O BRASIL DA ERA DAS CAVERNAS
*Coluna publicada no blog "Ouro de Tolo" em 6/4/2014
Negros
sendo chamados de macacos, mulheres pedindo para não serem estupradas, garotos
sendo amarrados depois de assaltos. Devem estar pensando que falo da era das
cavernas, da idade média, mas não, é o Brasil de 2014.
Parece
que há alguma coisa fora da ordem. Que o Brasil decidiu voltar aos tempos medievais
e é tomado por hordas de barbáries. Aconteceu no Rio Grande do Sul e em jogo do
campeonato paulista. Jogadores e juízes negros chamados de macacos.
Isso em
um país mameluco, cafuzo, miscigenado onde a raça menos representada talvez
seja a cem por cento branca. Essa “onda” na verdade começou no Peru em jogo do
Cruzeiro da Libertadores (sempre a Libertadores com problemas, ela parece uma
FEBEM latino americana).
Brasileiro
é macaco de imitação (ops, macaco sem conotação racista), tudo que é ruim a gente
gosta de imitar, impressionante. Imitam macacos muitas vezes nem porque são
racistas, mas numa tentativa de desestabilizar o adversário e caem numa
situação trágica.
Sim,
trágica, porque o racismo é uma das coisas mais asquerosas, nojentas e degradantes
que existe. Diferenciar alguém por causa de sua cor, subjugar uma raça por
diferença de pele.
Negros
foram escravizados nesse país. Passaram por humilhações, trabalhos forçados,
apanharam, morreram durante séculos. O Brasil foi o último país do mundo a
acabar com a escravidão e até hoje sofre suas consequências.
Só olhar
uma favela, um presídio, pessoas que moram na rua, zonas de prostituição, veja
de qual cor é a maioria. São negros pela índole? Não, mas pela necessidade
muitas vezes, a falta de oportunidade. Dizem que no Brasil não existe racismo,
mas existe sim, só que como tudo nesse país é feito as escondidas, por debaixo
dos panos.
O Brasil
tem um Apartheid velado. Um apartheid moral onde o negro desde bem novo é
discriminado e tem duas opções ou se fortalece em cima dessa discriminação ou
se inibe, se deixa convencer por uma falsa inferioridade.
Eu sempre
fui gordo e desde moleque sofrendo gozações por isso. Com o tempo me calejei,
comecei a aprender a zoar também e isso amenizou, mas era complicado. Imagine o
que é pro negro que nem sempre é gozação, é maldade realmente, a intenção de
ferir, de inferiorizar.
Uma
criança negra ser discriminada e um pai ter que conversar com ela com todo
cuidado contando que ele não é inferior e principalmente, que isso não se
enraíze nesse menino.
Não deve
ser fácil ser negro no Brasil.
Como não
deve ser fácil ser mulher.
O Brasil
sempre foi um país machista. O país que comercial de cerveja tem que ter loira
gostosa, que panicats viram celebridades, funk esculacha a mulher, meninos são
ensinados a mostrar o pipi, meninas que mesmo sem ter peitinho ainda tem que se
cobrir dos pés a cabeça mesmo no calor pra não despertar tarados, um país feito
pra homens mesmo sendo governado por mulher.
Recentemente
saiu uma pesquisa que chocou. Acho que na verdade chocou porque se tornou uma
coisa oficial porque sempre foi uma coisa comentada por muita gente. A pesquisa
deu que parte da população acha que mulher tem culpa ou parcela de culpa em
estupros.
Pasmem,
isso não é opinião de uma ou duas pessoas, é de muita gente, até com gente de
boa formação intelectual, até de mulheres!!
Alegam
que uso de pouca roupa contribui para isso. Babaquice!! Cada um é dono de sua
vida, seu corpo e faz aquilo que quiser. Se a mulher quer usar minissaia, top,
o problema é dela. Estupro é um dos piores crimes que existe. Forçar uma
pessoa a ter relações sexuais é coisa de gente doente.
A coisa
chegou a ponto de mulheres terem que fazer movimento dizendo que não querem ser
estupradas. No Brasil!! Não é no Oriente Médio ou num país pobre da África.
E pra
piorar essas mulheres ainda foram ofendidas e ameaçadas. Relembrando, não é a
era das cavernas quando o macho dava uma cacetada da cabeça da mulher para
ficar com ela. É 2014.
O meu lado
otimista diz que sempre foi assim, desde que o Brasil é Brasil e se esses casos
de racismo e abusos sexuais estão causando alvoroço e indignação é porque
finalmente as pessoas de bem estão reagindo.
Que seja
isso. Que seja um crescimento de conscientização e noção de cidadania e
respeito ao próximo.
Essa é a
única maneira de sairmos da era das cavernas e caminharmos para um futuro de
igualdade seja racial ou sexual.
O
respeito ao próximo devia ser a primeira coisa que aprendemos na vida.
Seja em
qualquer época do planeta.
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