PRAZER NA DOR
*Conto publicado no Blog Ouro de Tolo coluna "O buraco da fechadura" em 20/10/2012
Silvana era uma mulher independente, bem resolvida. Na
altura de seus quarenta anos de idade era casada com Fábio há quinze e mãe de
dois filhos, um de doze e outro de dez. Era o que podíamos chamar de uma pessoa
feliz.
Formada em psicologia especializou-se em sexo tornando-se
a mais importante sexóloga do Rio de Janeiro. Atendia inúmeras pessoas por
semana, lançou livros onde falava de sexo e essa popularidade fez com que
ganhasse um programa de rádio todos os dias de onze a meia noite.
O programa de rádio era o xodó de Silvana. Lá ela ouvia
casos dos ouvintes que contavam sobre suas vidas sexual e suas dúvidas. Silvana
ouvia a tudo atentamente e depois dava conselhos. Algumas histórias eram
bizarras como o rapaz que ligou desesperado por estar com uma garrafa de
refrigerante entalada no ânus, mas Silvana tinha que conter o riso e responder
a tudo com seriedade.
Na tarde seguinte, na hora do almoço, Silvana sempre se
reunia com as amigas para almoçar e gargalhavam lembrando as histórias da noite
anterior. Lá Silvana deixava transparecer todo seu desdém e deboche com os
problemas sexuais de seus ouvintes. Na tarde seguinte do caso do rapaz em
especial pediram um refrigerante de dois litros e tentavam imaginar como o
pobre coitado se entalou.
Fábio, empresário de uma multinacional, comunicou a esposa
que teria que passar um mês na Alemanha em um curso. Silvana apaixonada pelo
marido mesmo com quinze anos de casados lamentou a situação, mas compreendeu e
dedicou-se vinte e quatro horas ao trabalho.
No período de viagem de Fábio que ocorreu algo que mudaria
a vida de Silvana.
Silvana atendia normalmente os ouvintes quando entrou no
ar a ligação de um homem com voz grossa, bonita como de um cantor. Silvana
perguntou qual era sua dúvida e o homem respondeu que não tinha nenhuma, apenas
queria contar a sua história.
Silvana tentou interromper dizendo que o programa não era
para contar histórias, mas contar dúvidas quando o homem começou seu relato.
Apresentou-se como Lord Perversus e era dominador, adepto do BDSM.
BDSM é um
acrônimo para Bondage e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo. O BDSM tem o intuito de
trazer prazer sexual através da troca erótica de poder, que pode ou não
envolver dor, submissão, tortura psicológica, cócegas e outros meios. Por
padrão, a prática é provocada pelo(a) Dominador(a) e sentida pelo(a)
Submisso(a).
Muitas das
práticas BDSM são consideradas, num contexto de neutralidade ou não sexual, não agradáveis, indesejadas,
ou desvantajosas. Por exemplo, a dor,
a prisão, a submissão e até mesmo as cócegas são, geralmente,
infligidas nas pessoas contra sua vontade, provocando essas sensações
desagradáveis. Contudo, no contexto BSDM, estas práticas são levadas a cabo com
o consentimento mútuo entre os participantes, levando-os a desfrutarem
mutuamente.
O conceito
fundamental sobre o qual o BDSM se apóia é que as práticas devem ser SSC (São,
Seguro e Consensual). Atividades de BDSM não envolvem necessariamente a penetração, mas de forma geral, o BDSM
é uma atividade erótica e as sessões geralmente são permeadas de sexo.
O limite
pessoal de cada um não deve ser ultrapassado, assim, para o fim de parar a
sessão/prática, é utilizada a SAFEWORD (palavra de segurança) que é
pré-estabelecida entre as partes.
Lord Perversus
contava em detalhes a última sessão que teve com sua submissa e o diretor do
programa mandava Silvana desligar o telefonema que não teria nada a ver com a
atração, mas Silvana estava interessada na história e impediu ouvindo até o
fim.
Silvana foi
para casa perturbada com aquela ligação e o caso de BDSM foi o assunto
principal no almoço entre amigas do dia seguinte, mas Silvana estava mais
quieta que o normal e só ouvia os comentários debochados das amigas.
De noite ela
estava na rádio e chamou a ligação do ouvinte quando percebeu que era novamente
Lord Perversus. Silvana cumprimentou o homem e ele perguntou se ela tinha
gostado de sua história, Silvana respondeu que era interessante e Perversus
comentou que apostava que ela pensara o dia inteiro no que contou. A mulher
perguntou o que ele queria e Perversus quis contar o que tinha feito com sua
submissa naquela tarde.
Contou tudo em
detalhes e um incômodo tomava conta da equipe da rádio, menos de Silvana que
parecia bem interessada no assunto. No fim Perversus despediu-se dizendo que
ela teria notícias suas.
Silvana saiu
da rádio ainda mais perturbada com tudo aquilo e o dominador ligava diariamente
para o programa se tornando a maior atração do mesmo. A audiência aumentou com
aquelas histórias e muitas pessoas começaram a achar que era armação. Silvana
cada vez mais ligada ao assunto começava a pesquisar na Internet sobre BDSM,
procurava fotos da prática.
Depois de uma
semana direto de ligações Perversus parou de ligar e Silvana sentiu falta.
Perguntava-se o que ocorrera com o homem.
Até que depois
de quatro dias de ausência Perversus ligou, mas para seu celular.
Ela tomou um
susto quando notou que era o homem e perguntou como ele conseguira o número,
Perversus desconversou e disse que queria vê-la. Silvana respondeu que era
impossível, era uma mulher casada e não gostava das práticas sados. Perversus
insistiu e Silvana desligou.
Por dois dias
Perversus ligou para o celular de Silvana que no começo ainda atendia
negando-se a vê-lo e depois passou a ver o número e não atender mais.
De noite no
programa Silvana atendeu o ouvinte e era ele.
Perversus não
tinha a voz confiante de sempre. Parecia abatido, que tinha chorado e falava
que sua vida não tinha mais sentido e queria morrer. Silvana desconcertou com
aquele modo dele falar e tentou argumentar que se abater não levava a nada
perguntando o que ocorrera.
Perversus
respondeu que queria uma mulher, mas ela não queria encontrá-lo. A audiência do
programa estourava com Perversus ameaçando se matar ao vivo e Silvana tentando
impedir. Até que ele disse que não agüentava mais e ouviu-se um estampido de
tiro.
Silvana deu um
grito desesperado e a rádio ficou em polvorosa. Seu celular tocou e ela
atendeu. Era Perversus dizendo que o próximo tiro era pra valer e que ela o
encontrasse em quinze minutos na Lapa.
Silvana não
pensou duas vezes e abandonou o programa indo ao seu encontro. Chegou na Lapa e
viu um carro preto estacionado perto dos Arcos com um homem com óculos escuros
encostado nele.
Silvana nunca
vira Perversus, mas tinha certeza que era ele.
Aproximou-se e
ouviu “que bom que você veio”.
Perversus era
um homem de mais ou menos quarenta anos também, um pouco grisalho, bonito e que
exalava charme. Silvana perguntou o que ele queria com ela e o homem estendeu a
mão e disse “vem”. Silvana perguntou para onde e Perversus respondeu “conhecer
meu mundo”.
Silvana mesmo
sem conhecer aquele homem lhe acompanhou em seu carro e eles pararam em um
hotel próximo da Lapa. Um pulgueiro que
Perversus segurando a mão de Silvana conduziu até um quarto.
Lá encontraram
um homem e uma menina loirinha, estilo frágil e com mais ou menos vinte anos.
Perversus mandou que Silvana sentasse e assistisse. O outro homem mandou que a
loira tirasse a roupa e ela tirou.
Colocaram uma
coleira nela e mandaram que ela ficasse de quatro, a moça com cara de
sofrimento andava como se fosse uma cadela. Andaram assim o quarto todo com ela
e davam pequenas chicotadas. Depois amarraram em pé na porta e deram várias
chicotadas em suas costas.
Silvana olhava
a tudo quieta, Teve vontade de gritar e mandar parar, mas a curiosidade e o
tesão falavam mais alto. Os homens amarraram a menina de quatro em cima de um
banquinho e ela parecia sofrer. Pegaram camisinhas e transaram com a garota. Primeiro
seu senhor, depois Perversus. Silvana se contorcia para disfarçar a excitação.
No fim a
loirinha foi desamarrada e entrou no banheiro. Saiu alguns minutos depois com o
semblante mudado. Feliz, falante, como se nada tivesse ocorrido. Contou da
faculdade que fazia e que seu namorado não podia suspeitar sobre sua vida
oculta.
Silvana voltou
aos arcos e pegou seu carro. Foi para casa e não conseguia parar de pensar no
que presenciou. Deitou-se na cama e se masturbou pensando nas cenas.
Faltou ao
almoço com as amigas e chegou na rádio para trabalhar como se nada tivesse
acontecido, sem responder porque saiu daquela forma. Esperou, mas Perversus não
ligou. Ao sair e dirigir-se a seu carro o homem esperava por ela.
De novo disse
“vem” e ela foi de imediato.
Voltaram ao
mesmo hotel e dessa vez eram só os dois. Perversus mandou que Silvana tirasse a
roupa e ela tirou sem pestanejar. Deitada na cama foi algemada e vendada.
Silvana
conhecia novas sensações, sentia vela sendo pingada por seu corpo e teve uma
mistura de sensações, de dor e prazer. No fim sentiu a língua de Perversus
sobre seu corpo e ele lhe penetrando.
Na noite
seguinte foi a mesma coisa. Com a diferença que depois de um certo tempo
Silvana sentiu duas bocas em seu corpo. Perguntou o que era e Perversus tirou a
venda. Silvana percebeu que uma mulher beijava seu corpo. Perversus tirou as
algemas de Silvana e ordenou que ela transasse com a mulher.
Silvana como
uma verdadeira submissa obedeceu.
Com Fábio
viajando Silvana entrou de cabeça no mundo do BDSM e conheceu várias de suas
práticas. Estava completamente enfeitiçada por aquele mundo, queria viver tudo
aquilo, mas um lado racional que ainda existia lembrava que ela era casada,
tinha família e Fábio voltaria em poucos dias.
Na noite
anterior da volta do marido, depois da sessão Silvana contou a Perversus que
aquela era a última vez, seu marido estava voltando e ela não podia continuar
com aquilo.
Perversus
insistiu, chorou, implorou, mas Silvana estava irredutível e foi embora
deixando seu dono pra trás.
Fábio voltou e
Silvana recebeu o marido como se nada ocorrera voltando a sua vida feliz com
ele. Perversus insistia, ligava para seu celular, mas ela trocou o número, para
o programa, mas ela desligava fingindo que a ligação caía.
Finalmente ele
parecia aceitar a situação e parou de ligar. Em um domingo, folga de Silvana,
ela estava em casa quando Fábio ligou dizendo que levaria um amigo para jantar.
Silvana mandou que a empregada caprichasse e quando o marido chegou
apresentando o amigo Silvana tomou um susto. Era Perversus.
Fábio lhe
apresentou como Armando e disse que era seu colega de trabalho. Silvana muito
nervosa cumprimentou Perversus que olhava fundo em seus olhos como se
penetrasse sua alma.
Silvana ficou
na sala com os dois trêmula, quieta e em um momento que Fábio saiu do local
Perversus levantou-se, foi até o ouvido de sua ex submissa e disse “amanhã no
hotel da Lapa depois do programa, senão conto tudo para seu marido”.
Foram jantar.
Fábio notou que a mulher não estava bem e perguntou o que ela tinha. Silvana
disfarçou e respondeu que era enxaqueca. Na hora de ir embora sem que Fábio
notasse Perversus falou no ouvido de Silvana “amanhã, não esqueça”.
Na hora
marcada Silvana estava em frente ao hotel. Perversus sorriu e conduziu a mulher
até o quarto. Lá ela tirou a roupa e só fez um pedido “sem marcas” atendendo a
tudo que o homem queria.
No fim
Perversus botava a roupa dizendo que queria ver Silvana novamente na noite
seguinte quando a mulher abriu a bolsa, sacou um revólver e deu seis tiros no
amante que morreu fulminado.
Silvana
guardou a arma, colocou a roupa e saiu do prédio entrando em seu carro como se
nada tivesse acontecido. Apenas preocupada em passar num posto de conveniência
e comprar os cigarros que o marido tinha pedido.
Cada um sabe
até onde vai sua dor e seu prazer.
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