TIM MAIA E UNS CARAS LEGAIS


Semana passada, mais precisamente sexta-feira, fez quinze anos da morte do síndico, do grande Tim Maia. Passou rápido demais.

Eu era muito fã do Dom Maia. Não apenas por ser um dos melhores cantores que esse país já teve. Sou e sempre serei fã de Tim Maia pela personalidade que tinha.

Tim Maia era louco, mas o mundo é dos loucos. São raros os gênios certinhos. Gênios que nunca beberam, cheiraram, fizeram merda, se corroeram, sofreram, depressivos, loucos. Sim leitor. Se não fossem os loucos, os insatisfeitos nós provavelmente ainda moraríamos em cavernas e nos espantaríamos quando surgisse fogo.

Tim Maia ganhou muito dinheiro, torrou tudo. Fazia shows quando tinha vontade, cantava quando queria. Tomou processos, foi colocado na “geladeira” da Globo. Era enorme de gordo e suava feito um porco enquanto cantava. O anti-marketing, o anti-carinha bonita que a mídia tanto gosta. O anti tudo só tendo uma coisa a favor. Cantava.

E amigos, cantava pra cacete!!

O negão tinha uma voz poderosa, um swing sem igual. Reparem as letras das músicas que Tim cantava. Praticamente não tinha letras e as que tinham não diziam nada com nada. “Tome guaraná, suco de caju, goiabada para sobremesa”. O que é isso? Um programa de culinária? Não, uma música de Tim Maia. Uma música foda que não deixa ninguém parado.

Tim Maia era marginal. Não que fosse bandido, mas não era limpinho como Roberto Carlos, bonito como Chico Buarque, idealista como Caetano. Tim Maia era nitroglicerina pura cantando o casamento de Juliana, filha do Coronel Antonio Bento ou nos fazendo ficar com lágrimas nos olhos lembrando de um amor que não deu certo cantando “pede a ela pra voltar pra mim”.

Uma das maiores frustrações da minha vida é saber que nunca terei uma música minha cantada por Tim Maia. As pessoas devem se surpreender com isso achando que por eu ser sambista diria Aroldo Melodia. Mas queria mesmo era Tim Maia.

Assim como queria Wilson Simonal de Castro.


Outro marginalizado, outro posto na geladeira. Outro que me dá a impressão que só foi respeitado depois de morto quando uma dor de corno tomou conta de um país que matou um dos melhores cantores de sua história.

Simonal foi o primeiro showman do Brasil. O neguinho de origem pobre que enriqueceu, teve carrões, conquistou loiraças, comandava públicos de cem mil pessoas, competia com Roberto Carlos pra ser o artista mais popular do país e depois de fazer merda por ter uma marra do tamanho de seu talento foi acusado do maior crime existente na humanidade. Ser dedo duro.

Nada foi provado contra ele. O governo no começo da década passada liberou a informação que nada encontrou nos arquivos secretos da ditadura sobre Simonal. Nunca apareceu um ex-preso político ou parente dizendo que foi dedurado por ele. Mas foi condenado pela opinião pública, pela classe artística e morreu.  

Morreu duas vezes. A morte que todos nós temos e a pior morte para um artista. Virou paria, escória humana, até que foi esquecido.

E hoje alguns que lhe acusavam, alguns que pensavam lutar do lado certo viraram governo e são processados por corrupção.

Uma pena que se lembre mais de Simonal devido a esse problema.  O homem cantava muito, tinha swing na voz. Grande poder de comunicação. Mas nasceu negro e ser negro, marrento e rico no Brasil são coisas proibidas. Tanto que Pelé virou branco.


Negões..Grandes vozes que não estão mais aqui. Acabei me lembrando de mais um, mas esse era gringo.

Marvin Gaye


Marvin era viciado em drogas e morreu assassinado pelo pai um dia antes de seu aniversário. Mas definir Marvin Gaye apenas nisso é muito pouco. O homem foi uma as maiores vozes da black music da história. Um dos primeiros a cantar a ecologia em “Mercy Mercy me”  e com “Sexual Healing” ainda ganhou dois prêmios Grammy antes de morrer.

Teve uma vida conturbada como a dos dois acima. Como eu já disse foi viciado em drogas, sofreu de depressão, não cumpriu contratos, tentou se matar. Quando estava na merda era ajudado por Diana Ross, mas ele mesmo não se ajudava. Fez de tudo um pouco. Mas vocês já ouviram sua voz? Aqui nessa coluna vocês têm essa oportunidade.

Parece a voz de um anjo. Dá uma grande satisfação, leveza na alma, mas aí de repente ele canta o sexo e você se sente dentro de um ato sexual. Marvin Gaye era multi-artista, muti-talentoso. Foi morto pela arma que deu ao pai e entrou pra história da música.


E pra finalizar esse negão aí embaixo.

Barry White é um dos maiores cantores que já vi e eu falava que se equivalia a Tim Maia. Dono de uma voz grave, poderosa eu brincava que se ele fosse atendente de tele-sexo ficaria milionário.

Barry White é outro, assim como Marvin Gaye, que parecia ter sexo na voz, sedução. Sou apaixonado por seu repertório, mas em especial pela música que postarei abaixo. Essa música foi regravada por muitos, mas em sua voz foi tema de meu noivado no distante ano 2000 com a mãe da Bia.

No fim dos anos 90 foi inspiração pro personagem “Chef” do desenho adulto “South Park”. Em 1979 gravou uma música cheia de swing homenageando o Rio de Janeiro.


Não teve uma vida conturbada como a dos outros três. Mas infelizmente também não está mais entre nós.

Quatro grandes cantores. Quatro vozes inesquecíveis. Música de negão, de crioulo, arte pura e genuína de artistas que fazem falta.

Que em algum momento marcaram minha vida com seus dons e resolvi ao lembrar Tim Maia escrever sobre esse quarteto fantástico.

Arte é isso. Não morre e esses são imortais.

Valeu Tim, obrigado Simona, Marvin e Barry!! Meus ouvidos agradecem.



Ps. Quis o destino que depois da coluna escrita, editada e publicada morresse Emílio Santiago. Considerado por muitos "a voz perfeita". Fica aqui a homenagem para esse grande cantor e o registro de seu maior sucesso. Incluo assim "O homem de Saigon" ao grupo dessas vozes que nunca esqueceremos















Comentários

  1. e hoje, mais um negão de voz poderosa nos deixou. pena que a grande mídia nunca deu muita importância pra ele. Emilio Santiago.

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    1. Verdade, por uma infeliz coincidência partiu o Emílio no dia da coluna, grande cantor

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