A HORA DE PARAR
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 18/8/2013
Alguns
acontecimentos do fim e começo da semana me trouxeram até a coluna de hoje. Na
verdade é um assunto que observo todos os dias e acredito que muita gente
também, mas a ideia só veio agora.
Em um
mesmo fim de semana eu vi o jogador Túlio, campeão brasileiro em 1995 com o
Botafogo, reclamar de estar na reserva de um time pequeno do Espírito Santo e
jogar apenas oito minutos atrás de seu “milésimo gol”. No domingo vimos um dos
maiores ídolos do São Paulo, Rogério Ceni, perder mais um pênalti e falhar em
mais um gol sofrido.
Começando
a semana vi Renato Aragão no programa do Jô Soares. Envelhecido, ar de cansado.
Bem longe do líder de um dos grupos mais revolucionários do humor brasileiro.
Do membro principal de um quarteto que alegrou e educou crianças por pelo menos
quarenta anos nesse país. Seus textos que agradavam crianças e adultos, suas
palhaçadas que faziam todas as idades darem gargalhadas foram perdendo a graça.
Didi Mocó foi ficando sem graça até que perdeu programa na Globo.
E no
sábado vi um compositor, um dos meus ídolos e um dos maiores da história do
carnaval, cantar seu samba na Portela com papel na mão. Por respeito não direi
o nome, mas um samba sofrível que em alguns momentos lembrou o samba do
Paulinho Direito no Porto da Pedra.
Fiquei
triste vendo e notei algumas pessoas fazendo chacota. Cantou sozinho, com papel
na mão, muitos dizem que a personalidade forte dele que leva a esses momentos,
mas achei ruim.
O que é
isso tudo? Por quê acontece?
Quando é
a hora de parar?
Esse
grande compositor tem tempo que não emplaca um samba bom. O Túlio há pelo menos
dez anos vaga por times pequenos e essa meta de mil gols, que só ele tem essa
conta, é motivo de piada. Manchetes de jornais e internet contaram que a
diretoria do São Paulo torce pela aposentadoria de Rogério. Didi perdeu seus
parceiros e agora é manchete por atitudes em off, virou Dr Renato.
E temos
muitos outros casos parecidos ao longo dos anos.
O ser
humano foi criado para viver um certo tempo e graças aos avanços da medicina
hoje vivemos mais e a média de vida hoje passa dos 70 anos, sendo em alguns
países 80. Mas começamos a morrer no ato de nascer e com o tempo nosso
rendimento físico diminui, nossa capacidade mental também.
O cérebro
cansa depois de tanto uso, a criatividade falha, o corpo não obedece nosso
raciocínio. Coisas que fazíamos com facilidade se encontram difíceis e muitas
vezes nem percebemos essas mudanças.
Não
adianta. Esse efeito é democrático, acontece com todos e inclusive com os
gênios.
Aconteceu
com o Túlio, três vezes artilheiro de campeonato brasileiro, jogador de
seleção. Aconteceu com o Rogério Ceni, campeão de tudo pelo São Paulo, capitão
de alguns dos grandes momentos de sua história. Aconteceu com Renato Aragão,
dono de algumas das maiores bilheterias do cinema nacional. Aconteceu com esse
compositor que está na história do carnaval.
Acontece
com o veterano cantor de samba-enredo que perdeu emprego esse ano e teve que
voltar a sua escola de origem pra dividir microfone com um jovem. Com o eterno
galã da televisão que hoje faz papel de avô e até bisavô em novelas, com
esportistas acontece inúmeras vezes.
Eu vi
Mike Tyson, um dos maiores boxeadores da história perder lutas bisonhas no fim
de carreira. Vi Michael Schumacher, maior vencedor da F1 voltar e tomar vareio
do jovem companheiro de equipe. Ronaldo, gordo, não conseguindo jogar futebol.
O próprio Zico tomar infiltrações no joelho cansado pra poder entrar em campo.
Vejo o grande motociclista Valentino Rossi hoje só brigar por posições
intermediárias na Moto GP.
E grandes
artistas, muito amados, recordistas de shows e vendagem de discos que caíram no
ostracismo, fazem shows para pequenos públicos ou são obrigados a participar de
festas “ploc”.
Repito.
Qual é a hora de parar?
Não sei.
Acho que cada um tem que saber de si, seu momento. É difícil porque o ser
humano é vaidoso e alguém que brilha mais ainda. Difícil para uma pessoa desse
nível reconhecer que não é mais a mesma, que seu momento passou e é melhor se
afastar antes que comece a passar vergonha e assim apagar tudo que fez de
bonito.
Mas tem
que partir dela, ninguém pode decidir por ela.
Não é
fácil se afastar dos holofotes, dos aplausos, daquilo que esteve com ele por
toda a vida, reconhecer seus limites.
Nem todos
conseguem agir como Pelé que deixou a seleção no auge e foi ganhar dinheiro nos
Estados Unidos e como o nadador Michael Phelps que ganhou tudo que podia e aos
27 anos resolveu curtir a vida.
Ou
aqueles que infelizmente pararam no auge sem conhecer a decadência devido a
fatalidades como Ayrton Senna, James Dean e Marilyn Monroe.
Não
aceitam. Param e voltam como Schumacher e Michael Jordan que mesmo voltando em
alto nível era tão genial que viram decadência no retorno. Param e se acabam
como Garrincha que deu tanta alegria ao povo e lhe deixou triste desfilando
bêbado na Mangueira.
Ninguém
consegue se manter no auge criativo por tanto tempo. Chico, Caetano e Gil
chegaram aos 70 anos e não são sombras do que foram um dia. Roberto Carlos
ainda consegue emplacar um sucesso aqui ou ali, mas nada como já foi.
O negócio
é aproveitar o dom que recebemos, criatividade que temos e mostrar que não
viemos ao mundo à passeio enquanto é possível.
E saber
de fato quem somos.
Aplausos
a todos aqueles que nos alegraram e emocionaram um dia. Decadentes ou não. Mas
que fazem parte de nossas vidas através de tudo aquilo que nos ofereceram.
E isso
não tem hora de parar.
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