DONA CAROLA
*Conto publicado no blog Ouro de Tolo em 25/8/2012
Ter mãe super protetora não é fácil e Henrique era um rapaz que conhecia bem esse drama.
Henrique
era filho único de uma mulher que ficou viúva bem jovem então dedicou a vida a
esse filho. Dona Carola, mulher dos tempos antigos, religiosa fervorosa,
moralista ferrenha e que seguia preceitos bem antigos.
E
Henrique tinha que seguir essa cartilha. Mesmo sendo um rapaz de trinta anos,
formado em economia na PUC e trabalhando no Banco do Brasil era visto por dona
Carola como o “filhinho da mamãe”.
Ele nunca
deixou de morar com a mãe, por achar mais cômodo e para não deixar a pobre
senhora sozinha, mas isso interferia em sua vida e fazia que o marmanjo fosse
tratado como criança.
Dona
Carola quem o acordava de manhã e quando Henrique sentava à mesa para o café
ela já estava posta com tudo que ele gostava. Leite, achocolatado, suco, pão,
margarina, requeijão, presunto, queijo e um delicioso bolo de fubá que só dona
Carola sabia fazer.
Henrique
despedia-se pro trabalho pedindo benção a mãe e dona Carola entregava uma
marmita a ele com o almoço por não querer que o filho comesse besteiras na rua.
Também entregava um guarda chuva e um casaco mesmo no verão senegalesco do Rio
de Janeiro e que nenhuma nuvem passasse nem perto da cidade.
Era por
precaução dizia dona Carola.
E dona
Carola passava o dia tomando conta da casa, rezando e ligando para Henrique no
trabalho querendo saber se estava tudo bem, se ele se alimentou direito e
reclamando que estava passando mal. Dona Carola tinha uma saúde de ferro, mas
era hipocondríaca.
Como
vocês podem ver as coisas não eram fáceis para Henrique e já imaginam como era
para o rapaz namorar.
Arrumou
muitas namoradas ao longo dos anos, mas nada dava certo. Nenhuma aguentava dona
Carola e ela não suportava nenhuma, era inimizade a primeira vista e a velha
senhora sabotava tanto as relações de seu filho que ele acabava sendo largado.
Dona
Carola queria Henrique só para ele. Na cabeça da mãe nenhuma mulher prestava só
que Henrique já trintão sentia necessidade de conhecer uma mulher legal, se
apaixonar e constituir sua família, dona Carola não viveria para sempre, ele
não poderia ser eternamente o filhinho.
Nessa
situação que Henrique começou a reparar numa mulher que começara a trabalhar
recentemente no banco. Branca, cabelos negros, cheia de charme linda. Ela devia
ter a faixa etária de Henrique e ele resolveu conhecê-la melhor.
Aproximou-se
e papo vai, papo vem, tornaram-se amigos. Descobriu que ela se chamava Carla e
um dia Henrique convidou a moça para jantar. Enganou a mãe dizendo que faria
hora extra no trabalho e levou Carla ao cinema e depois para o jantar
romântico.
Jantaram
e Henrique levou Carla de carro até sua casa. Estacionados na frente da
residência deram o primeiro beijo e a coisa foi ficando mais ardente até que
Carla convidou Henrique para entrar.
Henrique
se animou com o convite, mas na hora de dizer sim e adentrar os aposentos com
aquela gata estonteante seu celular tocou. Era dona Carola dizendo que estava
tonta e com sensação que desmaiaria.
Henrique
desligou o telefone pedindo desculpas a Carla e contando que teria que ir
embora, pois, sua mãe não passava bem. Carla ficou frustrada, mas disse que
entendia e que mãe era importante.
Henrique
voltou para casa e continuou saindo com Carla sempre que dona Carola não
tentava atrapalhar. Começaram a namorar e Carla levou Henrique para almoçar em
sua casa e conhecer seus pais.
Depois do
almoço Carla cobrou que o namorado fizesse o mesmo e levasse a ela para
conhecer sua mãe. Henrique engasgou com o licor que tomava e respondeu que não
sabia se era uma boa.
Carla
perguntou se Henrique tinha vergonha dela e o rapaz respondeu que não, muito
pelo contrário e que o problema era sua mãe, uma pessoa difícil. Carla não
aceitou aquela conversa e exigiu que Henrique marcasse para se conhecerem.
Resignado
o rapaz voltou para casa e contou à mãe que estava namorando e queria que ela
conhecesse sua escolhida. Dona Carola fez cara de poucos amigos, mas topou
mandando que o filho levasse a namorada em casa.
Henrique
levou Carla e dona Carola para almoçar em um restaurante e Carla tentou ser
toda simpatia tratando a velha bem, mas dona Carola não era fácil parecia
zagueira do Bangu.
Dona
Carola olhava sério para Carla o tempo todo, não dizia uma palavra e olhava
fixamente a menina que se constrangia. O clima na mesa era pesadíssimo e um
momento Henrique levantou para ir ao banheiro.
Com o
rapaz ausente dona Carola perguntou a Carla quais eram suas intenções com o
filho. Carla sem graça respondeu que as melhores possíveis, ela queria casar
com Henrique e ter filhos. A senhora respondeu que nunca, só passando por cima
de seu cadáver e que ela costumava comer o fígado das pretendentes de Henrique
com molho ferrugem e salada de alface.
Carla
sentiu um arrepio na espinha e Henrique voltou à mesa perguntando se estava
tudo bem. Carla assustada respondeu que sim e dona Carola sorridente pediu mais
vinho ao filho.
Henrique
e Carla continuavam o namoro e dona Carola tentando atrapalhar de todas as
formas. A moça pensou em ensaiar um “ou ela ou eu”, mas sabia que se daria mal
nisso e resolveu seguir a política do “se não pode vencer, una-se a ela”.
Chegou
num sábado à tarde na casa do namorado levando o vinho preferido da sogra que
surpresa agradeceu a nora. Henrique também ficou surpreso e perguntou que
novidade era aquela. Sem responder Carla contou que tinha mais uma surpresa e
tirou um ingresso do bolso.
Dona
Carola perguntou o que era aquilo e Carla respondeu que era
um
presente. A moça sabia que dona Carola era louca pelo filme “O mágico de Oz” e
soube que o filme totalmente remasterizado fora relançado em um cinema do
centro da cidade e quis dar o ingresso de presente.
A velha
ficou exultante, pela primeira vez deu um sorriso para a nora e deu um beijo em
seu rosto agradecendo pelo presente. Entrou correndo em seu quarto para se
arrumar e ver o filme enquanto Henrique abraçava a namorada elogiando a ideia.
Dona
Carola foi ao cinema enquanto os pombinhos ficaram em casa namorando. Ela
entrou na sala e achou esquisito estar meio vazia e só ter homens dentro. O
filme começou e a velha senhora se encantava em rever a pequena Dorothy e seus
amigos. Ela lembrava cada pedaço da história, cada música, mas algo estava
diferente.
Ela via o
filme e se espantava pensando “a história não era assim”. Dona Carola se
assustava cada vez mais até que ao ver Dorothy fazer certas coisas com o homem
de lata deu um grito e desmaiou.
Algum
tempo depois no auge dos amassos Henrique recebeu telefonema pedindo que fosse
com urgência ao cinema. Ele foi e lá descobriu que sua mãe estava morta,
infarto fulminante.
Henrique
chorava a perda da mãe e Carla tentava entender o que ocorrera, até que prestou
atenção nos letreiros do lado de fora do cinema, não era “O mágico de Oz” que
passava ali, era “O sádico de Oz”, um filme pornô.
Dona
Carola foi enterrada e Henrique se viu sozinho, no meio daquela solidão
percebeu que estava livre e mesmo com saudades da mãe
notou que poderia fazer o que quisesse.
Ligou
para Carla pedindo que ela passasse em sua casa. A namorada entrou e ele foi
logo jogando a moça na parede, beijando e tirando sua roupa. Era livre ninguém
mais iria lhe impedir, até que ouviu um grito “que pouca vergonha é essa?”.
Parou,
olhou para o lado e Carla perguntou qual era o problema. Henrique perguntou se
a namorada não tinha ouvido nada e ela respondeu que não, o rapaz então decidiu
deixar pra lá e continuou beijando até que ouviu um “para Henrique!!”.
Henrique
soltou a namorada, olhou para o lado e deu um grito “mãe??”. Era dona Carola,
estava lá assombrando o filho e Carla perguntou o que ocorria. Henrique
assustado perguntou se ela não via sua mãe ali e Carla respondeu que não e que
o namorado precisava descansar indo embora.
A vida de
Henrique virou um inferno. A todos os lugares que ia sua mãe estava do lado e
só ele via. Isso foi fazendo que o pobre Henrique começasse a ter problemas no
trabalho e pior, com Carla.
Todas as
vezes que os dois ficavam sozinhos seja na casa de um deles ou motel dona
Carola aparecia e Henrique começava a brigar com a mãe. Como só ele via o
fantasma de dona Carola Carla começou a pensar que o namorado estava louco.
Essa
situação levou a desgaste do namoro e seu fim. Carla não queria ver Henrique
mais nem vestido de verde e amarelo e pediu transferência para outro banco.
Henrique
ficou solteiro, tentou conhecer outras mulheres, levar para seu
apartamento, mas dona Carola era implacável e nada dava certo. O rapaz já se
encontrava em desespero por não conseguir se livrar da mãe e se abriu com um
amigo que achou uma solução. Levá-lo a um terreiro.
O amigo
levou Henrique a um centro e lá o Pai de Santo disse que tinha a solução.
Recebeu um preto velho e passou uma série de coisas que Henrique teria que
fazer e assim despachar sua mãe pro além.
Henrique
seguiu a risca as recomendações do preto velho e arriou um despacho na esquina
de casa. Não encontrou galinha preta e da esquina ligou para o amigo perguntando
se podia usar caldo maggi. O amigo puto respondeu que já era quatro da manhã e
não enchesse o saco. Desligou e Henrique resolveu usar o caldo mesmo.
Henrique
fez a macumba e ela deu certo. Percebeu com o tempo que a mãe não aparecia
mais. Ele estava livre. Henrique foi até a igreja preferida de sua mãe, acendeu
uma vela para ela pedindo desculpas pela macumba e pedindo que sua alma fosse
para um bom lugar.
Com as
semanas passando e vendo que tudo estava resolvido decidiu procurar Carla em
sua nova agência bancária. Com um buquê de flores na mão pediu desculpas a ex
namorada por todas as confusões, disse que estava tudo resolvido e pediu uma
nova chance.
Carla
amava Henrique, deu um sorriso, pegou o buquê e lhe deu um beijo apaixonado sob
aplauso de todos.
De noite
Henrique e Carla entraram no apartamento do rapaz se agarrando
e tirando a roupa. Com o pé Henrique abriu a porta do quarto e quando entraram
deu um grito.
Carla se
irritou, disse que o rapaz não tinha jeito e foi embora largando o coitado lá
sozinho olhando aquela imagem dantesca em sua cama.
Dona
Carola pelada rindo abraçada ao preto velho.
Não há
lugar melhor que o nosso lar...
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