O ROCK DA DIREITA
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 30/6/2013
A juventude
sempre foi revolucionária, transgressora, libertária, ousada. Ser jovem é
querer mudar o mundo, acabar com o sistema vigente. Paz, amor e um pouco de
rock`. Roll. “Give peace a chance”, “o sonho não acabou” e várias frases de
efeito que passam a cada geração e demonstram o sentimento do jovem.
Jovem
gosta de curtir, amar, viajar e gosta principalmente de música. Escolheu o rock
pra lhe representar. Rock que é jovem em sua essência, canta o que a juventude
quer ouvir. É rebelde, anti-sistema, assusta os mais velhos, dizem que é “coisa
do diabo”.
Só ver
por suas maiores referências. Eu costumo dizer que o roqueiro que envelhece é
um fracassado e a brincadeira tem um pouco de verdade. Os grandes nomes da
história do rock como John Lennon, Jim Morrisson, Jimi Hendrix, Janis Joplin,
os recentes Kurt Cobain e Amy Winehouse e os nacionais Cazuza e Renato Russo
morreram jovens.
Nem todos
conseguem envelhecer com alma roqueira como Paul McCartney, Mick Jagger e Keith
Richards e o Brasil é a prova disso.
Nosso
país é definitivamente um país esquisitão. Diz um bordão popular que o Brasil é
o único país do mundo que traficante se vicia, prostituta goza, cafetão se
apaixona, dólar no paralelo é mais barato que no oficial e aí incluo, que o
rock é de direita.
Pois é..O
rock aqui e conservador, reacionário. No mundo todo ele é revolucionário,
inovador e aqui não.
Por quê
isso acontece?
Primeiro
temos que reconhecer que o Brasil é meio confuso nesse sentido. Meio não,
muito. Hoje não sabemos direito o que é esquerda e direita aqui.
O PT que
sempre foi de esquerda se aliou a partidos e políticos por qual tinha repúdio.
PSDB criado pra ser de centro esquerda logo se juntou ao DEM. Os partidos têm
vergonha de se assumir direita mesmo usando táticas dela. Sobram partidos como
PSTU que nem dá pra levar a sério e PSOL que mostram um romantismo que nem
sempre é compatível com o a política de hoje.
Segundo
que apesar de existir e reconheço essa existência, é mais difícil encontrar
genialidade na direita. A esquerda sempre foi mais liberta, liberal e criativa
ao contrário da mente presa e ultrapassada da direita.
Digo isso
porque como eu citei os maiores gênios do rock nacional que já morreram e pelo
menos Cazuza declaradamente era de esquerda. Os que ficaram envelheceram, não
tinham a criatividade dos que faleceram e nem a popularidade. Caíram num abismo
de recalque e amargura pelos bons tempos terem passado e eles que cantavam a
reação, a revolução na verdade ainda eram os mesmos e viveram como seus pais
lembrando assim a famosa canção de Belchior.
Agem como
adolescente. Como eram nos anos 80 quando cantavam “a gente somos inútil”,
“garotos não resistem a seus mistérios” ou “Vento ventania”. Mas envelheceram
na alma e na mente. Mudaram o discurso, iriam mudar o mundo e agora assistem a
tudo em cima do muro.
Ou fazem
pior. Fazem como o lobo mau que só é lembrado atualmente pelas besteiras que
fala. Ele não tenta mais comer a chapeuzinho, só repete a velha história que
comunista come criancinha.
Meus
heróis morreram de overdose e de AIDS, não são reacionários que tocam guitarra.
Vai ver por isso a criatividade lhes abandonou porque a criatividade não
permite ser mal cuidada, não se permite a prisão de idéias atrasadas.
Curioso
pertencermos a um país que velhos fazem música de jovem e não falo de velhos de
idade porque se juntar a idade de todos os Stones chegamos na era glacial. Mas
ver, por exemplo, que a MPB é mais jovem que o rock.
Só
reparar. A MPB, que para muitos é música de velho, sempre estava na frente das
mudanças, dos gritos de protestos desse país. Chico Buarque travestido de
Julinho da Adelaide, Chico e Caetano no exílio, Geraldo Vandré caminhando e
cantando e seguindo a canção. Foram censurados, apanharam, lutaram para quê?
Para os
símbolos do rock nacional defenderem as forças conservadoras, fascistas,
aproveitarem e se aproveitarem de manifestações nas ruas pra destilar ódio
contra um governo constituído de forma democrática. Usarem um protesto que era
contra um todo de forma política, mesquinha insuflando o ódio quando o momento
pedia serenidade.
Não vou
citar nomes, não darei essa moral apesar de ter citado trechos de música do
tempo que valia a pena ouvir algo vindo deles. Mas quem tem rede social,
principalmente twitter sabe bem quem são.
Quer
protestar contra governo? Legítimo, proteste até porque o rock é pra isso,
protestar. Mas não se aproveite de um momento que a democracia pode estar em
risco para colocar gasolina. Isso vai contra a história de vocês que
aproveitaram o começo da democracia pra fazer música.
O pior é
pensar que os roqueiros do século XXI, seus sucessores, são meninos alienados
que usam franjinha, maquiagem, se trancam em quarto escuro tentando cortar os
pulsos com prestobarba e acham que dessa forma vão mudar o mundo.
Não vão
mudar o mundo, no máximo o rock, acabar com ele.
É Cazuza,
você faz falta. Chorão, Renato Russo, Cássia Eller, Raul Seixas..Que pena. O
rock errou.
E a gente
somos inútil.
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