AS ÁGUAS DE MARÇO
*Coluna publicada no blog Brasil Decide em 24/3/2013
Ligo a
TV, boto no RJTV e lá fala da tragédia da chuva. Vejo sites da internet e as
manchetes são “Dilma se solidariza com vítimas das chuvas”. Penso, as imagens e
as manchetes são de hoje ou foram reaproveitadas?
As chuvas
no verão brasileiro são tão tradicionais quanto o Natal, reveillon, carnaval e
superfaturamento em obras. Uns quarenta anos atrás Tom Jobim compôs a música
“águas de março” que diz “São as águas de março fechando o verão é promessa de
vida no meu coração”.
Quer
dizer. Décadas atrás Tom Jobim já cantava as chuvas de nosso verão e os
governantes sempre são pegos de surpresa. Não é maravilhoso?
A chuva é
federal? Estadual? Municipal? De oposição? Culpa do BBB? Não sei, só sei que
todos os anos as águas caem e provocam tragédias. O pessoal da oposição corre
culpando os governos esquecendo que já estiveram no governo e nada fizeram em
relação a isso. Os adeptos do governismo correm pra defender dizendo que leram
não sei aonde que as chuvas que caíram na região serrana desse ano foram mais
intensas que todas as de 2012 juntas.
Ta
explicado né? O governo, seja lá qual for, foi pego de surpresa. Natural,
afinal de contas foi no longínquo ano de 2011 que tragédias na região Serrana
ocorreram pela última vez.
Como
nossos pobres políticos podem prever depois de tanto tempo que outra forte
chuva iria cair levando barracos e pessoas?
Eu falo
mais da situação do Rio de Janeiro porque aqui que eu vivo e conheço melhor,
mas o leitor pode levar a situação pra sua cidade que tenho certeza que é a
mesma. Aqui rapidamente nós achamos fotos da Praça da Bandeira, região perto do
estádio do Maracanã do início do século XX com a mesma transbordando e
parecendo um rio.
Achamos
desse ano com as chuvas que ocorreram semana passada e está a mesma situação.
Em cem anos não resolveram o problema da Praça da Bandeira!! O Japão tomou duas
bombas atômicas na fuça nesse período e se não fossem as diversas homenagens
que existem no país ninguém perceberia.
O Japão
se recompôs de duas bombas atômicas e o Rio não resolve o problema da Praça da
Bandeira.
Pior. A
última chuva que devastou nosso estado foi em 2011. Dois anos. Novas vítimas
das chuvas surgiram em 2013, novos desabrigados e muitos dos desabrigados de
2011 estão sem suas vidas solucionadas, muitas das áreas atingidas não foram
reconstruídas.
Na mesma
época, fim de 2010 começo de 2011 ocorreu o tsunami no Japão devastando o país
e ele se recuperou!! Tsunami!! Não foi meia hora de chuva!! Mas a impressão que
dá é que a chuva foi lá e o tsunami aqui!!
De quem é
a culpa? De todo mundo.
Da
natureza. Sim, da natureza que fez o Rio cheio de montanhas, morros que provocam
desabamentos e dificuldades no escoamento da água.
Do
prefeito Pereira Passos no começo do século XX que fez o “Bota abaixo”
retirando as pessoas de suas casas não dando locais pra elas ficarem e essas
sendo obrigadas a ocupar os morros cariocas e fluminenses.
Por
“coincidência” isso ocorre novamente agora no governo Eduardo Paes.
Da
população que joga seus lixos nas ruas em locais não preparados para o
recebimento. Lixo que é levado pelas águas e entope os escoamentos. Na última
chuva aqui na capital em todas as fotos mostrando a enchente tinha sacos de
lixo.
Aliás, a
última enchente em Caxias foi piorada porque o ex-prefeito Zito por raivinha de
não ser reeleito parou com a coleta de lixo e as conseqüências vieram em
janeiro.
E
principalmente dos governantes que se aproveitam dos motivos que dei e tiram o
corpo fora. Tudo o que eu falei acima é real, mas não são motivos o suficiente
para que esse problema não seja resolvido. Como falei, existem fotos de cem
anos atrás e todos nós lembramos de tragédias ao longo dos anos.
Rio de
Janeiro 66, 88, 96, São Paulo 2010, Niterói 2010, Região serrana 2011 e 2013.
Sem forçar muito lembrei de várias. Acontece que essas tragédias ocorrem em
época específica do ano e no restante do mesmo esquecemos e o governo empurra
com a barriga. Porque obras pra evitar enchentes custam caro e não dão votos.
Na região
serrana mesmo a única providência que se tem notícia de 2011 pra cá é que
instalaram um aviso sonoro em caso de possibilidade de chuva.
Pouco.
Muito pouco para vidas perdidas, para ver sonhos serem levados por enxurradas.
Não é uma
bomba atômica. Não é uma onda de tamanho extraordinário.
É chuva,
uma simples chuva.
É pau, é
pedra, é o fim do caminho.
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