ACADÊMICOS DO DENDÊ EM CINCO CARNAVAIS
Hoje começo mais uma etapa na
série “Cinco carnavais”. Depois de escrever sobre escolas do grupo especial e
do acesso que tiveram participação forte na elite escrevi sobre escolas
tradicionais, mas que tiveram pouca participação ou não chegaram ao especial.
Agora na terceira etapa vou falar
de amor, de coração, respeito e agradecimento. Vou escrever sobre duas escolas
que não são muitas as pessoas que conhecem, mas as que já viram seus desfiles e
conhecem seus sambas respeitam e tem carinho. Juntando as duas agremiações
ganhei doze sambas, seis em cada. Devo muito as duas e mesmo com todas as
homenagens possíveis nunca conseguirei retribuir tudo que me foi dado.
Escrevo hoje e semana que vem
sobre duas escolas da Ilha do Governador mostrando que apesar de sua
grandiosidade o bairro não vive apenas da União da Ilha do Governador. Falarei
de Acadêmicos do Dendê e Boi da Ilha. Começando pelo Dendê.
O Acadêmicos do Dendê se originou
do bloco Unidos do Dendê que surgiu em 1965 depois da extinção do bloco Unidos
da Cova da Onça. O bloco se tornou o grande campeão das disputas de banho de
mar a fantasia e campeonatos internos da Ilha do Governador.
Um breve intervalo nas atividades
do bloco fez surgir dois novos. Canarinhos e Falange. Em 1990 a união desses
dois blocos daria um novo impulso ao carnaval da comunidade fazendo ressurgir o
bloco de embalo do Unidos do Dendê.
No ano seguinte mudou para bloco
carnavalesco e em 1992 transformou-se em Acadêmicos do Dendê.
Acadêmicos do Dendê de José
Carlos, Jorge, Irani, Marta Pereira, Val, Maria e João. De Amarildo de Melo,
Edson Siqueira, Antonio Carlos da Costa, Inalda Pimentel, Carlos Albuquerque,
Severo Luzardo e Carlos Carvalho. De Adrianna Menezes, Carlinhos Fuzil, Quinho,
Carlinhos de Pilares, Marcos Luiz, Neguinho da Ilha, Junior Reis, Duda e
Ednaldo de Lima. Dos Mestres Odilon, Alan, Rabicó, Luis Fernando, Sagüi,
Mauricio e Marcelo. De Maurição, Robertinho Devagar, Pedro Bengala, Luisinho
Carne Seca, Mingau, Tonho, Léo da Ilha e Valdo Rosa. De Gugu das Candongas,
Pardal, Silvana da Ilha, Paulinho Serrão, Gilberto Lua, Maneco, Decicka Jonnes
e Marquinhus do Banjo. De Barbieri, Walkir, Nem, Ricardinho Delezcluze, Pedro
Migão, Ariel, André Cabeça, Bruno Revelação e Lobo Junior. De Serjão do Cavaco,
Baiano, Monteiro, André e Cadinho.
Acadêmicos do Dendê de Antonio da
Costa, o Toninho e Ubiraci de Oliveira, o Macalé.
Acadêmicos do Dendê de “Rio que te
quero verde” 1992, “Tem cupido no samba” 1993, “Ser chic na avenida chic” 1994,
“Essa água é fogo” 1995,
“Kid Morengueira, o malandro no Dendê” 2001, “Com trabalho e cultura os afro
descendentes constroem o Brasil” 2006, “Lendas à Brasileira, com sabor de
manga e cheiro de jasmim” 2008, “Saideira, uma paixão nacional” 2011.
Acadêmicos do Dendê afilhado da
Vila Isabel, tem as cores azul e branca, foi fundado em 25 de junho de 1992 e
tem três títulos no carnaval carioca.
O meu Acadêmicos do Dendê.
Um adendo importante. Infelizmente
grandes momentos do Acadêmicos do Dendê não estão no youtube ou não estão
disponíveis para anexo à postagem. Procurei muito alguns carnavais e não
encontrei. Então os cinco carnavais que postarei não são necessariamente os
cinco que mais curto, mas os cinco que mais gosto dentro dos disponíveis.
Gostaria muito de colocar os carnavais de 2006 e 2008. Mas se
existem não estão disponíveis para anexo.
Bem. Isto posto vamos aos cinco
carnavais do Acadêmicos do Dendê que me moldaram como sambista e
compositor.
PRÉDIO ROUBADO, PONHA-SE NA RUA..ORA POIS POIS 1996
Samba de Jéferson, Nico Bastos, Pedro
Lira, Bengala, Ronald, Neguinho da Ilha e Luisinho Cerne Seca.
O Acadêmicos do Dendê surgiu em
1992 e teve um começo meteórico. De 1993 até 1995 foram três desfiles
conseguindo acesso sendo campeão em 1994 e 1995. Venceu o grupo B em 1995
enfrentando entre outros o co-irmão de bairro Boi da Ilha (fato que se repetirá
em 2014) e mesmo assim permaneceu no grupo devido o fim da LIESGA e o
desmembramento do grupo A.
A escola se abateu? Nem um pouco.
O Dendê vivia um grande momento e sabia que estava próximo do objetivo de
chegar ao grupo A e depois quem sabe o especial. Contava com o carnavalesco
Amarildo de Melo, o responsável pelos desfiles vencedores dos anos anteriores e
junto com Neguinho da Ilha Quinho, cantor do grupo especial do Rio de Janeiro e
cria do bairro.
Escolheu para 1996 um enredo
histórico. A chegada da família real ao Brasil. Contando desde a saída
atabalhoada de D.João, sua família e a corte para o Brasil fugindo de Napoleão
Bonaparte até os benefícios que a chegada trouxe para nossa cultura.
Por fim ironizava e contava o
“ponha-se na rua”. A prática surgiu com a chegada da corte e o descobrimento de
não ter onde enfiar esse povo que veio da Europa. Com isso desalojaram várias
famílias para receber essas pessoas pintando as iniciais PR (Príncipe Regente)
em suas portas. Era o sinal que deviam ceder suas residências.
E o carioca, galhofeiro como
sempre, transformou o PR de Príncipe Regente em “Ponha-se na rua”. A prática
não foi de toda abandonada e atualmente com as obras das Olimpíadas e Copa
do mundo estamos vendo vários “PR”.
O samba é muito bom. Conta
didaticamente em sua letra como foi a chegada e no refrão mostra toda a
irreverência marcante do bairro. O Dendê passou por cima do desmembramento e
novamente ascendeu do grupo B para o A, dessa vez com um vice-campeonato. Era o
quarto acesso em quatro anos.
Com meu Dendê pisando forte na
avenida.
DO PASTO FANTASIA, DO GADO ALEGORIA 1997
Samba de Mingau, Léo da Ilha,
Waldir, Ednaldo de Lima e Tonho.
Mostrando sua força e ótima
fase o Dendê subiu novamente do B e alcançou o grupo A pela primeira vez em 1997. Todos
os anos sendo campeã ou vice, sempre conquistando, subindo com força,
profissionalismo e dinheiro o Dendê chegava ao grupo imediatamente abaixo do
especial.
Sempre contou com grandes artistas
do carnaval em seus quadros. Compositores da União da Ilha e do Império Serrano
concorriam na escola. Quinho, cria da Ilha e cantor do Salgueiro, que até então acumulava a
vermelho e branco com o Dendê saiu e pra 1997 a agremiação contou com o lendário Carlinhos de
Pilares para puxar o samba na avenida. A missão sempre foi o grupo especial e
esse parecia o destino.
Para a estreia no A fez um enredo
sobre bois. O enredo já fora tema da Estácio de Sá em 1988 e foi utilizado pelo
Boi da Ilha em 2010, mas mesmo assim sempre dá samba e o samba do Dendê é
delicioso.
Cheio de swing, animado, com
passagens fortes como o marcante refrão do meio “Bumba-meu-boi, meu Boi-bumbá /
Pegue sua fantasia / Vem com a gente festejar” o samba tem como curiosidade ter
como um dos compositores Mingau que se consagrou como compositor da Grande Rio
nesse século ganhando vários sambas na escola.
Infelizmente a agremiação teve
problemas internos, o dinheiro secou e a escola foi rebaixada para o grupo B
iniciando assim uma época difícil que durou até 2002. Mas teve seu lado bom que
o Dendê aprendeu a caminhar com suas próprias pernas e o samba mesmo com o
rebaixamento é considerado um dos melhores da escola sempre sendo cantado em
seus ensaios.
É hora de aplaudir
arquibancada.
LICENÇA VAMOS PEDIR, PRA NOSSA FOLIA BRINCAR, QUEM QUISER ENTRE NA
DANÇA, SE ASSIM LHE AGRADAR 2007
Samba de Gilberto Lua, Maneco,
Bruno Revelação, Pedro Migão, Cadinho e Aloisio Villar.
É..Esse samba é meu. Pela primeira
vez (sem ser menção especial como na União da Ilha) entra um samba meu na lista
dos cinco e esse estaria mesmo se eu conseguisse os vídeos dos anos que não
entraram. Abaixo explico porque.
Como eu disse acima com o
rebaixamento de 1997, devido a problemas internos, o Dendê entrou em uma fase
muito difícil. A escola chegou a pedir licença não desfilando em 1999 e em 2000
foi rebaixada para o grupo E. O último grupo.
Toda a subida meteórica que a
agremiação passou acabou levando a uma queda do mesmo nível.
Mas quando a escola parecia perdida
e fadada a enrolar a bandeira reagiu. Subiu em 2002 para o D e com belo
carnaval afro foi vice-campeã do grupo D em 2006 voltando ao grupo C.
Um novo grupo, uma nova vida.
Contratou o excelente carnavalesco
Severo Luzardo que desenvolveu um enredo sobre danças típicas do país.
Eu já era bicampeão da escola
(2003/2004) junto com Cadinho, Gilberto Lua e Maneco (os dois últimos também
campeões em 2005) e puxamos ao nosso grupo Pedro Migão e Bruno Revelação.
Fizemos um samba simples, quase inocente, mas forte, com refrão aguerrido e
próprio para o grupo e a Intendente Magalhães.
O desfile do Dendê foi simples
como o samba, mas lindo, com raça e vibração onde os componentes se emocionaram
e ao fim até membros do carro de som choraram. Todos colocaram o Dendê como
favorito ao acesso ao grupo B e assim voltar a Marquês de Sapucaí.
Mas por motivos que só os
bastidores do carnaval conseguem explicar o Dendê não venceu e foi novamente
vice. Só que, ao contrário de 2006, só a campeã subia e a escola não subiu ficando
essa frustração.
Mas era a comprovação que sua
estrela voltara a brilhar.
Samba de Barbieri, Ito Melodia,
Marquinhus do Banjo e Timbó.
O resultado de 2008 foi negativo. Apesar
do bom desfile que a escola fez e que levou a todos com esperança para a
apuração a vitória não veio e isso trouxe mudanças.
Severo Luzardo deixou a escola
dedicando-se integralmente ao Arranco do Engenho de Dentro e Toninho virou
presidente da agremiação. Na época ocorreu também uma mudança na direção de
carnaval que começou a contar com integrantes da Rádio Manchete.
Capitaneados pelo radialista João
Estevam nada mais natural que essa associação entre a escola e a rádio desse
frutos e isso ocorreu com o enredo do Dendê vindo a ser o grupo Manchete.
Um enredo que passava pelas
revistas, televisão, rádio e tinha como título o slogan de carnaval do grupo
“Pode preparar o seu confete, que esse ano na avenida tem Manchete”. Nossa
parceria de 2008 se separou indo Bruno, eu, Gilberto e Cadinho para um lado e Barbieri
e Marquinhus para outro. Serjão para uma terceira parceria enquanto Migão e
Walkir não concorreram.
O samba de Barbieri era muito bom
e mesmo na final com nossa parceria colocando o ótimo e ascendente cantor Zé
Paulo Sierra nós não conseguimos reverter e a parceria dele foi a vencedora.
O acordo com a rádio acabou antes
do carnaval, mas a escola foi com muita garra pra avenida fazendo um bom
desfile. Só que em 2009 começou a ter um problema que lhe afetaria muito no futuro
como vamos ver. Falta do contingente mínimo de baianas.
Nisso perdeu pontos e acabou
apenas em décimo lugar. No fim não foi um ano bom, mas também serviu pro
crescimento da agremiação.
Minha receita da vitória tem
Dendê.
Samba de Bruno Revelação, Lobo Jr.
Neco, Carlinhos Fuzil, Birazão, Aloisio Villar, Cadinho, Pedro Migão, Kinho
PQD, Carlos Mistura, Fafa MauMau, Marcelo WG e Marcelo China.
O Dendê sofreu um novo
rebaixamento em 2010 quando foi obrigado a abrir o desfile do grupo C
desfilando quase ao mesmo tempo da União da Ilha que voltava ao grupo especial.
Evidente que com isso sofreu com a falta de contingente e além dos problemas
que abrir o desfile já traz normalmente perdeu pontos em obrigatoriedades.
Foi um acidente porque o Dendê já
era bem administrado, reformara sua quadra finalmente tendo teto e assim não
precisando cancelar ensaios em dia de chuva e vinha fazendo bons desfiles no C.
Logo em 2011 fez mais um bom desfile falando sobre cerveja e ficou em 3° quase voltando
ao C.
A grande jogada veio para o
carnaval 2012. Mais uma vez desfilaria no mesmo dia que a União da Ilha e
poderia sofrer de novo com o problema de contingente. Mas a escola resolveu
fazer da Ilha sua aliada, seu enredo.
Levou para a avenida a história da
União da Ilha. Dessa forma além de garantir uma parceria e conseguir material
com a irmã maior conseguiria desfilantes que sairiam do desfile da Sapucaí
diretamente para a Intendente desfilar na homenagem. Alguns ônibus também foram
enviados para a quadra da União da Ilha. Assim quem voltasse ao bairro e
quisesse desfilar no Dendê era só mudar de ônibus.
Desse jeito garantiu o contingente
e o material para um bom desfile.
E a disputa de samba pro carnaval
2012 foi especial. No ano anterior pela primeira vez nos últimos dez anos
perdemos em torcida para outra parceria. Não só perdemos como fomos engolidos e
acabamos perdendo na final mesmo em uma parceria que contava com nomes como
Carlinhos Fuzil, Gugu das Candongas e Marquinhus do Banjo.
Eu e Cadinho não estávamos com
muita disposição para concorrer no Dendê, mas Bruno Revelação insistia até que
foi à minha casa mostrar uma cabeça de samba que fizera com Lobo Júnior. Aquele
começo de samba era maravilhoso e imediatamente liguei pro Cadinho dizendo que
não poderíamos ficar de fora.
Alguns minutos depois estávamos os
três em uma pizzaria e mais alguns minutos em um pagode comandado por Lobo. Lá
conheci a ele e Neco com a parceria sendo montada.
Lobo e Neco rejuvenesceram a
parceria. Fizeram com que nossa torcida voltasse a crescer e ficasse de igual
para igual com a de Carlos Mistura. Foram semanas maravilhosas com um querendo
vencer o outro, botando torcida, fogos, alegorias e sambas bem cantados. Uma
grande disputa que tomou conta do bairro.
No final acabou dando o
inevitável. Enaltecendo as belas disputas feitas pelas duas parcerias e
conseguindo fazer o encaixe acabaram juntando os sambas. Na fusão ficamos com a
primeira e segunda parte do samba e eles com os refrãos (sim, acredite, o plural de refrão é refrãos).
O Dendê fez um desfile
maravilhoso, de campeão e foi na pista. Mas perdeu pontos em obrigatoriedades
como mínimo de baianas e de componentes na bateria. Colocou cinco ritmistas a
menos por um erro de cálculo e se tivesse colocado o número certo a escola era
campeã mesmo com as baianas a menos tal foi sua supremacia.
Mas a perda nos ritmistas foi
fundamental para tirar o título do Dendê e jogá-lo para o quarto lugar.
Frustrante demais porque o desfile na verdade foi campeão e o samba tirou as
quatro notas dez.
A bateria mesmo abaixo do mínimo
de componentes também fez quarenta pontos.
Louco pela Ilha fiquei.
Bem aí estão os cinco carnavais do
Acadêmicos do Dendê. Escola que guarda muito de minha história como sambista e
sei que ela está apenas começando. Agradecimento especial a Toninho e ao Macalé
pelo carinho e respeito que sempre me trataram. Sem dúvidas o Dendê é uma de
minhas paixões.
Semana que vem esse cinco
carnavais será um caso muito sério. Haja emoção. Semana que vem tem Boi da
Ilha.
FONTE:
GALERIA DO SAMBA www.galeriadosamba.com.br
ESCOLAS DE SAMBA EM CINCO CARNAVAIS:
IMPÉRIO SERRANO
http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/04/imperio-serrano-em-cinco-carnavais.html
SALGUEIRO
MOCIDADE
BEIJA-FLOR
IMPERATRIZ
VILA ISABEL
UNIDOS DA TIJUCA
UNIDOS DO VIRADOURO
ESTÁCIO DE SÁ
UNIÃO DA ILHA
GRANDE RIO
SÃO CLEMENTE
CAPRICHOSOS DE PILARES
CINCO ESCOLAS
CINCO ESCOLAS - PARTE II
CINCO ESCOLAS - PARTE III
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