UM ESTÁDIO PRA CHAMAR DE MEU
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 14/7/2013
Domingo
vou assinar o pay per view
Pra
torcer pro time que sumiu
Vou
sentar em poltronas e cadeiras
Isso não
é brincadeira
Interditaram
o Engenhão
O maraca
é da playboyzada
Que nos
clubes deu garfada
Depois da
licitação
E o meu
time foi se esconder
E o nome
dele outro estado vai dizer
Fiz essa
paródia da música “Domingo” do Neguinho da Beija-Flor sábado de manhã enquanto
eu lia no twitter as pessoas falando do jogo do Flamengo contra o Coritiba em
Brasília.
O
Flamengo virou uma espécie de “Globetrotters do mal”. Pra quem não sabe o
Harlem Globetrotters é um time de basquete norte-americano que desde o começo
do século passado viaja pelo mundo misturando habilidade do jogo de basquete
com brincadeiras provocando diversão por todos os países que passa.
O
Flamengo também anda viajando demais. Os jogadores chegam em casa e seus filhos
não lhes reconhecem chamando o vizinho, o padeiro, o carteiro e o rapaz do GatoNet
de papai.
O
Flamengo, assim como os Globetrotters se exibe por inúmeras praças, nesse caso
no Brasil, para se mostrar. Chamo de “Globetrotters do mal” porque ao contrário
dos americanos o Flamengo vem espalhando falta de habilidade com as brincadeiras
provocando desgosto por onde passa.
O
Flamengo virou um sem terra assim como o Botafogo e o Fluminense. O Vasco tem
terra, mas não tem time. É o caos instalado no futebol carioca.
Apertem
os cintos o estádio sumiu. Parece um filme, mas é a realidade.
O carioca
sempre teve orgulho do Maracanã. Inaugurado para a copa de 1950 ganhou logo o
status de “maior do mundo” sendo palco de algumas da mais importantes partidas
e com maior público da história do futebol.
Ocasionalmente
o Maracanã era interditado para obras rápidas com isso logo na memória vem o
campeonato carioca de 1992 jogado em São Januário. Em 1995 o Flamengo, por
exemplo, mandou vários jogos fora do Rio por não concordar com as taxas.
Como eu
disse nada que durasse muito, mas que nos dois casos trouxeram desequilíbrio
nas competições. Lógico que em 1992 o Vasco levou vantagem por jogar a
competição em casa (não por culpa dele) e em 1995, no meio de todas as
confusões que se meteu o Flamengo ainda sofreu com a falta de residência.
Em 2007
foi inaugurado o Engenhão para os jogos Pan Americanos e a expectativa desse
problema acabar. Em 2010 o Maracanã foi demolido para a construção de um novo
estádio para a copa e dessa forma o estádio do Engenho de Dentro se tornaria o
principal da cidade por três anos.
Por
vários motivos e todos esses estranhos o carioca não gostou do Engenhão e com
isso deixou o estádio de lado. Sentia falta do Maracanã, colocou um monte de
defeitos no novo estádio e simplesmente “não deu liga”. Eu mesmo desanimei.
Nunca fui um cara que ia todas as semanas ao Maracanã, mas pelo menos quatro,
cinco vezes ao ano ia. Não fui a estádios depois de seu fechamento.
Parecia
que tudo iria voltar ao normal esse ano. Mas o Engenhão começou a trazer
problemas mesmo com apenas seis anos de uso e o maracanã, ex-maior do mundo, o
ex-palco dos grandes momentos do futebol brasileiro se arrisca a transformar em
um elefante branco graças a manobras políticas do governo do estado que gastou
um dinheirão na sua reconstrução e praticamente doou o estádio para Eike
Batista e seus rapazes.
O maraca
não é mais nosso, é deles e eles que decidem o que fazer com ele. Eles botam as
taxas que quiser, cobram o aluguel que quiser e como o Engenhão está fechado os
clubes só tem três saídas.
Jogam em
São Januário, coisa que a polícia não recomenda, vão pro interior do estado e
repetem a média de 900 pessoas por jogo que tivemos no último carioca ou fazem
bye bye Brasil.
Os clubes
do Rio estão perdidos.
Estão
perdidos também por culpa deles. Tirando o Vasco que nos anos 20 se planejou e
com o apoio de sua torcida e dos comerciantes criou São Januário nenhum nesse
tempo todo se interessou na casa própria. Ok. Por muitos anos mandaram jogos na
Gávea, Laranjeiras ou Marechal Hermes, mas os tempos mudaram e eles perceberam
e não fizeram nada. Por quê? Porque tinham o Maracanã.
Os quatro
clubes grandes de São Paulo, mais a Portuguesa, Guarani, Ponte Preta, todos tem
estádios. Lá tem sobrando, não sabem o que fazer com o Pacaembu que é mítico.
Podem alegar agora que o Corinthians tem ajuda governamental para sua arena, a
sorte de um ex-presidente fanático. Mas e daí? O Flamengo, dono da maior
torcida do mundo e por isso era obrigado a ser a maior marca e potência do Brasil
nesses últimos sessenta anos não teve relação com o poder para ter um estádio?
Só vou lembrar um rubro-negro fanático. Roberto Marinho.
Nem
precisava do poder público. Uma direção minimamente preparada, bem intencionada
já teria usado essa marca Flamengo junto à iniciativa privada e feito esse
estádio. O pior que é o clube não mostra a mínima vontade para isso. Os
próprios dirigentes atuais só falam em estádio caso não cheguem a um acordo com
o Maracanã.
Se
chegarem ao acordo são mais trinta e cinco anos sem estádio.
Nada
contra o Maracanã, mas acho que cada um devia ter seu estádio e usar o maraca
pra jogos da seleção e os mais importantes do estado como finais de taça
Guanabara, Taça Rio, estadual e clássicos regionais. Torcer pessoalmente está ficando
uma coisa séria. Os ingressos caros, os clubes jogando pelo país ganhando
dinheiro e se desgastando fisicamente e em campeonatos.
Ir a
estádio está virando coisa de elite, pra quem tem grana seja para ir ao estádio
ou pegar um avião e poder ver seu time do coração.
A coisa
fica tão feia que dá saudade até de ver a porcaria desse time do Flamengo
pessoalmente.
A Bia tem
com quatro anos e queria levá-la pra ver um jogo do Flamengo no Rio. Espero não
ter que levá-la junto com meus netos.
Domingo
eu vou..
..Ficar
em casa mesmo.
*Como eu
disse no começo essa coluna é de semana passada e algumas coisas mudaram. O
Fluminense assinou um contrato de trinta e cinco anos tendo direito a venda de
43 mil ingressos atrás dos gols e o Flamengo de seis meses com 50% do lucro de
seus jogos em tudo. Fará isso para testar.
Tudo
muito nebuloso ainda. Assinar por 35 anos? Sabemos nem se o mundo ainda
existirá em 2048 e em que condições estarão o futebol e a economia. Arriscado
demais, fora que o Fluminense não fez contrato pra lucrar e sim para não ter
prejuízo. Pensar pequeno.
O
Flamengo fez de seis meses, mas tem pontos que não podem vir a público. Por
quê? Contrato que não é totalmente as claras fica estranho e daqui a seis meses
se não chegarem a um acordo vai jogar aonde? Pelo Brasil ganhando dinheiro,
longe dos cariocas e tendo prejuízo técnico? Caso chegue ao acordo por quantos
anos? Nem pensar em estádio próprio?
Bobagens
como o diretor do consórcio querer proibir pessoas sem camisa, instrumentos
musicais e bandeiras no estádio e querendo que o torcedor se comporte como em
Wimbledon e agora essa polêmica entre Vasco e Fluminense pelo lado a entrar no
Maracanã. Os quatro clubes se desuniram e é cada um por si e o estado contra
todos.
Podiam
ter se juntado e feito um acordo para fecharem juntos com o consórcio, seriam
mais fortes juntos, mas cada um só pensa em si e agora se cria problemas como
esse.
O
Maracanã virou um estranho, comandado por pessoas estranhas e no meio de
atitudes estranhas.
Os clubes
já têm estádio pra jogar, mas não sei se tem estádio pra se sentir em casa.
Continuo
querendo um estádio pra chamar de meu.
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