A AMIZADE
Um dia desses aí foi o
“dia do amigo”. Uma dessas datas que até poderiam existir antes, mas ninguém
ligava até a chegada das redes sociais como o “Dia do homem” e o “lingerie
day”.
Sinceramente não dei a
mínima atenção para a data. Porque dia do amigo para mim são todos os dias e
pra mandar mensagem automática à eles por celular ou marcar nome em mensagem de
facebook prefiro fazer nada. Se é amigo mesmo dá pra “perder” alguns minutos e
fazer uma mensagem especial.
E se tem uma coisa que
não posso me queixar na vida foi dos amigos que eu fiz. São quase 37 anos de
vida e uma vida prodigiosa de grandes amigos. Alguns que carrego comigo até
hoje, outros que a amizade acabou ou perdi contato. Mas como diz o hino do
maior clube do mundo “Uma vez amigo, sempre amigo”.
Amigo é coisa pra se
guardar debaixo de sete chaves, amigos para sempre é o que iremos ser, eu quero
ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar, você é meu amigo de fé,
irmão camarada e todas as músicas já muito conhecidas poderiam dizer o que
sinto por eles.
Acho que uma das
primeiras coisas que a vida nos dá é o amigo. Provavelmente a primeira pessoa a
surgir em nossas vidas fora da família. Comigo foi assim. As imagens mais
remotas de minha vida levam ao colégio Nossa Senhora da Ajuda e a um angolano
chamado Rui Pedro.
Pois é, lembro do nome
dele até hoje, viu o que é uma amizade?
Morava na rua ao lado
da minha e sinceramente não lembro muito mais que do nome dele, mas o que me
marcou mais na época é que nós com seis anos gostávamos da mesma menina, a
Manuela que tinha cinco.
Acabou que eu que
virei o “namoradinho” dela. Namoro do tipo de lanchar juntos, brincar juntos e
falar que está namorando. Foi uma das poucas vezes que consegui vencer uma
concorrência por mulher. O Rui saiu da escola no meio do ano. Até hoje não sei
porque ele saiu.
Mas esse “triângulo
amoroso” me marcou. Ainda mais se eu pensar que a Bia está chegando nessa idade
então daqui a pouco sou eu que posso “ganhar” genros.
Na mesma época fiz
amizades com garotos na rua como Zé Henrique e Junior, que moram até hoje aqui.
Pouco depois Wendell veio morar aqui e na casa ao lado que morava o Rui Pedro
veio uma família do Rio Grande do Norte. Fiz amizade com o filho mais velho, o
Flávio. É o primeiro que posso chamar de “melhor amigo”. Eu tinha entre 8 e 11
anos de idade nesse período.
Era um tempo que se
brincava na rua. Com eles e mais muitos como Juninho, Quito, Nem, Marcelo,
Cristiano, Willian, Beto, Fabinho (a quem perdi uma garota que eu gostava no
meu aniversário de 9 anos), Eduardo que era irmão do Flávio e as meninas. Dayse
(irmã de Flávio e Eduardo e foi namoradinha no estilo da Manuela), Verena (a
que eu perdi pro Fabinho) mais um monte de gente que chegava e partia.
Como eu disse era
tempo de brincar na rua. Jogar bola, jogar taco, pique esconde, pique bandeira
ou guerra de mamonas no meu quintal. Eu sempre péssimo nas brincadeiras e
sempre o último a ser escolhido nos times. Mas geralmente eu era o dono da bola
e tinham que me aturar.
Montamos um time na
época e chamamos de Temporal. Eu como jogava nada virei técnico. Era bem legal
a gente ir a outras ruas ou bairros da Ilha enfrentar outros times. Chegamos a
ganhar um dia de uma garotada que treinava na Portuguesa da Ilha e no dia
seguinte perder pro time da feira.
Engraçado. Na época eu
não parecia curtir tanto, até porque eu era o gordinho, o ruim de bola e então
acabava virando o “pele” da galera, o cara a ser zoado. Mas lembrando aqui do
que fazíamos e deles deu saudade.
Não sei se chegava a
ser o famoso “bullying”. Acho que não até porque outros muitos eram zoados e
alguns o pessoal chegava a tirar o short e deixar pelado na rua e isso nunca
ocorreu comigo. Enfim, tive uma infância que a garotada de hoje não irá
conhecer e essas zoações me ensinaram a devolver. A ser sarcástico, debochado
então teve seu lado bom.
Ao mesmo tempo formava
minha galera no colégio. No primário fiz grande amizade com Luciano, Paulo e
Fernando. O apelido do Luciano era
“biduda” e até hoje não sei o significa isso.
Perdi a menina que eu
gostava pro Fernando, normal na minha vida, e com Luciano e Paulo voltava
andando do colégio pra casa. Grande conquista para um moleque de 9, 10 anos. No
último dia de aula levamos ovos para jogar nos outros alunos e não tivemos
coragem.
Acabamos depois rindo
jogando em uma árvore na praia.
O tempo passou, mudei
de colégio e fiz uma das turmas mais especiais da minha vida. No colégio AME
conheci Luis Felipe (foto), Gustavo, Rodrigo (esses dois irmãos), Marco Aurélio e
George. Fizemos uma irmandade. Um grupo fechado mesmo onde um zoava o outro,
mas se protegia. Por causa do Luis Felipe parei uma vez na sala da direção, mas
em compensação foi em cima dele que vomitei no meio de uma prova de Matemática.
Tenho contato com o
Felipe até hoje graças às redes sociais e tenho orgulho de ser seu amigo e ver
o que ele virou.
Dessa época e desses
amigos acabei escrevendo um livro.
Me mudei para o Mato
Grosso e lá conheci Caio, Sidney, Marcelo, João Batista, Pedro Paulo, Tarcisio,
Adão, Válber..Tempo inesquecível quando começaram as festinhas, os bailes, a
volta pra casa de manhã, a ida na zona e a minha primeira vez quando dei mole e
sem querer contei ao Caio que era e ele me zoou muito.
Caio é mais um desses
amigos para a vida toda. Melhor jogador de botão que conheci, mas no ping pong
eu era melhor que ele. Torcedor fervoroso do Ayrton Senna a quem fui consolar
em sua casa quando o mesmo morreu.
Voltei pro Rio, fui
pra faculdade e conheci outros amigos especiais demais. Rodrigo (foto), Marcela,
Eduardo, Alexandre, Fabio Jansen, Jorge, Jorel, Sandra, Marizete..Passamos
quatro anos pelas barras e alegrias de uma faculdade. As colas nas provas, os
projetos, as saídas para bares. O projeto Glauber Rocha que consistia em fazer
um vídeo e que fiz com Rodrigo. Contracenar com Alexandre numa peça de teatro
no projeto “Nelson Rodrigues” e sentar numa cadeira a quebrando e caindo de
bunda no chão fazendo a platéia de um teatro lotado gargalhar e me sair
bem...Lembranças inesquecíveis.
Como fiz na internet...
Graças a internet
conheci muita gente legal em chats, em comunidades do orkut, twitter e
facebook. Participei de “orkontros”, briguei, amei, conheci gente como a Rê
Pepper, Fernando, Patrícia, Tamires, Raphael, Ross..Não conheci pessoalmente,
mas conheci Luciana, Gláucia, Val, Fabienne, Fernanda, Gisele, Cinthia, Carol
que se tornaram tão importante como se convivesse diariamente fisicamente.
Fiz amizades como a
Paola a quem quis pegar no começo e virou grande amiga, Fabiola, a quem tivemos
um namorico breve e virou minha “amiga doida” e através da Paola o Bruno
Granata (foto), seu namorado.. Formamos os quatro uma irmandade a ponto de passarmos
festas de fim de ano juntos e a família toda da Paola ir torcer por meus
sambas.
Conheci os “Monarcas
do samba”. Lista de discussão da internet que me adotou de cara. Gente
maravilhosa como Walkir, Pedro Migão, Reginaldo, Marcelo Einicker, Diego
Mendes, Cadu, Armando Daltro, Tânia, Sandrinha, Mauricio Poeta, Marthinha,
Carlos do K.
Ali conheci uma de
minhas melhores amigas. Companheira de cinema e UFC. Marta Caminha. Te amo
pessoa.
E amigos que não fiz
bebendo, mas fiz no samba.
Entre um samba e
outro, uma vitória e uma derrota fiz amigos sendo parceiros ou adversário.
Conheci antes do samba, mas fui pra lá com um dos caras mais maravilhosos que
já pisaram nesse planeta. Paulo Travassos. Parceiro do meu samba estandarte de
ouro, sempre com um sorriso no rosto, uma palavra amiga. Cara que não tinha
muito, mas me ajudou quando eu mais precisei. Nunca esquecerei disso.
Dizem que amigo de
verdade conhecemos na adversidade por isso digo que sim, tenho amigos de
verdade. Quando minha mãe morreu, minha renda caiu de quatro mil para cento e
sessenta reais e uma parte (não toda) da minha família virou as costas pra mim
nenhum deles me abandonou. Todos ficaram do meu lado, me abraçaram, ajudaram a
pegar na alça do caixão dela e alguns deles até financeiramente me ajudaram sem
nunca cobrar nada.
Pessoas especiais.
Ta faltando um. Quem me
conhece bem sabe e lógico que não esqueci dele. Cadinho da Ilha.
Só não fizemos sambas
juntos em 1998 quando ele foi para outra parceria e 1999 e 2000 quando foi pra
igreja. De 2001 a 2013 fizemos quase uma centena de sambas juntos, eu na letra
e ele na melodia. Cadinho não é apenas um dos melhores melodistas que já
conheci. É meu irmão.
Brigamos muito,
algumas vezes nos ofendemos, mas nos permitimos a acontecer essas coisas e
ficar tudo bem depois tamanho é nosso grau de amizade. Cadinho esteve presente
em todos os momentos da minha vida nessa última década e eu na dele. Vi a
transformação de um drogado e bêbado em um excelente pai e avô de família. Um
cara que é um exemplo porque venceu na vida. Ganhar samba é mole, ganhar dos
males que ele enfrentou não. Por isso tem minha admiração, respeito e amor.
Amor hétero evidente.
A gente pode até ser
feliz sem dinheiro e sem amor. Mas sem amigos é impossível.
Nossa amizade nem
mesmo a força do tempo irá destruir.
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