DEU NO NEW YORK TIMES
*Coluna publicada no Blog Brasil Decide em 28/4/2013
E o Lula
parou no New York Times!! Convidado escreverá uma coluna mensal para o mais
famoso jornal do mundo. Assim que vi a notícia lembrei logo da música de Jorge
Benjor “W/ Brasil” que citava o jornal.
Sem
entrar no âmbito dele ser um grande e honesto líder ou o maior de nossos
corruptos, Lula é um cara que desperta paixões e ódio não deixando ninguém sem
ter opinião. O nosso ex-presidente é um cara que pode sim ter uma coluna no New
York Times, transformou-se em uma das figuras mais conhecidas do planeta.
Quem me
conhece um pouco sabe que gosto do Lula e acho que foi um bom presidente, mas
reconheço uma dose de razão naqueles que lhe contestam e citam os vários
escândalos de seu governo para lhe atacar. Principalmente o fato dele “saber de
nada” no escândalo do mensalão.
Sou
eleitor de Lula antes mesmo de poder votar. Com treze anos vivíamos ainda
resquícios da ditadura militar, teríamos pela primeira vez uma eleição direta
para presidente em quase trinta anos e o tempo do regime ditatorial ainda
estava muito vivo em todos.
E em 1989
ainda vivíamos como nos anos sessenta e setenta. Política pulsava. Músicas com
esse teor eram feitas como alguns dos grandes sucessos do rock nacional.
Novelas como “Vale Tudo”, filmes como “Pra Frente Brasil”, campanha de “Diretas
Já”, apoio ao Plano Cruzado com muita gente saindo com adesivos em camisas
escritos “Sou fiscal do Sarney”,
Constituição sendo feita.
O Brasil
era muito mais político que hoje. As pessoas debatiam mais o assunto, se
interessavam mais. Tenho certeza que movidas a sensação de liberdade, respirar
democracia e a esperança de um país novo representado pelas eleições
diretas.
Como eu
disse ainda tínhamos resquícios da ditadura e esse resquício estava marcado na
situação que todo mundo tinha que ter opinião e principalmente, se posicionar.
No regime militar intelectuais, jornalistas, políticos, membros de esquerda
forçavam essa situação que ainda ocorria nos anos 80. Você era direita ou
esquerda, conservador ou liberal. O maniqueísmo de dividir entre vilões e
mocinhos apenas pela forma de pensar.
E ocorreu
essa divisão em 89. Quem apoiava Lula era o lado do bem e Collor o do mal.
Comprei essa idéia e três anos antes de poder votar fiz campanha para Lula. “O
“mal” venceu jogando sujo. Collor colocou na tv uma ex-namorada do petista
dizendo que ele queria que ela abortasse e dessa forma venceu as eleições.
Com o
tempo descobri que bem e mal não existe em política e sim senso de oportunidade.
Lula e Collor me ensinaram isso quando anos depois se tornaram aliados mesmo
com tudo o que ocorreu. Lula me mostrou de novo ano passado recebendo apoio de
Paulo Maluf. O mesmo Maluf que era governador de São Paulo quando ele foi
preso.
Mas não
foi o ex-presidente que inventou isso. Só lembrar que Prestes apoiou Getulio na
eleição presidencial de 1950. Apenas alguns anos depois que Getulio mandou a
esposa judia do líder comunista para a Alemanha nazista.
Digo isso
tudo pra mostrar que até posso concordar com contestações a sua trajetória
política dos últimos anos, alguns de seus atos. Mas acho babaca, ordinário,
preconceituoso debochar dele receber esse convite alegando que mal sabe
escrever.
Mesmos
ataques elitistas usados desde que ele surgiu no fim dos anos setenta. Debocham
do pouco estudo de Lula como se fossemos um país de alfabetizados com muitas
escolas, respeito ao dever cívico e a cidadania.
Como se
não fossemos um país de miseráveis, de gente que morre de fome, de gente que
com sete, oito anos de idade tem que largar os estudos e pegar em enxadas pra
trabalhar ou vender balas em ônibus, engraxar sapatos, se prostituir pra ter o
que comer.
Esses
imbecis estudados vivem tanto no mundo alienado deles que não percebe que a
maioria da população é como Lula e se identifica com ele. Não percebe que cada
vez que lhe ataca no pouco estudo eles se sentem atacados e lhe apóiam. Não
entendem que Lula tem vários telhados de vidro pra ser atacado e atacam justo
seu lado mais forte, seu campo minado pronto pra explodir quem pisa nele.
E dessa
forma o PT vai se perpetuando no poder.
Escrever
é muito fácil. Os malucos daqui mesmo cometem a insanidade de me deixar
escrever nesse espaço todas as semanas. Mas muito mais importante que saber
escrever é ter o que escrever. Lula é um cara de pouco estudo assim como
Cartola que foi porteiro de prédio, flanelinha de carros, resgatado da miséria,
velho teve que pedir abrigo ao pai por não ter onde morar e foi um dos maiores
compositores e conhecedor da alma da língua portuguesa que já existiu.
Cartola
não precisava ter uma caligrafia perfeita nem escrever sem erros de português
para fazer grandes letras, não precisava conhecer partitura musical pra fazer
as mais belas melodias. Quantas pessoas estudadas vocês conhecem que já
escreveram coisas do tipo “Queixo-me às rosas/ Mas que bobagem/ As rosas não
falam/ Simplesmente as rosas exalam/ O perfume que roubam de ti”.
Quantas
pessoas vocês conhecem que saiu dos grotões do interior do Nordeste para viver
em São Paulo, venceu a miséria, perdas pessoais e se tornou presidente da
República com 90% de aprovação, conhecido por todo o planeta e respeitado pelos
líderes mundiais?
Falem o
que quiser de Lula, podem pedir a vontade investigação sobre ele e cadeia. Mas
apagar essa trajetória, não reconhecer que ele é um vencedor na vida é idiotice
e o NYT nada mais fez do que ser inteligente e convidar alguém com história pra
contar para contar essas histórias.
Repito.
Não adianta saber escrever se você não tem o que escrever e além do mais todo
jornal tem um editor para corrigir os erros.
Em vez de
exalar chorume era melhor ler o que ele tem a dizer e pegar o que tem de útil
pra construção desse país.
E se não
gosta dele mais ainda é motivo pra ler. Primeiro passo pra ser derrotado por um
inimigo é não conhecê-lo.
Luis
Inácio falou..Luis Inácio avisou..
Comentários
Postar um comentário