O LADO NEGRO DO BRASIL
* A partir de agora republico as
sextas colunas que criei nos últimos dois anos no Ouro de Tolo. Essa foi uma
das que mais teve repercussão nesse período e com ela começo a lembrar o aniversário da promulgação da Lei Áurea. Publicada em 17/6/2012
Prazer,
meu nome é Aloisio Villar de Oliveira, tenho 35 anos, compositor de
samba-enredo e sou negro.
Sim, sou
negro você não está vendo? Procure uma foto minha que vai rapidamente notar,
aliás, você também é negro sabia? Seus familiares são negros, o dono desse blog
é negro, o Brasil todo é negro..até o Pelé é negro !!
Somos
mestiços, cafuzos, mamelucos, mulatos, índios, negros, só não somos brancos.
Não pertencemos a “raça pura”, não somos arianos, no nosso sangue corre vários
tipos de sangue o que as letras de samba-enredo costumam chamar de
miscigenação.
Aliás,
acho que só em samba-enredo ouvimos essa palavra ou sobre Mauricio de Nassau.
O Brasil
negro dos africanos que começaram a chegar aqui escravos pra construir a nação
que temos hoje, que pode ainda não ser grande coisa, mas é uma nação. Negro que
trabalhou na lavoura, fez de suas mãos surgir açúcar, café, legumes, frutas,
construiu cidades e trouxe sua religiosidade para entrar na cultura brasileira.
Negros
que introduziram em nossa história nomes como Oxalá, Ogum, Exu, Iansã,
Obaluayê, Iemanjá, seus cânticos, “pontos”, saudações em preces e cantos e com
o tempo conquistaram inúmeros adeptos no sincretismo.
Trouxe o
atabaque e o “semba” que virou samba ao som do surdo. Agogô, tamborim, caixa e
vozes em alguma casa de uma negra que servia a todos com cachaça e feijoada.
E a
feijoada? Ganhou as mesas brasileiras não importando a classe social. O feijão
preto acompanhado de couve, farofa, laranja, arroz branco, torresmo, paio e
tudo do porco que possa imaginar. Fucinho, pé, orelha, eu não curto esses
“ingredientes extras”, mas muita gente gosta e a feijoada negra se transformou
no principal prato da culinária brasileira.
Assim
como os negros enraizaram no Brasil o samba. O balanço da mulata, o bailado do
mestre sala cortejando a porta bandeira, o swing do passista, requebrado que só
o negro tem. As escolas de samba dos negros Natal e Paulo da Portela..Oke Oke
Oxossi, faz nossa gente sambar, Oke Oke Natal, Portela é canto no ar.
Os negros
Candeia, Cartola, Jamelão, dona Zica, dona Neuma, Wilma Nascimento, dona Ivone
Lara, Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Aroldo Melodia, Clara Nunes,
Neguinho da Beija-Flor. Baluartes, senhores e senhoras do samba que construíram
tudo que nós vemos hoje.
Todo esse
espetáculo pirotécnico que hoje é feito pra turista, endinheirados e brancos
foi construído tijolo a tijolo por negros e muitos hoje não tem dinheiro nem
pra desfilar nem pra assistir. A Sapucaí é fria, é gelada como uma modelo loira
européia, não tem a desenvoltura da mulata, seu fogo e amor ao samba.
Negro
canta como Jamelão, Tim Maia, Jorge Bem, Emílio Santiago, Gilberto Gil,
Clementina de Jesus, Martinho da Vila, Tony Tornado, Elza Soares e Wilson
Simonal, toca como Pixinguinha, escreve como José do Patrocínio e Machado de
Assis e personagens negros de Jorge Amado que ganharam nossa imaginação.
Guerreiros
como Zumbi dos Palmares e Anastácia que não se deixou escravizar, que nos fez
gargalhar como Grande Otelo, Mussum, Tião Macalé e Jorge Lafond, entreter como
Milton Gonçalves, Chica Xavier, Ruth de Souza e Antonio Pitanga, nos apaixonou
como Adele Fátima, Camila Pitanga, Taís Araújo e vibrar como João do Pulo, Adhemar
Ferreira da Silva, Anderson Silva e os jogadores de futebol, na maioria negros
pobres que alcançaram sucesso e fortuna representados por Edson Arantes do
Nascimento, o Pelé, simplesmente o melhor jogador de futebol da história.
Devem
estar se perguntando porque esse assunto hoje. Semana passada eu vi um filme
chamado “tempo de matar” com o fantástico Samuel Jackson que contava a história
de uma menina de dez anos negra estuprada por dois homens brancos, surrada,
humilhada e que o pai não agüenta essa dor e mata os dois estupradores quando
eles estão entrando no tribunal.
O filme
todo envolve a questão do direito do pai fazer isso ou não tendo como pano de
fundo o racismo, a Klu Klux Klan e enraizado na alma aquele sentimento que
quase todo mundo tem em relação a algo, mas tem vergonha de ter que é o
preconceito, sendo que preconceito e racismo são duas situações diferentes,
preconceito é não gostar de algo, racismo é se achar superior.
Preconceito
que fica evidente quando o advogado de defesa pede para os julgadores e todos
que assistiam a cena fechassem os olhos e descreveu toda a cena do estupro com
grande dose de emoção e dizendo no final “imaginem agora que a vítima é branca”
provocando susto em todos.
Fiquei
com o filme e essa situação na mente. Até onde somos diferentes devido nossa
cor de pele? Sim, existem diferenças não tem como tapar o Sol com a peneira,
dependendo da cor da pele você tem mais ou menos oportunidades na vida, você
ganha mais, mora melhor ou toma “dura” da polícia se andar na rua de madrugada.
Vai mudar
um dia? Não sei. Cento e trinta anos atrás o negro morava numa senzala, era
achincalhado e nada recebia, hoje mora em favela, é achincalhado e ganha mal.
Branco quando corre é atleta, negro foge da policia, é assim que diz a piada
politicamente incorreta e que as vezes nos pegamos contando e rindo com amigos.
Assim
como muita gente viu o título da coluna e pensou que eu falaria mal do Brasil
ao usar a expressão “o lado negro”. Lado negro, humor negro, passado negro,
tudo isso representa o ruim. Alma branca é alma pura, preto de alma branca é o
racismo em forma de ditado.
Branco e
negro, branco e escuro, branco e preto.. pra mim são cores como azul, amarelo,
verde..
Um dia,
quem sabe nas futuras gerações o conceito de cor cai e predomina o de raça,
principalmente a que existe apenas uma raça.
A raça
humana.
Sim, sou
negro com muito orgulho e sou da raça humana.
Tributo a Martin Luther
King
Wilson Simonal/
Ronaldo Bôscoli
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Sim, sou um negro de cor
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim...
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim...
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Cada negro que for
Mais um negro virá
Para lutar
Com sangue ou não
Com uma canção
Também se luta irmão
Ouvir minha voz
Oh Yes!
Lutar por nós...
Mais um negro virá
Para lutar
Com sangue ou não
Com uma canção
Também se luta irmão
Ouvir minha voz
Oh Yes!
Lutar por nós...
Luta
negra demais
(Luta negra demais!)
É lutar pela paz
(É Lutar pela paz!)
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
(Luta negra demais!)
É lutar pela paz
(É Lutar pela paz!)
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Comentários
Postar um comentário