OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE
O
assunto agora é o Matemático. Não, não é
o Oswald Souza nem nenhum desses matemáticos que aparecem na reta final do
campeonato brasileiro dizendo a porcentagem de chance que cada time tem de ser
campeão ou rebaixado.
Matemático
era mais um desses traficantes violentos que o Rio de Janeiro produz aos montes.
Esses traficantes já são produtos tradicionais de nossa cidade como as escolas
de samba e o mosquito da dengue.
Foi
morto no ano passado como milhares já foram e a população mal soube na época.
Evidente que a situação na favela que exercia sua função não foi resolvida,
outro assumiu no lugar e assim a dinastia continua.
Teria
passado despercebida a morte do tal Matemático se as imagens de sua morte não
tivessem parado na Globo, pior, no Jornal Nacional que é provavelmente o
programa mais visto pela tv brasileira.
Pronto.
A polêmica foi criada e a situação dividida entre dois lados apaixonados
defendendo fervorosamente seus pensamentos cuja imensa maioria não tira a bunda
do sofá para que algo seja feito para mudar a cidade ou o mundo em que vivemos.
Eu me
incluo nesses que fazem nada.
A
operação foi bem sucedida. O traficante fã da matemática foi eliminado e nenhum
inocente morreu. Essa inclusive é a tese dos defensores da operação, aqueles
que vibraram com a morte do traficante e são favoráveis a política do “olho por
olho, dente por dente”.
Do
outro lado estão aqueles que são contrários a operação e apontam seus erros.
Várias casas e prédios foram alvejados pelo helicóptero do BOPE na perseguição
ao carro que eles achavam que o traficante estava. Sim manolos, eles apenas
achavam, não tinham certeza.
Havia
pessoas na rua também, pessoas inocentes que nada tinham a ver com a história
ficaram no meio do fogo cruzado e não foram alvejadas por sorte.
Dessa
forma a questão ficou dividida entre os que aprovaram a ação e os que foram
contra. E eu? O que eu penso do assunto?
Antes
de mais nada quero dizer que apesar de não ser adepto da política do “olho por
olho, dente por dente” eu quero mais que traficante se exploda. Não só
traficante como todos os bandidos. Evidente que se tiver que escolher entre a
vida de um bandido e de uma pessoa de bem fico com a vida dessa pessoa de bem e
não derramo uma lágrima por morte de bandido.
Só que
há uma questão nesse caso. Prédios e casas alvejados, pessoas inocentes
expostas numa perseguição onde achavam estar trocando tiros com o traficante.
Deu certo, mas política pública não pode depender de sorte.
Alguns
defendem a ação por não aguentarem mais sofrer com a violência, a falta de
segurança, os desmandos, a nossa fragilidade e eu não só entendo perfeitamente
essas pessoas como aceito a tese. Eu sou um dos que não aguenta mais isso e
tenho medo pelo futuro dos meus filhos.
Mas
tem os fascistas também. Aqueles que “fingem” serem normais e aproveitam as
redes sociais onde existe um falso esconderijo e expõe todo o preconceito e
todos os pensamentos retrógrados e racistas que tem.
Porque
é mole pedir e aplaudir ação dessas em favela contra negro. Lembrando a data de
hoje, da promulgação da Lei Áurea é mole atacar as novas senzalas e mandar tiro
nos “negros fujões” como era feito no tempo da escravidão duzentos anos atrás.
Sim,
eu até apoiarei um dia ação dessas. Sabem quando? No dia que as mesmas ações
forem feitas na zona Sul do Rio de Janeiro ou até mesmo aqui na Ilha do
Governador.
No dia
que o BOPE sentar o dedo em bandido que estiver fugindo por Ipanema e
Copacabana, no dia em que prédios da Vieira Souto forem alvejados ou quando um
capitão Nascimento da vida der um chute na porta de um condomínio de luxo da
Barra e botar o empresário corrupto, inescrupuloso e verdadeiro chefão do
tráfico no saco.
Não
tiro a responsabilidade dos traficantes de morro e acho que sim eles têm que
ser presos ou mortos, mas até quando seremos ingênuos de pensar que pessoas sem
escolaridade, pobres são capazes de articular facções criminosas tão grandes,
capazes de arrecadar centenas de milhões de dólares sozinhos?
Isso
não existe. Tem que ser muito idiota para acreditar em uma coisa dessas e o
pior é que muita gente acredita ou finge acreditar.
Sabem
quem acredita? Quem fermenta, espalha essa ideia e acaba prejudicando a chegada
nos principais culpados? Esses que apoiam o “bandido bom é bandido morto”,
esses que dizem “tem que atacar mesmo”, que aplaudem ações dessas. Esses que
vivem reclamando da polícia, que cada vez mais ela parece com bandidos, mas
aplaude e apóia ações como essas em que policiais agem como bandidos.
O
brasileiro médio, aquele comparado com Hommer Simpson pelo Willian Bonner. A
nossa classe média que aplaude policial matar em favela quando muitas vezes nem
sabemos se o morto era bandido ou não, mas reclama da polícia quando é parada
em blitz de lei seca, quando toma uma “dura” fumando maconha com os amiguinhos
da faculdade ou diz que o filho é apenas um garoto quando esse provocou racha
na rua e pede pra aliviar.
Nossa
classe média é demagoga, pior que isso é burra e alienada, por isso esse país não
avança porque em qualquer país do mundo é a classe média que cria as opiniões e
as mudanças e aqui só conseguimos criar hipocrisia e demagogia.
Chegaram
ao cúmulo de comparar a ação na favela com a prisão dos “terroristas” de
Boston. Situações completamente diferentes. Primeiro que ninguém até hoje pode
dizer que tem certeza do que aconteceu ali. Dois jovens foram acusados de
terrorismo, um foi morto e o outro não pode falar. Isso é genial, é acabar com
qualquer tentativa de defesa e já definir uma situação.
Outra.
Os dois estavam escondidos em um barco quando teve confronto com a polícia e
até onde sei nenhum pedaço de grama ou gota de água da baía sofreu risco de
vida.
Sim
porque ao contrário da ação no Brasil não tinha inocentes em volta.
Quanto
ao americano aplaudir ações de guerra e acharem que aqui devia ser igual só
mostra que a classe média americana é tão burra quanto a brasileira. Somos
todos Hommer Simpson com a diferença que a classe média de lá é burra, bélica e
faz que essa guerra se volte contra eles.
Mais
uma vez, repito, não defendo traficante (sempre é preciso deixar isso claro já
que pra nossa classe média quem repudia ação assim gosta de bandido) por mim
matavam esse desgraçado, mas não botando outras vidas em risco. Querem eliminar
o cara? Eliminem na hora do “arrego”. O que? Como posso ter certeza que ele
dava dinheiro a policiais pra não ser preso? Tolinhos..
Também
não sou partidário do PSOL nem de qualquer organização socialista. Assim como a
maioria da população acho esses órgãos de direitos humanos cretinos porque só
aparecem quando bandido morre.
E
também começo a achar que o deputado Marcelo Freixo só quer aparecer nessas
histórias todas, cada vez mais me lembra mesmo o deputado Fraga do filme que
foi defender bandido em Bangu I, mas nunca apareceu no enterro de um policial.
Mas
não é por isso que acho que devemos dividir as pessoas em subclasses, não é por
isso que apoiarei ações policiais que coloquem seres humanos em risco só porque
são favelados.
Lugar
de bandido é na cadeia ou morto, de criança é na escola, papel de polícia é
proteger o cidadão. Tudo isso está na lei, é simples e o policial que hoje
infringe a lei contra um favelado é o mesmo que te pedirá a graninha da cerveja
amanhã.
O
mundo é cíclico e quando defendemos o olho por olho, dente por dente em algum
momento passaremos por essa situação.
É
matemático.
Sensacional sua reflexão, parabéns!
ResponderExcluirObrigado amigo
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