O GRANDE IRMÃO NA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 24/3/2013
Bem,
decidi voltar ao tema da sociedade do espetáculo ate porque ela sempre cria
fatos novos.
Na
próxima terça começará o ano de 2013. Antigamente a gente dizia que o ano
começava quando acabava o carnaval, agora é quando acaba o BBB.
Hoje saem
os finalistas e quatro são os candidatos ao título de um milhão e meio de
reais. Fernanda, Nasser, Andressa e Natália.
Quem você
acha que ganha?
Não sei
quem você acha e também não é o tema dessa coluna as chances de cada um. Para
isso têm os sites da uol, ego, terra e etc pra informar.
Falaremos
do BBB, mas por outro ângulo.
Não vai
nenhum elogio e nenhuma crítica ao fato de falar que o ano começa quarta. Só
ver os fatos. O ano inicia-se oficialmente dia 1 de janeiro e logo depois já
começa o BBB que fica sendo o principal produto da Globo, de todas as atenções
até sua final e só depois dela se inicia a programação do ano da emissora.
Qual a
graça do BBB?
O
programa é a mesma coisa que você pegar a família e ir domingo ao zoológico
achar graça de ver os macacos comerem banana ou nos primórdios do mundo reunir
a rapaziada de casa e ir ao coliseu ver um cristão virar comida de leão.
Entretenimento
da curiosidade com a vida alheia.
O temo
Big brother vem do livro “1984” de George Orwell. A história contada é a de
Winston que vive aprisionado numa engrenagem totalitária de uma sociedade
completamente dominada pelo Estado. Onde tudo é feito coletivamente, mas cada
qual vive sozinho e ninguém escapa da vigilância do “Grande Irmão”.
O
programa virou sucesso pelo mundo e chegou ao Brasil no fim de 2001 no SBT
sendo chamado de “Casa dos artistas”. Um monte de subcelebridades reunidas em
uma casa durante meses. A globo que comprara o formato da empresa holandesa que
o criou tentou tirá-lo do ar e não conseguiu. O programa foi grande
sucesso.
Em 2002 A
globo finalmente estreou o formato brasileiro chamando de “Big Brother Brasil”.
O programa já tem onze anos, fez alguns milionários, transformou anônimos em
famosos esporádicos e alguns realmente se tornaram pessoas famosas até hoje
como o deputado federal Jean Wyllys, a atriz Grazy Massafera e a apresentadora
do Pânico Sabrina Sato.
Programa
polêmico. Muito debatido e criticado por ser vazio com pessoas vazias em um
ambiente vazio. Mas faz sucesso, muita gente gosta e assiste.
Eu mesmo
que me considero uma pessoa com alguma cultura e abrangência no conhecimento
assisto mesmo dizendo que não vou assistir. Por quê?
É a
sociedade do espetáculo amigos. Uma das características da sociedade do
espetáculo é colocar o produto na sua mente porque tudo é produto pra ela seja
um BBB, o novo papa argentino, a chuva provocando desastres e o novo técnico do
Flamengo.
E nesse
caso juntam a sociedade do espetáculo e seu jeito agressivo de divulgar o
produto com aquele sentimento que é o mais humano que existe. A curiosidade.
O buraco
da fechadura. O macaco no zoológico e o cristão no coliseu. Curiosidade,
morbidez. Vibrar com a briga no BBB como quando um piloto bate na F1. A novela
da vida real. O brasileiro adora novela, se puder orientar através de seus
votos como a novela prosseguir melhor ainda.
A Globo é
mestre no entretenimento e com sua campanha maciça nos faz deixar de assistir
pra fazer parte do programa. Nos envolvemos com aquelas pessoas que nunca vimos
na vida e três dias depois nem lembraremos quem é. Chamamos de falsos,
jogadores, cretinos quem nem conhecemos direito, esquecendo que aqueles
ratinhos de laboratório estão ali brigando por um milhão e meio de reais. Grana
que muda a vida de qualquer um.
Elegemos
mocinhos e vilões da vida real quando tudo ali é fake. A Globo nos chama como o
canto de uma sereia “Vem, ame esse, odeie esse”. Faz o pobre manipulado como
eu, assistir coisas editadas como verdadeiras e se quiser ver mesmo como é de
verdade compre o PPV. É baratinho e você poderá passar a noite vendo os
ratinhos dormindo.
Os BBBs
não acrescentam nada a nossa vida, a nossa realidade. Na maioria das vezes são
realmente pessoas vazias em um programa vazio como citei acima. Pessoas
“guerreiras” e que ganham a “idolatria nacional” mesmo não sabendo soletrar
“possessivo” ou dizendo que a capital de Rondônia é Roraima. Amamos fulana
porque é verdadeira e queremos que vença o programa. Verdadeira? Como você sabe
se ela é verdadeira se consegue muitas vezes ser traído por amigo de uma vida
inteira?
Sua
audiência vai caindo ao longo dos anos. Perdeu a aura da novidade, mas ninguém
cogita tirar do ar e nem vai tirar. Por quê? Porque TV não é necessariamente
audiência, é muito mais anunciante.
Tudo no
programa tem um merchandising, um anunciante, um produto. Empresas se digladiam
pra ter seus produtos na casa e a Globo que dá um milhão e meio pra quem vence
fatura pelo menos cem vezes mais.
Vai
acabar com um programa assim? Evidente que não.
A
sociedade do espetáculo precisa do BBB e seus ratinhos e precisam de nós
assistindo esses ratinhos e não percebendo que os ratinhos manipulados somos
nós.
Que
compramos aquela novela como verdade. Que achamos que com o voto decidimos
algo. Compramos seus produtos, compramos suas idéias. Compramos pra nossa vida
algo que é apenas entretenimento como um filme ou qualquer programa de TV.
O BBB é
forte porque a sociedade do espetáculo consegue manipular os sentimentos bons e
ruins. Existe devido os fanáticos que acompanham e os intelectuais que
criticam. Nessa guerra toda de gente que se acha superior por não ver e gente
que vê e se acha superior por votar muitas vezes em site e por telefone contra
os falsos quem vence é a emissora e seus anunciantes.
Terça sai
um novo milionário da casa. Alguém que desperta paixões, que ficaremos felizes
ou irritados por vencer, mas daqui a pouco esqueceremos porque um novo produto
da sociedade do espetáculo surgirá.
Até que
um dia descobriremos que somos Winston vigiados pelo “Grande Irmão” ou Jim
Carrey em show de Truman.
Será que
um dia pegaremos a liderança?
Não. A
sociedade do espetáculo já pegou e estamos no paredão.
Vai,
trinta segundos pra sua defesa.
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