A RELIGIÃO E A POLÍTICA

*Coluna publicada no Blog Brasil Decide dia 3/3/2013


Causou grande frenesi nessa última semana a enorme possibilidade do PSC (Partido Social Cristão) indicar o pastor Marco Feliciano, deputado por São Paulo, para presidir a Comissão dos Direitos Humanos na Câmara.

O nobre deputado é dono de declarações bem “humanitárias” como “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé, é fato”. O deputado também já se disse contra o homossexualismo. Os gays se revoltaram e ele consertou dizendo “Não sou contra os homossexuais e sim o ato do homossexualismo”.

Ah bom deputado, agora ta explicado. Só não está explicado o que vossa excelência tem a ver com o que  os outros fazem na cama. A não ser que tenha sido convidado para um ménage com ativistas ou encontro na surdina. Mas aí basta recusar ou aceitar, afinal, também não nos interessa o que o senhor faz na cama.

Cada vez mais minorias são maiorias contradizendo o fato de serem minorias. Hoje temos os congressistas que defendem as mulheres, os negros, os índios, os gays, os anões, portadores de deficiência, os botafoguenses..Eu que sou branco, hétero e homem devo ter no máximo Paulo Maluf pra me defender o que não é muito legal. 

Evidente que todos esses merecem ter deputados pra defenderem seus interesses. Foram deixados de lado, brutalizados, subjugados por toda a existência. Mas tem minorias que deixaram de ser minoria há muito tempo e assustam. 

Entre eles a principal, a causa religiosa.

O leitor do Brasil Decide que sei que é muito inteligente já notou que as maiores lambanças da história da humanidade têm a ver com religião. Não sou contra religiões, sou contra a falta de interpretação de texto por isso desde a infância me empenhei nessa matéria para ir bem na escola.

Só que nem todo mundo se especializou no assunto e mesmo livros como a Bíblia conseguem ser interpretados das mais diversas maneiras tendo o mesmo texto para todos.

E aí o que vimos na história da humanidade? Irmãos matando e se julgando superiores a outros irmãos desde o tempo do coliseu romano quando cristão virou comida de leão, passando pela Santa Inquisição até chegar a Adolf Hitler que tomou chifre de um judeu e em vez de se juntar a outro traído e montar uma dupla sertaneja decidiu invadir a Polônia e exterminar todos os judeus.

E como eu já disse nesse blog a classe política e nosso congresso são espelhos da sociedade. As igrejas evangélicas cresceram e por conseqüência sua representatividade.

E qual foi o desdobramento disso? Vivemos hoje uma patrulha religiosa ainda silenciosa, mas que com certeza um dia se agitará e não acredito que esse dia esteja longe.

Os pequenos pastores tornaram-se grandes bispos, comandam igrejas holywoodianas e tem canais de tv e rádio. Mas apesar disso ser um grande passo para o domínio, pelo menos da cabeça do povo, isso não basta.

Era preciso fazer vereadores, deputados, senadores, governadores para defender seus interesses bem como fazem os ruralistas e mais recentemente os milicianos.
Com uma mão seguram a Bíblia e com a outra jogam pesado. Tem muito dinheiro para suas campanhas já que a fonte do dízimo não acaba e nas campanhas usam o mesmo discurso da igreja. São contra o aborto, o homossexualismo e as religiões afro.

Dessa forma até Anthony Garotinho foi eleito governador do Rio. Usou a palavra de Deus, mas foi condenado pela mão do homem pra provar que nem toda oração é para o Senhor. Dessa forma também Marcelo Crivella virou senador e ninguém sabe o que ele já fez de bom pelo estado. Com a mão do catolicismo Celso Russomano quase virou prefeito.

E é uma classe poderosa. Uma classe que fez a favorita Jandira Feghali perder eleição para o senado no último dia devido a panfletos anônimos distribuídos em seu nome a favor do aborto.

Como se a mulher não tivesse o direito de fazer o que quiser do seu corpo. Sou contra o aborto, mas a favor da mulher poder decidir.

Como já citei no caso de Russomano não são apenas os evangélicos. O brasileiro é um povo que tem o costume de ir ao terreiro de noite, fazer sacanagem de madrugada e pedir perdão a Deus de manhã numa igreja católica ou evangélica.

A grande maioria dos evangélicos são ex alguma coisa e a grande maioria que é ex alguma coisa não era uma coisa legal antes de virar ex. A igreja católica e uma das instituições mais ricas e poderosas do mundo, se o ouro e as obras de arte do Vaticano fossem doados aos pobres católicos acabava a fome dos seguidores da religião.

Mas não interessa a nenhuma igreja o fim da fome e da miséria, elas acabariam por conseqüência já que o religioso não teria mais ao que pedir na reza.

E é nisso que apostam os políticos religiosos. Assim como Hitler era a salvação de uma Alemanha devastada e humilhada pela guerra eles são a salvação de pobres miseráveis sem nenhuma esperança mais na vida. Recorrem ao Senhor através de intermediários esquecendo que não precisamos de ninguém para entrar em contato com nosso pai.      

Com o dom da oratória e da persuasão o poder desses homens aumenta cada vez mais junto com seus votos e também seu poder de barganha. Todo político em segundo turno tem que beijar mão de padres e pastores se quiser vencer. Tocar em assunto como aborto e união civil entre homossexuais? Nem pensar. Tem que mostrar o plano de campanha para os líderes evangélicos e no caso de uma eleição presidencial até ao Papa como Lula fez.

O Brasil, por incrível que pareça, é um estado laico, mas não é assim que se comporta. Aliás, o Brasil prega muitas coisas que não coloca em prática.

Eu não sei como será o futuro das religiões afro ou de minorias como gays com esse avanço religioso na sociedade e na política, só sei como não será.

Com a igualdade e o respeito ao próximo que Jesus sempre pregou. Aliás, se existissem advogados no céu com certeza Jesus já teria processado muita gente por uso indevido de imagem.

Amém.

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