E MORREU CHAVEZ
Depois de um longo calvário morreu o presidente da Venezuela Hugo
Chavez. Num calvário que para os mais velhos lembrou o de Tancredo Neves em
1985.
E sua morte acabou trazendo para a televisão e redes sociais o
debate que todos imaginavam ocorrer depois da morte de Fidel Castro. Os rumos
do país que era governado por mão de ferro e do socialismo em geral.
As pessoas se dividem entre os que lamentam, os que comemoram e os
sinceros que não entendem tanto sobre o assunto (muitos dos dois lados deviam
se incluir nesse), não lhe acham Deus nem demônio e apenas observam. Eu estou
mais nesse último grupo.
Hugo Chavez não pode ser chamado de ditador. Ele sempre foi eleito
pelo povo venezuelano em eleições consideradas limpas até pelos Estados Unidos,
seu maior opositor. Também não era o supra sumo dos democratas. O que era então
Hugo Chavez e o que ele será?
Hugo Chavez era um populista como muitos que conhecemos pela
América Latina por todos esses anos, especialmente no Brasil e como todo
populista era amado. Até porque ninguém, mesmo o pior ditador, consegue se
manter muitos anos no poder se não tiver um bom discurso e tiver o amor de seu
povo.
O povo venezuelano nesse instante passa por uma grande comoção. Chavez
morreu e nasceu. Sim, morreu o presidente desafiador, petulante, que enfrentou
as elites de seu país, teve peito de fechar emissoras de televisão e órgãos de
imprensa e estatizar empresas. Enfrentou os Estados Unidos e mesmo sendo de um
país pouco expressivo dividiu com os presidentes brasileiros a liderança da
América Latina.
Nasceu um mártir, uma lenda. Alguém que será visto por muitas
décadas como o “pai”, “salvador”, que morreu lutando por seu país e um
ideal. A direita à vezes peca pela falta
de inteligência. Comemora a morte de alguém esquecendo que vivo ele é apenas
um. Um ser fisicamente limitado. Morto vive em milhões, um pedaço seu em cada
um.
Extremamente carismático, polêmico demais. Amado pelos seguidores
do bolivarismo, odiado pela direita. Chavez era o sucessor de Fidel no item
“você me odeia, mas muita gente gosta”.
O venezuelano foi sufocado, reprimido por toda sua história e
apareceu uma pessoa que olhou aos pobres. Com atitudes nem sempre bem vindas
por uma classe acostumada a privilégios mostrou ao pobre “tem um de vocês aqui”
e mesmo que na prática as coisas não acontecessem como seu governo vendia o
discurso fazia essa classe menos favorecida comprar essa idéia.
É aquilo. Você ama aquilo que tem, talvez porque não sabe que poderia
ter algo melhor.
Líderes socialistas são polêmicos mesmo. Simon Bolívar, Che
Guevara, Fidel..Chavez..Primeiro que a esquerda nunca foi muito fã da
democracia, segundo porque ela sempre enfrentou o “status quo”. Mudanças em um
país ou em uma sociedade só ocorrem vindas da esquerda. Nunca a direita
transformou a vida de alguém pra melhor.
O que ocorre quando alguém enfrenta? Acaba com privilégios? Ocorre
a demonização. Idiotas que não saber
diferenciar “capitão de fragata” de “cafetão de gravata” comparam todos que tem
um discurso voltado aos pobres e toma decisões polêmicas a Hitler. Virou moda
agora.
Não sabem distinguir as pessoas. Não sou fã de Hugo Chavez nem de
seu jeito de governar. Sou um democrata ferrenho, não abro mão disso e acho que
não existe nada mais importante que a liberdade de imprensa (que ele cerceou) e
de escolha.
Mas demonizar Chavez e compará-lo a Hitler, Saddan, até mesmo a Fidel é tirar atestado de idiota no telecurso 2000. É não saber o mínimo de
história da América Latina. Chavez nunca foi acusado de mandar oposicionistas
ao paredão, nunca impediu que pessoas saíssem da Venezuela, nunca mandou
massacrar etnias.
Pra mim antes de ser um demônio, um grande mal ele era um
fanfarrão. Um fanfarrão, falastrão como todo populista, mas tem que ser
respeitado. Se o povo da Venezuela gosta dele quem somos nós pra falar mal? Só
porque a Globo e a Veja mandaram?
Tenham dó, não existe apenas ditadura política, também existe a
ditadura do modo de pensar e se você tem suas opiniões e embasamentos apenas
porque órgão de imprensa disse que assim é você não passa de mais um em um
imenso gado.
O pior tipo de ditadura não é feita por um homem com sua mão de
ferro é aquela que entra no seu cérebro e você compra algo como verdade apenas
porque leu ou viu na tv.
Do Chavez pra mim fica marcada a resposta que deu ao rei Juan
Carlos, aquele caçador de elefantes. O rei disse a Chavez “por que no te
callas” e muita gente aplaudiu. Mas melhor que isso foi sua resposta, pouco
divulgada e sabemos porque.
“Não, já nos calamos por muitos séculos”
É isso aí. Se Chavez morreu e no chavismo, que nesse momento nasce
na Venezuela assim como os vários “ismos” que já nasceram pela América Latina,
ficar deliberado que não nos calaremos mais em frente a forças opressoras e que
querem mandar em nossos pensamentos já terá valido a pena.
Vida longa ao povo latino americano. Com voz, auto-estima,
liberdade de pensamento e democracia.
Ps. Como bem lembrou meu amigo Pedro Migão também nisso tudo tem a questão do petróleo, que a Venezuela é rica. Isso explica muita coisa. A principal é que o dinheiro hoje é a forma de ideologia mais forte que existe.
Ps. Como bem lembrou meu amigo Pedro Migão também nisso tudo tem a questão do petróleo, que a Venezuela é rica. Isso explica muita coisa. A principal é que o dinheiro hoje é a forma de ideologia mais forte que existe.
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