PAIS E FILHOS




“Estátuas e cofres em paredes pintadas, ninguém sabe o que aconteceu. Ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender”.

Esses são versos da música que dá o nome ao título da coluna de hoje no blog.“Pais e filhos” é um dos maiores sucessos da Legião Urbana e uma música que mexe com a gente quando toca.

Mais ainda com quem tem filhos.

Estamos próximos da Páscoa. Data que celebramos a ressurreição de Cristo, o filho dileto de Maria e de Deus e uma das datas mais familiares que existem, acredito abaixo apenas do Natal.

Data em que escondemos ovos de chocolate para nossos filhos procurarem, do almoço em família, tudo aquilo que comerciais de margarina adoram passar.

Data que cultivamos o amor entre familiares e o espírito de Jesus e do coelhinho da Páscoa, apesar do governo federal fazer anúncio de acidentes com música infantil querendo acabar com o último.

E logo depois da páscoa vem abril e abril é um mês importante demais pra mim, mês que descobrirei o sexo de meu segundo filho. Provavelmente pelas dicas de ultras anteriores será um menino o que me faria ter um casal.

A música diz “Meu filho vai ter nome de santo”. Pois é, o meu terá, será João como o santo e ainda terá o reforço de um anjo, Gabriel. João Gabriel, meu filho vai ter nome de santo, vai ter nome de anjo. Vai ser abençoado por Deus.

Anjos, santos, não sei dizer bem o que é um filho. Tenho uma menina linda que quem me conhece um pouco sabe como a amo, Ana Beatriz, a minha princesinha, a minha moleca bagunceira quem chamamos de Bia, Biazinha ou Bibica.

A Bia surgiu em um momento importante. No seio de uma família dizimada pela dor, com problemas alguns muito sérios e a salvou. Não sei quem mandou a Bia para nós, mas podemos apenas agradecer eternamente pelo maior presente de nossas vidas. Posso falar sem exagero nenhum que a Bia mudou radicalmente a vida de três pessoas. Salvou literalmente a vida de duas e me fez amadurecer.

Com a Bia mudei de estágio na vida. Uma mudança natural, que a maioria das pessoas passam e é tão difícil. Mudar de filho para pai ou mãe. Ainda mais pra mim que sempre fui o “queridinho”, o primeiro filho, primeiro neto, primeiro sobrinho e perdi tudo isso numa tacada só com morte de minha mãe. Tive que de uma hora pra outra sair de asas protetoras. Encarar o mundo e virar adulto.

Não era pra virar pai, não me preparei pra ser pai, nunca.  Uma namorada engravidou uma vez, mas perdeu a criança com quatro meses. Quem me conhece sabe que a Bia não é minha filha natural, apenas no sétimo mês de gestação me ofereci pra Michele pra registrar a criança e dar um nome a ela, ter a quem chamar de pai.

E era pra ser apenas isso, mas logo tive um bebê recém nascido em meus braços e não sabia como segurar. Depois dando mamadeiras, passando madrugadas com ela, ensinando a arrotar, tentando descobrir porque estava chorando e um dia me toquei que era pai.

Fui filho por vinte e oito anos, sou pai a pouco menos de quatro e posso dizer que muito da experiência desses vinte e oito anos estou usando nesses quatro. Todo o amor, carinho que recebi de minha mãe repasso pra Bia. A educação, o caráter, os princípios, as músicas que me ensinou, as brincadeiras. Todos os bons exemplos e as boas recordações que trago dela invisto na Bia sabendo que é o melhor para seu desenvolvimento.

Quando a gente tem um filho aprende a ser menos egoísta. Sabemos que tem um serzinho frágil que não sabe se defender nem sobreviver sozinhos que dependem da gente. Aprendemos que deixamos de ser prioridade em nossas vidas para eles serem. Se tivermos que deixar de comer por eles vamos, se tivermos que deixar de viver por eles vamos.

Sempre achei isso clichê, coisa da boca pra fora, mas é verdade. Não adquiri isso de imediato e nem deve ser assim, tem que ser naturalmente. Mas numa viagem a São Paulo senti saudades da Bia. Ela estava com quatro meses na época e comecei a perceber que algo diferente ocorria.

E tive a certeza que era louco por ela e não podia mais viver sem minha Bia quando com oito meses ela sofreu uma queda na casa da avó e parou hospital sem eu ter certeza do que ocorrera de verdade. O desespero foi tão grande e o choro veio tão de imediato quando soube que ela estava bem que percebi que uma grande história de amor nascera.

O amor mais puro e bonito que existe. Entre pais e filhos. O amor que não pede nada em troca, que só quer aquele alvo do amor feliz mesmo que aquilo não seja a nossa felicidade. Com a Bia aprendi a conhecer melhor a Regina, minha mãe. Depois de alguns anos morta aprendi não só a conhecê-la melhor como a entender seus atos em relação a vida e em relação a mim.

Percebi que eu fui o grande projeto de sua vida e mesmo com todo sofrimento do fim ela foi tranqüila porque seu projeto se encaminhara pra andar com suas próprias pernas e que agora essa é a minha missão, fazer a Bia e o João Gabriel caminharem.

Ter filho é saber que você nunca mais terá paz. Quando pequenos nos preocupamos com seu chorinho no berço ou quando estão quietos demais. Mais velhos com as quedas aprendendo a caminhar e as doenças. Uma simples tosse é um desespero. Depois nos preocuparemos porque chegam tarde em casa acabando com nossas madrugadas ou quando o amor machucar seu coração. Aí serviremos como um band aid mal colocado tentando com colo e cafuné diminuir essa dor.
 
Adultos serão nossas eternas preocupações até porque filhos para seus pais sempre serão crianças. Mesmo que já cuidem de outras crianças.

Minha maior frustração na vida é saber que minha mãe nunca pegará a Bia no colo, assim como não pegará o filho que vai nascer e minha maior preocupação é saber como conduzirei essas duas crianças até se tornarem adultas. Mas eu também não sabia como lidar com a infância e acho que estou conduzindo muito bem.     

Além do mais sei que não estarei sozinho. Tem alguém lá em cima cuidando de mim, da Bia e do Biel na barriga da Michele e essa pessoa nunca me abandonará mesmo depois de morta.

Você vai me ajudar nessa mãe, não adianta, não vai escapar. Cuide de seus netos que estará cuidando de mim. 
Seus netos..Nunca imaginei falar isso pra dona Regina. Mas são..A vida continua e é linda por causa disso.

São meus filhos que tomam conta de mim...



      

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