O CAMPEONATO "AMOR À VIDA"
Quando
eu comecei a escrever aprendi uma lição fundamental que levo sempre em minha vida. A história pode
ser uma merda, se o fim for legal salva tudo.
Um
exemplo que sempre digo disso foi o filme “O sexto sentido”. O filme se tem
duas horas de duração uma pelo menos é chato, modorrento, acontece nada. Na
outra hora fica legal com os acontecimentos sobrenaturais em torno do garoto,
mas seria mais um dos muitos filmes legais que existem.
O
que fez desse filme lendário foi o fim. Um grande fim. Inesperado, impactante,
histórico que pôs esse filme como um dos grandes da história do cinema e alçou
seu diretor de nome esquisito que não to com saco de ir ao google pra escrever
direito um dos grandes da indústria.
O
camarada fez mais alguns filmes. Modorrentos como o “Sexto Sentido”, sem o fim
de “Sexto Sentido” e sumiu.
Exemplo
recente foi a novela “Amor à vida” da Rede Globo. Novela que foi muito zoada,
ridicularizada, ruim de verdade, uma das piores que já passou pelo horário
nobre com atores reclamando e crise de bastidores.
Mas
nas últimas duas cenas, do beijo gay e da reconciliação do Félix com o pai, fez
o Brasil chorar, pedir perdão de joelhos ao autor Walcyr Carrasco e a novela
ruim pra cacete teve sua redenção.
Por
quê digo isso?
Porque
ontem escrevi para o blog Ouro de Tolo uma coluna que falava sobre o “Clássico
dos milhões”. Falei um pouco da história dos estaduais, sua importância,
decadência e do campeonato carioca de 2014, um dos piores de todos os tempos.
E
assim foi até os trinta minutos do segundo tempo.
Porque
até ali o Flamengo seria campeão com um 0x0 desonroso de um campeonato
desonrado, mas aí saiu o gol do Vasco, que seria o fim da escrita, o fim de seu
drama de 26 anos.
Eu
tava na rua na hora desse gol e o Rio de janeiro parou. O mesmo Rio que
desprezou o campeonato todo. O cobrador do ônibus, vascaíno viu pela tv antes
do mesmo sair e disse “O Vasco vai meter mais gols nessa urubuzada. Vão perder
igual perderam pros argentinos (sic) quarta”.
Pronto,
aquilo finalmente me despertou para o campeonato. Não, não podia perder, não
pro Vasco. Eu que até então estava tranquilo olhava o tempo todo pela janela do
ônibus que estava enquanto ele se encaminhava para o shopping em busca de uma
tv de um barzinho para ver o que ocorria. Estava com celular, fone, mas não
tinha coragem de ligar, procurava pelas imagens.
Consegui ver em uma tv o 0x1 e
a informação de 45 minutos do segundo tempo. Comentei com a Hellen, minha
namorada “É, vai perder pro Vasco”.
Até
que começou um pequeno foguetório. Imaginei que fosse o fim do jogo, mas ouvi o
cobrador balbuciar “pqp, acho que foi gol do Flamengo”.
Exclamei
“Não pode ser!!” e tive coragem de ligar o rádio. Ouvia o Penido completamente
alucinado e só conseguia repetir “Não pode ser”. A Hellen me perguntava o que
ocorreu e eu respondi “Não pode ser, gol do Flamengo”.
Passamos
por um bar e as pessoas pulavam, gritavam, se abraçavam, começou um enorme
foguetório e comentei que ainda não tinha acabado.
Ate
que alguns segundos depois acabou e fiz questão de gritar que tinha acabado
para o cobrador me perguntar se tinha acabado e eu sorrindo responder que sim.
E
claro, depois que desci gritei “vice de novo”. O campeonato carioca se
transformara no meu “Amor à vida”.
Buzinaço
pelas ruas, pessoas, muitas, com camisas do Flamengo, hino tocando, ninguém
mais lembrava do vexame para os “argentinos” na quarta assim como depois do
lendário gol de Petkovic em 2001 ninguém lembrou mais e não lembra até hoje que
quatro dias antes o clube fora eliminado da Copa do Brasil pelo Coritiba no
Maracanã.
O
Vasco foi claramente prejudicado, de novo aliás, eu disse na coluna de domingo
que se tivesse justiça o Vasco seria campeão, mas futebol nunca andou de braços
dados com a justiça e queria ouvir o Maracanã gritando “vice de novo”.
E
pela campanha foi um título justo. Foi beneficiado como foi muitas vezes em sua
história e como todos os clubes de futebol do mundo já foram.
Somos
muito exigentes com o futebol. Cobramos violentamente de jogadores, técnicos,
dirigentes como não fazemos com políticos.
Falamos em roubalheira no futebol,
roubalheira onde os acusados na maioria das vezes são seres humanos sujeitos a
falhas e trabalhadores e não cobramos os grandes escândalos desse país.
Esquecem
que futebol na verdade é diversão, hobby, é zoar e ser zoado. Nunca me veem
reclamar de arbitragem, ofender torcedor adversário, brigar por causa de
futebol porque pra mim ele é um delicioso e apaixonante entretenimento.
Como
é um filme como “O sexto sentido” ou Novela como “Amor à vida”. O campeonato
carioca 2014 ta longe de concorrer a um Oscar ou Emmy. Continua com uma
história ruim, vazia, sem graça e mostrando uma saga decadente, nada mudou.
Mas
teve um grande e polêmico fim que será o principal assunto hoje na escola, no
trabalho, no bar e por muitos anos trará calorosas discussões e será lembrado
por seu fim surpreendente.
Só
que ao contrário de “O sexto sentido” nesse fim descobrimos que o campeonato
carioca está vivo.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAdoramos né? rs
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