A HORA DA VERDADE NA PORTELA
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 19/5/2013
Como eu
disse na coluna anterior a Portela era outra história, outra coluna e deixei a
desse domingo reservada para ela.
Por quê
fiz isso? Porque hoje dia 19 de maio, é um dia histórico na maior campeã de
nosso carnaval. A Portela escolherá
entre situação e oposição, entre Nilo e Serginho Procópio.
Não.
Definir apenas entre essas disputas é simplório demais. A Portela ira decidir
entre o atraso e o recomeço, entre se apequenar e voltar a se agigantar, entre
a quase morte e renascer.
Principalmente.
A Portela decidirá entre a mentira e a verdade.
Nasci em
1976 quando a Portela já era 19 vezes campeã do carnaval. Depois que eu nasci a
Portela só venceu duas vezes e nem sou tão novinho assim. Venceu empatada com
Beija-Flor e Imperatriz em 1980 e ganhou um dia de desfiles em 1984 acabando
vice campeã num super campeonato decidido com a Mangueira que só foi realizado
naquele ano.
Mereceu
ser campeã em 1995, mas os Deuses do carnaval e os “diabos” com caneta e mapas
de notas nas mãos não deixaram.
Além de
1995 merecia ser campeã em...em...em..Não, não teve mais nenhum ano. Poderia
até ser campeã em mais algum anos, tivemos campeãs muito contestáveis ao longo
dessas décadas, mas de 1985 pra cá tirando 1995 em nenhum ano podemos falar
“esse era da Portela”. Desculpem o palavreado, mas porra!!! É a Portela, a
maior das escolas de samba!! Não pode isso!!
A Portela
é gigante, é monstruosa no bom sentido. Sofreu desmandos de Carlinhos Maracanã
por muito tempo, conseguiu se livrar desse e assumiu o Nilo que é ainda pior e
mesmo assim a escola está lá no grupo especial lutando, cantando com raça e
emoção. Surgem novos portelenses apaixonados e com sambistas mais velhos e de
cabelos brancos produzem, fazem arte. Artistas da maior qualidade.
Portela
que mesmo humilhada por aqueles que comandam, mesmo passando por tristezas, por
fogo que corroeu sua alma, sua águia perdendo vôo e até asas é capaz de
produzir sambas espetaculares como em 2012 e 2013. De fazer o Barcelona dos
sambas no tempo que o Barcelona ainda era time.
Eu ainda
peguei o tempo que todo mundo parava pra esperar a Portela. Era temida,
assustava. A águia aparecia na frente, algumas vezes com voz e todo mundo se
espantava, mas maltrataram tanto a escola que ela virou coadjuvante. Chegou-se
a um ponto que hoje em dia esperam mais escolas fabricadas que nunca foram
campeãs que ela.
Chegou ao
ponto dela vir com alegoria fazendo provocação a uma escola que tem sete vezes
menos títulos que ela.
Isso
mudou um pouco nos últimos anos com seus sambas espetaculares, mas isso não é
mérito da direção da escola, é de seus sambistas apaixonados que não deixam
essa grande expressão cultural do Brasil morrer.
A gigante de 90 anos recém completados. De “O samba dominando o mundo” em 1935, “Memórias de um sargento de
milícias” de 1966, “Lendas e mistérios das Amazonas” de 1970, “Lapa em três
tempos” de 1971, “Ilu Ayê” 1972, “O mundo melhor de Pixinguinha” de 1974, “O
homem do Pacoval” 1976, “Incrível, fantástico, extraordinário” 1979, “Hoje tem
marmelada” 1980, “Das maravilhas do mar fez-se o esplendor de uma noite de 1981
(O meu samba-enredo preferido), “A ressurreição das coroas – Reisado, reino e
reinado” de 1983, “Contos de Areia” de 1984, “Adelaide, a pomba da paz” de 1987
(o samba que já me fez chorar), “Na lenda carioca os sonhos do vice rei” de
1988, “Tributo a vaidade” de 1991, “Quando o samba era samba”de 1994, “Gosto
que me enrosco” de 1995, “Os olhos da noite” de 1998.
Portela que subiu o Pelô e mandou abrir a roda.
Portela que é tão grande que mesmo com esse sofrimento ninguém chegou perto de
seu número de conquistas e hoje para o mundo do samba graças a sua eleição.
Hoje é o dia. Dia nacional do Portelense. É dia
de todos os portelenses irem pra quadra e fazer valer sua força, sua indignação
contra péssima gestão. Dia de todos mostrarem seu amor a Portela sejam vivos ou
mortos. Hoje teremos Paulo da Portela, Natal, Clara Nunes, João Nogueira,
Mestre Marçal, todos unidos nessa missão. Monarco, Falcon, Serginho Procópio,
Luiz Carlos Máximo, Wanderley Monteiro, tia Surica, dona Dodô, Paulo Renato,
Fabio Pavão, meu amigo Pedro Migão. É dia de história, dia de restabelecer a
verdade no carnaval.
Não sou portelense, mas amo o carnaval e por isso
quero essa mudança, essa volta da Portela. Meu pai é portelense e mesmo não
tendo muito contato com ele me mostrou desde pequeno o valor da escola e sua
importância. Felizmente no samba não temos a rivalidade existente no futebol e
quem torce por uma escola freqüenta a outra de boa, ninguém torce para a outra
escola fracassar, quebrar carros, apenas queremos que a nossa passe melhor.
E pelo que percebo não sou apenas eu que penso
assim, quase todo mundo torce pelo bem da Portela e que ela volte a pisar forte
na avenida, que a águia volte a ter voz.
O carnaval precisa da Portela e que cada
associado hoje na hora de votar vote com amor, com devoção. Nas mãos de cada
associado está o futuro da escola.
Meu coração tem mania de amor e esse amor me leva
em pensamento e esperança para a rua Clara Nunes hoje. A Portela foi um rio que
também passou em minha vida e meu coração se deixou levar.
Salve o samba, salve a santa, salve ela.
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