NOVE ANOS SEM ELA
Ano
passado nessa mesma data fiz uma coluna chamada “Oito anos sem ela”. Ano que
vem se eu continuar vivo, capaz e permanecer com o blog farei “Dez anos sem
ela” e assim será sucessivamente porque 4 de abril é um dos feriados desse
blog.
Mais
uma vez é uma carta, endereçada a ela, mas permitido a quem quiser ler. Segue
abaixo a carta:
Oi
mãe. Cá estou eu de novo te enchendo. Mais um ano se passou né? Como outros
passaram e outros virão. Como você está? Espero que bem, aqui as coisas
continuam como sempre, uns dias bem, outros mal, pra variar o Boi caiu de novo,
mas parece que vai ter copa.
Jeito
estranho de começar uma carta né? Mas são nove anos que não nos vemos e acaba
se criando uma cerimônia por mais que a gente tenha intimidade. Poderia dizer
que parece que foi ontem, mas estaria usando um clichê para mentir. Não mãe,
não parece que foi ontem, faz tempo pra cacete e isso me deixa um pouco
amargurado.
Porque
como eu digo numa peça de teatro que finalizei essa semana “Deus inventou a
lembrança e o Diabo a saudade”. O problema de envelhecermos é que essa tal de
saudade fica cada vez mais presente em nossas vidas, vira algo corriqueiro.
Não
que eu esteja velho, ainda estou longe disso e me considero no auge da minha
vida, da maturidade, da disposição, de tudo, mas não sou mais o garoto que você
conheceu e conviveu. É, é estranho dizer que não sou mais o mesmo que viveu com
você, mas não sou.
O
rosto muda, o cabelo muda, o jeito de andar, de pensar, de falar, pensamentos,
tudo muda com o passar do tempo e eu mudei com esse passar. Nove anos não são
nove dias e o mundo não é mais o mesmo de quando você o deixou.
Isso
aflige um pouco porque por mais que haja amor e sei que você sabe que esse amor
continua imenso e nunca diminuiu o tempo tem seu lado cruel e se encarrega de
mostrar todos os dias que ele existe e distancia as pessoas que se amam.
Ainda
lembro de sua voz, mas confesso que já lembrei mais, me lembro de sua
fisionomia claro, dos seus gostos, mas isso também já foi mais nítido na minha
vida, essas datas como de hoje continuam mexendo muito com meu temperamento,
meu humor, evidente que alguma lágrima sempre escorre num 4 de abril como
escorre nesse momento, mas antes era a semana toda.
Acho
que é por isso que a lágrima está escorrendo é que confesso que morro de medo
de você morrer de novo. Sei que muita gente foi ao seu enterro, a sua missa de
sétimo dia, algumas foram a sua missa de um mês e hoje me causa tristeza
imaginar que talvez apenas eu saiba que data é essa. A vida de todo mundo
continuou, a minha vida continuou, mas não quero que a sua termine. Eu não
posso deixar você ser esquecida e por isso encho tanto o saco dos outros
principalmente em redes sociais falando de você porque não posso permitir que
isso ocorra.
Meu
maior pavor é que um dia aconteça o 4 de abril ou o 27 de novembro e eu só
lembre seu significado durante o dia. Acho que isso seria minha morte.
Já me
basta nos ver em fotos e eu me ver tão pouco nelas, tão pouco de mim
atualmente. Se eu não nos ver em minha mente é minha morte.
Mas
vamos falar de coisas boas.
Ano
passado quando te mandei carta eu não estava bem. Talvez você soubesse porque
escondo nada de você, mas mais ninguém sabia. Isso aprendi com você. Acho que
tive depressão ano passado, não tenho certeza porque acho depressão uma palavra
forte, mas te digo que meus dias felizes foram menos que o normal. Todo mundo
me via rindo, brincando, mas sempre soube disfarçar bem. Muitas vezes quem
“segurou minha onda” foi a Bia, mesmo sem ela saber.
Aliás,
você viu como ela está? Está esperta demais, linda, grande, ela vai ser uma
mulher linda mãe, dará trabalho. A Bia já sabe quem é você, pergunta porque
você morreu. Respondo que você ficou dodói e ela responde que sente saudades.
Eu sorrio pensando na inocência de uma criança que tem saudades de quem não
conheceu, mas aí penso “será que não conheceu mesmo?”.
Vejo
a Bia como sua representante na Terra, a pessoa que você mandou para que
tomasse conta de mim e acho que não estou errado. Ela sempre pergunta pelo
pimpão também e diz sentir saudades. Também sinto. Se ele estiver aí faça um
carinho nele por mim.
Obrigado
por cuidar do Gabriel viu? O doce e meigo menininho que por uma grande
brincadeira do destino nasceu no mesmo dia meu e da vó e logo com um mês nos
deu um grande susto. Sei que você e outros protetores que tenho foram
fundamentais para a recuperação dele. Biel cresce forte, gordinho, como uma
criança normal e é esperto. Já começou a engatinhar e seus dentes estão
nascendo. Experimentou feijão e arroz pela primeira vez essa semana.
As
coisas começaram a caminhar de novembro pra cá. Caminhando duas, três horas por
dia, caminhando em direção a uma vida mais saudável, perda de peso, ganho de
auto estima. Foram mais de vinte de dois quilos, quase o que quero, mas com a
cautela de já ter perdido antes e recuperado. Um passo de cada vez que ainda
falta muito nessa caminhada.
Fui
encenado em São Paulo, nove vezes por estudantes de teatro de São Paulo, teatro
cheio todas as vezes, nas últimas com cadeiras extras e peça muito aplaudida,
fui muito cumprimentado. Escrevi mais algumas coisas e tudo muito elogiado.
Portas se abrindo, parcerias sendo formadas, você teria adorado ver.
Como
teria adorado ver o que estou fazendo no Boi. Como te disse ele caiu de novo,
mas a diferença é que em vez de lamentar resolvi agir. Dei o pontapé em um
movimento de resgate para a escola que conseguiu juntar muita gente boa,
importante e acho que a coisa vai.
Quem diria, a escola que um dia resolvi
compor samba, que você ajudou fazendo alegorias para minha torcida, comprando
fogos, que você chorou quando perdi meu primeiro samba e eu teria todo esse
envolvimento ainda com a agremiação.
Isso
tudo que eu tive a ideia e vem acontecendo equivale a um estandarte de ouro, o
mesmo que eu dediquei a você e que pus alguns anos depois uma foto em seu
caixão.
Conheci
pessoas bacanas, que se tornaram importantes em minha vida. Conheci a Hellen.
Você já deve saber quem é. A Hellen é do tipo de pessoa especial, que não te
assiste jogar, joga junto contigo. Amorosa, companheira, doce, ela e especial
mãe, acho que iria gostar dela.
Sabe
mãe, acho que to feliz. É esquisita essa sensação porque nós sempre somos
condicionados a falar que somos felizes, mas nem sempre somos. Mas nesse
momento realmente acho que estou feliz. Estou me sentindo mais corajoso, mais
querido, mais confiante, mais forte. Seu que isso tudo é cíclico, mas quero que
esse ciclo dê frutos.
E
mesmo que eu fique diferente das fotos, que sua voz vá sumindo de meus ouvidos
quero que saiba que meu coração é seu, sempre será. A você devo tudo, a minha
vida, quem eu sou e acho que ainda não consegui passar a sua importância na
minha vida. Já escrevi tanto sobre você, mas ainda não escrevi “a definitiva”.
Vai acontecer.
Só
quero, na despedida dessa carta, dizer que por mais que a distância atrapalhe,
a saudade doa e eu tenha medo em relação a memória eu te carrego comigo. Com
seu nome em minha pele e seu legado por meus poros. Eu sou você, sou sua
continuação e tudo que eu faço, tudo que almejo, luto, conquisto faço por
quatro pessoas. Por mim, por Bia, por Gabriel e principalmente por você porque
eu sei que eu fui seu maior projeto, seu maior sonho e não vou deixar isso
morrer. Isso não.
Acho
de coração que a vida foi injusta com você, que o mundo poderia ter sido mais
bacana contigo, mas eu vou “te vingar”. Vou conquistar o mundo e vou colocar
uma bandeira com seu rosto no topo dele como os astronautas fizeram na Lua.
E
o que nós somos senão astronautas querendo seu lugar no espaço?
Se
cuida mãe. Deus te abençoe e já que você está perto Dele peça para que olhe por
mim e seus netos.
Termino
com o mesmo vídeo que pus ano passado com a música que fiz para você no dia da
sua missa de sétimo dia. Poderia ter feito outro, mais magro como estou hoje.
Mas vou deixar esse mais gordinho dizendo que a vida nos transforma. Mas
algumas vezes pra melhor.
Dói
muito ainda, me machuca, parece que metade de mim foi arrancada com sua
partida, por isso te peço pra transformar essa dor em força, vontade, para que
eu mostre a todos que você não estava errada quando apostou em mim.
Te
amo.
Pra
sempre.
Beijos
do seu filho.
NO ESPELHO
Como vou viver sem o teu amor
Como viver sem o ombro amigo
Naqueles momentos onde só existe dor
Como vai ser ficar sem você
Reluz uma lágrima em meus olhos
Eu sei, não vou lutar sozinho
Geralmente quando eu mais choro
Imagino teu afago, teu carinho
No espelho encontro teu olhar
A imagem que me fortalece
Vejo que estás a me acompanhar
Intensa sua chama me aquece
Legado que sigo em meu caminho
Lembranças nunca irão se apagar
Amor é como passarinho
Radiante tendo o céu a desbravar
NO ESPELHO
Como vou viver sem o teu amor
Como viver sem o ombro amigo
Naqueles momentos onde só existe dor
Como vai ser ficar sem você
Reluz uma lágrima em meus olhos
Eu sei, não vou lutar sozinho
Geralmente quando eu mais choro
Imagino teu afago, teu carinho
No espelho encontro teu olhar
A imagem que me fortalece
Vejo que estás a me acompanhar
Intensa sua chama me aquece
Legado que sigo em meu caminho
Lembranças nunca irão se apagar
Amor é como passarinho
Radiante tendo o céu a desbravar
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue bom amor você tem parte nisso, beijoss
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