lembrança de tempos que não voltariam mais. Tornaram-se “sem pátria”, “sem bandeira” e não existe nada pior para o coração de um sambista.

Mas nada nessa vida é definitivo. Ano passado um grupo de jovens comandados por um jovem velho conhecido do mundo do samba, o coordenador do prêmio S@mbaNet Rafael Marçal decidiu enlouquecer. Fazer a grande loucura de fundar uma escola, loucura maior, trazer de volta uma escola tradicional. 

Se fazer uma escola é difícil imagine recriar uma. Mas não se abateram, correram atrás, buscaram mídia, apoio da comunidade local, da órfã Bangu e conseguiram um feito grandioso. Trouxeram de volta a Unidos de Bangu.

Transcenderam o sambista normal. Deram verdadeiramente sua contribuição ao samba. Poderão contar aos netos que resgataram tradição, momentos de glória, amor que se perdera na saudade. Ajudaram a fazer do mundo do carnaval mais humano.

Encomendaram um bom samba devido o pouco tempo que tinham, conseguiram uma matéria no RJTV contando da volta da escola, sua história e foram para o desfile.

Sem grana. Mas organizados e com amor. Com tudo isso somado a raça e vontade de vencer surpreenderam e conquistaram o vice campeonato do grupo C colocando a agremiação no B a um passo de voltar a Marquês de Sapucaí. A escola que estava morta hoje vive intensamente, pulsa forte e quer mais, muito mais.

A força do sonho desperta e Bangu despertou.


Bem aí estão os carnavais principais de cinco grandes escolas que sofreram, mas deram a volta por cima.

Escolas tão importantes, tão tradicionais e com acervo tão fantástico que abro exceção e posto mais vídeos em homenagem.

33 destino D.Pedro II – Em Cima da Hora


Mar baiano em noite de Gala – Unidos de Lucas


Oferendas – Unidos da Ponte.



Semana que vem começa uma terceira etapa. A etapa do coração. Falarei do Acadêmicos do Dendê.


FONTE:

GALERIA DO SAMBA
 www.galeriadosamba.com.br

ESCOLAS DE SAMBA EM CINCO CARNAVAIS:



SALGUEIRO

  
MOCIDADE
 


 
 
BEIJA-FLOR
 



  
IMPERATRIZ
 

  
VILA ISABEL
 

  
UNIDOS DA TIJUCA
 

  
UNIDOS DO VIRADOURO
ESTÁCIO DE SÁ
UNIÃO DA ILHA

GRANDE RIO

SÃO CLEMENTE 

 
CAPRICHOSOS DE PILARES
 
 
 
CINCO ESCOLAS
 
 
 
CINCO ESCOLAS - PARTE II
 
 
 
 

 

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